Hoje, terça-feira, 10 de julho, é um dia que ficará na história da Research in Motion, RIM, mais conhecida pelo celular que fabrica: o BlackBerry. Os principais acionistas da empresa vão se reunir na sua sede em Waterloo, Canadá, não longe de Toronto. É quando a maioria deles será apresentada ao novo CEO, Tharson Heins, que assumiu o comando em janeiro. O encontro é anual. Em julho passado, a RIM ainda tinha no comando a dupla que fez dela uma grande empresa: os dois co-CEOs Jim Balsillie e Mike Lazaridis. As notícias que tinham eram ruins mas não terríveis. Havia uma queda no valor das ações, mas a recuperação estava na esquina. De um ano para cá, caíram mais 70%. A queda é de 95% desde meados de 2008, quando atingiu seu ponto máximo. A conversa, hoje, não vai ser boa.
Na história, a RIM é importantíssima. Havia outros smartphones, mas o BlackBerry reinou absoluto em seu tempo. Em julho de 2008, o iPhone tinha pouco mais de um ano. Na sua primeira versão, era lento. Muito lento. Vendera pouco mais de 5,5 milhões de unidades. O iPhone era um brinquedo simpático. O Android, por sua vez, nem isso. Era um projeto perdido num andar do Google a meses do lançamento. Desde então, a curva dos dois subiu e a do BlackBerry despencou.
Para clientes corporativos do celular canadense, é um problema. No fim de semana, a agência de notícias especializada em economia Bloomberg News fez circular uma reportagem publicada por inúmeros veículos. Mostra que várias das empresas que usam o aparelho da RIM em suas comunicações internas começam a preparar o plano B.
O BlackBerry é seguro como nenhum aparelho Android ou qualquer modelo de iPhone. É seguro porque nasceu assim: a RIM desenvolveu seu próprio pacote de softwares e servidores, que fazem a distribuição de e-mails e mensagens instantâneas. Está presente em mais de 90 países. Codifica para garantir a inviolabilidade, garante que nada se perde. É o maior trunfo do aparelho. E é por isso que muitas empresas optaram por ele. Agora há dois problemas.
Deterioração rápida
O primeiro é velho, de pouco mais de um ano. Quando o BlackBerry era sinônimo de smartphone, executivos circulavam com o celular cientes de que tinham a melhor tecnologia no bolso. Aí, lentamente, isso foi mudando. Em casa, era a mulher. No clube, aquele amigo mais afeito a novidades. De repente, cada vez mais gente em volta tinha um iPhone ou um Android com uma experiência em todo distinta. Celulares que mostram a web bem e que, mais do que isso, vêm acompanhados de uma infinidade de aplicativos para tudo. Simulam uma calculadora financeira HP, têm AngryBirds, publicam em blogs, trazem apps customizados para as notícias do site favorito. Um computador na palma da mão. As pessoas se acostumam fácil com os novos modelos.
O segundo problema é novo. Despencando como estão as ações da RIM, quanto tempo de saúde financeira lhe sobra? É uma pergunta vital. Se a empresa for vendida ou tomar uma decisão drástica de corte, como ficam os celulares que dependem da continuidade de seus servidores?
Para resolver a primeira questão, a RIM trabalha no desenvolvimento da versão 10 de seu sistema operacional. Seria a solução de tudo. Não é um mero upgrade mas sim o redesenho completo do software, baseado numa tecnologia comprada fora. Mantém a segurança extrema, mas permitirá que programadores escrevam apps com facilidade. É o velho BlackBerry no mundo dos novos iPhones e Androids. Só que há um problema aí: o OS 10, que seria lançado neste encontro anual, foi adiado para início do ano que vem. Tem gente que duvida que será lançado. E, mesmo que seja lançado, nada garante que usuários comprarão novos aparelhos para rodar o sistema ou que desenvolvedores escrevam apps para ele. Afinal, além dos dois mamutes no meio da sala, a Microsoft tem nas mãos uma terceira via que já está pronta e à venda.
O dia não será fácil para o CEO Thorsten Heins. E os próximos trimestres serão ainda menos fáceis para a RIM. Rumores é o que não faltam. A empresa seria fatiada e vendida. Ou abandonaria sua solução para continuar fazendo celulares com um sistema como o Windows Phone ou Android. O diabo é que tecnologia de ponta demora para ser desenvolvida e a deterioração da RIM está ocorrendo cada vez mais rápida.
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[Pedro Doria, de O Globo]