Li o artigo de Alberto Dines, reproduzido aqui em Belo Horizonte nas páginas do jornal O Tempo. Gostaria de esclarecer que acompanhei pessoalmente todo o caso, na condição de membro da Executiva da Fenaj e presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais. Dei entrevistas nessa condição, inclusive.
Portanto, a Fenaj está mais do que nunca dentro do mapa. Por fim, uma informação: a atitude abusiva e autoritária dos policiais federais não se deu na redação do jornal, e sim na gráfica, que fica em prédio ao lado. Também apurei que na véspera, 26 de agosto, a Polícia Federal apreendeu 70 exemplares da publicação apócrifa Betim em Dia na redação do semanário O Tempo, que circula na cidade de Betim e que é impresso na mesma gráfica do diário O Tempo, de Belo Horizonte. Por fim, estamos aguardando (a Fenaj e o sindicato a ela filiado em Minas) as providências do Ministério da Justiça, para punição dos responsáveis por este ato abusivo e autoritário.
Aloisio Lopes, Belo Horizonte
Cedência recíproca
Não posso deixar de manifestar minha profunda preocupação com o fato de profissionais de estirpe ajudarem a disseminar a equivocada visão de que existiria hoje no Brasil um cenário sombrio para os profissionais da imprensa e que o governo federal, de forma autoritária, procura calar os meios de comunicação. Tais colocações não correspondem, em absoluto, à realidade.
Quanto à invasão do jornal O Tempo, concordo plenamente em que houve excesso inaceitável por parte dos agentes federais, que claramente extrapolaram os limites do mandado judicial que estavam obrigados a cumprir. Mas considerar o lamentável episódio produto das recentes medidas adotadas pelo governo federal é um equívoco tão grande ou maior do que a própria invasão. Arbitrariedades policiais existem aos montes em nosso país, infelizmente. A ocorrida na redação do jornal O Tempo é apenas mais um exemplo, e não necessariamente uma investida contra a liberdade de imprensa.
Quanto à criação do Conselho Federal de Jornalismo, creio que o projeto contém falhas, imprecisões e omissões. Mas ele é o que é, apenas um projeto, que certamente será debatido, aperfeiçoado e corrigido com o avançar das discussões. Não há como negar que a atividade de imprensa precisa, sim, de uma regulamentação atualizada. Afinal, estamos sim diante de um quarto poder, que precisa de controles. Mas parece que a mídia simplesmente treme ao ouvir palavras como fiscalização, monitoramento e controle, como se isso significasse necessariamente censura. Qualquer pessoa de bom senso sabe que não é essa a intenção do governo. Não há espaço no Brasil para tais investidas autoritárias, e a trajetória das pessoas que hoje habitam o planalto deveria ser suficiente para que merecessem um voto de confiança por parte de vocês.
Não podemos perder a oportunidade de discutir seriamente o papel da imprensa na sociedade. E a continuar o bombardeio contra o projeto, receio que uma vez mais percamos esta chance. E o que é pior, desta vez por obra e graça até mesmo de grandes jornalistas que, bem intencionados, acabam por aderir aos nefastos interesses dos barões da imprensa, que, com absoluta má-fé, desejam a manutenção do status quo. (…)
A liberdade de imprensa deverá conviver pacificamente com o direito à intimidade e com o direito à honra. Tal princípio também é denominado de ‘harmonização de normas’ ou ‘cedência recíproca’. Nada mais do que isso. (…)
Fábio Arantes Corrêa, advogado, São Paulo
Manobra eleitoreira
Aqui em Brasília também há vários jornais que só existem quando o Sr. Roriz é governador. Por que o jornalista sério aceita trabalhar nesses meios de comunicação? Tenho a maior admiração pelo Alberto Dines, mas não posso concordar com ele. No tempo do Getúlio Vargas eu não sei como era. Nessa época de eleições o que mais se vê é gente tida como rica apelar para qualquer tipo de manobra para ganhar eleição. Por que o profissional da imprensa não analisa o que está escrevendo? Aqui em Brasília, o único meio de comunicação isento é a Globo; o resto vive a reboque do governo local. Sou completamente a favor do CFJ. Por que o jornalista sério tem medo da criação desse conselho?
Noel Damasceno, servidor público, Brasília
Caminho errado
Hoje em dia é muito raro ver um jornalista versar sobre tantos temas com lucidez, coerência e principalmente inteligência. Acho um absurdo todo e qualquer cerceamento ao direito de expressão. Acredito que querem algemar novamente a liberdade de imprensa conquistada à base de muitos dissabores em nossa recente história. Intolerância e atitudes arbitrárias como essa nunca serão o caminho. Essas atitudes sempre serão formas de revivermos o que já deveria estar enterrado.
Ruth Claudia Veiga e Souza, auxiliar administrativa, Rio de Janeiro
Tempos de açodamento
Por favor, meu prezado Alberto Dines, é importante que um jornalista de seu valor, nesta confusão que se armou por conta do projeto do CFJ, mantenha a calma e a isenção. Lembre que a PF é useira e vezeira em cometer arbitrariedades. Veja a prepotência que foi a invasão do gabinete do presidente da CEF. E a quase invasão da Casa Civil, a prisão do presidente do Bacen, abortada na última hora pela edição da MP? Não deixe de considerar a hipótese de que as algemas nesse jornalista tinham um endereço certo, criar embaraços ao governo. São os tempos de açodamento e ranger de dentes que vivemos, causados, inclusive, pela raivosa militância antigoverno de alguns jornais e jornalistas.
Benedito F. Oliveira, engenheiro de sistemas, Rio de Janeiro
Época de desmandos
Estamos diante do limiar de uma nova época de desmandos e autoritarismo, em nosso país. Não interessa se de esquerda ou direita. Essas classificações perderam-se antes do fim do século 20. Não têm mais sentido. Apenas mudam de cor. Nunca é tarde para se lembrar que ditaduras terríveis, a exemplo das de Hitler e Mussolini, começaram com a perseguição à imprensa, à cultura e à liberdade de expressão (…).
Carlos Alvim, fotógrafo, Niterói, RJ
Um crime e um mandado
Claro que a ação da PF foi no mínimo inaceitável, mas estranho a reação sobre o fato: existia um crime, uma mandado judicial e os policiais foram cumpri-lo, e exageraram no cumprimento de seu dever. Mas, em situação similar, as mesmas vozes que se levantam contra a ação da PF, e pior, querem colocar no mesmo saco um ponto factual e a questão do CFJ, as mesmas vozes se levantariam contra a ineficácia da PF em situação similar, exigindo a prisão de infratores y otras cositas más… parece a utilização de dois pesos e duas medidas.
Pela ação de alguns policiais específicos, o autor tratou a PF de forma genérica (em outras palavras, se um policial estuprasse alguém, a PF como corporação pagaria o pato?). E esqueceu de uma regra básica: ouvir todos os envolvidos. Pelo que apreendi da história, só observei a versão dos editores e do jornal; a PF e seu diretores não foram consultados? E o juiz? Afinal, o mandado falava de jornal clandestino… existia o jornal? Antes da crítica, é preciso demonstrar que se pode criticar.
Se a imprensa ou os coleguinhas jornalistas cometem ilícitos, devem ser indiciados, julgados e, até prova em contrário, devem ser considerados inocentes – mesmo com provas cabais contra eles. Porém, se o escândalo é com pessoas comuns, ou pior, com pessoas conhecidas, mas não benquistas pelos jornalistas, a imprensa exige prisão e ação rápida baseada em denuncismo, como os casos da Escola Base e das bruxas de Guaratuba.
Marcio Flizikowski, jornalista, Curitiba