‘Gostaria de apresentar-lhes Susan Lucci. Bem, meus leitores costumam ser tão esquisitos que aposto que muitos deles sabem quem é Susan Lucci. Para os outros, aqui vai a apresentação: Susan Lucci é uma atriz americana de telenovelas. É a vilã de ‘All my children’, uma novela que está no ar na rede ABC há 30 anos. Susan é a perversa Erica Kane. Há 30 anos! Quando começou a trabalhar na novela, interpretava uma adolescente problemática. Hoje, é uma coroa bonita de fama internacional. Neste período, seu personagem já se casou nove vezes, foi seqüestrada, sobreviveu a um desastre de avião, enfrentou um urso selvagem, pilotou um helicóptero para resgatar o amante que estava numa prisão… Erica Kane é imortal. Susan Lucci, aparentemente, também.
Seu personagem tornou-se tão popular que Susan ficou conhecida nos Estados Unidos como ‘a mulher que todos adoram odiar’. É claro que, com um personagem de tanta repercussão, Susan Lucci costuma ser indicada na categoria de melhor atriz ao Emmy, o principal prêmio da TV americana. Pois Susan foi indicada ao Emmy 18 vezes seguidas. E perdeu todas as 18 vezes! Sua incapacidade de ganhar a estatueta acabou rendendo mais notícias do que a vilanias que pratica em ‘All my children’.
Mas por que estou falando de prêmios, Susan Lucci e derrotas? É que, na semana passada, fui mais uma vez indicado ao Prêmio Comunique-se, na categoria Jornalismo Cultural. Não sei se vocês se lembram que nesta mesma época, no ano passado, fui a São Paulo para perder o prêmio para Maurício Kubrusly. Foi o mesmo prêmio que William Bonner, na categoria Âncora de Telejornal, perdeu para Carlos Nascimento. Mas desta vez confesso que estava mais animado. Afinal, o vencedor de um ano não pode concorrer no ano seguinte, o que eliminava Kubrusly da competição. Além disso, os organizadores separaram a categoria em duas subcategorias: mídia impressa e mídia eletrônica, o que também tirava da competição Lorena Calábria, a terceira concorrente do ano passado. Quem sabe? Respirei fundo, tirei o paletó do armário e fui.
O que é que a Susan Lucci tem a ver com isso? Bem, à medida que a festa ia passando, comecei a ficar nervoso, perdi o apetite, parei de beber e cheguei à conclusão de que não queria ganhar. Deixa eu explicar: a festa é ótima. Boa bebida, boa comida e a chance de conhecer ambientes paulistas que eu só conhecia de ver no ‘Flash’. No ano passado, foi o Tom Brasil; este ano, o Credicard Hall. Em compensação, quem ganha tem que subir no palco e fazer discurso de agradecimento. Meu Deus, o que se discursa quando se ganha um prêmio? Meus colegas são inteligentíssimos. Todos os vencedores falam em democratização, liberdade de imprensa, a importância da imprensa no desenvolvimento do país… Não sou capaz. Só ficava me lembrando dos calouros do Raul Gil que, quando são aprovados pelo júri, começam agradecendo ‘primeiramente a Deus, que sem ele nada disso seria possível’. Acho que este estilo não pegaria bem. Depois, lembrei-me do próprio Emmy, o prêmio que Susan Lucci perdeu 18 vezes, onde os vencedores sempre agradecem a ‘meu agente’. E jornalista tem agente? Bem, alguns até têm, mas não é o meu caso. O melhor é não ganhar. O melhor é ser indicado 18 vezes, ir à festa, conhecer os megaespaços paulistas, comer bem, beber bem, encontrar colegas que não se vê há muito tempo, conhecer o pessoal da televisão – a Zileide Silva é, definitivamente, uma gracinha – e voltar pra casa. Derrotado e sem ter que fazer discurso.
Mas na noite do 2 Prêmio Comunique-se algo inusitado aconteceu. O senador Eduardo Suplicy participou da festa entregando o troféu para o melhor colunista de notícias da mídia impressa (foi o que Ancelmo ganhou). Quando ele entrou no palco, um gaiato – ok, confesso, fui eu – gritou:
– Canta ‘Blowin’ in the wind’.
A galera foi atrás:
– Canta, canta, canta!
O senador deu um risinho e… cantou! A música inteirinha. Todas as três partes. A capela! E tenho certeza que, se alguém pedisse, ele daria bis. E há algo estranho no canto do senador. É um pouco constrangedor, é meio ridículo, mas é tão sincero que a gente acaba achando que Suplicy cantando a mais famosa das canções de protesto dos anos 60 vale mais do que um discurso pela justiça social, pelas liberdades, pela democratização… Além do mais, não há como discutir, ele desafina, mas é melhor cantor do que o filho Supla.
Resumo da ópera: depois de um senador da República subir ao palco para cantar ‘Blowin’ in the wind’, quem se lembraria de qualquer discurso da noite? Portanto, quando ficou claro que o colunista não seria a Susan Lucci do Comunique-se, já estava relaxado, subi ao palco, fiz os agradecimentos de praxe e me mandei. Sem traumas. Obrigado, Suplicy.
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Para a história ficar completa, é preciso que se diga: William Bonner não foi indicado este ano (no ano que vem, voto nele), Lorena Calábria ganhou na categoria Jornalismo Cultural – Mídia Eletrônica (quem vai ganhar no ano que vem?), Zileide Silva foi a vencedora na categoria Jornalismo Político – Mídia Eletrônica (merecidíssimo) e Susan Lucci… bem, depois das 18 indicações, ela ganhou o Emmy na 19 tentativa.’
PRÊMIO ESSO
‘Prêmio Esso usa internet para julgar trabalhos’, copyright O Globo, 24/09/04
‘Os jurados do Prêmio Esso de Jornalismo, um dos mais tradicionais da imprensa brasileira, terão este ano mais facilidade para julgar os trabalhos. Pela primeira vez na história do prêmio, as reportagens, séries de reportagens e artigos inscritos serão digitalizados e postos à disposição exclusiva dos jurados na internet. O conteúdo do site será divulgado um mês antes das reuniões da comissão que apontará os finalistas
As inscrições para a 49 edição do Prêmio Esso de Jornalismo 2004 se encerram no dia 30. Somente serão aceitos trabalhos publicados entre 1 de outubro de 2003 e 30 de setembro de 2004 (inclusive), em jornais ou revistas brasileiros, e que se refiram a fatos, pessoas ou acontecimentos ocorridos em território nacional ou, se no exterior, abordando assunto brasileiro. As inscrições para o Prêmio Esso de Telejornalismo serão feitas através da direção de jornalismo das redes de televisão.’
COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
‘Novas contas e o amadurecimento das agências’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 23/09/04
‘Esse ano de 2004, na média, para as agências de comunicação, parece repetir 2003, o que quer dizer que mesmo não sendo ruim de todo possivelmente não poderá ser comemorado como um ano excepcional. Tudo faz crer que ficará longe dos anos de ouro, quando o setor conviveu com um boom, atingindo taxas médias de crescimento da ordem de 20% ao ano – isso entre 1998 e 2002.
De todo o modo, o mercado continua vigoroso, movimentado e, pelo que temos acompanhado, com muito trabalho, felizmente. A questão, como comentam inúmeros donos de agências, é a rentabilidade, que caiu muito nesses últimos tempos, fruto sobretudo da crise que levou inúmeras organizações a cortar na carne os investimentos em comunicação.
Há obviamente uma aposta na retomada até porque sabe-se que os investimentos em assessoria de imprensa e em comunicação corporativa estão entre os que custam menos e mais retorno oferecem para as organizações.
Dinâmico, o mercado movimenta-se em todas as direções. E a dança das contas, entre as agências, não pára.
Algumas conquistas até surpreendem, caso da conta da Câmara de Comércio e Indústria Brasil e Iraque, que acaba de ser assumida pela Dança da Chuva. E não deixa de ser curioso que essa conta fosse entregue a uma agência com um nome tão sugestivo. Superstições à parte, o fato é que a agência presidida por Nei Bonfim tem já uma desafiadora missão: divulgar a vinda ao Brasil de uma delegação oficial iraquiana, a negócios, no início de outubro – a primeira em cerca de 15 anos.
Outra conquista curiosa foi anunciada pela Bansen & Associados. A agência dirigida por Bia Bansen e Alexandre Moreno assumiu a assessoria da FebraBingo, a Federação Brasileira de Bingos, entidade com associados nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e Bahia. Um cliente com esse perfil, sob fogo cruzado permanente, não deixa de representar um desafio e uma excepcional oportunidade de atuação, obrigando os profissionais a valerem-se de todo o seu repertório para ter sucesso na empreitada – tanto em relação à mídia e à opinião pública, quanto junto ao próprio cliente.
Filantropia também tem seu espaço. A Organização Internacional do Trabalho – OIT, por exemplo, anunciou que a CDN – Companhia de Notícias, dirigida por João Rodarte e Yara Perez, aceitou colaborar com a Campanha Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo, através da filial Brasília. O trabalho, a propósito, vem sendo desenvolvido desde o início de setembro e envolve divulgação, assessoria em estratégia de comunicação e organização de encontros dos gestores do programa com jornalistas.
Curiosamente, tivemos também, nos últimos dias, três agências anunciando rescisões contratuais, por motivos diferentes.
A Máquina da Notícia, presidida por Maristela Mafei, por exemplo, comunicou ter tomado a iniciativa de retirar-se da Comunicação da Fiesp ao término do mandato de Horácio Lafer Piva, de modo a deixar à vontade – e a poupar de eventuais constrangimentos – o novo presidente que assume o comando da instituição nesta próxima sexta-feira (24/09). Nada mais natural, estratégico e maduro do que entregar um cargo ou uma conta, quando a oposição vence, como foi o caso de Paulo Skaf, na Fiesp.
A ADS, comandada por Antonio De Salvio e Ingrid Rauscher, uma das mais tradicionais agências do País, rescindiu contrato com uma multinacional que, em tese, dá água na boca de qualquer fornecedor, a Aventis Pharma (atual Sanofi-Aventis). Para compensar, anunciou a chegada de dois novos clientes: a Unisoap (detentora da marca Francis) e a editora BookMídia.
Outra agência que anunciou o fim de um contrato foi a Edelman, dirigida, no Brasil, por Vivian Hirsch. A agência comunicou ao mercado que não possui mais a Mastercard como cliente e o fez com naturalidade, recomendando aos que precisassem se comunicar com a empresa que a procurassem diretamente, através dos contatos informados no comunicado.
A semana foi mesmo rica em situações atípicas e até parceria internacional entrou no menu. A Intermeio, de Regina Sion, e a argentina Verbo Comunicación, que tem sede em Buenos Aires, firmaram parceria, passando a atuar de forma conjunta para clientes com interesses nos dois mercados.
Outro tema que entrou no cardápio deste mercado, dias atrás, foi o societário: a Lítera, de Maria Luíza Paiva, que tem clientes como o Grupo Estado (jornais O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde, Agência Estado e Rádio Eldorado), anunciou a chegada de Eliel Cardoso, ex-assessor da Nestlé e também da Philip Morris, como sócio, apostando na expansão dos negócios.
Vemos, pois, com tantos e tão diversificados exemplos, que o setor não só cresceu e se desenvolveu como também amadureceu.
Há, é claro, muito a avançar, mas o caminho está aberto e novas conquistas certamente virão. Ao menos tudo faz crer que assim será.’