Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma realidade fora de pauta

Em 2004 o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tomou a decisão de tornar facultativo o voto das pessoas com deficiência sob a alegação de que é impossível adequar as instalações dos locais de votação. Esse assunto sequer foi discutido pela mídia. O silêncio, nesse caso, tornou-se linguagem, discurso; o silêncio constituiu uma forma de discriminar porque escondeu uma realidade. Observa-se um desinteresse dos jornalistas em reportar o tema deficiência.

Para retratar o assunto, dá-se preferência a pautas como datas comemorativas, atividades assistenciais e descobertas científicas; assim, a sociedade continua sem a (in)formação necessária para acreditar nas potencialidades das pessoas com deficiência, e para aceitá-las como cidadãos com direitos e deveres de participação na vida social. Faz-se necessária a atuação dos jornalistas como facilitadores no processo de desmistificação da deficiência.

Durante as Paraolimpíadas de Atenas, houve maior participação da mídia na cobertura do evento; segundo estudo do Comitê Paraolímpico Internacional (IPC), o Brasil foi o campeão entre todos os países que participaram da cobertura jornalística dos Jogos Paraolímpicos de Atenas no quesito ‘tempo de exibição dos Jogos’.

A TV brasileira veiculou 168 horas de noticiário, transmissões ao vivo e reprises. Em segundo lugar, ficou a Espanha, com 125 horas. No entanto, isso se deu por uma iniciativa inovadora e ousada do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), que contratou a produtora de TV Íntegra Produções, coordenada por Marcos Malafaia, para captar, editar e transmitir gratuitamente imagens dos jogos de Atenas para as emissoras brasileiras interessadas. Além disso, oito emissoras de televisão, abertas e fechadas, foram convidadas pelo Comitê para cobrirem a competição; outros 10 veículos também foram convidados. Essa iniciativa do CPB objetivou mudar a visão que o brasileiro tem dos deficientes e aumentar a audiência das Paraolimpíadas.

Grande enlevo

A Organização das Nações Unidas também se esforça no sentido de mudar a opinião pública acerca do deficiente; sua Resolução 45/91 clama por transformações sociais urgentes para se concluir com êxito a ‘Sociedade para Todos’ até 2010.

Estes são importantes passos para a aceitação da deficiência como parte da diversidade humana, sendo a contribuição da mídia de suma importância no processo de eliminação de barreiras atitudionais e desconstrução de arquétipos e esteriótipos, fazendo com que a sociedade moderna não apenas se diga inclusiva, mas que realmente o seja na prática.

Por isso esperamos que um dia os meios de comunicação possam atentar para o grande enlevo dos Jogos Paraolímpicos e, a partir de seus próprios recursos, promovam uma cobertura ampla e eficiente, incluindo concorrência e a busca incessante da exclusividade.

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Mestre, professor da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Juiz de Fora; graduanda do curso de Comunicação Social da UFJF