‘Prosseguem as investigações sobre a morte da Velhinha de Taubaté, que ficou conhecida nacionalmente por ser a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo. O inquérito está sendo conduzido pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, dada a repercussão do caso. Um promotor sai de cinco em cinco minutos da sala em que está sendo interrogado o gato da Velhinha, o Zé, para informar à imprensa o que se passa lá dentro, embora o gato tenha, até agora, dito muito pouco. ‘Miau’, basicamente.
Houve um princípio de tumulto entre repórteres quando uma equipe da televisão, gravando clandestinamente no interior da casa da Velhinha, localizou um pedaço de papel com números e o que parecia ser a palavra ‘off-shore’ em letra tremida, o que indicaria que a Velhinha tinha uma conta no exterior, onde receberia para acreditar no governo. Depois se revelou que eram números para jogar na Sena, que a Velhinha sempre acreditava que ia ganhar, e que a palavra escrita era ‘oxalá’. Mas alguém ficou com o papel e é possível que a notícia ‘Velhinha tinha conta no exterior’ apareça em alguma manchete nos próximos dias para atrair a atenção, mesmo que o texto diga outra coisa. Sabe como é a imprensa.
Todas as CPIs em andamento no Congresso Nacional disputam a prioridade em convocar o Zé para depor em Brasília, o que tem acirrado o conflito entre elas, que muitos temem possa acabar numa guerra aberta com congressista brigando com congressista pelos corredores e todos se juntando para pegar o ACM Neto.
Só o gato poderia contar o que realmente aconteceu, na improvável hipótese de, ao contrário do que fizeram tantos outros nas CPIs, começar a falar. Mas pode-se deduzir o que levou a Velhinha a morrer – ou se matar com veneno no chá. Ela nunca se recuperou totalmente do choque da notícia da compra de votos para reeleger o Fernando Henrique, seu ídolo na ocasião, apesar de depois acreditar em todos os desmentidos. Debilitada, sofreu outro baque com as denúncias contra o Palocci, seu ídolo atual, e outro baque quando soube que nem no Ministério Público se podia confiar. Foi demais para a Velhinha.
O curioso é que as alegres multidões que iam até a sua casa na esperança de ver o fenômeno, um brasileiro que ainda acreditava, estão sendo substituídas por tristes romeiros que visitam o santuário improvisado na frente da sua casa, em Taubaté, na esperança de recuperar a fé. A Velhinha pode muito bem se transformar em milagreira depois de morta. As pessoas querem acreditar, pelo menos, em quem acreditou um dia.’
Rubens Valente
‘Bahamas vêem ‘operações atípicas’ de Duda ‘, copyright Folha de S. Paulo, 1/09/05
‘Relatório entregue à CPI dos Correios pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, ligado ao Ministério da Fazenda) revelou que a Unidade de Inteligência Financeira das Bahamas detectou ‘operações atípicas’ naquele país relativas ao publicitário da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, Duda Mendonça, e de sua sócia, Zilmar Fernandes da Silveira.
O documento do Coaf também revelou ‘movimentações incompatíveis’ com a capacidade financeira e ‘sistemáticas contabilização de prejuízos’ dos fundos de pensão Geap, entidade de previdência complementar ligada a vários ministérios, e Portus, ligado às companhias portuárias.
A informação do governo das Bahamas foi recebida pela Coaf no último dia 26. O Coaf disse ter cobrado das Bahamas ‘informações detalhadas sobre referidas operações atípicas’.
Em depoimentos à CPI dos Correios e à Polícia Federal, Duda Mendonça afirmou ter recebido nas Bahamas, numa conta bancária aberta em nome da offshore Dusseldorf Company Ltd., cerca de R$ 10,5 milhões. O dinheiro referia-se a serviços prestados ao PT durante as eleições de 2002, incluindo a campanha presidencial. O relatório do Coaf não especifica em que época ocorreram as movimentações consideradas atípicas. Duda disse à CPI que ainda mantém parados os R$ 10,5 milhões em sua conta no exterior.
O Coaf detectou em território brasileiro outra operação de Duda considerada ‘atípica’, na conta de outra empresa do publicitário, Nova Patrimonial Ltda., no valor de R$ 128 mil no dia 30 de julho de 2004. O Coaf não esclareceu o motivo pelo qual a operação é considerada ‘atípica’.
Fundos de pensão
Sobre os fundos de pensão, o Coaf apontou indícios de irregularidades na gestão do Geap. Segundo o documento, a entidade tem faturamento bruto anual de R$ 1,15 milhão, mas movimentou cerca de R$ 55 milhões entre janeiro de 2003 e março de 2005. Ocorreram dois saques em espécie, um no dia 5 de setembro de 2003, no valor de R$ 201 mil, e outro de R$ 144 mil no dia 4 de dezembro do mesmo ano.
‘[As movimentações são] incompatíveis com sua capacidade econômico-financeira presumidas e retiradas de quantias significativas em conta até então com pouco movimento ou que acolheu depósito inusitado’, afirma o relatório do Coaf.
Segundo o Coaf, no Geap ‘se constatou a sistemática contabilização de prejuízos em operações de mercado realizadas entre os fundos, empresas distribuidoras de títulos e valores mobiliários, notadamente nesse caso as distribuidoras Turfa e Quantia’. O relatório apontou um prejuízo acumulado de R$ 1,33 milhão em operações realizadas entre março e julho de 2004.
Sobre a Portus, o Coaf também detectou movimentações incompatíveis com sua capacidade financeira. Com faturamento bruto anual de R$ 1 milhão, o fundo girou cerca de R$ 26,5 milhões entre janeiro de 2003 e dezembro de 2004. A Portus também atuou com as distribuidoras Turfa e Quantia, anotando um prejuízo acumulado de R$ 747 mil.
Em notas divulgadas desde o início da CPI, os fundos têm afirmado que suas operações são reguladas por órgãos fiscalizadores e negado irregularidades.’
Marcos Rogério Lopes
‘ACM Neto vive dias de popstar com a CPI ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 1/09/05
‘Descendente de um dos políticos mais influentes do País, o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) soube usar bem os refletores da CPI dos Correios em prol de sua imagem. Há poucos dias, em um evento em Campos do Jordão, mal conseguia andar: ‘Era impressionante a quantidade de gente que me parava, pedindo autógrafos e querendo tirar foto ao meu lado’. Vive dias de popstar, porém sonha em chegar mais longe, à Presidência da República. ‘Não é um projeto, mas um sonho para o futuro’, afirmou terça-feira o parlamentar de 26 anos, no Programa do Jô, da TV Globo.
Suas respostas, evasivas, dão a impressão de terem sido ensaiadas. Discursa mais do que responde às perguntas, aliás. Cabelo bem penteado, terno impecável e gravatas escolhidas após minutos de incerteza – ‘adoro gravatas e sou a favor de tê-las em diversidade, em número razoável’, foi a forma prolixa que encontrou para justificar os mais de 50 modelos que possui. O parlamentar, casado há um ano e meio, não esconde o orgulho de ter sido eleito por um site gay o representante mais bonito da CPI. ‘Devem ter me escolhido também pelo conteúdo’, acredita.
A (baixa) estatura o incomoda. Durante a gravação do programa, disse ter 1,68 metro. ‘Fiquei com receio de ser muito menor que você (Jô Soares), ainda bem que não sou’, comentou aliviado o deputado. O apresentador, de 1,70 m, era maior que ACM Neto, mas não muito, porém o último utilizava um nada discreto salto de pelo menos oito centímetros.
É sobrinho do ex-deputado Luiz Eduardo Magalhães, falecido em 1998, e filho de Antonio Carlos Magalhães Júnior, suplente do patriarca da família, o senador ACM. De seu avô, ganhou o sobrenome e inúmeros conselhos desde que ingressou no PFL, em 1997. Sempre que entra na pauta da CPI um depoimento importante, pede auxílio a quem considera ‘um dos gênios da política’. ‘Conversamos periodicamente, refletimos sobre o que vem ocorrendo, trocamos muitas idéias’, explicou ACM Neto, ou ACMinho. Não acha ruim o apelido? ‘Imagina, adoro ser chamado assim’, exagerou, mantendo-se firme, no entanto, no papel de se mostrar simpático. Ria alto, às vezes de forma pouco natural.
Mas se o chamarem de Grampinho seu humor desaparece. Segundo o deputado, um adversário político de seu avô foi o responsável por inventar o apelido – na legislatura anterior, descobriu-se grampos telefônicos feito a mando do senador ACM na Bahia e, por ser neto, herdou a alcunha no diminutivo. ‘Mas não pegou, ninguém me chama assim’, garante ACM Neto.
Deputado mais votado da Bahia em 2002, com 400.275 votos, pretende concorrer ao segundo mandato no ano que vem. Almeja ainda o cargo de governador de seu Estado e assim voltar ao Palácio de Ondina – que já conhece bem, afinal se cansou de brincar nos jardins da propriedade na época em que o avô exerceu seu último mandato, de 1991 a 1994.’