Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O mouse ético

Hoje, um dos maiores problemas na vida escolar é a cópia de textos da internet (mas também na prática jornalística e na vida profissional em geral). Alunos da 8ª série ou pós-graduandos usam e abusam do Ctrl + C / Ctrl + V, o copia-e-cola, e apresentam excelentes trabalhos sobre qualquer assunto. Basta procurar no Google.

Os professores contam inúmeras e cabeludas histórias a respeito. Até parecem histórias de pescador. Um professor universitário que ministra a disciplina de Ética ficou estarrecido ao constatar a falta de ética dos alunos que copiaram da web trechos enormes para resenharem um livro sobre… ética!

Além dos espaços da casa e da rua, do trabalho e do templo, a virtualidade surgiu com um código segundo o qual eu, você, todos nós podemos nos apropriar do acessável/acessível sem impedimentos ou testemunhas. Parece natural copiar sem citar a fonte ou sequer imaginar que o texto roubado foi construído com sangue, suor e lágrimas por um honesto escritor… ou foi copiado também de outro lugar!

Cópia de parágrafos inteiros, de páginas inteiras. Um estudante com leitura medíocre ou nula torna-se, depois de algumas clicadas, profundo conhecedor de Adorno, Nietzsche e Umberto Eco. Os plagiadores mais inocentes copiam e colam sem pensar duas vezes. Já os que aprenderam a arte de enganar e enganar-se mudam palavras, inserem outras, mexem aqui e ali, tornando difícil alguém descobrir a origem de sua ‘inspiração’.

Elogio da virtude

Talvez a causa mais freqüente para este tipo de plágio seja o medo de errar ou não alcançar os padrões de qualidade exigidos, conforme li num artigo do próprio Observatório da Imprensa, e do qual copiei as palavras acima, alterando três ou quatro para despistar.

Mais do que caçadores de plágio, professores e educadores devem defender a mentalidade que privilegia o texto do aluno, ainda que contenha erros. Prefiro ler um texto autêntico cheio de problemas do que um texto correto em que o equívoco é ainda mais grave: falta de opinião própria e de auto-respeito.

Dar zero, humilhar em público, ameaçar com expulsão… nada disso trará bons resultados. Palmatória e outros recursos violentos jamais conseguiram fazer o elogio da virtude. O mouse ético não se instala numa pessoa mediante gritos ou comandos.

A mão que segura o mouse pertence a uma pessoa, e é esta pessoa que devemos entender melhor e educar para o melhor.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br