Parabéns pela lúcida preocupação [‘Só a mídia é capaz de vencer o terrorismo’]. A nós leitores, será que resta somente a resignação de ver a mídia banalizar estas questões por incompetência e por incapacidade de ir ao âmago dos problemas da sociedade um pouco mais importantes do que a aliança que o Ronaldo deu à Cicarelli? Ou será que é um reflexo da sociedade ‘avestruz’ que, por medo de expor sua incompetência, não consegue analisar a fundo o massacre dos mendigos de São Paulo como a mais nova versão do terrorismo na sua versão grotesca e tupiniquim?
Celso Zilbovicius, dentista-sanitarista, São Paulo
Não é panacéia
A mídia tem uma função nobre, mas uma atuação pobre, desvirtuada. O atropelo de informações e a prioridade dada a fatos privados (como o casamento de Ronaldinho) desmantela a mídia de sua função como formadora de opinião e espaço de debate. Afinal, o que há para ser debatido sobre o casamento do Ronaldo? Concordo que a mídia tenha grande potencial para a luta contra o terrorismo, mas não concordo que somente ela possa vencê-lo. Ela não pode ser vista como uma panacéia. Uma grande contribuinte, sim, mas não a solução para um problema tão complexo como o do terrorismo.
A cultura atual (e conseqüentemente a educação e formação em geral, inclusive midiática) se baseia no interesse pela polêmica, pelo privado, pelo escandaloso. A velocidade de informação e as prioridades escusas dos jornais fazem com que, num dia, um mendigo de São Paulo durma sobre o seus problemas nas primeiras páginas dos jornais e, no outro, sobre massacres terroristas num lugar difícil de soletrar. Dado todo esse contexto, penso ser complicado lançar às costas da mídia toda a responsabilidade pela derrota do terrorismo.
Luiz Felipe Adurens Cordeiro, sociólogo, São Carlos, SP
E os cadáveres sudaneses?
Cadáveres russos valem mais do que cadáveres sudaneses? A meu ver, essa é uma grande questão para a mídia. O massacre na Rússia tem sido amplamente divulgado e discutido, já o massacre no Sudão (parece que é quase uma Rússia mensal, às vezes, semanal) praticamente inexiste na mídia. Por que a vida nas grandes potências são mais valorizadas do que as vidas africanas?
Fabiana Tambellini, educadora, São Paulo
E as vítimas dos ‘civilizados’?
Admiro e respeito Alberto Dines, mas não posso concordar com sua visão sobre o terrorismo. Para ele, o terrorismo é decorrência apenas de mentes doentias, cruéis e fanáticas muçulmanas, como se fatores sociais, históricos e políticos não tivessem nenhuma influência. Indiretamente, concorda com Bush e Putin, que defendem a repressão militar como solução do problema.
Se a mídia deve mostrar os cadáveres das vítimas do terrorismo, que mostrem também as milhares de vítimas das nações ‘civilizadas’. Os mortos do Iraque, do Afeganistão, da Palestina etc.. Onde estão eles? Com todo o terrorismo, que é realmente abominável, morreram 1.000 americanos no Iraque até o momento e milhares de iraquianos, incluindo mulheres e crianças. Com todo o terrorismo, morreram na última Intifada mais de 3 mil palestinos e cerca de 900 israelenses. Ou a mídia deve ser adepta do lema ‘mil indianos valem 100 americanos’? Denunciar o terrorismo, sim, mas também a opressão, injustiça, assassinatos, colonialismo dos governos ‘civilizados’ do Ocidente cristão.
Laércio Góes, jornalista, Salvador