O presidente Lula é um privilegiado. Tem um caminhão de analistas. Positivos ou negativos, Mas tem. O jornalista e professor da USP Bernardo Kucinski se tornou agora um deles. Editor diário da Carta Crítica, ex-Carta Ácida, uma resenha sobre o noticiário diário da imprensa, que desde 1998 faz parte do café da manhã de Luiz Inácio Lula da Silva.
O jornalista Kucinski, que sempre foi auxiliar discreto, deixou a discrição de lado e concedeu longa entrevista a Alice Sosnowski, do Repórter Social [ver remissão abaixo]. Nela o autor das cartas críticas analisa o perfil de Lula, do governo e o relacionamento do presidente com a imprensa.
É nesse ponto que Kucinski pode ter cometido um exagero ao tachar que ‘sempre foi muito ruim’ o relacionamento de Lula com a imprensa. Kucinski afirma que Lula ‘sempre foi muito maltratado pela imprensa, tirando alguns períodos – como em certo momento da greve de 1978. Fora alguns períodos, ele sempre foi muito desrespeitado. Os jornalistas não aceitam um líder político que não tenha diploma’.
Na análise, Kucinski é ácido com os jornalistas, mas não o é com os donos dos veículos de comunicação. Para ele, ‘os jornalistas não têm respeito com a pessoa do Lula. Há sempre um pressuposto de que ele vai falar besteira, vai errar, de que ele não conhece as coisas, usando como parâmetro um conceito de saber que é acadêmico. O Lula sempre foi tratado com discriminação e desrespeito. E em momentos cruciais, ele foi bombardeado com difamação. Eu me lembro que alguns momentos específicos, como aquela história do carro que ele vendeu ou dele morar numa casa de favor, coisa que milhões de brasileiros fazem. Tudo era distorcido para mostrá-lo como propenso à corrupção’.
Os algozes
O professor da USP foi às raias do exagero e não mediu palavras para cometê-lo. Na verdade, o presidente Lula, desde que surgiu no cenário político em fins dos anos 70, sempre foi muito bem tratado pela imprensa. Haja vista que a maioria dos jornalistas, desde aquela época, comungava dos mesmos sentimentos de Lula. Todos queriam o fim da ditadura.
Claro que em alguns momentos surgiram fatos obscuros que turvaram a biografia do líder do PT, como o seu relacionamento com alguns empresários, que se aproximaram dele com o intuito de tirar proveito. Isso é comum e acontece com muitos líderes, por que não aconteceria com Luiz Inácio Lula da Silva? A imprensa apenas cumpriu o seu papel ao narrar esses acontecimentos da vida de Lula.
A relação com a imprensa começou a se deteriorar após a posse de Lula. O próprio Kucinski concorda em que o problema não foi criado pelos jornalistas, mas pelo próprio governo ao distanciar o presidente da imprensa. Com o estouro do mensalão, a imprensa passou a noticiar e analisar a questão e não poderia ser de outra forma. A reação indignada de Lula com a imprensa, acusando-a de fazer parte de um golpe orquestrado pelas elites, fez com que todo o sentimentalismo existente na relação de Lula com os jornalistas desmoronasse.
Bernardo Kucinski foi muito severo com seus colegas, quando deveria sê-lo com os companheiros do governo, que foram os verdadeiros algozes do mau relacionamento de Lula com a imprensa nos dias de hoje, com o que ele, também, concorda.
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Jornalista