‘Faz quase 11 anos, Andrea Carta, que comandava as operações da Editora Carta Editorial, procurou o tio, ou seja, o acima assinado, para propor a criação de uma revista de negócios. Cogitava, inclusive, dos negócios dele, mas o tio declarou falta de tino para negócios em geral.
Andrea era persistente. Meses a fio insistiu na tentativa de atrair o irmão do pai Luis para a Carta Editorial, disposto até a recuar da idéia inicial, de sorte a tornar possível o entendimento. O tio se disse seduzido pelo projeto de publicação capaz de fiscalizar o poder onde quer que se manifestasse, na política, na economia, na cultura. Surgiu CartaCapital, há exatos dez anos.
Mensal, mas determinada a ser, algum dia, semanal, movida pela convicção de que existem leitores e anunciantes maduros para um newsmagazine afinado com os dias de hoje. Perdoem o emprego da expressão em inglês, ocorre, porém, que pioneira do gênero é a Time criada há 81 anos por dois jovens americanos, Henry Luce e Britton Hadden, nos seus passeios pelo campus da universidade.
A fórmula colheu êxito imediato e, décadas adentro, foi aplicada mundo afora. Era outro mundo. Nele a informação não entrava na vida do cidadão com a prepotência e o volume avassalador precipitado pelo avanço tecnológico dos últimos tempos. Tomamos informação desde o café da manhã até o momento de apoiar a cabeça sobre o travesseiro. Pelo jornal, pelo rádio, pela tevê, por periódicos variadíssimos, pela internet. Não há um único, escasso instante de folga.
Para tempos novos, recomenda-se novo modelo de revista de informação, tal o nosso entendimento. Donde, CartaCapital, quinzenal a partir de março de 1996 e finalmente semanal há três anos. Ela se distingue e traz a novidade de diversas maneiras. Na seleção rigorosa dos assuntos, ao sabor das suas implicações e possibilidades de desdobramento. Na análise acurada e profunda, entregue a quem dispõe de autoridade indiscutível para tanto. Na informação exclusiva do nosso privativo garimpo.
Permito-me acrescentar outro aspecto, a peculiaridade do enfoque, insolitamente desabrido, o qual se deve à prática do jornalismo autêntico e a um grau de independência de todo raro. Como, supomos, não é preciso explicar.
Esta é a edição do décimo aniversário. Para CartaCapital é idade provecta. E tanto mais em meio a uma imprensa que se entregou à busca da tiragem em detrimento da qualidade e, ao que parece, a considerar a condição economicamente precária das grandes empresas de comunicação, do próprio negócio, como observaria meu sobrinho Andrea.
Temos o orgulho de ser devedores apenas da fidelidade de leitores e anunciantes, habilitados a compreender que tiragem não é tudo e que o esforço da imprensa nativa, e da mídia em geral, se deu no sentido de nivelar por baixo. E, portanto, de embrutecer as consciências.
Não é por acaso que a mais importante revista de informação do mundo, aquela que na manhã de segunda-feira pousa sobre a mesa de trabalho dos protagonistas do grande enredo internacional, a The Economist de Londres, tem tiragem total de 700 mil exemplares, dos quais 200 mil ficam no Reino Unido, 300 mil vão para os EUA e 200 mil são distribuídos pelo planeta. Imagino que os editores da The Economist percam o sono ao perceber que a Veja é maior do que eles.
Para celebrar o aniversário, dois presentes aos leitores. Primeiro, a reforma gráfica de autoria da mesma Mariana Ochs que assinou o primeiro projeto da semanal. Roupa nova para o baile, com o toque da elegância, sem nada ceder à compostura.
Segundo, a edição especial sobre As Empresas Mais Admiradas no Brasil, com os resultados da pesquisa anual realizada por CartaCapital e InterScience desde 1998, premiada por prestígio crescente. A edição vai às bancas a partir de 1º de setembro e será recebida pelos assinantes juntamente com a edição 307.
Feliz aniversário para todos nós.’
TODA MÍDIA
‘Na torcida’, copyright Folha de S. Paulo, 26/8/04
‘A Olimpíada pegou, afinal. Segundo o ‘Painel’, o Congresso já faz até ‘cessar-fogo’ entre governo e oposição para assistir às transmissões.
Nesta semana, os picos de audiência no fim de tarde já se aproximam dos 50 pontos, para Globo e Band. E quem está nos intervalos, para tirar o que pode da febre, é o governo Lula.
Segundo Daniel Castro, na coluna de televisão da Folha, um levantamento do Controle da Concorrência, que monitora publicidade, mostrou que até o domingo passado foram mais de sete horas de ‘megacampanha’ voltada aos Jogos.
São 12 inserções ao todo, distribuídas entre cinco estatais e o próprio governo federal.
Não à toa, também a home da estatal Radiobrás celebrava ontem o ‘segundo ouro do Brasil’, com Ricardo e Emanuel.
Mais estranhamente, também o site eleitoral de Marta Suplicy embarcou no ôba-ôba, com uma foto de Ricardo durante o jogo e uma legenda assim:
– Brasil é ouro no vôlei de praia. Campanha de Marta está na torcida por mais medalhas.
Os patriotas profissionais Galvão Bueno, da Globo, e José Luiz Datena, da Band, ‘concorrem a ouro em urro’, no dizer de José Simão, no UOL News.
Mas o site Nomínimo, em texto de Guilherme Fiuza, pescou a frase que marca a transmissão destes Jogos -e não é de nenhum dos dois, mas do comentarista de iatismo da Globo, na vitória de Robert Scheidt:
– Nessas horas, o sangue alemão faz a diferença.
O site se esforçou por conter a própria revolta, mas terminou por contrapor a ginasta Daiane dos Santos a Scheidt:
– Dos Santos é para sempre o nome de manobra olímpica sobre-humana, enquanto Scheidt continua apenas um digno e honrado sobrenome humano.
Daiane, diz a Globo On Line, é também uma boneca. Está para sair a Suzi Ginástica Olímpica, ‘negra como Daiane’.
Não é só por aqui que a Olimpíada vai bem de audiência. Nos EUA, diz o site E!, houve aumento de sete pontos em relação aos Jogos de 2000.
Mas a notícia lá é outra. O órgão para comunicações anunciou ter recebido dez reclamações contra a transmissão da NBC, por conta dos uniformes que mostram ‘seios nos Jogos’ e ‘genitália masculina’.
O site E! contrapôs, não sem ironia, as dez reclamações aos 185 milhões, 67% da população do país, que assistiram só à cerimônia de abertura.
NOVAS MARCAS
O marqueteiro Duda Mendonça demorou, mas surgiu com uma nova ‘marca’ para a campanha municipal. Na área de maior exposição de Marta Suplicy, a saúde, criou um ‘CEU Saúde’ e o apresentou no horário eleitoral da noite com uma maquete detalhada, com direito até a uma piscina para fisioterapia. Na chefia do programa, o médico que ‘coordenou toda a implantação do projeto dos genéricos ao lado do ministro José Serra’. Citaram Serra, porque não têm como vencer sua imagem na área.
De sua parte, o tucano e o marqueteiro Luiz Gonzalez, também no horário eleitoral, voltaram a tratar da gestão na saúde, mas desta vez se concentraram nas mulheres eleitoras -e, também eles, no lançamento de uma nova ‘marca’. O programa foi batizado de ‘Mãe Paulistana’.
CAMPANHA ESTADUAL
A campanha municipal que seria ‘federal’ se tornou ‘estadual’. José Serra e Marta Suplicy disputam entre si, nos comerciais, o governador tucano Geraldo Alckmin.
O primeiro ameaça que só com ele, com ‘prefeitura e governo trabalhando juntos, sem briga’, o Bilhete Único será ampliado para o metrô. É o marketing do medo -e também uma forma de tomar uma ‘marca’ da prefeita.
A segunda tenta mostrar que administra sem conflito com Alckmin. Dá como exemplo uma estação de metrô que não existia em projeto e deve sair porque ela teria sugerido ‘que a prefeitura pagasse o custo da construção’.
Até as urnas
Foi manchete no Jornal da Record e em toda parte:
– O desemprego na região metropolitana de São Paulo é o menor no governo Lula.
Mas a Globo On Line destacou o que importa, de fato, para a campanha eleitoral:
– Desemprego deverá continuar em queda nos próximos meses em São Paulo.
Troféu eleitoral
Afinal uma voz de governo, qualquer governo, saiu a questionar o uso eleitoral da chacina de mendigos. Do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, na Globo On Line:
– É ruim que um acontecimento assim seja usado com fins político-partidários. Estes pobres acabam se tornando troféu eleitoral.’
***
‘Ao ataque’, copyright Folha de S. Paulo, 27/8/04
‘No sptv da noite, a Globo anestesiou o conflito aberto na campanha de São Paulo. Entrou com a história na ‘agenda’ dos candidatos.
Entre uma promessa de Erundina aos professores e outra de João Manuel, surgiu o registro sobre José Serra:
– O candidato acusou a prefeitura de promessas eleitoreiras como o CEU Saúde.
Em seguida, sobre Marta:
– Ela falou que os CEUs para a saúde serão feitos com dinheiro do orçamento.
Mas não foi bem assim. O confronto começou à tarde e avançou noite adentro em notas pela internet. Primeiro disse Serra, segundo seu site:
– A prefeitura deixou a saúde para trás, passou quatro anos fazendo isso para agora vir propor um outro Fura-Fila.
Logo veio a ‘resposta a Serra’, no site de Marta:
– Serra disse ser contra os CEUs Saúde. Ele já afirmou que não dará continuidade aos CEUs da educação. Tem dito ainda que irá estudar a viabilidade do Bilhete Único para decidir se dará ou não apoio.
A nota atacou ainda o projeto Mãe Paulistana, mas o que pegou foi insinuar que o tucano pode parar obras.
E tome então nota de resposta, no site de Serra:
– Fala sério, dona Marta… Serra descontinuar ações e obras, nada mais mentiroso. O PT não deve medir os outros pela sua régua.
As diferenças, que vinham sendo represadas nas duas campanhas ‘do bem’, irromperam publicamente.
Até no horário eleitoral, com os tucanos atacando desde as ‘escolas de lata’ até o apoio de Marta ao metrô, que não passaria de ‘mil reais’.
Pode ser coincidência, mas o conflito surgiu no dia em que a internet iniciou as especulações sobre novas pesquisas.
DO GOVERNADOR
José Serra, anteontem na propaganda, falou de suas boas relações com Geraldo Alckmin. Marta respondeu dizendo que também ela se dá bem com o governador. A campanha tucana foi além e, em nova inserção, ontem, ligou a câmera para o próprio governador dizer:
– União. Harmonia. Cooperação. É assim que eu e Serra vamos trabalhar. Comigo no governo e Serra na prefeitura, tenho certeza que vamos fazer muito mais.
Táxi
Opostos em tudo, os sites de Marta e Serra disputavam até o apoio dos taxistas, ontem.
Boa má notícia
Manchetes do JN:
– Desemprego cai pelo terceiro mês. Renda do trabalhador sobe. E Copom já vê risco de inflação passar da meta.
Do Jornal da Record:
– Desemprego em queda. Copom sinaliza que juros podem subir. Bovespa cai.
Tenha medo de ser feliz.
Uma semana
Sublinhando que ‘a investigação começou há uma semana’, o SPTV noticiou ontem:
– Mais uma morte. Pode ser a sétima vítima dos ataques a moradores de rua.
À sombra
Míriam Leitão, na Globo:
– A eleição na Fiesp de um empresário ligado ao presidente e a proximidade entre CUT e PT só reforçam a distorção de sindicatos de patrões e empregados à sombra do governo.
NOVA YORK COM MEDO
No editorial ‘Mantendo a frieza em NY’, o ‘New York Times’ questionou o prefeito republicano por não ceder o Central Park às manifestações contra a convenção republicana, que começa na segunda, e apelou aos ativistas:
– O melhor que as lideranças dos grupos podem fazer é prometer, tão alto e tantas vezes quanto possível, que vão cumprir a lei.
A cidade parece em pânico. Tablóides como o ‘Daily News’ trazem notícias sobre os ‘anarquistas’ que estão chegando. Em reportagem no ‘Newsday’, até jornalistas se dizem temerosos. Um deles, da NBC, comparou com a convenção de 1968, em Chicago, que ele cobriu:
– Estão aqui os mesmos ingredientes combustíveis.
O ‘NYT’ chegou a insinuar que, sem maiores atrações na convenção, os próprios republicanos podem estar de olho nos dividendos eleitorais dos eventuais confrontos.’
***
‘Galvão e o Estado’, copyright Folha de S. Paulo, 30/8/04
‘Na Band, a patriotada andou perto de ofender os sobrenomes italianos.
Mas não foi concorrência para a Globo de Galvão Bueno. A transmissão do jogo de vôlei contra a Itália ganhou até lágrimas do narrador.
Mais, ganhou a locução do próprio choro:
– É difícil não estar agora com lágrimas nos olhos.
Depois:
– Eu sou um chorão, confesso. E vamos à execução do Hino Nacional Brasileiro.
Por fim:
– Eu já chorei de montão aqui.
E narrou as lágrimas do comentarista Tande, ao seu lado. Também as lágrimas do comentarista Montanaro.
Mas por que a choradeira? Respondeu o próprio Galvão Bueno, em seguida:
– Foi um grande momento, porque marca a Olimpíada que vai dividir a história olímpica brasileira.
Como assim?
– Com o governo tratando o esporte como política de Estado; com os centros de excelência que vêm por aí; com a iniciativa privada mergulhando de cabeça se vier a lei dos incentivos fiscais, o Brasil caminha realmente cada vez mais…
Não completou.
Mas suas palavras e lágrimas olhavam para o futuro. Para a ‘política de Estado’ de Lula. Em parceria, é claro.
*
Além de gastar como nunca na propaganda federal voltada à Olimpíada, o lulismo comemorou ontem nos sites da estatal Agência Brasil e de Marta Suplicy. Deste último:
– Brasil conquista resultado histórico.
Um dia antes, outro destaque do site trazia Marta, a caminho de um evento eleitoral qualquer no Corinthians, prometendo que ‘vamos estourar’ mais para a frente, nos Jogos:
– Mas para isso eu preciso completar a rede CEU, fazendo mais 24 unidades.
O CEU, marca de Duda Mendonça, vai se tornando a resposta petista para tudo -educação, saúde, esporte etc.
MARTA, NÃO
Vi na propaganda eleitoral que alguns candidatos estão dizendo que trabalham bem comigo. Então, para não ter dúvida, esclareço: quem trabalha bem comigo é o Serra… Com ele na prefeitura e comigo no governo, vamos fazer muito mais.
Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, em resposta à propaganda de Marta Suplicy, ontem, no seu terceiro comercial em favor de José Serra
Até eclipse
Depois do futebol no Haiti, dos Jogos Olímpicos na Grécia, ‘o governo Lula faz marketing até com a Lua’, escreveu ontem ‘O Globo’, acrescentando que é o que ‘dirá a oposição’.
Em 27 de outubro, no próximo eclipse, ‘os maiores astrônomos do país irão ver o fenômeno com Lula’ no palácio. E já se pensa numa campanha nacional ‘para que todos o vejam’.
Nova Fiesp
Paulo Skaf, novo presidente da Fiesp, deu entrevista à estatal Agência Brasil. Cobrou ‘regras claras para que haja investimentos maciços em infra-estrutura’. Em outras palavras:
– As Parcerias Público-Privadas são fundamentais.
Diferenças
O ‘New York Times’ e até o britânico ‘Financial Times’ destacaram a manifestação contra George W. Bush, em seus sites -com direito a foto, no ‘NYT’, de um cartaz de Bush com a expressão ‘mentiroso’.
Já no ‘Washington Post’ a foto era da Olimpíada e a manchete, muito diferente:
– Convenção vai mostrar a liderança do presidente.
Moore com Bush
Para quem gostou de ‘Fahrenheit 9/11’, Michael Moore vai cobrir a convenção pelo ‘USA Today’. Pelos relatos de ontem, os republicanos não gostaram da idéia de ter o diretor andando pelo Madison Square Garden.
AINDA O DEBATE DE 89
A revista ‘Veja’ destaca, nesta semana, o esperado livro histórico sobre a cobertura política da Globo, escrito pela própria Globo.
Sobre a edição do Jornal Nacional para o debate de 89, entre Collor e Lula, a revista avalia que o livro faz ‘corajosa e transparente discussão’. Pelo seu relato, porém, mantém-se a dúvida sobre o papel de Alberico de Souza Cruz no episódio -ele que se tornaria, pouco depois, diretor de jornalismo da emissora.
Do vice-presidente da Globo, João Roberto Marinho:
– Depois desses anos todos, eu acredito que as duas edições [do debate, uma no Hoje, a outra no JN] estavam erradas: uma exagerou para um lado e a outra ficou aquém para o outro.’