Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A partícula do diabo

Está divertido ver na mídia as explicações sobre a descoberta da partícula subatômica que começa com um nome complicado, bóson de Higgs. Para simplificar, atribui-se um nome popular, chamando-a “partícula de Deus”. Mas pelo que se ouve daqueles que querem entendê-la, está mais para uma partícula do diabo.

Agora as revistas semanais e os grandes jornais diários ilustram suas matérias sobre o assunto até com fotografias da tal partícula, tida como uma coisa fabulosa. Colocam informações sobre o peso do tal bóson, de 126 bilhões de eletro volts (e nem explicam que peso é esse que não é medido em quilogramas), falam de “nível 5 sigma”, do campo Higgs ( campo… de futebol?), do tamanho desse monstro, (dez elevado a menos quinze metros), sem falar de assuntos paralelos como o LHC – o “maior acelerador de partículas do mundo”, colisão de prótons e do famoso big bang. Um verdadeiro samba do crioulo doido.

Na verdade, essas coisas são muito mais teóricas que visíveis. Se um átomo é tão pequenino, imagine seus componentes (diante dessas partículas, consideradas gigantes), prótons e neutrons no núcleo e elétrons na periferia. E ainda são carregados com cargas negativas e positivas. Os elétrons são tão misteriosos que um GPS não apontaria sua localização porque –embora existam – têm presença incerta. E que dizer de prótons que vivem juntos apesar de todos possuírem cargas iguais? Atribuem-se misteriosas “forças nucleares” para essa convivência. E aqueles prótons que, tal como o Super Homem faz numa cabine telefônica, se transformam em nêutrons trocando partículas subatômicas e com isto fazendo a transubstanciação tão procurada na antiguidade?

Matéria, energia e vida

Não seria mais confortável informar para a galera que o que se descobriu (ou pensa que se descobriu) foi uma fabulosa partícula subatômica responsável pela transformação de energia em matéria?

Fui professor de Física durante minha vida (hoje sou aposentado) e pertenci a uma escola que procurava simplificar as informações, em vez de complicá-las em nome da ciência. Uma vez fiz uma experimentação interessante sobre este assunto, confinando alguns grãos de feijão dentro de uma ampola de vidro hermeticamente fechada e com luz, água e nutrientes para que os feijões brotassem num sistema fechado. Acompanhamos o crescimento das plantinhas pesando-as em uma balança de precisão da PUC Curitiba e, para nossa surpresa, a massa do sistema diminuía à medida que a plantinha crescia. Isto se explica porque, para formar a vida, ela “roubava” matéria e energia do meio. Como o fundamento “vida” não tem peso, o sistema pesava cada vez menos. E na morte ele devolve toda essa massa adquirida (um ser humano perde 21 gramas quando pesado antes e depois de morrer). Portanto, não existem somente as transformações lineares entre matéria e energia sob a responsabilidade do tal bóson. Na verdade, são três componentes universais – matéria, energia e vida –, cada um ocupando o vértice de um triângulo e trocando partes de si com os dois outros.

Simples assim.

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[Luiz Ernesto Wanke é professor aposentado, Curitiba, PR]