Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Keila Jimezes

‘Nem tudo é o que parece. Essa regra se aplica ao quadrado na TV. Após 6 anos no ar ao vivo, Ratinho entrou, há poucos meses, para a lista de programas gravados do SBT. Silvio Santos resolveu reduzir gastos, cortar pessoal e colocar as mesmas produções e equipes técnicas para produzirem um número maior de atrações. Para isso, tirou o programa de Carlos Massa da linha de shows ao vivo e ameaça fazer o mesmo com duas atrações consagradas justamente por essa característica: Domingo Legal e Hebe. É provável que você nem tenha percebido que o ‘circo’ diário de Ratinho acontece agora três ou quatro dias antes de ir ao ar. Assim como nunca notou também que Serginho Groisman está dormindo enquanto o Altas Horas vai ao ar, ou que os acalorados debates do Saia Justa e do Manhattan Connection, do canal pago GNT, não são tão quentes assim e que Faustão e Gugu não trabalham todos os domingos do ano. É a mágica dos programas gravados com pinta e ritmo de performances ao vivo.

Motivos para a TV fingir que toda sua programação é ‘fresquinha’ não faltam. Apesar de mais atraentes e dinâmicos, os programas ao vivo têm horários menos flexíveis, são passíveis de erros e excessos que não poderiam ser editados – daí bem mais caros, tanto na produção, quanto na parte técnica. Esse, por sinal, é o maior empecilho na produção de atrações em tempo real na TV paga. Além de reduzir custos de produção – uma mesma equipe pode fazer uma porção de programas de gaveta – as atrações gravadas são mais baratas no momento de sua transmissão.

‘Pense em um programa ao vivo na TV por assinatura? Tirando os jornalísticos e alguns eventos como o SP Fashion Week, não sobra nada’, fala a diretora do canal GNT, Letícia Muhana. ‘Nosso sonho era fazer o Saia Justa e o Manhattan Connection ao vivo, mas os custos nos impedem’, continua ela. ‘O espaço no satélite para a transmissão ao vivo é bem mais caro. Isso chega a encarecer em 20% os custos de uma produção, o que não é nada para uma rede nacional, mas é muito para um canal pago.’

O próprio Saia Justa já sentiu o gostinho da transmissão ao vivo. Foi durante o seu primeiro ano no ar, em 2002. Com o Manhattan, isso só aconteceu em casos especiais.

‘Boa parte dos telespectadores pensa que esses debates são ao vivo, pois têm a adrenalina e a espontaneidade desse tipo de programa’, fala Muhana. ‘Tenho de escolher no que investir e prefiro destinar verbas para produções de qualidade do que exibir algo ao vivo, só por exibir.’

Horário difícil – No caso de Serginho Groisman, o inimigo é o relógio, não o custo de produção. Como sugere o título do programa, o Altas Horas vai ao ar nas madrugadas de sábado para domingo, horário ingrato para agendar a participação de convidados e platéia. Talvez por ter larga experiência com programas ao vivo – ele comandou durante anos o Programa Livre – o apresentador tenha emprestado à sua atração na Globo um ritmo que confunde muita gente. Basta acompanhar uma gravação do Altas Horas – às quintas-feiras – para perceber que Groisman não refaz entrevistas e tira de letra os imprevistos. O programa é gravado direto, sem muitas intervenções, e por isso parece ao vivo.

‘Tive de me acostumar a fazer programas gravados, mas vejo vantagens no formato. Dá para limpar sujeirinhas de vídeo e áudio e cortar alguma falha grave’, fala Groisman. ‘Não engano as pessoas fingindo que estou lá de madrugada na TV. Seria ridículo falar no ar : ‘Olha, isso aqui é gravado, hein!’, continua ele. ‘As entrevistas também vão ao ar como foram feitas, sem muita edição, e deixo a platéia bem livre para se manifestar. Têm ainda os links de outros estados que entram no programa, que, apesar de gravados, dão agilidade. Acho que tudo isso acaba contando para que algumas pessoas pensem que o programa é ao vivo.’

Com o quadro Vídeo Game, de Angélica, a agenda dos convidados é o maior problema. A gincana diária do Vídeo Show já tentou disfarçar o fato de ser gravada inteirinha no mesmo dia: fazendo a apresentadora e os participantes trocarem de roupa a cada edição. Não deu certo. Hoje, Angélica e convidados aparecem a semana inteira com o mesmo visual, o que causa certa estranheza aos olhos do público, mas dá mais agilidade ao quadro.

‘Os convidados são, em sua maioria, atores que estão no ar, não estão disponíveis cinco dias por semana, duas horas por dia, para gravar o game’, fala o diretor do Vídeo Show, Mariozinho Vaz. ‘Percebemos que sem a interrupção para trocar de roupa mantínhamos o clima da competição mais vivo.’

Censura – Famoso pelas farpas que solta no ar, Clodovil perdeu no mês passado o espaço livre e longe de cortes na RedeTV! Sua atração, A Casa É Sua, passou a ser gravada na véspera de ir ao ar. A versão da emissora é que a mudança serviu para dar ‘melhor acabamento’ ao programa. Difícil de acreditar, já que 90% das produções da rede são transmitidas ao vivo. Mais difícil ainda se lembrarmos algumas das confusões que Clodovil arranjou no ar enquanto fazia o programa ao vivo. O apresentador não poupou nem os donos da emissora em suas críticas.

Mesmo assim, a RedeTV! garante que Clô continua com total liberdade de expressão. ‘Queríamos que o programa fosse gravado sem perder a espontaneidade do ao vivo, por isso o gravamos sem cortes’, garante a diretora de Programação da rede, Mônica Pimentel. ‘O apresentador passou a fazer ao vivo só o último bloco da atração, em razão dos sorteios do Disk RedeTV!’

Folgas – Com Faustão e Gugu, o caso é outro. O fator ao vivo é item fundamental para a concorrência entre dois programas de auditório. Por isso, exemplares previamente gravados do Domingão do Faustão e do Domingo Legal são raros. Mas, quando os programas são gravados, eles fazem de tudo para que pareçam ao vivo.

‘Gravo em média oito programa por ano, geralmente, em vésperas de feriado. Na gravação, tenho o cuidado de não corrigir alguma coisa que não ficou boa para mantermos o clima de espontaneidade que é a marca do programa ao vivo’, explica Gugu, em e-mail ao Estado. Para o apresentador, a animação da platéia e as entradas das imagens captadas pelo helicóptero – essas, sempre ao vivo, mesmo quando o programa é gravado – esquentam a atração. Gugu diz não saber nada sobre a mudança do Domingo Legal para o formato gravado definitivamente, mas admite que a atração hoje tem uma previsão mais rígida do tempo de duração dos quadros, sem as preocupações com as variações da audiência. Quem conhece o apresentador sabe o quanto ele era viciado em checar a audiência em tempo real do que estava exibindo no programa, para esticar ou encurtar o assunto de acordo com o ibope. Faustão gosta também dessa adrenalina do ao vivo, mas não abre mão de suas férias e folgas anuais em razão disso.

Pelo menos três vezes ao ano, janeiro, maio e setembro, Fausto sai de férias e deixa no lugar edições gravadas do Domingão. O apresentador faz até piada com essa história de fingir que não é gravado. Como costuma falar as horas no ar em seus programas ao vivo, ameaça fazer o mesmo nas edições gravadas, deixando a direção da atração de cabelos em pé.

Apesar de disfarçarem bem, não é difícil notar quando o Domingão e Domingo Legal são gravados. Gugu faz questão de colocar o selinho ‘ao vivo’ no canto direito da tela em sua atração. A ausência do selinho indica que o programa é de gaveta. O número de Pegadinhas, Videocassetadas e Telegramas Legais dobra nos programas gravados, para preencher melhor o espaço das atrações que, ao vivo, são cheias de improviso. Já no Domingão, é comum ver em programas gravados o apresentador aparecer com duas ou até três camisas diferentes na mesma edição.

Mas há quem passe dos limites. O Repórter Cidadão, da Rede TV!, ficou na mira da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo no ano passado por exibir perseguições policiais e tiroteios antigos, sem esclarecer para o telespectador que se tratava de cenas de arquivo. Enganação pura. Brincar de ‘ao vivo’ quase sempre é inofensivo, mas, nesse caso, a TV estava brincando com fogo.

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‘Começar de novo’, copyright O Estado de S. Paulo, 26/09/04

‘A vantagem de fazer programas gravados é a chance de consertar erros, exageros e confusões. Milton Neves que o diga. Durante um ano, o jornalista comandou o Debate Bola, mesa-redonda sobre futebol na Record, gravado. Tempo suficiente para se livrar de alguns sufocos, entre eles, uma briga entre dois participantes do programa: José Luís Datena e Oscar Roberto de Godoy. Os dois saíram no tapa no meio da atração, que teve de ser interrompida e regravada.

‘Gosto mesmo é de fazer ao vivo. Fiz o Debate Bola durante um tempo gravado porque tinha de apresentar um outro programa no mesmo horário na rádio e não podia mudar’, conta Neves. ‘O bom do gravado é que dá para fazer tudo de novo, caso aconteça algum imprevisto. Uma vez tivemos uma briga no programa e graças a Deus era gravado. Se fosse ao vivo, teria dado uns 30 pontos de ibope’, brinca Neves. Neves também reclama que as atrações gravadas acabam perdendo público quando acontece uma catástrofe ou há uma notícia de importância mundial.

‘Morre alguém muito importante, começa uma guerra, acontece um atentado e nos programas gravados tudo continua como se nada tivesse ocorrido’, fala ele. ‘Fica ridículo, parece que o apresentador está vivendo em outro planeta. Passei por isso umas duas vezes enquanto fazia programas gravados e me senti muito mal.’

No caso do Manhattan Connection, do GNT, a regra do gravado só foi quebrada por causa dessas ‘tragédias’ a que Neves se refere e em edições comemorativas. Há 11 anos no ar no GNT, o debate comandado por Lucas Mendes é gravado às sextas-feiras e vai ao ar aos domingos à noite. Teve de ser refeito quando Saddam Hussein foi capturado e ganhou edições especiais ao vivo na época dos atentados ao World Trade Center e ao Pentágono, em eleições presidenciais no Brasil e nos Estados Unidos, e quando as tropas americanas começaram a invadir o Iraque.

‘Eles tinham gravado uma edição do programa falando sobre o Iraque, sobre o Saddam, sobre o Bush, e de repente o Saddam foi capturado’, conta a diretora do GNT, Letícia Muhana. ‘Um programa que fala sobre notícias como o deles corre o risco de alguma catástrofe acontecer entre sexta e domingo, por isso, às vezes tem de ser refeito.’

Diferencial – O fato é que, apesar de as emissoras não admitirem, as atrações ao vivo acabam sendo mais valorizadas pelo público. O próprio GNT viu a sua audiência subir muito quando exibiu edições ao vivo do Manhattan e de eventos como o SP Fashion Week.

Outra prova disso é que o ao vivo vira diferencial em atrações que são geralmente gravadas, para marcar datas especiais. Basta um programa ou um apresentador fazer aniversário para ganhar uma edição especial, em tempo real na TV.

‘Tem uma adrenalina diferente, uma sensação de que nada pode dar errado que acaba empolgando mais os apresentadores’, fala Muhana, do GNT. ‘Ainda não desisti de ter programas ao vivo. Minha idéia é que em 2005 o Saia Justa volte a ser assim.’’



SHOW DO TOM
Carol Knoploch

‘‘Sou exigente para uns e encrenqueiro para outros’’, copyright O Estado de S. Paulo, 26/09/04

‘Tom Cavalcante nunca trabalhou em outra emissora além da Globo. Fez plantão na porta dos Marinhos durante 10 anos. Pagava do bolso viagens de Fortaleza ao Rio para realizar um sonho: ser uma estrela de TV. O humorista chegou lá. Começou na Escolinha do Professor Raimundo, obteve sucesso no Sai de Baixo, ganhou o público com o Pit Bicha no Zorra Total. Conseguiu ‘quase tudo’ o que queria na Globo e se acomodou.

Na busca por mais espaço na tela, Tom fez as malas e embarcou em outro projeto. A partir de amanhã, às 22 horas, comandará o Show do Tom, na Record, com humor, musicais e entrevistas. A princípio, a atração será gravada pouco antes de ir ao ar. A idéia é virar programa ao vivo em breve.

Os convidados da estréia são o cantor Daniel e Popó. O boxeador participará do Alto Controle, quadro com perguntas em que o participante poderá ganhar R$ 10 mil se seus batimentos cardíacos não ultrapassarem um limite preestabelecido – no piloto, exibido em entrevista coletiva, Patrícia de Sabrit chorou quando Tom a perguntou se deveria ter insistido em seu casamento. Enquanto Tom a questionava, imagens de um show de Fábio Júnior eram mostradas no telão.

Não é mera coincidência com um quadro do Boa Noite Brasil, da Band: Vildomar Batista, ex-diretor de Gilberto Barros, agora assina o comando do Show do Tom. ‘Ele é o único que sabe fazer humor sem melindrar o entrevistado’, opina. ‘Não quero trazer o circo dos horrores. A atração terá emoção e humor’, completou Tom, que não irá se caracterizar no palco. Poderá usar alguns apetrechos, como bigode, peruca. Pit Bicha, tipo criado junto com roteiristas da Globo, assim como o porteiro Ribamar, não poderá surgir nas lentes da Record – os personagens ficaram sob os domínios da Globo. Mas Tom admitiu que usará seus bordões famosos. ‘Qualquer um pode falar cuecão de couroooooo’, afirmou o humorista, que criará outros tipos, como o Ronaldocica, uma mistura de Ronaldo com Cicarelli.

Esses tipos poderão, inclusive, entrevistar os convidados ou a platéia. Tom imitará famosos, fará piada, cantará com os artistas, etc. Poderá imitar o Casseta & Planeta e satirizar os companheiros de Record. Já tem piada sobre a diferença de altura entre Ana Hickmann e Paulo Henrique Amorin, ambos do Tudo a Ver.

O ex-pugilista Maguila estará no palco com Tom para ler e-mails. Será também uma espécie de consultor. Uma banda com 11 músicos – alguns escolhidos em barzinhos de São Paulo – ficará em um espaço suspenso do cenário.

Em entrevista ao Estado, Tom lembra do início da carreira, comenta sobre a fama de encrenqueiro e diz que é o terror das empregadas domésticas.

Estado – Quando estreou na Globo?

Tom Cavalcante – Em 12 de outubro de 1992. Foi meu presente do Dia da Criança. Por 10 anos tentei ser um artista da Globo. Comecei na Escolinha do Professor Raimundo com o João Cana Brava. Eu tremia, não decorei o texto.

Foi engraçado.

Estado – Como conseguiu entrar na TV?

Tom – Comecei minha carreira em Fortaleza fazendo revisão de jornal. Achava que o jornal seria um caminho para entrar no rádio. Paralelo a isso, estudava e jogava bola profissionalmente. Era meia-direita em um time juvenil. Até hoje faço exibições para poucos. A última foi na inauguração da quadra de futebol do Zezé Di Camargo. Ninguém me dava nada, mas fui o destaque. Quer dizer, o Marcelo, que se tornou meu primeiro personagem. E olha que lá tinha o Roberto Carlos, o Denílson, o Jorginho…

Estado – Queria ser jogador?

Tom – Muito. Minha história é cheia de lamentos, principalmente por causa da morte da minha mãe. Eu tinha 13 anos. Até os 20, era um cara recatado, com rancor. Minha família era de classe média e depois desta tragédia (a mãe morreu com obstrução intestinal) quis seguir minha vida, procurar um emprego. Meu pai tinha uma confecção e, quando alguém não pagava em dinheiro, recebíamos em bens. Um dia ganhamos uma banda inteira, com guitarra, bateria. Eu cantava pra caramba. Já me sentia no meio artístico e musical e trabalhava na rádio das 3 às 5 horas. Em 1982, com o meu primeiro salário, fui conhecer o Rio e bati na porta da Globo. Sonhava com aquilo.

Queria ser artista. Mas se precisassem de um office-boy eu topava.

Estado – E o Chico Anysio?

Tom – Como não arrumava nada na Globo, voltei para Fortaleza e comecei a me firmar como locutor. Apresentava desfiles de moda, festivais de música.

Durante o trabalho, que era sério, eu levava para a sacanagem, para a brincadeira. Comecei a ser conhecido por conta desse humor (começa a falar com a voz que fazia naqueles eventos). Fazia apresentações em todas as barraquinhas e inferninhos de Fortaleza. O Chico Anysio fazia um show no Centro de Convenções e gravei as chamadas para a sua apresentação. Passei para uma fita e gravei a mesma chamada com outras vozes. Foi difícil mostrar ao Chico, mas quando ouviu, ficou espantado. Perguntou de quem eram as outras vozes e me chamou para trabalhar com ele.

Estado – Como é trabalhar em uma emissora que não é a líder?

Tom – A Globo é a quarta emissora do mundo e não temos a pretensão de sermos líderes. Se der 7, 8, 9 ou 4 pontos de audiência está excelente. Veja bem, vou concorrer com astros de Hollywood (a Globo e o SBT mostram filmes no horário), ou seja com o Tom Cruise, o Arnold Schwarzenegger. É concorrência pesada.

Estado – Estava na hora de mudar?

Tom – Sim. As pessoas não entendem isso. Sair da Globo. Mas é a gente que entende a gente. Já tinha conquistado quase tudo o que quis. Estava acomodado e me glamorizava: saí do Ceará e cheguei à Globo. Podia ficar nessa por mais tempo, ganhando dinheiro. Mas não queria ser esquecido, ficar para trás.

Estado – O que faltou?

Tom – Este programa que terei agora.

Estado – E a multa rescisória?

Tom – Eu paguei, mas não posso falar quanto. Não é muito não… O negócio não é a multa, é ser valente para sair de uma empresa como aquela e se jogar.

Estado – A Record lhe dá o que você pede?

Tom – TV se faz com dinheiro. Montar um show não é fácil. Para os moldes da Record, esta atração é um acontecimento.

Estado – Quais as vantagens e desvantagens de uma emissora menor?

Tom – Corro na contramão. Tenho noção do que passei na vida. Ralei bastante e não me assusto facilmente.

Estado – Você é uma estrela ?

Tom – A Globo é que vendia esta história de melhor humorista do Brasil. Não sou centrado desta forma. Tenho uma preocupação constante de fazer o meu trabalho da melhor maneira possível.

Estado – Como se define, então?

Tom – O público é que me define… Sou um número. Sou o 83% da pesquisa que a Record fez: 83% das pessoas disseram que gostam de mim. E sou o restante também, os que não gostam e os que detestam.

Estado – Você é encrenqueiro?

Tom – Criaram este personagem. Sou exigente para uns e encrenqueiro para outros. A fama deve ter surgido da época do Sai de Baixo. Trabalhávamos de forma bestial. Às vezes não queríamos nem gravar. Todos esgotados, com problemas extras. E cada um é de um jeito.

Estado – Você briga pelo quê?

Tom – Para que este suco que estão me servindo não seja amargo… (um garçom acaba de chegar ao camarim com um copo de suco para ele). Se amanhã sair outra nota nos jornais afirmando que brigo com o pessoal da Record, é porque esta pessoa que é a fonte não está adaptada ao nosso trabalho. Não dá para ser simpático quando tem de acertar o som, quando tem convidado esperando há horas… Brigo pelas pessoas.

Estado – Você tem desafetos?

Tom – Não sou o bom moço da história, tenho defeitos, tenho crescido e estou me aquietando cada vez mais. Briguei com o Chico Anysio, mas estamos bem. No caso do Sai de Baixo, teve muita intriga da imprensa. Uma vez inventei que eu e o Miguel Falabella abriríamos um restaurante. No dia seguinte saiu nos jornais. Estava chegando ao Brasil o modismo americano de fofoca, de tititi.

Estado – Você é bem-humorado?

Tom – Sou, sim. Mas nesses momentos que antecedem o programa não. É muita preocupação. Normalmente, brinco muito. Só quem mora comigo entende. Tem quadros que monto do nada e testo com as empregadas. Morrem de rir até com os sustos que dou nelas. Uso máscaras, tenho cobra, barata. A minha sogra é vítima constante. Colocava pedra na bolsa dela para ficar pesada. Choro, invento diálogos.

Estado – E o assédio nas ruas?

Tom – (risos). Me pedem para imitar o Pit Bicha, o Cana Brava. Em Portugal sou conhecido como Ribamar.

Estado – De qual humorístico você gosta mais?

Tom – O Zorra Total é tradicional e tem público. Gostava dos Os Normais e do Sai de Baixo.

Estado – Como se sente às vésperas de estrear um programa diário?

Tom – Já fiz de tudo em televisão. Fui até apresentador de jornal. Em rádio, entrevistei o FHC. Estou seguro.’