Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Produção de sentido vs. ideologia

Interação. A expertise do jornalista em verter a multiplicidade em texto é fundamental para manter o fôlego dos veículos de comunicação. Além de apresentar um projeto gráfico moderno e cativante (nas últimas semanas o jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte, MG, mudou o formato em busca de consolidar leitores e conquistar público), jornais e jornalistas precisam investir na qualidade da apuração. Ainda mais agora, com a lei de livre acesso à informação pública. O dilema entre acesso e interpretação instaura um desafio aos repórteres e público.

A ressignificação a partir das transformações culturais estabelece um novo padrão de narrativa. A vulnerabilidade da mídia, quando exposta à opinião pública, diminui poder de persuasão da imprensa em manipular as interpretações da massa. No entanto, torna-se inevitável manter a transparência para assim buscar manter credibilidade perante a sociedade como fonte oficial dos fatos. Para isso, não pode ignorar o processo colaborativo da atual narrativa midiática. A tecnologia viabilizou a formalização do cochicho.

A participação em congressos e eventos promovidos pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais permite uma percepção preocupante. A profissão se mostra esvaziada em prol do interesse de apenas encher o bolso e mobiliar a vida de descartáveis ideologias. Com pesar, observam-se as brigas por questões irrelevantes, o afastamento da reflexão do fazer comunicação. Cansada, a profissão tropeça (do regional ao nacional) no desgaste. Cursos vazios, redações sucateadas, textos pobres, confusão. Poucos resistem, poucos investem. Trata-se de um perfil alarmante, no qual toda a sociedade está inserida.

Estagnação social

Queremos o mérito da transparência, mas não ser transparentes. Os princípios éticos têm sido manipulados conforme a conveniência. Enquanto focarmos a satisfação como resultado de lucro financeiro crescente, isso não mudará, mas irá intensificar o desenvolvimento atrofiado da sociedade.

O descaso impera, a incoerência reverbera. Esvaziamos garrafas e estouramos estatísticas. Igrejas, escolas, residências, empresas e imprensa. Caminhamos para uma apocalíptica estagnação social. A cidadania aos poucos é usurpada, embora alguns lampejos de esperança despontem em publicações exemplares, jornalistas de verdade e pessoas com iniciativas dignas de um futuro melhor.

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[Rudson Vieira é jornalista, Coronel Fabriciano, MG]