Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Processo de regressão

A invasão relatada na matéria indica que estamos num franco processo de regressão institucional. A frágil República brasileira, que desde 1891 oscila entre aumentar e restringir o poder das unidades federativas (via modificações no sistema tributário), que sempre ignorou o povo e atendeu aos interesses destes ou daqueles grupos que se revezam no poder (mediante eleições mais ou menos desonestas) e algumas vezes curvou-se vergonhosamente às vontades mais abjetas e grotescas deste ou daquele tiranete (posto presidente no voto ou à bala), está finalmente se desmantelando. (…) Já estou começando a sentir saudades do império. (…)

Fabio de Oliveira Ribeiro, advogado, Osasco, SP



Sempre perseguida

Tenho dó da imprensa desse país. Nunca faz nada de errado, nunca se mete onde não é chamada, e é sempre perseguida e atacada pelas autoridades! Um dia existirá um país onde vocês poderão dizer o que quiserem, de quem quiserem, mesmo que isso cause mortes, constrangimentos, destrua famílias, e ninguém vai atacá-los e persegui-los. Ou seja, um dia existirá um país onde vocês poderão manipular as pessoas através da informação da forma que quiserem, sem que ninguém os censure.

Igor Santos, analisador de registros, São Paulo



Duplo exagero

Há exageros de ambas as partes. Não se tem a versão da polícia sobre o fato de o jornalista ter sido algemado. Será que ele, enquanto jornalista, tentou impedir o cumprimento da ordem judicial, daí ter sido algemado? O fato é que a ordem judicial existiu, inclusive para que se prendessem as pessoas que estivessem envolvidas com a denúncia, caso fosse encontrado o tal jornal clandestino. Determinação para se prender havia. Por outro lado, a cena registrada pela câmera fotográfica não tem relação com o objetivo da ordem judicial. Contudo, poderá ter sentido se o jornalista algemado tenha tentado impedir o cumprimento da ordem. Se a autoridade que chefiou a operação não apresentou o mandado, ou seja, não entregou cópia à pessoa responsável pelo local, ela errou e provocou reação justa do jornalista.

O que se conclui é que, invariavelmente, a imprensa é parcial, e, neste caso, não fugiu à regra, pois não investigou melhor o caso, satisfazendo-se com a versão do jornalista ‘vítima’. Pior, ainda, é querer relacionar o fato ao projeto de criação da entidade fiscalizadora da profissão. Uma coisa não tem nada haver com a outra.

Enivaldo da Gama Ferreira Junior, advogado, São Paulo



Publicação difamatória

Longe de mim ser a favor da repressão dos meios de comunicação. Entretanto, como morador de Betim, recebendo assim gratuitamente todas as edições deste ‘jornal’, posso afirmar categoricamente que se trata de uma publicação difamatória e criminosa. Há meses venho recebendo esta publicação e percebe-se claramente que a usam para difamar a imagem do PT, partido adversário do presidente do jornal, Vitório Medioli. Sugiro que procurem conhecer as edições deste jornal e me digam sinceramente se se trata de um jornal ou de um crime contra uma sociedade menos informada que é periodicamente bombardeada com calúnias.

A manchete de capa do último exemplar foi algo do gênero: ‘Maria do Carmo do PT manda Polícia Federal à sede do jornal O Tempo‘. Pergunto, Maria do Carmo teria poder para mandar em algo da Polícia Federal?

Gustavo Marotta, analista de sistemas, Betim, MG



‘Não é comigo’

Por incrível que pareça, aqui em BH o assunto também não foi de relevância por parte de jornais e TV. O que acredito que esteja acontecendo com a imprensa é ‘não é comigo, não tenho nada a ver’. Já no governo do Sr. Fernando Henrique falava-se em Lei da Mordaça, portanto o assunto não é exclusividade do governo Lula. Deveria ser feita uma reformulação na maneira de atuar da imprensa: as famosas matérias exclusivas que só a Rede Globo têm, as denúncias que só chegam a revista Veja, enfim, as denúncias são jogadas no ar em horário nobre ou nas revistas, para citar apenas um exemplo, e uma semana depois não se tem notícia alguma. Não acredito em matéria publicada por estas revistas ou pela Globo. (…)

A imprensa deve ser livre, mas deve saber onde começam seus deveres e terminam seus direitos.

Maria de Lourdes Neves Vieira, autônoma, Belo Horizonte



Dívida com a verdade

É possível perceber as seguintes características:

1) Diferenças entre as tratativas da mídia paulista e paulistana (editorial) com as demais no território brasileiro: forte influência do poder econômico sobre a mídia: bancos, sistema financeiro de maneira geral, o ‘mercado’; 2) A criação de âncoras, cuja escolha nada tem a ver com a isenção requerida para tal função. Os interesses movem as escolhas – quem são esses âncoras? Âncoras do quê? Formadores de opinião? Pra quê? Com opinião de quem? 3) Atrelamento vigoroso da mídia nativa aos grandes grupos midiáticos norte-americanos e alguns (escolhidos) da Europa. Péssimo exemplo o noticiário nas últimas semanas sobre o referendo da Venezuela. Uma vergonha. 4) A al-Jazira só é citada para revelações de seqüestros no Iraque. E seu conteúdo editorial, jornalístico? Por que não é divulgado? Por que podemos ler as opiniões do Wall Street Journal ou do Washington Post, do NY Times, da Newsweek, do Independent etc., e não de outras fontes? 5) Ferramentas sutis para edição das notícias, cujos cortes e flashes tornam-nas balelas.

Não sou partidário da censura. Não concordo com o cerceamento do jornalismo e muito menos de jornalistas. Mas, quem controla a mídia? A própria mídia? Impossível. A aplicação da Lei de Imprensa? Ridículo. O público de maneira geral? Que público? Qual o acesso do público em geral a informações isentas? Estado, Jornal da Tarde, Folha de S.Paulo, Veja, Época etc? São retratos de um mesmo negativo. Não revelam nada além do idem. Portanto, como em qualquer campo da vida humana, deve haver limites tangíveis, monitoráveis, onde não haja cerceamento da informação, e muito menos deturpação de notícias. (…)

Hoje em dia, na mídia em geral, a coisa mais natural é cair em contradição, e tudo bem. (…) A dívida com a verdade factual é gritante. Chega a ser indecorosa, grotesca. Ontem grande parte dos atuais meios de comunicação era palco do teatro da ditadura militar. Hoje estes mesmos querem total liberdade para falar o que bem entender. Total incoerência.

Edouard Mekhalian, engenheiro, São Paulo