Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Márcia de Chiara

‘Na era virtual, o velho radinho ainda tem mercado garantido ao lado de eletrônicos sofisticados, como TV de plasma e computadores que só faltam falar. Tanto é que as poucas marcas existentes têm planos para aumentar a oferta do produto e lançar novos modelos nos próximos meses. Calcula-se que são vendidos por ano cerca de 1 milhão de rádios no País, embora o item nem conste das estatísticas do setor eletroeletrônico. Os volumes podem parecer reduzidos se comparados à produção de TVs, que somou no ano passado 5,4 milhões de unidades. Já o mercado de computadores pessoais gira cerca 3 milhões de aparelhos por ano.

A indústria está voltando a se interessar pelo produto porque ele tem um mercado eclético e cativo: do vigilante ou freqüentador dos campos de futebol, passando pela população rural, a altos executivos. Acacio Queiroz, de 56 anos, presidente para a América Latina da Ace Seguradora, se considera um ‘dinossauro do rádio’. Começa o dia escutando noticiário pelo rádio enquanto faz a barba e se prepara para ir ao trabalho. ‘Das 6h às 8h, quando não tem horário político, ouço rádio’, diz ele, que repete a dose após as 23h. Em seu escritório na Avenida Paulista, ele tem um rádio de mesa, que liga nos intervalos das reuniões.

Apesar de ter acesso a outros aparelhos eletrônicos, Queiroz considera o rádio mais prático, além do fato de a informação ser em tempo real. Ele conta que criou produtos voltados para a população de baixa renda tomando conhecimento das necessidades dessas camadas por meio do rádio. A idéia de lançar um seguro da conta de luz para quem perdeu o emprego nasceu ouvindo rádio.

As indústrias farejam um potencial maior de mercado para o produto. A Dynacom, por exemplo, se prepara para dobrar a produção atual de 15 mil rádios por mês a partir de 2005 com a expansão da fábrica de Manaus. ‘O rádio não morreu’, diz o gerente Comercial, Eduardo Barrinha. Desde 2002 no mercado, a companhia produz um modelo que pesa 164 gramas e custa R$ 28. A partir de 2005, lançará três modelos. Negocia também parcerias para fabricar rádios com a marca de clubes de futebol.

Barrinha destaca que a maior parte das vendas do produto se concentra em cidades do interior. No Estado de São Paulo, essa fatia chega a 70%. O supervisor geral da Lojas Cem, Valdemir Colleone, confirma que os maiores volumes vão para a zona rural. Na sua rede, que tem força nas cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais, para cada 3 TVs vendidos, 1 rádio portátil é comercializado. ‘O rádio portátil nunca esteve fora de linha. O consumo é certo’, afirma Colleone. Empresários dizem que o principal problema do mercado é o contrabando, que deve girar volume equivalente ao do mercado formal.

Fábrica – A NKS, que importa da China 30 mil aparelhos por mês, decidiu investir R$ 27 milhões numa fábrica em Salvador para montar rádios a partir de 2005. ‘Esse mercado cresce cerca de 6% ao ano’, diz o sócio da empresa, Antonio Alves. A expectativa é dobrar os volumes quando a fábrica estiver a todo vapor. Hoje a empresa trabalha com dois modelos de rádio portátil: um que pesa 80 gramas e custa R$ 19 e outro de 200 gramas, que sai por R$ 40. ‘Temos estudos para lançar outros modelos.’

A Semp Toshiba é outra que se prepara para lançar um segundo modelo de rádio de mesa em 2005. A empresa, que nasceu produzindo rádio, interrompeu a linha nos anos 90 e voltou a fabricá-lo em 2002, quando a companhia completou 60 anos. Segundo o presidente do grupo, Afonso Antônio Hennel, vale a pena investir no rádio porque como o País tem dimensões continentais e a maioria da população é de baixa renda, o item tem mercado garantido.

A Motobras produz no País sete modelos de rádio, dois portáteis e cinco de mesa, e quer lançar outros nos próximos meses. Fundada em 1993, a fábrica em Brasópolis (MG), com 160 funcionários, produz 30 mil aparelhos por mês, dos quais 90% de portáteis. De acordo com a empresa, o mercado potencial para o produto é muito grande, mas os impostos que recaem sobre a produção limitam a expansão das vendas. Do preço médio de R$ 42 no varejo, R$ 20 se referem a impostos, informa a companhia.’



Renato Cruz

‘Som melhor. E até textos e imagens’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/09/04

‘Tudo está virando digital no Brasil, menos a TV aberta e o rádio. A digitalização permitiria um aumento da qualidade. As emissoras AM teriam a mesma qualidade das atuais FM, enquanto as FM teriam um som próximo do CD.

Além disso, a digitalização possibilita às emissoras transmitirem outros tipos de informação que não o som, como textos ou até imagens.

Ainda não existe previsão de o rádio digital entrar em operação no Brasil.

‘Os radiodifusores já entenderam que precisam colocar à disposição do público uma rádio competitiva e com qualidade de áudio similar às outras mídias’, afirmou o diretor de Rádio da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e Telecomunicações (SET), Ronaldo Siqueira Barbosa. ‘O governo é o fiel da balança dos radiodifusores.’

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) informou que analisa o assunto, mas que não há uma data para a decisão a respeito da renovação do rádio. Um grupo formado por representantes da SET e da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert) estuda duas alternativas tecnológicas para o rádio brasileiro: o sistema europeu Digital Radio Mondiale (DRM), que serve somente para o AM, e o americano Ibiquity, para o AM e o FM. Ambos permitem a transmissão do sinal digital simultanemente ao analógico, sem a necessidade de faixas ou canais adicionais. Essa característica é conhecida como In Band, On Channel (Iboc). Ou, em português, na mesma faixa e no mesmo canal.

Em agosto, havia 128 estações de rádio americanas com transmissão digital, de um total de aproximadamente 11 mil. As vendas de aparelhos digitais ainda são baixas nos Estados Unidos, e devem ficar próximas de 250 mil unidades este ano, de acordo com a empresa de pesquisas IDC. O potencial, porém, é grande. Em 2007, devem ser vendidos perto de 5 milhões.

Assim como ocorre no rádio via satélite (ver matéria acima), o AM e o FM digitais podem transmitir informações sobre a música que está tocando, identificando, na forma de texto, seu nome, compositor e intérprete.

Dependendo do modelo, o aparelho tem a capacidade até de mostrar a capa do disco de que foi tirada a faixa, ou uma foto do artista.

O visor do rádio pode exibir manchetes e mensagens comerciais. Pelo rádio, um carro com sistema eletrônico de navegação pode receber informações sobre itinerários e obstáculos à frente, como acidentes, congestionamentos e obras. As emissoras ganham espaço em sua faixa para transmitir conteúdo de internet e outros tipos de informações para computadores e demais dispositivos eletrônicos.

Existem de 4.100 a 4.500 emissoras comerciais em operação no Brasil. Se forem adicionadas as emissoras educativas e comunitárias, o total sobe para 6.700. Segundo estimativa do grupo Abert/SET, os custos de digitalização devem ficar entre R$ 50 mil e R$ 150 mil para as emissoras. Os consumidores poderão comprar receptores com preços entre R$ 400 e R$ 1,2 mil.

‘Para a maioria da população, o rádio digital deve demorar a chegar mesmo a médio prazo’, afirmou o engenheiro Flávio Nathan, da Gradiente. ‘Se houver empenho, o sistema pode ser lançado no Brasil daqui um ano.’ O principal mercado, numa primeira fase, deve ser o de aparelhos para o carro. Depois, o de sistemas integrados. ‘Não é possível atingir o patamar do que vendem os camelôs.’’

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‘Nos Estados Unidos, a opção via satélite’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/09/04

‘O rádio também pode vir do espaço. Nos Estados Unidos, as empresas XM e Sirius competem com as tradicionais emissoras AM e FM ao oferecer serviços por assinatura, cada uma com mais de 120 canais digitais via satélite, cobrindo todo o país. A XM, maior delas, distribui 68 canais de música sem comerciais. Nos outros, notícias, entrevistas e esportes. A empresa usa dois satélites geoestacionários fornecidos pela Boeing e pela Alcatel. A mensalidade custa US$ 9,99 por mês. Em operação desde setembro de 2001, a XM atende a 2,1 milhões de clientes.

Nos canais de música, os aparelhos de rádio via satélite mostram em sua tela os nomes da música e do artista. Na semana passada, a XM também lançou seus serviços via internet, por US$ 7,99 ao mês. A Sirius, principal concorrente, permite que seus assinantes ouçam os canais de graça via rede mundial, mas não tem a opção de assinatura somente pela internet.

Com mais de 500 mil assinantes, a Sirius tem um modelo bastante parecido com o da XM, oferecendo 65 canais de música sem comerciais em todos os EUA. A assinatura custa US$ 12,95 por mês. A empresa espera atingir 1 milhão de assinantes até dezembro. O principal mercado para o rádio via satélite é o automotivo. As empresas têm acordos com grandes fabricantes para que os veículos já venham com os rádios pré-instalados.

‘O satélite deve ser o mais forte concorrente da mobilidade do rádio’, afirmou o diretor técnico da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e Telecomunicações (SET), Ronald Siqueira Barbosa. ‘Isso não significa dizer que ele irá superar o rádio, pois o seu custo é altíssimo para os padrões brasileiros.’ O serviço de rádio via satélite não está disponível no Brasil.’



INTERNET
Renato Cruz

‘Internet rápida começa a engolir o telefone’, copyright O Estado de S. Paulo, 20/09/04

‘Em um mundo de conexões de internet rápida em expansão, o preço da telefonia tende a zero. As soluções de voz sobre protocolo de internet (IP, na sigla em inglês), antes restritas às redes das grandes corporações, começam a chegar à telefonia pública e, conseqüentemente, ao mercado residencial. E não se trata somente de conversar pelo computador, apesar de ser esta uma das alternativas: a telefonia via IP oferecida por empresas como GVT, Transit e Primeira Escolha funciona com um aparelho telefônico convencional, ligado a uma conexão de internet.

As três principais vantagens para o cliente da telefonia sobre internet são preço menor, portabilidade e virtualidade. Por usar o acesso à internet para a telefonia, o serviço custa muito pouco, principalmente na longa distância.

O número do telefone torna-se portátil. Associado a um endereço de rede, é levado a qualquer lugar que tenha acesso à internet. Um vendedor que passa a maior parte do seu tempo em viagem telefona para a empresa pagando sempre tarifas locais, de onde quer que tenha um acesso à internet. Esta característica pode ser aproveitada mais de forma plena por causa da virtualidade. O telefone pode ser instalado em um computador. O cliente carrega sua linha em forma de software instalado num notebook para qualquer parte do mundo. O telefone de São Paulo pode ser usado de Tóquio para São Paulo com tarifa de ligação local. Ou até de graça, dependendo do plano e da operadora.

A construtora Walter Torre Jr. testa o serviço da Primeira Escolha, combinada a uma solução de internet via satélite da Answer Telecom. ‘A solução é fundamental’, afirmou o gerente de Tecnologia da Informação da construtora, Willians Geraldini. ‘Preciso reduzir o custo das minhas obras.’

Sediada em São Paulo, a empresa tem muitas obras na Região Nordeste. Ele citou o exemplo de uma construção em Ipojuca (PE), que gasta cerca de R$ 10 mil mensais em telecomunicações. Os interurbanos equivalem 80% do total. As ligações para São Paulo respondem por R$ 4 mil. ‘Com a voz sobre IP, podemos reduzir a zero o preço das chamadas para São Paulo’, explicou Geraldini. ‘O investimento se paga em dois ou três meses.’

Revolução – Quando o engenheiro Paul Baran escreveu o estudo Sobre a Computação Distribuída, no começo dos anos 1960, não sabia a revolução que estava iniciando. Ele trabalhava para a Rand Corporation, contratada do Departamento de Defesa americano. Seu relatório foi uma resposta ao desafio de criar um sistema de comunicação descentralizado, em que vários computadores diferentes se conversassem, sem a necessidade de uma conexão direta e dedicada entre cada um deles.

A rede telefônica convencional funciona por comutação de circuitos. Quando acontece a chamada telefônica, é estabelecida uma conexão física entre os dois telefones. As centrais telefônicas automatizadas fazem como faziam as telefonistas, que conectavam com um cabo dois pontos de sua mesa telefônica.

Na comutação de pacotes, imaginada por Baran, a solução é diferente. Existem várias rotas possíveis de conexão entre dois pontos que se comunicam. A mensagem é dividida em pacotes de informação, cada um deles com o endereço que precisa alcançar, com envelopes de cartas. Os equipamentos de rede verificam, a cada momento, qual a melhor rota para cada um dos pacotes, e os enviam por meio dela. Os pacotes chegam ao outro ponto por caminhos diferentes e só então a mensagem é remontada.

Pensada no contexto da Guerra Fria, a tecnologia permitia à rede continuar funcionando mesmo se algumas conexões ou equipamentos fossem colocados fora de operação. O estudo de Baran acabou dando origem à internet, que trouxe, com a voz sobre IP, o maior desafio às operadoras dominantes de telecomunicações. Estas empresas relutam em oferecer serviços de voz sobre IP para o cliente final, o que significaria perder receita para manter assinantes. Apesar disso, já usam largamente a tecnologia em sua rede de transporte, que liga distâncias maiores. O Super 15, longa distância da Telefônica, adota a voz sobre IP em suas chamadas fora do Estado de São Paulo. ‘A Telefônica foi pioneira entre as grandes operadoras brasileiras a utilizar a tecnologia IP em sua rede e está preparada em termos tecnológicos para a oferta de serviços de voz sobre IP quando for adequado a seus clientes’, informou a operadora.

Alcance – Pelos custos menores, a voz sobre IP permite ampliar o alcance do serviço telefônico. A Transit Telecom começou um piloto em um condomínio a cerca de 15 quilômetros de Campinas, sem atendimento de telefonia fixa ou celular. ‘O lançamento foi há um mês e temos 50 clientes’, informou o diretor de Tecnologia da Informação da operadora, Alexandre Alves. O cliente precisa assinar uma conexão à internet via rádio. Sobre esta conexão, a Transit oferece a linha telefônica. A instalação custa de R$ 150 a R$ 400. Segundo Alves, a Telefônica cobraria R$ 12 mil por assinante para levar linhas convencionais para o local.

‘As concessionárias têm muito a perder’, afirmou o vice-presidente de Marketing e Vendas do Mercado de Varejo da GVT, Rodrigo Dientsmann. As concessionárias são a Telefônica, Telemar, Brasil Telecom e Embratel. A GVT surgiu para competir com uma delas, a Brasil Telecom, mas atua em cidades fora de sua área original, como São Paulo e Rio de Janeiro.’

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‘Banda larga deverá aumentar 41% este ano’, copyright O Estado de S. Paulo, 20/09/04

‘O acesso rápido à internet crescerá 41% no ano, chegando a 1,682 milhão de assinantes, de acordo com a empresa de pesquisa IDC. ‘Não existe muita ampliação do total de usuários’, explicou o analista José Roberto Mavignier, da IDC. ‘O que acontece é uma migração, principalmente de pequenas empresas e de quem usa a internet para o trabalho.’ Até 2008, o total de assinantes de banda larga deve chegar a 4,284 milhões.

A ampliação da internet rápida, em detrimento da discada, tem levado a um rearranjo do mercado. Um exemplo é a mudança de nome do iG, que há duas semanas substituiu o grátis do nome por ‘generation’, e passou a enfatizar os serviços pagos, principalmente de banda larga. Outro é a ênfase da Globo.com no conteúdo audiovisual, impossível há um ano ou um ano e meio.

‘O principal estímulo à banda larga são conteúdos de vídeo e música’, afirmou o diretor de Marketing da Globo.com, Frederico Monteiro. ‘O acesso discado é restrito a textos e fotos.’ Há três meses a empresa lançou o Globo Media Center, que oferece programação da Rede Globo no computador. A Globo.com adiciona de 400 a 500 novos vídeos por dia, em um arquivo que já chega a 300 mil, com duração de 1 minuto a 2 horas. Estão lá o último capítulo completo de Escrava Isaura, 17 anos do Campeonato Brasileiro de Futebol, com os gols e as finais, a matéria do Jornal Nacional sobre a chegada do homem à Lua, horas e horas de TV Pirata.

Televisão – Trata-se de um material de arquivo que não se encontra nem mesmo no canal aberto ou nos canais da Globosat, para a televisão fechada. ‘É bobagem pensar a internet e a televisão como coisas separadas’, afirmou Monteiro. Ele exemplificou com o Big Brother, dizendo que as informações divulgadas pelo site fazem com que o espectador tenha mais vontade de assistir ao programa. ‘Aumenta o grau de fidelidade.’

A Globo.com tem cerca de 200 mil assinantes, sendo que 20% a 25% contratam somente o conteúdo, o Globo Media Center.

Neste contexto, grandes provedores acabam tendo que investir mais em conteúdo audiovisual. Os gols da rodada são líderes de audiência no UOL na segunda de manhã. ‘Mesmo no fim de semana, muita gente fica conectada depois do jogo, só esperando entrarem os gols’, contou o diretor de Marketing e Vendas do UOL, Alexandre de Freitas. A empresa contratou a jornalista Lilian Wite Fibe para apresentar o UOL News.

Freitas destaca a queda de preços como um dos principais fatores de crescimento da banda larga. Levando-se em conta valores promocionais, já é possível contratar a internet rápida a R$ 45,90 por mês, incluindo provedor e operadora. Há um ano, saía por três vezes mais. ‘Com certeza, a composição é um fator importante’, diz o diretor do UOL, que tem 1,3 milhão de clientes, com 300 mil em banda larga.’



Vannildo Mendes e Laura Diniz

‘Hackers dão mais prejuízo a bancos que ladrões’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/09/04

‘De janeiro a junho, os piratas brasileiros da internet roubaram cerca de R$ 175 milhões de correntistas, bancos e outras instituições financeiras. Desse total, o sistema financeiro conseguiu reaver 70% e deu por perdidos os 30% restantes, algo em torno de R$ 53 milhões. Esse montante é superior ao que quadrilhas de assaltantes de bancos amealharam no período em todo o País.

Os dados foram divulgados pela Polícia Federal na 1.ª Conferência Internacional de Perícias em Crimes Cibernéticos, encerrado ontem em Brasília. No encontro, que contou com a presença de especialistas de 20 países, foram discutidos meios para reduzir os danos causados pelos crimes virtuais.

O Brasil foi escolhido como sede porque desponta como um paraíso de hackers.

Levantamento feito por uma instituição dos Estados Unidos, repassado à organização do evento, revela que entre os dez grupos mais ativos de piratas cibernéticos, oito são brasileiros.

A PF confirma que os delitos na internet assumiram proporções alarmantes. ‘O País está evoluindo no combate a esse tipo de crime, mas os danos são relevantes. Trata-se de um tipo de criminoso sofisticado, inteligente, que provavelmente detesta trocar tiro e talvez nem saiba manejar uma arma, mas sabe aplicar golpes financeiros com maestria’, disse o perito criminal Sérgio Luiz Fava, da organização do simpósio.

Basicamente, são dois os golpes preferidos dos hackers. Num deles, o internauta recebe um e-mail com a proposta de acessar o site de um banco para atualizar o cadastro ou se inscrever em alguma promoção. Ao clicar no endereço indicado, o cliente é direcionado para um clone do site do banco, em que todos os dados digitados, como número da conta, nome de usuário, senha e número de documentos, são copiados pelos golpistas. Com as informações em mãos, eles acessam a conta da vítima e roubam o dinheiro.

O outro é feito por meio de um programa chamado Cavalo de Tróia, que vem anexado em e-mails. Se executado, ele fica guardado na memória do computador e é ativado quando o usuário entra em sites de bancos. O software copia as senhas e manda para os golpistas.

‘Na semana passada, recebi vários e-mails assim a propósito do lançamento do provedor gratuito do SBT e da Telefônica, o ISBT. O anexo era indicado como sendo o programa de instalação do discador, mas, na verdade, era um Cavalo de Tróia’, conta Giordani Rodrigues, diretor do site InfoGuerra, especializado em segurança e privacidade na internet. ‘É o tipo de crime ideal, sem risco, sem troca de tiro nem derramamento de sangue, e com alta rentabilidade.’

Os sites verdadeiros dos bancos são seguros, segundo Rodrigues e o advogado Renato Ópice Blum, especializado em Direito da Internet. ‘Em 99,9% dos casos, a invasão se dá no computador do internauta. Não conheço caso de invasão de computador de banco’, garante Opice Blum.

Na polícia e na Justiça, os desdobramentos de golpes desse tipo ainda engatinham. Há poucas delegacias e policiais especializados em crimes virtuais. A PF prendeu cerca de 50 golpistas desde 2001 e a Polícia Civil paulista, outros 20 desde 2000, disse Opice Blum. Na Justiça, há poucas decisões sobre o assunto. ‘Tenho conhecimento de três decisões sobre isso no Tribunal de Justiça de São Paulo. Duas entenderam que o banco não é responsável pelo dano, já que seu sistema de segurança não foi violado, mas sim o do usuário. Uma outra entendeu que o banco deve restituir o dinheiro ao cliente.’’