Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Feliz Ano Novo, Brasil!

O almoço era de confraternização de amigos jornalistas, na casa do Davi Fichel, com a vista maravilhosa do Rio, descortinada desde Santa Teresa, e o prato principal, das vidas passadas, provavelmente da Idade Média, adentrou com gosto de caça em nossas línguas afiadas (já tão acostumadas a buscar e emitir notícias de outros animais comestíveis ou intragáveis): um javali providenciado pelo baiano, naturalizado carioca, Caó, coleguinha de trajetória histórica na classe.

Confesso que de primeira, lembrando do Asterix, já me dirigi ao encontro com certa paixão nascente pelo javali, que acabei comendo com muito gosto, entremeando goles de vinho e elogios à culinária supervisionada pela querida Antonieta Santos, amigona de décadas, maranhense sabedora dos melhores temperos, que o fez macio, desmanchante no céu da boca, delícia das bruxas medievais, com certeza.

Mas, em momento descontraído, tirei da bolsa o envelope que recebera via correio, vindo do Rio Grande do Norte , mandado pelo jornalista Alvanilson Carlos, diretor do periódico O Mossoroense. Ele reproduziu artigo meu sobre o ex-deputado José Dirceu, que encontrou neste Observatório [‘Dirceu, a própria intempérie‘], e teve o cuidado de pedir meu endereço para me presentear, no fim de 2005, com a certeza do quanto as nossas idéias e palavrinhas nos ultrapassam em expectativas.

O Mossoroense correu de mão em mão, com suas páginas acrescidas de histórias que foram surgindo sobre o Brasil, cada um dos companheiros lembrando os jornais de muitas cidades em que trabalharam ou para onde foram com a missão de alguma cobertura. Para completar, um brinde e as palavras do anfitrião, que acrescentou o óbvio mais pertinente da tarde: ‘nada melhor do que ter os amigos junto da gente!’.

Falou-se de tudo, claro, e não faltou a política, a economia, as piadas do português, as recordações dos velhos tempos, as expectativas para o ano eleitoral, que todos consideram que será excitante, sob o ponto de vista profissional.

Água ardente

Em dado momento, já com a branquinha (uma água tão ardente quanto a vida), descendo pelas gargantas como aperitivo final, o Vitor Iorio pede a atenção de todos. Aponta o horizonte da Baía de Guanabara, mostra que o sol está iluminando apenas uma faixa de mar e paisagem, e que todo o resto permanece na sombra.

Um quadro lindo, com certeza, compartilhado por amigos que conseguem ver a luz do sol entre as sombras do futuro. Nas companheiras Tamar de Castro e Irene Cristina, vi os olhinhos brilhantes, testemunho vivo de sua postura diante de um mundo que só é feliz se temos postura positiva ainda sobre as possibilidades de seguir em frente. 

O javali , por quem me apaixonei sem saber o nome, nos ofereceu a digestão dos carnívoros felizes, que me desculpem, com todo o respeito, os vegetarianos. Pensei no papel da imprensa, tão questionado nos últimos tempos, nos blogs que fizeram a diferença em 2005 como o do Ricardo Noblat e o do Jorge Moreno, por exemplo. Concluí, internamente, que o importante é digerir a informação, com a eficácia dos sucos gástricos, diluindo e depurando cada ácido assunto, com a eficiência necessária à sobrevivência da espécie.

Nostalgia romântica

O violão modesto do jovem jornalista Admar somou em nostalgia a sensação romântica do encontro que contou com a velha guarda da ABI, com o pessoal da ONG Casa Grande, o Moysés Aichenblat, entre outros. Maria Inês falou de filosofia com a professora que contava sobre como ensina essa matéria abstrata para os meninos da comunidade de Pilares, sólida de difícil sobrevivência, plantando-lhes a semente do amanhã onde abrir um leque de possibilidades.

Lula, Serra, Garotinho foram comentados como personagens que certamente farão a diferença em 2006. Alguém lembrou sobre o quanto o poder deva ser exercido com dignidade e que não dá para se brincar com coisa tão séria. Cabeças pensantes e reflexivas em tarde de balanço final de ano, corações repletos de amizade, que se coloriu de verde e amarelo com brindes ao Brasil, de repente.

O sol, do quase crepúsculo, me reavivou o nordeste onde O Mossoroense é mais um porta-voz que me transportou ao grande barato que é ser cidadã brasileira, jornalista, amiga desse pessoal, brindar ao ano que chega, com sentimento confiante em dias melhores para todos. Feliz Ano Novo, povo brasileiro!

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Jornalista, Rio de Janeiro