‘No início do mês, completei 35 anos de jornalismo. Na quarta, fui honrado com o prêmio Colunista de Economia, Mídia Impressa, em eleição com 80 mil jornalistas usuários do portal ‘Comunique-se’ -prêmio da coluna e da Folha. Escrevo aqui o que procurei passar aos colegas presentes ao encontro da premiação. Nesses anos todos, muita água rolou debaixo da ponte. Houve o período do deslumbramento com o ‘milagre’, a resistência dos anos 80, a marcha das diretas. Depois, a imprensa se assumindo como poder de fato, na campanha do impeachment de Fernando Collor. De lá para cá, acirraram-se vários tipos de competição na mídia, setorialmente, entre jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão; depois, todos eles entre si, e também entre os próprios jornalistas, colunistas, comentaristas e âncoras. Se a visão de mercado, de um lado, aproximou a mídia dos chamados interesses difusos do público, por outro implantou um vale-tudo na competição. Desde o impeachment de Collor, a cada dois ou três anos passa-se por vendaval semelhante, um clima irracional que atropela tudo o que vê pela frente, sem compromisso com a objetividade jornalística, com o distanciamento, com a isenção, com o bom senso. O jornalismo de opinião é um dos quatro Poderes de uma democracia e tem algumas qualidades intrínsecas que não podem ser desrespeitadas: capacidade de análise, distanciamento crítico, isenção, senso de justiça, discernimento, respeito aos direitos individuais.
A busca por público tem que se dar em cima desses parâmetros -o que exigirá criatividade, capacidade de inovação, visão diferenciada de pauta. A busca obsessiva por audiência acabou levando a armadilhas reiteradas. O leitor quer sangue? Dê-lhe sangue. Quer desrespeito aos processos institucionais? Ofereçam-lhe as sentenças capitais das matérias adjetivadas, em que não se dá ao acusado o direito de defesa e se escondem as provas. Há muitos indícios relevantes de práticas condenáveis a serem apurados no atual momento político. O problema é o método, pelo que tem de ineficiente -porque sem discernimento-, de antipedagógico -porque explora os mais baixos sentimentos da opinião pública-, e refuga a institucionalidade dos processos. Individualmente, nós, jornalistas, somos frutos de um mesmo padrão família brasileira classe média. O que acontece, então, nesses momentos de catarse, em que se passa a banalizar a honra alheia, a não calibrar o poder do qual o jornalista se investe? Há uma loucura coletiva que transforma a anormalidade em padrão, como se cada desvairado definisse o novo piso da catarse. Muitos jornalistas ingressam na profissão. Depois, há um funil que permite a poucos se destacarem. Parte do destaque se deve a mérito próprio. Parte mais relevante a oportunidades e circunstâncias. Não há nada mais revelador de caráter do que a arrogância e o deslumbramento com o poder provisório. Que o diga o próprio PT.’
TODA MÍDIA
Nelson de Sá
‘Incentiva, melhora ‘, copyright Folha de S. Paulo, 16/09/05
‘Dos EUA, Lula voltou a ganhar tempo nas Globos e nas demais para tratar de outros assuntos, fora a crise.
‘Para falar sobre pobreza’, no dizer do ‘Jornal Nacional’, e até da ‘participação dos países em desenvolvimento no Conselho de Segurança apesar da resistência dos países ricos’, de acordo com o ‘Globo Notícia’.
Em especial, é claro, para repisar que a economia ‘não será mexida por conta de política e campanha’. Sobre os juros:
– Chegou o momento.
Na manchete do UOL, depois, ‘Juros fazem dólar cair e risco-país despencar quase 4%’. Nas manchetes da Record, ‘Risco-Brasil cai ao menor nível desde 97 e anima investidor’.
Da Globo News, ainda mais animada, entrando o dia todo direto da Bolsa de Valores:
– A redução dos juros incentiva, ajuda, melhora os negócios. A Bovespa tem novo recorde de pontuação na história.
Destacou-se, além dos juros, o anúncio da ‘captação soberana em reais, operação inédita no país’. De um consultor:
– É momento importante. Estamos verificando que existe procura por dívida indexada em real. É motivo de confiança.
Não demorou para surgir, nos sites do ‘Financial Times’ e do ‘Wall Street Journal’, a notícia da captação em reais, a ser feita ‘na próxima semana’.
E o mais significativo, talvez, na avaliação do ‘FT’, ‘as ações brasileiras têm sido pouco afetadas pelo tumulto político’.
FINCAR O PÉ
Soldados americanos andam pelas ruas de Pillar, ontem no SBT
Após dias de noticiário no argentino ‘Clarín’ e nos jornais paraguaios, com eco no ‘Bom Dia Brasil’, da Globo, o SBT enviou uma equipe atrás dos soldados americanos. Foi manchete, ‘nossos repórteres mostram o que os soldados americanos estão fazendo no Paraguai’.
Em Pillar, ‘a 340 quilômetros de Assunção’, não havia muito o que mostrar. Nas ruas de terra, ‘os americanos distribuem remédios e prestam auxílio médico’:
– Mas os líderes oposicionistas dizem que o trabalho é apenas um despiste para fincarem o pé no país.
Os problemas maiores prosseguem na Argentina e no ‘Clarín’, com destaque para a ameaça subliminar, ao menos entendida assim no jornal, de racha no Mercosul, feita ontem pelo vice-presidente do Paraguai, ofendido supostamente pela desconfiança brasileira. Ao fundo, no destaque sul-americano da Globo, também ontem:
– Na fronteira com a Argentina, caminhões parados. O governo Kirchner impôs barreiras aos calçados brasileiros. Cerca de 800 mil pares esperam para entrar.
Hoje, hoje
O blog de Jorge Bastos Moreno, no Globo Online, foi parar no ‘JN’, da Globo, e na CBN. O blogueiro entrevistou Severino e até postou sem revisão, ‘devido à pressa’. Destacou:
– Hoje, hoje, eu digo: não renuncio, vou lutar até o fim.
Em outra passagem:
– Estou sendo vítima de uma disputa de poder.
O ‘JN’ evitou a segunda parte e levou à escalada, com William Bonner, que ‘nos bastidores Severino já admite renunciar’.
Mais uma chance
Do mesmo ‘JN’, conselhos para a sucessão:
– A Câmara está com sorte. Oito meses depois da eleição de Severino, pode ter a chance de consertar a lambança monumental que fez. Raramente a vida dá às pessoas uma segunda oportunidade tão cedo quando cometem erro tão grave. Que os partidos não se deixem cegar pela mesquinhez política e não joguem pela janela a nova chance.
Champanhe
No final da tarde, Roberto Jefferson chamou entrevista coletiva e a Globo News nem noticiou. A Band News transmitiu sozinha, sem canais abertos, nada.
A Globo, ao que parece, quer esquecer o deputado. E passou o dia relatando a ‘festa’ que promoveu, após a cassação:
– A despedida, regada a champanhe, foi logo depois… Ele perdeu os direitos políticos até 2015, mas terminou a noite com aliados, festejando com champanhe…
Sem falar de Franklin Martins, ontem até Alexandre Garcia avançou contra Jefferson. Sobre para o petebista, além da Band News, a rádio Bandeirantes, à qual deu entrevista logo cedo.
Velório
Como noticiou a Folha Online, o blog Vizinho de Jefferson, do publicitário que relata o cotidiano no apartamento do deputado, não viu alegria:
– Estava mais para velório e acabou cedo, por volta de meia-noite e meia.
NORMAL
Do ‘Jornal da Globo’ ao Ratinho, no SBT, as cenas de violência no confronto entre estudantes e policiais, em São Paulo, tomaram mais de um dia nas redes. Só ficou de fora o ‘Jornal Nacional’, apesar do cinegrafista ferido. E o governador Geraldo Alckmin passou o dia dizendo por que, segundo Paulo Henrique Amorim, ‘se recusa a aumentar o orçamento que vai para a educação’.
Tem mais. De sua entrevista a José Paulo de Andrade na rádio Band, sobre a secretaria da Fazenda:
– O fato de a Daslu ter se utilizado da funcionária que é, coincidentemente, sua filha mudou o tratamento?
– Absolutamente. Saiu dentro do prazo normal.’
FSP
CONTESTADAPainel do Leitor, FSP
‘Rio Grande do Sul ‘, copyright Folha de S. Paulo, 16/09/05
‘‘Marcelino Pies, ex-secretário de Finanças do PT no Rio Grande do Sul, não foi tesoureiro de minha campanha ao governo do Estado em 2002, como está na reportagem ‘Campo perde apoio em SP e candidatos no RS e no DF’ (Brasil, 14/9). O tesoureiro de minha campanha era João Ceolin, e o controlador, indicado por mim, era Luis Alberto Rodrigues, ex-auditor do Tribunal de Contas do Estado.’ Tarso Genro, presidente nacional do PT (Brasília, DF)
Nota da Redação – Leia abaixo a seção ‘Erramos’.’
INCÊNDIO EM MARÍLIA
Fábio Amato
‘Polícia tem novo suspeito de ataque a jornal ‘, copyright Folha de S. Paulo, 16/09/05
‘A Polícia Civil de Marília (444 km de São Paulo) divulgou ontem o nome de mais um suspeito de participação no atentado contra um jornal e duas rádios da cidade, ocorrido em 8 de setembro. Amarildo Barbosa teve a prisão preventiva decretada no início da semana. Até o começo da noite de ontem ele ainda estava foragido.
Segundo a polícia, todos os três suspeitos já identificados possuem ligações com o ex-prefeito da cidade, José Abelardo Guimarães Camarinha (PMDB), e com o filho dele, o deputado estadual Vinícius Camarinha (PSB). Pai e filho negam participação no caso.
O incêndio que atingiu a sede da Central Marília de Notícias destruiu parte das instalações do jornal ‘Diário de Marília’ e das rádios Diário FM e Dirceu AM. O prédio foi invadido por três homens e uma mulher que, após renderem um vigia, espalharam gasolina e atearam fogo no local.
O primeiro suspeito, Amauri Campoy, 57, foi preso um dia depois do crime. No início da semana, foi decretada a prisão de Amarildo Barbosa e de Bruno Gaudêncio Coércio, 22. Por indicação de Vinícius Camarinha, Barbosa atuou como assessor da liderança do PSB na Assembléia Legislativa de São Paulo até o início deste mês, quando pediu exoneração (publicada anteontem pelo ‘Diário Oficial’).’