Numa gradação que vai da insignificância de um registro burocrático na Folha de S. Paulo a duas páginas substantivas, no Globo, passando por meia página dedicada apenas a questões eclesiásticas, no Estado de S. Paulo, os principais jornais fizeram o necrológio de dom Eugênio Sales, morto no Rio de Janeiro na segunda-feira, 9/7.
Muito há a dizer sobre dom Eugênio, um clássico príncipe da Igreja Católica, extremamente conservador no plano doutrinário, a ponto de se ter rejubilado com a eleição do cardeal Joseph Ratzinger para papa, mas flexível, hábil, corajoso na defesa de perseguidos políticos durante as ditaduras militares do Cone Sul. Um bom começo é ler o verbete do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro que leva seu nome (acesso livre).
Dom Eugênio foi jornalista: escreveu, criou jornais diocesanos, usou o rádio para se comunicar com os fiéis desde o início de sua trajetória, no Rio Grande do Norte. Em 2008, o repórter José Casado revelou no Globo a ajuda dada pelo cardeal, nos anos 1970, a milhares de refugiados políticos da Argentina, do Chile e do Uruguai, e também a perseguidos políticos brasileiros.
O material do Globo, depois de relatar a ajuda dada por D. Eugênio a militantes do PCB presos e torturados, conta também que
“Em outra ocasião, dom Eugênio deixou embaraçado o general Abdon Sena, que lhe pediu uma missa pelo aniversário do AI-5.
− Vocês que estão satisfeitos com o AI-5 podem agradecer a Deus, mas não por meu intermédio – respondeu.”