O problema não está na crise econômica que sufoca as empresas, nem na abulia política que torna o país escravo das reuniões do Copom e das taxas de juros.
Está faltando garra aos jornalistas, vontade de fazer coisas, criar, empurrar. Cumprem-se tarefas e obrigações, preenchem-se espaços e tempos vazios, mas desapareceu o empenho pessoal, a pressão interior, a pauta íntima.
A série de três artigos de página inteira assinados pelo jornalista Ali Kamel no Globo (4, 5 e 6/4) constitui exceção. Em primeiro lugar pelo tema e coragem do título, ‘O terror islâmico’. Depois, pela profundidade da pesquisa e clareza do texto. E, finalmente, porque, presume-se, a iniciativa foi dele. Na qualidade de diretor-executivo da Central Globo de Jornalismo, não precisa inventar tarefas para ocupar-se.
Como um estudioso, Kamel quer saber e sente-se obrigado a informar. Tem a noção de que o jornalista, além de acompanhar os acontecimentos, obriga-se a relacioná-los. O compromisso é com a busca informação mas, sobretudo, com a difusão do conhecimento.
Com este tipo de garra devidamente multiplicada, nossos veículos talvez fossem menos descartáveis e mais estimulantes.