Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Eric Lipton e Eric Lichtblau

‘As bandeiras hasteadas após os ataques de 11 de setembro de 2001 ainda tremulam em Nova Jersey. Erguendo-se sobre elas está uma torre de concreto onde funciona uma agência imobiliária, uma empresa de materiais de escritório e, temem os investigadores, um posto avançado da al-Qaeda.

No segundo andar, a Fortress ITX, uma empresa de internet, hospedou sem saber um site em árabe que insuflava americanos a atacar alvos israelenses. ‘A arte do seqüestro’ era explicada em panfletos eletrônicos, ao lado de ‘Instruções para mujahedin’ e ‘Guerra nas cidades’. Os visitantes podiam ler as instruções de como usar um celular para detonar uma bomba ou pedir ajuda para montar um míssil.

– Como pode isso acontecer na nossa vizinhança? -pergunta Cathy Vasilenko, que mora perto da empresa.

Investigadores federais, com a ajuda de um pequeno exército contratado para monitorar sites 24 horas por dia e em todo o mundo, estão tentando descobrir a resposta. Desde que a coalizão americana esmagou campos de treinamento da al-Qaeda no Afeganistão, substitutos cibernéticos, que recrutam terroristas e levantam fundos, proliferaram.

Enquanto membros da al-Qaeda empregam um arsenal de ferramentas para se comunicar – de e-mails criptografados a vídeos de decapitação – investigadores dizem se preocupar mais com a internet porque, por meio dela, os terroristas podem alcançar um público maior com poucas chances de serem detectados. Examinando tais sites, eles esperam identificar quem está por trás e o risco que representam.

Grupos temem violação dos direitos civis

Numa medida que despertou o temor de cercear os direitos civis, promotores afirmam que os administradores desses sites deveriam assumir a responsabilidade criminal pelo que publicam. Tentando aplicar os vastos poderes conferidos pela Lei Patriótica, o governo americano quer punir aqueles que dizem fornecer ‘assessoria e assistência’, atuando assim na campanha global terrorista. O subsecretário de Defesa, Paul Wolfowitz, em seu testemunho no dia 10 de agosto à Comissão das Forças Armadas da Câmara dos Representantes, chamou esses websites de ‘refúgio cibernético’.

– Essas redes são algo maravilhoso que permite todo tipo de coisas boas no mundo. Mas são também uma ferramenta que terroristas usam para esconder suas identidades, movimentar dinheiro, enviar mensagens criptografadas e planejar e executar operações à distância – disse Wolfowitz na ocasião.

Muitos põem em dúvida a estratégia do governo para combater o terrorismo processando operadores de websites.

– É uma tarefa impossível. Você pode pegar alguns, mas nunca poderá conter o fluxo da propaganda radical islâmica – acredita Thomas Hegghammer, da Instituição de Pesquisa de Defesa da Noruega, que monitora o uso da internet pela al-Qaeda.

Ele observa que é difícil distinguir entre o verdadeiro terrorista e o falso.

– Você pode acabar processando muitos jovens revoltados que fazem isso porque é excitante e não porque querem participar de atos terroristas. Não acredito que isso ajude a combater a al-Qaeda.

O governo enfrenta muitos obstáculos na perseguição aos terroristas virtuais. Embora muitas mensagens e páginas radicais islâmicas estejam hospedadas em servidores americanos, empresas como a Fortress ITX dizem que seria impossível – e antiético – manter registros de todo o conteúdo em seus equipamentos.

– É repulsivo, abominável – disse Robert Ellis, vice-presidente-executivo da Fortress, após ver o material do site de Abu al-Bukhary que a sua empresa hospedou. – A empresa dele fechou o site no mês passado após ser informada por um repórter.

O forte foco sobre sites como o de Abu al-Bukhary, numa época em que manuais anarquistas são facilmente encontrados na web, gerou acusações de que a ação contra os refúgios cibernéticos seja na verdade uma campanha antimuçulmana disfarçada, que compromete a primeira emenda da Constituição americana.

– Isso abre caminho para marginalizar muito da liberdade de expressão que tem sido um marco fundamental do sistema legal e político americano – disse Arsalan Iftikhar, diretor legal do Conselho de Relações Americanas-Islâmicas – Globalmente, isso só faz piorar a imagem dos Estados Unidos no restante do mundo.’’



O Estado de S. Paulo

‘Site anuncia execução de refém britânico’, copyright O Estado de S. Paulo, 26/09/04

‘Uma página de radicais islâmicos na Internet anunciou ontem que o grupo radical Monoteísmo e Jihad, liderado pelo jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, executou o refém britânico Kenneth Bigley, de 62 anos. A notícia foi encarada com ceticismo pela Chancelaria da Grã-Bretanha, que não atribui credibilidade ao site, chamado Alezah. ‘Não acreditamos que neste momento essa notícia deva ser levada a sério’, disse um porta-voz, lembrando que a mesmo a home page anunciou o assassinato de duas voluntárias italianas, fato não confirmado.

As duas reféns, Simona Pari e Simona Torretta, trabalham para uma ONG em Bagdá e foram capturadas no dia 12. Ontem, o diário kuwaitiano Al-Rain al-Amm assegurou ter obtido a informação de que elas estão ‘vivas e bem’ Bigley e os americanos Eugene Armstrong e Jack Hensley foram [0]seqüestrados duas semanas atrás em Bagdá. Armstrong e Hensley foram decapitados na semana passada e o grupo pôs na Internet um vídeo mostrando as execuções. Os seqüestradores exigem a libertação de todas as muçulmanas detidas em presídios sob controle das forças de ocupação em Bagdá e Um Qasr (sul do Iraque). Os americanos se negam a negociar. As duas únicas prisioneiras, alegam, são duas cientistas que trabalharam no programa de armas do ex-presidente Saddam Hussein.

Ontem, dirigentes da comunidade muçulmana britânica chegaram ao Kuwait, de onde partiriam para Bagdá com a meta de negociar a libertação de Bigley.

Dezenas de outros estrangeiros continuam desaparecidos. O maior grupo de reféns é o de dez engenheiros de uma empresa de telecomunicações do Egito.

São seis egípcios e quatro iraquianos capturados entre quarta e sexta-feira em Bagdá e Faluja. O Egito informou estar mantendo contato com líderes religiosos e tribais iraquianos para buscar a libertação de seus cidadãos.

Em Washington, o secretário americano de Estado, Colin Powell, antecipou ao New York Times que os EUA pretendem realizar em outubro uma conferência internacional sobre o Iraque, da qual tomariam parte os líderes iraquianos e o G-8 (os sete países mais industrializados do mundo e a Rússia) e nações do Oriente Médio, incluindo o Ira.

O jornal assinala que, durante a Assembléia-Geral da ONU, realizada na semana passada, os americanos pressionaram países árabes para apoiarem o evento, cujo objetivo é outorgar maior legitimidade ao processo eleitoral iraquiano, estimular a participação dos dissidentes e impedir a intromissão de países vizinhos (em particular, o Irã, que os EUA acusam de patrocinar grupos políticos xiitas). A eleição para a Assembléia do Iraque está marcada para janeiro, mas o secretário da Defesa (Pentágono), Donald Rumsfeld, levantou esta semana dúvidas sobre a viabilidade de realizar a votação em cidades onde a violência é maior. (AP, AFP, Reuters e DPA)’



Folha de S. Paulo

‘Mídia tem que combater terror, diz Putin’, copyright Folha de S. Paulo, 25/09/04

‘O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse ontem que a mídia ‘não pode se comportar como observador passivo’ diante das ameaças do terrorismo. Apelou aos jornalistas para que tenham um papel mais engajado com relação a essa questão.

Suas afirmações, em entrevista a agências estrangeiras, foi vista como nova diretriz pela qual o Kremlin procurará controlar mais ainda a mídia no país.

Os jornais russos reagiram com unânime repulsa ao seqüestro de crianças em Beslan, que terminou no início deste mês com mais de 300 mortes. O ato foi reivindicado por terroristas tchetchenos. Mas não é consensual a política de Putin de não negociar com lideranças tchetchenas moderadas e que condenam o terrorismo.

Putin enviou à Duma (Câmara Baixa do Parlamento) projeto pelo qual, em nome do combate ao terror, suprime as eleições diretas para governador. O projeto foi aprovado anteontem por 343 a 0.

Pesquisa do Instituto Vtsiom de ontem indica que 48% dos russos se opõem às reformas políticas. Só 38% disseram aprová-las.

Mas 45% acreditam que as medidas ajudarão a combater o terrorismo, contra 29% que exprimiram opinião oposta.

Putin negou ontem que as reformas limitem a democracia na Rússia e dêem ao Kremlin um perfil de poder parecido ao soviético. Disse que a Rússia não se afastará dos objetivos traçados há dez anos, quando iniciou uma transição democrática para suceder a ditadura comunista.

‘Uma década de reformas nos mostraram que apenas uma adesão coerente com os princípios da democracia pode assegurar à Rússia um desenvolvimento estável’, disse o presidente.

A Associated Press lembra que duas redes independentes de TV foram fechadas, aparentemente por questões financeiras, embora o Kremlin demonstrasse satisfação pela neutralização desses núcleos de crítica às políticas oficiais.

Masha Lipman, analista do Carnegie Center de Moscou, qualificou as declarações de Putin de ‘hipócritas’. Diz que na Rússia é o governo que exerce o papel de árbitro do noticiário, o que o leva a reprimir enfoques dissidentes.

Ainda ontem os jornais russos informaram ter sido lançado documento em que duas dezenas de integrantes da Academia Russa de Televisão afirmam que ‘a TV russa não é livre hoje’.

‘Em lugar de uma informação livre e objetiva, as emissoras nos forçam a consumir a versão oficial dos fatos e desestimulam a livre discussão’, diz o texto.

Corrupção e terrorismo

Um capitão que chefiava a segurança interna do aeroporto de Domodiedovo, Mikhail Artamonov, foi preso e indiciado por cumplicidade com o terrorismo, por ter permitido, no final de agosto, que duas terroristas tchetchenas embarcassem com explosivos em dois aviões Tupolev que fariam vôos domésticos.

A queda dos dois aparelhos matou 89 passageiros e tripulantes.

Duas outras pessoas também foram presas, entre elas Nikolai Korenkov, funcionário de uma companhia aérea acusado de receber propina para que as duas terroristas tchetchenas embarcassem nos vôos que iriam derrubar.’



FSP / The New York Times

‘EUA não conseguem fechar sites pró-terror’, copyright Folha de S. Paulo / The New York Times, 25/09/04

‘Os EUA encontram dificuldades técnicas e jurídicas para tirar do ar sites da internet suspeitos de facilitar contatos e articulações de grupos de terrorismo islâmico, diz o ‘New York Times’.

Casos mais eloqüentes foram identificados e tratados de forma drástica, como o fechamento de sites hospedados pelo Fortress ITX, provedor de Nova York. Eles exortavam ataques a americanos e israelenses e ensinavam como usar um celular como controle remoto para detonar uma bomba.

Órgãos de segurança nos EUA contrataram empresas particulares para monitorar páginas suspeitas e têm no Patriotic Act, legislação aprovada após o 11 de Setembro, uma ferramenta para reprimir os responsáveis.

Mas é difícil, na internet, distinguir terroristas falsos dos verdadeiros, diz Thomas Heggehammer, do Instituto Norueguês de Pesquisa da Defesa, que monitora a ação eletrônica da Al Qaeda.

Ativistas de direitos humanos denunciam abusos de operações de rastreamento feitas fora dos limites da lei.’