Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Plínio Bortolotti

‘No Brasil, o colunismo é, primordialmente, sinônimo de opinião. Pela forma com são escritas – em tópicos rápidos, pela análise oferecida, pelo destaque de alguns colunistas –, as colunas são pontos de grande leitura nos jornais. Não se trata, portanto, de criticar como se conformou o colunismo brasileiro, mas procurar entendê-lo e, também, discutir quais são os seus limites – na minha opinião, os mesmos a prevalecerem para o conjunto do jornalismo.

Partindo-se do princípio que o colunista tem direito de emitir sua opinião, a crítica tem de se sustentar sobre a verdade factual. Isto é, o colunista não pode falsear a realidade para coonestar seus comentários. Quando escrevo ‘falsear a realidade’, não suponho que isso seja feito deliberadamente. Muitas vezes, há negligência na apuração, pois ao contrário dos demais jornalistas, não é incomum o colunista sentir-se desobrigado de fazer a devida verificação antes de publicar; ou ainda, ser levado a confiar demasiadamente em determinadas fontes (pessoas que fornecem informações a jornalistas). Outro problema do colunismo é o uso indiscriminado do ‘off the record’ ou simplesmente ‘off’. O termo indica uma fonte que repassa informações ao jornalista pedindo a preservação de seu nome. Separei três exemplos recentes abordando essas questões.

A fonte

Em 24/8, a coluna Política (pág. 23), cujo titular é Fábio Campos, comenta em três notas a disputa de empresas pela administração terceirizada de penitenciárias no Estado. Em uma das notas, ‘Mira tucana’, está escrito o seguinte: ‘Os governistas suspeitam das digitais do empresário do setor de serviços, Clodomir Girão, no dossiê que chegou às redações dos jornais e nas mãos de deputados de oposição. O dossiê aponta corrupção na gestão das penitenciárias’. O colunista não tem nenhuma comprovação para embasar a nota, a não ser a ‘suspeita’ de sua fonte, certamente adversário do empresário, como anotei no comentário interno que fiz à edição do dia. Falei com o jornalista Fábio Campos. Ele respondeu o seguinte: ‘Considero que agi de maneira correta do ponto de vista jornalístico. A suspeita partia de uma alta fonte do PSDB. Não assumi a suspeita. Apenas a reproduzi como tal. Considero que era meu dever fazê-lo’. Eu continuo achando que o dever do jornalista é apurar aquilo que publica. No mínimo, o colunista deveria exigir que sua fonte assumisse publicamente a declaração, sob pena de nada publicar. É muito cômodo para a ‘fonte’ assacar contra alguém, tendo quem reproduza a sua ‘suspeita’ no jornal. Para quem é atacado, esse tipo de nota cria uma armadilha da qual é difícil escapar: se o citado responde, o colunista dá continuidade ao assunto alimentando a suposição de que ele ‘vestiu a carapuça’; se fica quieto, sempre pode sugerir o ‘quem cala consente’.

Os semáforos

Na edição de 21/8 (pág. 2), a coluna Vale Tudo, assinada por Alan Neto, sob o título ‘Festival de Semáforos’, publicou a seguinte nota: ‘A avenida Bezerra de Menezes está sendo entufalhada (sic) de semáforos. A AMC já implantou, ali, três deles, de uma lapada só. (…) Um deles funciona bem na esquina do novo Pão de Açúcar. Pode ser mera coincidência. Pode também não ser. O grupo é forte. E quem é forte goza de privilégios’. Recebi e-mail de um leitor dizendo que o sinal próximo ao supermercado existe ‘há quase quatro anos’. Falei com Marcus Vinícius Teixeira, coordenador do Controle de Tráfego em Área de Fortaleza. Ele diz que, recentemente, foram instalados na avenida dois (e não três) semáforos de pedestres, nas proximidades de escolas, nenhum perto do Pão de Açúcar. O sinal perto do supermercado, segundo Marcus Vinícius, existe ‘há mais de três anos’. Ou seja, usou-se uma informação incorreta para se pôr sob suspeição a probidade de uma empresa. A necessária corrigenda não apagará a desconfiança que se levantou contra o grupo empresarial, pois nem todos lêem o jornal todos os dias. O jornalista Alan Neto diz que fará a correção neste domingo.

A crítica

A coluna Política (18/8, pág. 5), nesse dia assinada interinamente por Eliomar de Lima, sob o título ‘Coincidência’, traz nota criticando o jornal Expressão, de Aracati (CE), por ter publicado na capa a foto de um deputado federal ‘tucano’. Mas, segundo a visão da coluna, o que interessaria ‘mesmo aos moradores dali era ler algo mais sobre o caso Cuecagate, que envolveu o conterrâneo e ex-assessor petista José Adalberto. (…) O assunto acabou abordando apenas em uma pequena nota. Agora, o curioso é que o jornal traz um colunista defendendo José Adalberto. Ironia do destino: o tal colunista assina apenas por `Guimarães’. O colunista aracatiense, citado na nota de Eliomar, me envia o exemplar do Expressão. No jornal, diferentemente do que diz a nota da coluna Política, há uma notícia de quase meia página falando do caso do ex-assessor do deputado estadual José Guimarães (PT). O colunista do Expressão, que se assinaria ‘apenas Guimarães’, assina na verdade, como ‘Sandro Guimarães’ (e diz não ter parentesco com o deputado do PT). Na nota em que ele defenderia o ex-assessor do PT, está escrito que ‘alguns radialistas’ de Aracati não teriam ‘moral’ para atacá-lo, mas que isso não justificaria o ‘erro’ de Adalberto. O jornalista Eliomar de Lima reconhece ter confiado em sua fonte de Aracati, ao fazer a nota na coluna Política sem ver o jornal criticado. Ele diz estar ‘sempre aberto a reconhecer erros e a repará-los quando necessário’.

Cautela

Recuperei alguns casos recentes para exemplificar o comentário desta semana, sem que isso signifique ou autorize reparo à honorabilidade dos colunistas. Se me é dado algum direito, recomendaria apenas mais cuidado e cautela.’