O governo está empenhado em fazer a economia deslanchar no segundo semestre e crescer entre 4% e 5% em 2013. A expansão deste ano deve ser inferior aos 2,7% de 2011, segundo a maior parte das previsões – até da área oficial – em circulação nas últimas semanas.
Para reativar a produção, Brasília tem cortado juros, reduzido impostos para alguns setores e aumentado a proteção contra os concorrentes de fora. Além disso, a presidente Dilma Rousseff tem cobrado mais esforço dos ministros para elevar o investimento federal.
Economistas e empresários cobram mais que isso. Segundo eles, a política econômica está excessivamente voltada para o curto prazo, como se os problemas da indústria fossem apenas conjunturais. Num seminário na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tentou refutar essa afirmação. Segundo ele, as autoridades têm, de fato, atAcado problemas estruturais, mas praticamente se limitou, em seu discurso, a mencionar os cortes de juros, incentivos fiscais e as intervenções no mercado de câmbio.
Custos e competitividade
A maior parte dos jornais deu bom espaço às declarações do ministro. O Valor destacou suas críticas ao setor bancário e seu elogio à atuação dos bancos públicos, Sem estes, disse Mantega, a desaceleração da economia brasileira teria sido maior. Também segundo ele, a insegurança externa tem ofuscado “mudanças qualitativas importantes na macroeconomia brasileira”. Durante a semana, no entanto, matérias de vários jornais contrastaram com o discurso oficial.
Na segunda-feira (2/7), o Estado de S.Paulo saiu com dois textos importantes sobre a eficiência da política econômica e entraves fiscais ao crescimento. A indústria automobilística, segundo o jornal, criou poucos empregos depois de haver recebido R$ 26 bilhões em incentivos fiscais. Cada emprego custou cerca de R$ 1 milhão de impostos cortados.
O Globo apresentou o mesmo assunto na primeira página. Na matéria do Estadão, o economista Gabriel Leal de Barros, da Fundação Getúlio Vargas, foi além da questão conjuntural: “A indústria automotiva do Brasil tem 60 anos e a da Coreia do Sul, 35, mas eles (os coreanos) são tão mais competitivos que o consumidor consegue perceber isso apenas entrando no carro”. Em outra matéria, na mesma edição, o jornal comparou a carga tributária do Brasil com a dos outros Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul: a tributação brasileira é muito mais pesada.
No dia seguinte, o Brasil Econômico destacou em manchete: “Medidas de estímulo impulsionam as importações, e não a produção”. Esse fato havia sido observado muitas vezes em colunas e comentários, mas raramente enfatizado na cobertura do dia a dia. Como a indústria nacional enfrenta dificuldade crescente para competir, parte dos incentivos acaba resultando em mais compras de produtos estrangeiros. As importações têm crescido mais que as exportações e o saldo comercial vêm sendo corroído há meses.
Dois dias depois, o mesmo jornal voltou a bater no tema dos custos e do poder de competição, novamente em manchete: “Empresas perdem US$ 80 bilhões por ano com gargalos na logística”. A estimativa aparece em estudo da Fundação Dom Cabral, um dos principais centros brasileiros de estudos sobre competitividade.
Mais que um registro
A Folha de S.Paulo abriu a edição de sábado (7/7) com uma notícia boa para os industriais: “Governo vai reduzir custo da tarifa de eletricidade”. Logo abaixo: “Objetivo é estimular investimentos na indústria e elevar a competitividade”. Empresários batem há muito tempo na questão do custo da energia, elevado principalmente pelos impostos. Com apoio do Congresso, o governo poderá mexer em alguns encargos, mas ainda sobrará a pesada tributação estadual. A presidente Dilma Rousseff, de toda forma, reconhece haver algo mais, na crise brasileira, que os impactos criados pela turbulência financeira e pela recessão no mundo rico.
No domingo (8), o Estadão voltou a um tema bem conhecido, mas nem sempre explorado nas discussões sobre competitividade e infraestrutura: a competência gerencial do governo para elaborar e executar programas e projetos. Manchete da edição dominical: “Governo tem R$ 59 bi para investimento, mas não consegue gastar”. A maior parte do dinheiro desembolsado para obras custeadas pelo Tesouro corresponde a restos a pagar, isto é, recursos empenhados em exercícios anteriores e transferidos para os anos seguintes.
Foi uma semana produtiva para alguns dos jornais mais importantes. Eles provaram, mais uma vez, sua capacidade de contribuir para os debates mais relevantes, indo além do mero registro de declarações e dos fatos mais ostensivos. Mas isso dá um pouco mais de trabalho.
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[Rolf Kuntz é jornalista]