‘A coluna Concidadania de domingo passado, dia 12, se propôs a fazer uma análise do processo eleitoral em Fortaleza. Mostrou haver em jogo mais do que uma disputa pela sucessão do prefeito Juraci Magalhães, do PMDB. Na verdade, consta lá, a conjuntura nacional está inserida no cenário e movimenta grande parte das forças nele envolvidas. Assim, de um lado há os que se alinham com o projeto do Governo Lula e, como tal, defendem reforma agrária, rejeitam privatizações e terceirizações no serviço público, querem mercado interno forte, estão ao lado dos movimentos sociais, enfim, articulam-se em torno de uma proposta ‘mais voltada para o social’. É o que diz a coluna, que também, ao definir o perfil do segmento político em que se alinham o PFL, de Moroni Torgan, o PSDB, de Antônio Cambraia, e o PMDB, de Aloísio Carvalho, aponta-o como ligado às privatizações, à ênfase no capital estrangeiro, ao alinhamento com os Estados Unidos e, no âmbito mais regional, à sustentação de Byron Queiróz como administrador do BNB. Parece evidente a intenção de jogar o que for de aparentemente positivo num pacote, o primeiro, e juntar o que for teoricamente negativo em outro, o segundo.
Estar distante é uma maneira de estar próximo
Há uma espécie de maniqueísmo na análise da coluna que, adverti e advirto, não cabe a uma abordagem que se pretenda editorial. Seria própria ao discurso de um candidato, por exemplo. O zelo que O Povo precisa ter com o equilíbrio na sua cobertura é algo que exige a participação da Redação como um todo, não pode excluir qualquer setor ou jornalista. Um deslize que apareça será atribuído ao jornal, com a força de sua institucionalidade. Cada um de nós pode, deve, na verdade, ter sua opção definida, desde que encontremos maneiras de evitar manifestá-la quando nos dirigimos ao conjunto da sociedade através de um espaço editorial. O fato de sermos jornalistas não nos tira a capacidade de analisar cenários, pelo contrário, certamente até serve para aguçá-la, mas, ao mesmo tempo, determina que o façamos sob a ótica da neutralidade, é o chamado distanciamento necessário do fato a relatar.
A análise das esquerda cabe às esquerdas
O responsável pela coluna, Valdemar Menezes, é um dos mais acreditados jornalistas do Ceará, o que justifica sua atual condição de editorialista e editor-sênior do O Povo. No debate interno que travamos ao longo da semana, ele divergiu da minha análise. Para ele não há qualquer direcionamento, lembrando ter deixado claro que considera natural a alternância de poder e, mais ainda, que as forças de centro-direita, onde estariam PFL, PSDB e PMDB, voltem a ocupá-lo. É, com certeza, o que ele pensa, não o sentido que está presente ao que escreveu. Valdemar diz que o texto cumpre a sua proposta, que seria, em resumo, mostrar que o embate de fundo da eleição de Fortaleza é entre duas coligações políticas para a conquista do poder nacional em 2006, que a divisão pode deixar as esquerdas fora do segundo turno e que o ideal seria uma convergência em torno da candidatura de Inácio Arruda.
O problema, pra mim, é que não caberia à coluna analisar o cenário a partir de um ponto de vista específico. Caso as esquerdas não vençam a disputa é porque faltaram votos para tal, ficando para a história registrar se Fortaleza perde ou ganha com o resultado. Lamentar que isso ou aquilo aconteça, em nome de um segmento, é, de certa forma, frustrar um leitor que espera o foco mantido no interesse geral, que nem sempre se confunde com o da esquerda ou de setores dela envolvidos numa disputa.
Os dois caseiros e o proprietário sem nome
Matéria que O Povo publicou na edição do sábado, dia 11, em página de Cotidiano, revoltou leitores. Até mesmo um representante da Comissão de Justiça e Paz da CNBB, Antônio Mourão Cavalcante, procurou o Ombudsman para manifestar o repúdio do núcleo ligado à Igreja Católica à forma considerada discriminatória como o jornal relatou o resultado de uma operação conjunta entre Polícia e Coelce para flagrar ligação clandestina de energia elétrica em mansão da praia do Cumbuco. A notícia publicada dá os nomes dos caseiros presos quando da ação e omite o do proprietário da casa, identificado apenas como um empresário de Fortaleza, do ramo de confecções. Vladimir Spinelli, Henrique Machado e Rogério Prado de Macedo também manifestaram-se indignados com os tratamentos diferentes que o jornal ofereceu aos envolvidos, desconfiados de que a condição sócio-econômica de cada um pesou para definir quem seria exposto e quem merecia proteção na história criminosa que estava sendo contada.
Os nomes vieram junto com o flagrante
A editora-adjunta de Cotidiano, Tânia Alves, no primeiro momento, e o editor-executivo Carlos Ely, posteriormente, vieram em socorro do O Povo. Segundo Tânia, ‘o flagrante foi contra os caseiros. É normal que em tais situações os nomes sejam expostos’. Quanto ao empresário, lembra que o próprio texto informa que não estava no local, sequer tinha ainda sido ouvido pela polícia e, portanto, nada existia contra ele até aquele momento para justificar que fosse citado. Carlos Ely acrescenta que o próprio jornal, que dispunha do nome do empresário, tentou ouvi-lo, sem êxito. ‘Nosso erro, talvez, foi não apresentar um procedimento melhor, que informasse ao leitor o esforço feito para ouvir o proprietário e que fosse capaz de explicar as razões que levaram à decisão de não citar seu nome’.
Segundo Ely, uma demonstração de que não se dá peso a critérios econômicos ou sociais em tais circunstâncias ‘foi a forma como tratamos assunto semelhante em matéria da sexta-feira, dia 17, onde os dados à nossa disposição incriminavam empresário flagrado pela polícia também por causa de uma ligação clandestina e nós apresentamos o nome dele, sem qualquer problema’. Era referência à notícia da prisão do empresário Paulo César Castelo, que, segundo O Povo retifica na edição de ontem, na verdade não aconteceu. Este, porém, é um outro problema.’