Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Rosana Hessel

‘Empresas como o iG perdem interesse pelos serviços grátis e buscam oferecer mais valor aos usuários; base de assinantes de internet rápida vai chegar a 2 milhões em dezembro. A internet brasileira, com cerca de 20 milhões de usuários, ainda está longe da maturidade. O mercado local ainda é pequeno, se comparado com o resto do mundo, principalmente com os Estados Unidos. Mas essa percepção é diferente no segmento de acesso discado, na opinião dos especialistas no negócio. No acesso discado, o mercado já é considerado maduro pois tem uma taxa de crescimento estável, em torno de 1% ao mês. ‘Já a banda larga está no início de sua curva de ascensão’, afirma o diretor geral do Terra, Fernando Madeira.

As estatísticas apontam migração crescente do acesso discado para a banda larga. Nos Estados Unidos, por exemplo, o número de usuários de banda larga chega a 75,7 milhões, de acordo com dados da empresa de consultoria E-Consulting. No Brasil, o número de assinantes ainda é pequeno, gira em torno de 1,3 milhão, apesar de o País figurar entre os dez maiores conjuntos de domínios da web mundial. A expectativa é que o número de assinantes de serviços de acesso rápido para a internet alcance cerca de 2 milhões até o final do ano e todos se empenham em conquistar uma fatia desse mercado crescente, sejam provedores de internet gratuita ou paga. Para isso, uns mudam o nome, outros se mantêm focados nos investimentos em conteúdo.

O Terra, que lidera o mercado de banda larga e é um dos maiores provedores de acesso à web do País, tem como meta repetir o feito de 2003 e ficar com praticamente metade desse bolo. A base crescente de assinantes de banda larga do provedor do grupo Telefônica é de 700 mil e a expectativa é chegar a 1 milhão até dezembro deste ano, informa Madeira. Em 2003, o número de usuários de banda larga era de 500 mil, metade do total de assinantes. A base atual do Terra é de 1,4 milhão de usuários, segundo o diretor geral.

Assim como o Terra, o iG – que tem sua origem como provedor de acesso gratuito -, também registrou aumento significativo na base de usuários de banda larga. De acordo com a gerente de marketing do iG, Flávia Hecksher, o número de assinantes do Super iG, serviço de internet rápida, duplicou. O provedor, que atravessa um processo de transferência do controle para da Telemar para a Brasil Telecom, mudou o nome para Internet Generation, abandonando definitivamente a palavra ‘grátis’. ‘Nosso objetivo é agregar valor à marca’, diz a executiva.

A entrada no mercado de novos provedores de acesso gratuito ligado às operadoras de telefonia, como o iTelefônica, lançado há um ano, não foi sentida pelo iG, informa Flávia. ‘O nosso número de usuários não diminuiu com o aumento da concorrência’, diz. Segundo ela, o iG hoje tem uma carteira de 7,5 milhões de usuários ativos, dos quais 90 mil assinantes do Super iG, que não é gratuito. ‘A carteira de produtos pagos hoje é muito grande e o nome grátis não se adequava mais à empresa’, diz a executiva, sem revelar os investimentos na nova campanha que tem como finalidade fazer com que o consumidor conheça os produtos existentes. ‘Ficamos distantes do público pois passamos dois anos longe da mídia’, diz ela, reconhecendo que é importante para o fortalecimento da marca a presença contínua nos veículos de comunicação.

Para a executiva, o provedor que mais incomoda o iG atualmente é o Terra, que manteve presença constante nos meios de comunicação de massa. De acordo com Madeira, os investimentos em marketing do Terra se mantiveram estáveis nos últimos anos. ‘Neste ano estamos repetindo os gastos do ano passado, corrigidos apenas pela inflação’, diz ele.

Além disso, Madeira conta que o principal objetivo é intensificar os investimentos no desenvolvimento de produtos para lançar um novo serviço em menos de dois meses. Neste ano, o Terra lançou quatro novos produtos e espera lançar mais três até o final do ano. Dos 500 funcionários que trabalham no provedor, 160 estão em dedicados ao desenvolvimento de produtos. ‘Esse é um de nossos três pilares’, acrescenta.

Outro pilar que tem atenção especial do Terra é o atendimento ao cliente e suporte técnico, diz Madeira. O terceiro e último é a proposta de construção da marca. ‘Estamos trabalhando hoje em campanhas de marketing para atingir os 20 milhões de usuários residenciais seja on-line, em outdoor, marketing de relacionamento, eventos e ações temáticas’, acrescenta o executivo, que juntamente com o diretor da Texas Instruments, Antonio Motta, e o presidente da Solectron do Brasil, Ricardo H. Bloj, anunciam nesta quarta-feira, em São Paulo, um novo produto para banda larga.

A America Online Latin America (AOLA), que entrou tardiamente no mercado brasileiro, busca crescer em segmentos específicos. Depois de lançar no ano passado um serviço para banda larga chamado AOL Maxx, a empresa agora quer conquistar o mercado de pequenas e médias empresas. De acordo com a diretora comercial do AOLA, Marise Barroso, em setembro de 2003, a empresa mudou sua estratégia na região, deixando de usar somente o navegador proprietário. A empresa também fez um mapeamento do usuário e começou a criar produtos diferenciados para dois grupos específicos: jovem e profissional. ‘Isso vem garantindo o crescimento da empresa no número de assinantes’, diz ela acrescentando que a banda larga vem registrando crescimento significativo no País. No entanto, ela não revela os números. Até junho, a AOLA tinha 418 mil assinantes (Brasil, Argentina, México e Porto Rico).

Uma das estratégias da AOL é não cobrar pelo que os outros provedores cobram, como ferramentas anti-vírus e anti-spam. ‘Em alguns concorrentes, isso chegam a custar R$ 7,90 por mês’, diz Flávia. Aliás, os preços do AOL são competitivos, especialmente na banda larga, que sai por R$ 12,90 (sem suporte técnico), em São Paulo, para acesso doméstico com conexão Speedy, da Telefônica, de 128 kbps, por mais R$ 49,90. O custo do modem, que chega a R$ 250 no mercado, é zero para o novo assinante, diz Marise. O Terra oferece planos a partir de R$ 14,90 tanto para a banda larga quanto para a banda estreita.’



Assis Moreira

‘Entidade quer desvincular web dos EUA e ter atuação internacional’, copyright Valor Econômico, 22/09/04

‘A entidade privada americana Internet Corporation for Assigned Names and Number (Icann), que gerencia a internet mundial, informou ontem, em meio a um afrontamento diplomático sobre a governança da web, que vai completar em novembro de 2006 sua desvinculação do governo dos Estados Unidos.

Foi a primeira vez que a Icann divulgou essa data para deixar de operar a web via contrato de pesquisa com o governo americano, que vem da época em que um dos fundadores da rede, Jon Postel, trabalhava na Universidade de Califórnia, em Los Angeles.

Paul Verhoef, um dos vice-presidentes da Icann, disse que a entidade será ‘completamente autônoma, prestará contas à comunidade global e com operações profissionais’.

As declarações do representante da Icann foram feitas numa reunião internacional em Genebra para formação do grupo de trabalho da Organização das Nações Unidas que vai propor ações sobre a governança da web.

A delegação do Brasil, que lidera campanha por uma um modelo multilateral para administrar a rede, vê um passo positivo, mas insuficiente, na posição da Icann. A avaliação é de que a autonomia deveria ser antecipada em um ano, para novembro de 2005. Assim coincidiria com a segunda etapa da Cúpula Mundial da Sociedade de Informação, quando 192 países voltarão a examinar o futuro da internet, software livre e outras questões sensíveis envolvendo novas tecnologias da informação e da comunicação.

Além disso, a Icann se ocupa apenas de uma parte da questão, a de atribuir nomes de domínios e endereços numéricos que são utilizados para acessar a rede. Já o controle da infra-estrutura da rede está concentrado em um computador no Departamento de Comércio dos EUA, que replica os endereços – o catálogo telefônico da internet -, para 12 outros servidores, sendo nove nos Estados Unidos e os outros na Suécia, Inglaterra e Japão. É por essa rede que se pode, inclusive, desconectar um país da rede mundial, apagar ou incluir endereços, páginas etc.

Sem surpresa, circulavam na reunião, ontem, cópias de um artigo do ‘International Herald Tribune’, de segunda-feira, segundo o qual o Pentágono bloqueou um site para eleitores fora dos EUA. Provedores de pelo menos 25 países não puderam ter acesso ao site do Federal Voting Assistance Program. Um porta-voz do Pentágono disse ao jornal que o site fora retirado para desestimular hackers (piratas eletrônicos).

‘Quem controla a infra-estrutura pode vir a controlar a rede’, diz Sergio Amadeu, presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI). ‘Por isso, o controle da internet deve ser o mais público e democrático possível.’

A internet é vista cada vez mais como questão de segurança nacional. O Brasil tenta sem sucesso obter a instalação de um servidor principal na América Latina. Os EUA alegam que há problemas técnicos. Mas já deram um passo, fornecendo cópia dos endereços estocados nos servidores principais (DNS root name servers), para um eventual caso de queda total da rede.

Para a Icann, ‘não há nenhuma diferença fundamental entre nossa posição e a do governo brasileiro, de que a Icann deve alcançar a independência’, disse Verhoef ao Valor. ‘A Icann está no caminho de fazer isso. Mas essa independência não pode ser alcançada da noite para o dia.’

Ele destacou que a transição ocorre de maneira cuidadosa para assegurar estabilidade e segurança na internet, e conclamou a comunidade internacional ‘a se juntar (à Icann) e ajudar, desenvolvendo o funcionamento preciso da organização’.

Segundo Verhoef, a Icann está ‘trabalhando duro’ para provar a todos os governos do mundo, incluindo os do Brasil e dos Estados Unidos, que a entidade é efetiva, tem recursos, e que a cada dia dá novos passos para sua ‘completa internacionalização’.

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, é quem vai escolher os representantes de governos, setor privado e sociedade civil para o grupo de trabalho sobre a governança na internet. O Brasil quer ter representantes. Também quer assegurar uma participação idêntica de dois grandes grupos no debate.

Os Estados Unidos, com hegemonia na rede mundial, colocam todo seu peso para manter a abordagem ‘pró-negócios’ na liderança da web. Para Washington, a inovação, a expansão dos serviços, a maior participação e os preços menores na internet virão mais facilmente em um ambiente de mercado do que por meio do excesso de regulamentações.

De outro lado estão países como Brasil, China, Índia, África do Sul e alguns ricos como a Noruega, que pedem uma governança ‘multilateral, democrática, transparente, com maior participação dos governos’.

Ontem, o Brasil reiterou a defesa de um novo modelo, argumentando que a questão vai bem além de nomes de domínio e endereços numéricos que são utilizados para acessar a rede. A delegação brasileira quer ver discutidos temas como proteção da dados, spam (e-mails indesejáveis), segurança na rede, conteúdo, custos de interconexão, proteção de propriedade intelectual e fratura digital – e acha que isso deve ocorrer numa entidade intergovernamental.’



Renato Cruz

‘Ataques digitais crescem 72%’, copyright O Estado de S. Paulo, 26/09/04

‘O hacker Marcos Flávio Assunção, de 23 anos, falou para cerca de 600 funcionários da Pfizer entre os dias 23 e 30 de agosto. O assunto?

Segurança digital. Palestrante, consultor e autor dos livros Guia do Hacker Brasileiro e Desafio Linux Hacker (Visual Books), foi a primeira vez em que Assunção falou a um público não-especializado em tecnologia. ‘O fator humano é o elo mais fraco’, afirmou Assunção, que jura nunca ter usado os conhecimentos de tecnologia de forma ilegal. Ele chegou a ser tema de matéria do jornal The New York Times, em outubro do ano passado. A campanha de segurança da Pfizer foi realizada pela empresa Digital Happenings.

A segurança da informação é uma preocupação crescente. O NIC BR Security Office, grupo do Comitê Gestor da internet brasileira, registrou 34.734 incidentes de segurança no primeiro semestre do ano, o que representa crescimento de 72% sobre o mesmo período de 2003. Metade dos ataques são feitos por meio de vermes, programas que contaminam o computador e se espalham através da rede. Em segundo lugar, vêm os scans (43%), que se referem ao uso de falhas de segurança por criminosos virtuais para vasculhar o computador alheio. Como as notificações ao grupo são voluntárias, o número de incidentes pode ser bem maior.

Existem duas faces dos prejuízos com a segurança digital. Uma delas são as perdas efetivas, causadas pelas ações dos criminosos virtuais. Outras são as perdas potenciais, de negócios que deixam de ser fechados pela internet por causa do medo de fraude. Não existem estimativas seguras do que é perdido com os crimes virtuais, porque as empresas preferem não divulgar quando são vítimas de ataques. Alguns falam em R$ 4 bilhões por ano. Outros em R$ 15 bilhões. A lei brasileira está preparada para punir os criminosos virtuais, na maioria dos casos. ‘Noventa e nove por cento das fraudes são estelionato, o famoso 171’, afirmou o advogado Renato Opice Blum, especialista em direito digital.

Como disse Assunção, o elo mais fraco da corrente são as pessoas. Atitudes simples, como não abrir anexos suspeitos de e-mail e manter atualizados sistema operacional e antivírus, já tornariam bem menos efetivos os ataques virtuais. De olho neste problema, grandes empresas brasileiras – como Submarino, Extra.com, Microsoft e Redecard – lançaram, na semana passada, o Movimento Internet Segura, para conscientizar o usuário final. ‘O principal problema hoje são usuários que não confiam em coisas que são seguras’, afirmou Gastão Mattos, presidente da Câmara-e.net, que coordena a campanha.

Somente 10% dos 30 milhões de internautas brasileiros compram pela rede.

Este ano, o varejo virtual deve movimentar R$ 6 bilhões no País.’