Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalista Léo Gilson
Ribeiro morre em SP


Leia abaixo os textos de sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 12 de janeiro de 2007


VENEZUELA
Paulo Moreira Leite


Pacote socialista de Chávez pega população de surpresa


‘Quarenta e oito horas depois da terceira posse de Hugo Chávez na presidência da Venezuela, o país ainda se recupera do susto. Compreende-se. Não é todo dia que um chefe de Estado rompe o formalismo vazio dos discursos de posse para avisar ao eleitorado que decidiu mudar o regime econômico do país a partir de três palavras duras e trágicas: ‘Pátria, socialismo ou morte.’


A impressão em Caracas, partilhada por cidadãos humildes que se definem como eleitores fanáticos de Chávez e também intelectuais de ar sisudo, envolve uma dúvida essencial. Ou Chávez pronunciou um dos grande blefes da história sul-americana, já riquíssima em afirmações demagógicas dessa natureza, ou fez um pronunciamento que marca uma travessia grave e histórica, equivalente ao discurso de 1961 em que Fidel Castro rompeu com os Estados Unidos e anunciou a adesão de Cuba ao socialismo.


Chávez passou o dia fora, em visita a Nicarágua, onde participou dos festejos pela posse do sandinista Daniel Ortega – a quem entregou uma réplica da espada de Simón Bolivar. Em Caracas, a população discutia o que vai acontecer com o país daqui para a frente. Organizada em torno de Manoel Rosales, candidato vencido por Chávez em dezembro, a oposição decidiu dar início a uma ‘mobilização nacional’ contra o ‘Estado socialista’. Um oposicionista lembrou que ‘não se falou em socialismo durante a campanha, mas em metrô e investimentos para a saúde’.


O rumo deste debate é difícil de prever. Nas palavras de um executivo brasileiro que vive há três anos na Venezuela, ‘os eleitores de Chávez são fanáticos como nunca se viu. Sabe nossas torcidas de futebol em dia de final no Maracanã? É daí para mais’.


O Estado ouviu um desses eleitores, ontem, em Caracas. ‘Chávez é super’, dizia ele, um vendedor ambulante, brinco na orelha, que vendia mexericas, pêssegos e maçãs numa das saídas do metrô. ‘Ele cuida dos pobres. Temos dinheiro, posto de saúde. Tínhamos 5 milhões de pessoas sem estudar. Agora, até são pagas para ir à escola’, acrescenta, referindo-se ao Bolsa Família venezuelano. Ele compara a situação da Venezuela com a Colômbia e afirma: ‘Nossa situação é muito melhor. Além de tudo, lá eles têm guerrilha, droga…’


Mesmo esse eleitor-torcedor dá um sorriso amarelo quando se pergunta pela alteração constitucional que pode permitir a Chávez concorrer a toda reeleição que desejar. ‘Aí eu não gosto’, afirma, com o sorriso de quem enxerga uma esperteza exagerada nessa idéia. E o socialismo? ‘Não sei.’


‘Sou contra o socialismo. Sou democrata’, explica uma arrumadeira que trabalha no centro da capital. ‘Chávez fez coisas boas mas não respeita quem não gosta dele.’


Uma emissora de TV que decidiu fazer uma enquete sobre o assunto recolheu opiniões a favor e contra, mas concluiu que a maioria dos eleitores preferia dizer que não tinha acompanhado o discurso. Não é bem isso. A posse foi transmitida em todos os canais e a visão de ‘Pátria, Socialismo ou Morte’ foi o tema da primeira página dos jornais de ontem. Chávez voltou a repetir essas palavras na Nicarágua, numa cena que também foi exibida ao vivo na Venezuela.


As dúvidas sobre o efeito concreto das medidas anunciadas pelo governo envolvem mesmo parlamentares da base governista que, graças a um boicote dos adversários, levou 100% das cadeiras da Assembléia Nacional. Chávez fez tantas promessas e anunciou tantas novidades nas 2h40 de seu discurso de posse que, segundo uma reportagem do jornal El Nacional, um deputado chegou a comentar: ‘Ainda não consegui entender com clareza todos esses termos novos.’


A verdade é que mesmo empresários que ganharam muito dinheiro graças a um ano de crescimento espetacular, como 2006, têm receio de realizar investimentos no país – em função das incertezas que rondam os negócios.


FALTA DE INVESTIMENTOS


Observadores da economia sustentam que a decisão de anunciar a estatização de diversos setores não tem origem exclusivamente na ideologia do presidente Hugo Chávez – mas na falta de investimentos das empresas privadas, que perdem o ânimo para colocar dinheiro num ambiente de incertezas crescentes.


‘Nem a China comunista fala mais em socialismo. Isso acabou’, afirma o diplomata Milos Alcalay, que representou a Venezuela nas Nações Unidas. Para Manuel Rosales, candidato presidencial derrotado na eleição de dezembro, ‘socialismo é apenas um rótulo para a concentração de poderes e opressão do país’.


Para o deputado Luis Tascon, da base do governo, o socialismo ‘vai acabar com a desigualdade’. Um dos homens de maior peso no terceiro mandato, o vice-presidente Jorge Rodríguez explica que as reformas programadas por Chávez se referem ‘ao Estado socialista que estamos fundando’.


Os sinais de crise e desgaste são pequenos mas mesmo assim significativos. Por exemplo: o governo tenta controlar o câmbio mas é sabotado até por funcionários do Estado, que agem sem muitos pudores. Na saída do Aeroporto Internacional de Caracas, um policial nem tira o uniforme para se oferecer para fazer câmbio para turistas – a uma taxa 40% acima da oficial.


A todo momento, a cena política venezuelana dá a sensação, mesmo a um visitante recém-chegado, de que o país vive as vésperas de um grande impasse, onde grandes confrontos parecem possíveis e quem sabe inevitáveis.


O que vai acontecer? Crítico duríssimo de Chávez, o sociólogo Antonio Cavo, de Caracas, tem uma opinião que é útil para todas as partes. Para ele, o país vive uma situação onde as pessoas ‘não vão agir pelo que sabem, lêem ou conversam. Não adianta falar, convencer. As pessoas reagem de acordo com aquilo que sentem’.


FRASES


Hugo Chávez


Presidente venezuelano


‘Pátria, socialismo ou morte’


Adversário de Chávez


‘Não se falou em socialismo durante a campanha, mas em metrô e investimentos para a saúde’


Manuel Rosales


Líder da oposição


‘Socialismo é apenas um rótulo para a concentração de poderes e opressão do país’


Milos Alcalay


Diplomata venezuelano


‘Nem a China comunista fala mais em socialismo. Isso acabou’


Antonio Cavo


Sociólogo


‘(as pessoas) não vão agir pelo que sabem, lêem ou conversam. Não adianta falar, convencer. As pessoas reagem de acordo com aquilo que sentem’


Executivo brasileiro


‘Os eleitores de Chávez são fanáticos como nunca se viu.


Sabe nossas torcidas de futebol em dia de final no Maracanã? É daí para mais’


Vendedor de frutas


‘Chávez é super. Ele cuida dos pobres. (…) Tínhamos 5 milhões de pessoas sem estudar. Agora, até são pagas para ir à escola’


Arrumadeira


‘Chávez fez coisas boas, mas não respeita quem não gosta dele’


Chávez amplia as estatizações e ameaça empresas lucrativas’


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Intervenção atingirá todo o setor de eletricidade; firmas que tiverem ‘lucros elevados’ serão sobretaxadas


‘O presidente Hugo Chávez vai ampliar ainda mais a intervenção do Estado na economia para levar a Venezuela rumo ao que chama de ‘socialismo do século 21’. O ministro das Finanças, Rodrigo Cabezas, anunciou ontem que o plano de estatização do governo atingirá todas as empresas que atuam no setor de eletricidade do país. Cabezas disse ainda que o governo pode nacionalizar os quatro projetos de exploração de petróleo extra-pesado na faixa do Rio Orinoco, tocados por multinacionais estrangeiras, e aumentar os impostos das empresas que tiverem ‘lucros elevados’.


Além das estatizações, Chávez também pretende aprovar uma lei que lhe permita ser reeleito indefinidamente, mudar o nome oficial do país para República Socialista da Venezuela e conferir-lhe uma nova ‘divisão política territorial’, que substituirá prefeituras por conselhos de cidadãos, eliminando o risco de derrota nas eleições municipais. A oposição venezuelana reagiu afirmando que vai organizar uma ampla campanha de mobilização, segundo Manuel Rosales, o candidato derrotado por Chávez nas eleições de dezembro. ‘Não vamos deixar que a nossa democracia seja perdida e que Chávez e seus aliados se perpetuem no poder’, disse Rosales. ‘Chávez se converteu em um tirano que ordena em público a outros poderes o que eles devem fazer.’


MUDANÇAS RÁPIDAS


A velocidade com que o governo está anunciando as medidas está surpreendendo os venezuelanos. Cabezas confirmou a ampliação da nacionalização do setor elétrico quando dava uma entrevista para a TV estatal. ‘A nacionalização inclui todo o setor elétrico’, disse Cabezas ao ser questionado se a companhia Eletricidade de Caracas, controlada pela americana AES, também passaria para o controle estatal. ‘Esse setor é estratégico e deve estar sob coordenação do Estado’, disse.


Chávez havia causado tensão no mercado financeiro venezuelano no início da semana ao anunciar que estatizaria os setores de eletricidade e telefonia. Ele citou explicitamente apenas a CANTV, a maior operadora de telefonia e provedora de serviços de internet na Venezuela. Ainda na terça-feira, antes de o nome da empresa ter sido confirmado, as ações da Eletricidade de Caracas caíram 20% na Bolsa de Valores venezuelana e suas negociações tiveram de ser suspensas. Ontem, quando elas foram retomadas, os papéis caíram 3,3%. A Eletricidade de Caracas é uma das empresas mais antigas do país e, ao contrário da CANTV (privatizada em 1991), nunca foi estatal.


Com a declaração de Cabezas, entraram na lista das estatizações outras empresas, como a Seneca, controlada pela americana CMS Energy, que opera um gerador de energia na Ilha Margarita. No setor de telecomunicações, porém, a CANTV será a única empresa do setor a ser privatizada, de acordo com o ministro dessa pasta, Jesse Chacon.


Segundo Cabezas, o governo também pretende nacionalizar completamente os quatro projetos de exploração de petróleo extra-pesado na faixa do Rio Orinoco, se fracassarem as negociações com as empresas estrangeiras que atuam na região, como a British Petroleum, e a americanas ExxonMobil. Na segunda-feira Chávez já havia ameaçado mexer nos contratos dessas empresas que, desde o ano passado, estão negociando a formação de joint-ventures nas quais a estatal PDVSA, por imposição do governo venezuelano, teria 51% de participação.


Cabezas também anunciou que o governo procurará aumentar os impostos sobre as companhias que tiverem ‘lucros elevados’. Ele explicou que ainda não foi definido qual ‘mecanismo’ será usado nas nacionalizações e estatizações, mas disse que o mais provável será a elaboração de uma lei específica, incluída no pacote que Chávez pretende aprovar quando receber da Assembléia Nacional poderes extraordinários para governar por decreto. ‘Não haverá ações arbitrárias do ponto de vista jurídico’, garantiu Cabeças. ‘Ninguém vai roubar a CANTV de seus donos, sem um procedimento legal.’


Durante a cerimônia que marcou o início de seu terceiro mandato consecutivo, na quarta-feira, Chávez anunciou que já está redigindo a proposta que permitirá a reeleição indefinida, o que abriria caminho para que fique no poder por décadas. No mesmo dia, a presidente da Assembléia, Cilia Flores concordou aprovar, a pedido do presidente, a ‘Lei Habilitante’ – instrumento que lhe permitirá governar por decreto. Entre as medidas polêmicas também estão a formação de um partido único que reúna todas as correntes governistas e a recusa em renovar a concessão da Radio Caracas Televisão, considerada por Chávez um ‘pilar do golpismo e da desestabilização’. AP, AFP E EFE


AS MEDIDAS DE CHÁVEZ


Poder – Reforma Constitucional para permitir a reeleição indefinida do presidente e pedido de aprovação de lei permitindo governar por decreto.


Estatização – Estatização das empresas de telecomunicação e eletricidade; maior controle estatal sobre exploração de petróleo na bacia do Rio Orinoco; fim da autonomia do Banco Central.


Livre iniciativa – Ameaça de sobretaxar empresas privadas que tiverem ‘lucros elevados’.


País – Mudança do nome do país de República Bolivariana para República Socialista da Venezuela e revisão da divisão político-territorial, reforçando os conselhos comunitários.


Partidos – Criação de partido socialista único, com fusão dos partidos governistas.


Bloco Comercial – Ampliação da ‘Alternativa Bolivariana para as Américas’ (Alba).


Televisão – Não renovação de licenças de emissoras ‘subversivas’.


FRASES


Rodrigo Cabezas


Ministro das Finanças


‘A nacionalização inclui todo o setor elétrico’


‘Não haverá ações arbitrárias do ponto de vista jurídico’’


MEMÓRIA / LÉGIO GILSON RIBEIRO
O Estado de S. Paulo


Morre o crítico literário Léo Gilson Ribeiro


‘Durante a longa carreira, jornalista recebeu vários prêmios


Morreu ontem, por volta do meio-dia e em sua casa, o crítico literário Léo Gilson Ribeiro. O jornalista, que completaria 78 anos no dia 26, deve ser sepultado hoje.


Um dos críticos literários mais respeitados da imprensa brasileira, Gilson Ribeiro colaborava, havia dez anos, com a revista Caros Amigos, da Editora Casa Amarela. Antes, trabalhou por 17 anos no Jornal da Tarde, como repórter especial e crítico literário.


Nascido em Varginha (MG), Gilson Ribeiro era doutor em Literatura pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Foi professor de Literatura Brasileira na Universidade de Hamburgo e o primeiro brasileiro a colaborar com a revista americana The Kennyon Review, escrevendo ainda para a Christ und Welt (Alemanha) e a Lever (Inglaterra).


Começou na profissão em 1960, no extinto Diário de Notícias e no Correio da Manhã, no Rio. Logo depois de publicar os primeiros textos e seu primeiro livro, Crônicas do Absurdo (1964), foi convidado pelo jornalista Mino Carta a colaborar com o Jornal da Tarde e, depois, com a revista Veja.


Durante sua longa carreira, Gilson Ribeiro recebeu vários prêmios, entre eles o Esso de Jornalismo, em 1969, pela matéria A Noite dos Balões, que contava a história trágica de um casal de idosos assassinados por menores infratores. Em 1976, foi reconhecido com o Prêmio de Melhor Crítico Jornalístico/Literário do Brasil pela Editora Nórdica, e em 1988, recebeu o Prêmio de Melhor Ensaio, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) pelo livro O Continente Submerso.


Gilson Ribeiro costumava se definir como um mineiro por acidente, porque toda a sua família era da cidade paulista de Pindamonhangaba. E desde muito cedo conviveu com os grandes nomes da literatura: aos 5 anos, ouvia o pai, Seraphim Barbosa Ribeiro, ler Shakespeare. Já sua avó, Mariana Marcondes, foi uma discípula fiel do maestro Carlos Gomes, contou ele a Ana Lúcia Vasconcelos, em 2004, em entrevista publicada no site pessoal da jornalista e amiga.


Tradutor, ensaísta e dramaturgo, Gilson Ribeiro vinha, nos últimos tempos, relendo seus livros preferidos – só a obra de Proust, foram nove vezes. Continuava também a estudar russo, em aulas particulares – dizia que o idioma, um dos sete que dominava, era uma de suas paixões. Nas mais de 40 décadas que dedicou à literatura, manteve inabalada sua profunda admiração pela obra de Hilda Hilst, a quem costuma classificar como ‘a maior escritora em língua portuguesa’. Sobre ela, escreveu no JT, em 1980: ‘Sua poesia, ao contrário de sua prosa, inteiriça, surgida íntegra como de um só jato, mostra cesuras, fragmentações, um aprendizado, enfim, ao qual não escaparam os supremos clássicos da literatura’.’


LLOSA & MÁRQUEZ
Giles Tremlett


Sinais de degelo na rixa entre Vargas Llosa e García Márquez


‘Uma das rixas mais sérias da literatura mundial, selada com briga de socos em um cinema, há 30 anos, começa a degelar no momento em que o ganhador do prêmio Nobel, o colombiano Gabriel García Márquez, e o escritor peruano Mario Vargas Llosa se dispõem a fazer uma publicação conjunta.


A edição especial de Cem Anos de Solidão, de García Márquez, para comemorar o 40º aniversário do livro este ano, vai incluir um prólogo escrito por Vargas Llosa. ‘Os dois concordaram com isso’, disse o porta-voz da Academia Real Espanhola, que está publicando a edição.


O acordo ocorre apesar do fato de os dois não se falarem desde o episódio da briga num cinema mexicano, em 1976. O livro deve ser lançado em março, quando será apresentado num encontro das academias nacionais de língua espanhola de todo o mundo a ser realizado em Medellín, Colômbia.


A introdução seria um excerto de um livro laudatório de Vargas Llosa sobre García Márquez, publicado quando os dois eram amigos, em 1971, chamado Historia de un Deicidio. Parece que o escritor peruano recusou-se a permitir que o livro fosse publicado novamente depois do confronto com García Márquez. Finalmente, ele cedeu no ano passado, acrescentando-o a uma coletânea de suas obras completas publicada na Espanha. ‘Não faz sentido censurar uma parte da sua vida’, disse ele na época. Ambos os escritores continuam silenciando sobre as razões da briga, a não ser para dizer que foi por um motivo pessoal.


García Márquez, que publicou seu primeiro livro de memórias há quatro anos, está resistindo em escrever um segundo volume, alegadamente porque não quer entrar nas razões por trás dessa briga. ‘Compreendi que, se escrever o segundo volume, terei de falar de coisas que não quero contar sobre certos relacionamentos pessoais que não são bons’, disse ele numa entrevista ao jornal espanhol La Vanguardia no ano passado.


Sejam quais tenham sido os motivos, foi o fim de amizade intensa que chegou ao ponto de levar García Márquez a ser padrinho de batismo de Gabriel, filho de Vargas Llosa.


Os dois pertenceram ao grupo de feras literárias que surgiram na América Latina na década de 1960. Ambos passaram um período vivendo como escritores pobres em sótãos de Paris antes de desfrutarem de sucesso literário. Seus caminhos políticos logo tomaram direções divergentes – García Márquez continua amigo de Fidel Castro, enquanto Vargas Llosa concorreu à presidência do Peru como candidato de direita.


García Márquez admitiu, no ano passado, que está lhe faltando fôlego para escrever. Seus amigos dizem que o escritor, que completa 80 anos este ano, está mais interessado em ler do que em escrever. Já Vargas Llosa, que tem 70 anos, continua a escrever peças de teatro, romances e ensaios. Tradução de Maria de Lourdes Botelho’


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Paixões bate Páginas


‘Dona de modestos 3 pontos no Ibope da Grande São Paulo, a novela Paixões Proibidas, co-produção da Bandeirantes com a RTP – Radiotelevisão Portuguesa – angaria em Portugal números mais expressivos do que Páginas da Vida. Na última terça-feira, Paixões Proibidas, no ar às 21 h, obteve 12,9% de audiência absoluta e 28,9% de share (participação da audiência dentro do universo de aparelhos ligados). No mesmo dia, a novela da Globo, vista lá por outro canal (SIC), em outro horário (22 h), obteve 10% de audiência absoluta e 28,1% de share.


É claro que o cenário da televisão portuguesa difere muito do retrato consolidado pela TV brasileira. Não há lá um canal que lidere o ranking de audiência com tamanha folga, como cá se dá com a Globo.


Mas os bons índices em Portugal valem como alento no momento em que a Bandeirantes dá pistas precoces de desânimo com a teledramaturgia. A empolgação de dois meses atrás, quando a casa alardeou seus investimentos na novela, é um paradoxo à decisão de agora trocar o capítulo das quartas-feiras por jogo de futebol. Oxalá sirva como inovação na TV brasileira: nunca se viu novela que pula um dia no meio da semana.


Enquete bate em Santoro na série Lost


Rodrigo Santoro ainda nem apareceu em Lost para o público brasileiro e, mesmo assim, 48% dos internautas que participaram de uma enquete no site Séries e etc, da Globo.com, dizem que não agüentam mais ouvir falar sobre a presença do ator na série americana. Ainda segundo a apuração, 33% do público acredita que Rodrigo Santoro não foi esperto ao pedir sua saída de Lost, já nessa terceira temporada – porque quer fazer cinema e ficar perto da namorada Ellen Jabour. Somente 13% dos participantes apóiam a decisão do galã.’


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 12 de janeiro de 2007


RC vs. PLANETA
Nelson Motta


Vida e obra


‘Uma maravilhosa história de vida, superação e glória, narrada com paixão e elegância e pesquisada e documentada com rigor, ‘Roberto Carlos em Detalhes’ é uma das melhores biografias de artistas brasileiros já escritas. E logo do maior deles, do mais querido, do rei.


Todos concordam, a crítica, os leitores e os fãs: é um grande livro. Quer dizer, quase todos.


Os advogados de Roberto e da família de Maria Rita entraram na Justiça com uma ação cível e outra criminal pedindo a interdição do livro e uma indenização por danos morais.


Só Roberto pode saber o que seu coração sente ao ler, em tantos detalhes, a sua inacreditável história de vida e arte, com suas dores e delícias, suas perdas e conquistas. Mas para nós, que apenas o amamos, admiramos e respeitamos, é impossível entender o que possa ofender a sua honra nesse tributo emocionado ao seu talento e à sua grandeza.


Também é difícil compreender por que só agora, depois que o livro se tornou um grande e merecido sucesso, que passa de mão em mão, que está na internet, que é história, ele quer tirá-lo de circulação.


Para Roberto, a sua vida é um patrimônio seu e só ele pode contá-la, como e quando quiser. Mas ela não é um livro, é o tema da obra de um escritor. É claro que não é dinheiro que move Roberto, como também não foi por dinheiro que um professor de Niterói trabalhou 15 anos na construção de um painel monumental sobre seu grande ídolo. Foi por amor.


Se Roberto considera errado ou impreciso algum detalhe -afinal, o autor nunca conseguiu entrevistar seu biografado-, ou invasiva a exposição de algumas intimidades de pessoas queridas, irrelevantes para a grandeza do livro, o autor ficará muito feliz em fazer as correções numa nova edição.’


TECNOLOGIA
Adriana Mattos


Preço de TV fina cai, e indústria teme abalo


‘Fabricantes de televisores de tela fina (plasma e LCD) vivem um raro momento de concordância: a queda de preço chegou para ficar, e um abalo na indústria mundial poderá ser inevitável. Essa redução também aconteceu no Brasil nos dois últimos anos e executivos no país afirmam até que vendem o aparelho com prejuízo.


‘Há tantos fabricantes no mercado. Mas quantos sobreviverão?’, pergunta Dong Jin Oh, presidente-executivo da unidade norte-americana da Samsung Electronics, durante a feira de tecnologia Consumer Electronics Show (CES), a maior feira do setor no mundo, que terminou ontem, em Las Vegas (EUA).


‘A demanda está crescendo muito rápido nos EUA, mas a queda de preços é tão gritante, tão grande que [um abalo na indústria] é inevitável’, disse ele.


Na avaliação de Michael Ahn, diretor de operações da LG Electronics nos Estados Unidos, ‘somente algumas empresas poderão sobreviver e se tornarem fabricantes importantes’ no mundo.


No Brasil, empresas como Panasonic, Philips e Gradiente já afirmaram que o televisor de plasma de 42 polegadas, vendido a R$ 4.999 -preço médio das lojas-, é comercializado no vermelho pelas empresas que aceitam praticar esse preço. Ou seja, vende-se, mas sem margem de lucro. ‘Por menos de R$ 5.999, o mercado está vendendo no prejuízo. Não tem como operar com preços tão baixos’, afirmou à Folha Rui Pena, diretor da Panasonic no Brasil.


Pode não fazer sentido uma indústria produzir uma mercadoria sem retorno garantido. Mas isso pode ocorrer como reflexo de uma guerra de preços agressiva, em que uma oferta atropela a seguinte numa velocidade difícil de controlar.


Quando os preços começaram a cair de forma mais acelerada no Brasil, em 2005 -em novembro daquele ano, a TV começou a ser vendida por R$ 9.999-, esperava-se que o volume pudesse compensar a queda nos valores. A quantidade vendida cresceu, mas, como a guerra de preços entre marcas e entre redes varejistas continuou, não houve equilíbrio entre preço e volume.


Quedas descartadas


José Fuentes, vice-presidente da divisão de eletroeletrônicos da Philips para o Brasil, acredita que, daqui para a frente, quedas consideráveis nos preços estão descartadas.


De acordo com a Eletros, a associação de fabricantes de eletroeletrônicos, o segmento de LCD e plasma cresceu 400% em 2005, com 58 mil unidades vendidas (0,6% do total) no ano passado. O setor deve representar 3% das vendas até 2008, prevê a entidade.


A estimativa de fabricantes no país é que TVs de plasma e LCDs representem 2% das vendas de televisores -cerca de 200 mil unidades- no ano.


Como forma de estancar perdas, novas tecnologias (como o sistema de alta definição de imagens) encareceram ligeiramente o aparelho -ou evitaram uma queda ainda maior no preço do produto no ano passado. Mas isso não elevou a margem das fabricantes no país.


Fornecedores de eletrônicos ao redor do mundo tinham grandes expectativas de que a nova onda de televisores fixados em paredes seriam um novo motivador de lucros. Mas o mercado de US$ 84 bilhões tem sido afetado por incessante queda de preços -tornando os lucros cada vez menores para muitas empresas.


Isso poderia mudar se algumas companhias abandonassem o segmento -o que é péssimo para o consumidor. Ele pode acabar pagando mais pelo produto com a menor concorrência. No entanto, é bom para as contas das empresas.


Demanda global


A demanda global por TVs de tela de cristal líquido (LCD) e de plasma deve subir 52% neste ano no mundo, afirma a empresa de pesquisa DisplaySearch.


Entretanto, por conta da deflação nos preços, em termos de receitas, o crescimento mundial no setor deverá ser de somente 22%. No Japão, o faturamento do mercado de TV fina também deve encolher. Joint venture entre a sul-coreana Samsung e a japonesa Sony deve abrir nova fábrica de LCD este ano. A Matsushita (Panasonic) espera iniciar a operação de sua mais recente unidade de produção de telas de plasma até meados do ano. Com agências internacionais’


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‘Computador de US$ 100’ deve ir para o mercado


‘O ‘laptop de US$ 100’, projeto inicialmente voltado a países emergentes, poderá chegar ao público em 2008, disse ontem o presidente do grupo Um Laptop por Criança, Nicholas Negroponte, em feira de tecnologia em Las Vegas. O aparelho seria vendido por US$ 300, o dobro de seu custo, o que ajudaria a financiar o programa. Assim, ao comprar um notebook, o consumidor ajudaria a financiar outro para crianças de países como o Brasil.’


SP SEM PUBLICIDADE
Evandro Spinelli


Kassab quer propaganda em praças


‘Com outdoors proibidos, a prefeitura oferecerá uma alternativa para que as empresas façam propaganda nas ruas de São Paulo: a adoção de praças e áreas públicas.


O projeto existe desde fevereiro de 2003, foi anunciado de novo em outubro de 2005 e será novamente relançado agora, mas com o discurso de que é uma possibilidade de explorar propaganda em uma cidade livre da poluição visual.


Quem adota uma praça, canteiro central de avenida, área verde, túnel, ponte, passarela, viaduto ou prédio público pode anunciar nesses locais, já que a lei de outdoors permite o ‘anúncio indicativo especial’.


As placas com os anúncios têm tamanhos limitados. Em praças de até 200 m2, por exemplo, podem ser colocadas até quatro placas de 50 cm de altura por 72 cm de largura. Já canteiros centrais de avenidas podem receber uma placa de 1,5m de altura por 1m de largura a cada 100 m2.


Mesmo com as limitações de tamanho, a prefeitura aposta que conseguirá adesões. Como a lei não exige que o anúncio seja obrigatoriamente da empresa que fez o contrato, na prática o espaço publicitário pode ser vendido livremente.


O secretário de Coordenação das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, afirmou que a região da Sé -da qual ele também é subprefeito- já tem cerca de 50% de suas áreas adotadas por conta do programa lançado em 2005.


Ele disse que a prefeitura vai negociar com o interessado em áreas da região central da cidade para que também adotem praças na periferia.


No total, São Paulo tem cerca de 4.400 praças que podem ser adotadas, e menos de 1.000 áreas são mantidas por meio desse programa.


A lei do prefeito Gilberto Kassab (PFL) foi criada em setembro de 2006 e passou a valer no dia 1º de janeiro para outdoors, painéis e faixas. O comércio tem até 31 de março para adequar suas fachadas.


Porém, uma série de decisões judiciais impede a execução total da lei. Uma sentença obtida pelo Sepex (Sindicato das Empresas de Publicidade Exterior) dá direito às 44 empresas filiadas de manter suas propagandas até 31 de março.


Outra liminar beneficia os cerca de 40 mil filiados à ACSP (Associação Comercial de São Paulo). Para eles, não foi sequer fixado um prazo a retirada dos anúncios.


Hotéis, bares e restaurantes também conseguiram na Justiça, nesta semana, uma liminar que os libera de cumprir a lei por tempo indeterminado.


A prefeitura informou que está recorrendo de todas as decisões.


Nesta semana, a prefeitura começou uma campanha em jornais e revistas na qual alerta as empresas de outdoors, anunciantes e proprietários de terrenos sobre a lei. O anúncio ressalta o valor da multa: mínimo de R$ 10 mil por anúncio para cada um dos envolvidos.


A campanha custou R$ 822 mil e será paga pela SPTuris -empresa municipal que cuida do turismo. De acordo com Caio Carvalho, presidente da SPTuris, o fim da poluição visual traz uma propaganda positiva para a cidade.’


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Em 11 dias de vigência da lei, prefeitura só retirou 3% dos outdoors irregulares


‘Nos primeiros 11 dias de vigência da lei que extingue a publicidade nas ruas de São Paulo, apenas 3% dos outdoors foram retirados pela prefeitura.


Um balanço divulgado ontem pela Secretaria de Coordenação de Subprefeituras aponta que foram retirados 236 painéis, dentre as 7.000 a 8.000 peças desse tipo nas ruas.


Nesse ritmo, a prefeitura levará pelo menos 326 dias, ou dez meses e meio, para retirar das ruas todos os outdoors tornados ilegais pela lei do prefeito Gilberto Kassab (PFL).


‘Acho que está indo bem dentro do que é possível enquanto existem liminares’, afirmou Andrea Matarazzo, secretário das Subprefeituras.


Ele disse que até agora apenas 24 equipes, de um total de 60, estão trabalhando na retirada dos anúncios. A intenção, porém, é que as próprias empresas retirem o material.


Ontem, a LCM Mídia começou a retirar seus outdoors da área do Anhembi, de propriedade da SPTuris, uma empresa pública municipal. A LCM poderá continuar a explorar a propaganda na parte interna do Anhembi, onde são realizadas feiras e outros eventos.’


MEMÓRIA / LÉO GILSON RIBEIRO
Folha de S. Paulo


Morre o crítico literário Léo Gilson Ribeiro


‘Morreu ontem, em São Paulo, aos 77 anos, o crítico literário Léo Gilson Ribeiro. A causa da morte não foi revelada pela família do jornalista. Ele sofria de anemia profunda. O enterro deve ocorrer hoje.


Natural de Varginha, no interior mineiro, Ribeiro iniciou sua carreira nos extintos ‘Diário de Notícias’ e ‘Correio da Manhã’, no Rio. Em 1964, após escrever ‘Crônicas do Absurdo’, passou a integrar a Redação do ‘Jornal da Tarde’, a convite do jornalista Mino Carta.


Dezessete anos depois, novamente chamado por Carta, passou a assinar textos para a revista ‘Veja’. Na última década, atuou como colaborador da revista ‘Caros Amigos’.


Em 1988, a compilação de perfis de escritores latino-americanos ‘O Continente Submerso’ lhe rendeu o prêmio de melhor ensaio da APCA. Dez anos depois, cuidou da organização d’ ‘Os Melhores Poemas de Carlos Nejar’.’


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