Em linhas gerais, serão apresentadas algumas impressões acerca do impacto televisivo na realidade brasileira. É de conhecimento geral a concepção de TV como um dos maiores meios de comunicação já inventados no mundo. Como formadora de opinião, a rede televisiva avança na discussão dos assuntos quando ajuda a promover a sociabilidade humana. Ao alavancar a audiência de maneira irresponsável, compromete a lisura e a profundidade noticiosa dos fatos. Considerando o fato de a TV possuir um grande potencial comunicativo em matéria de alcance público, por que a mesma nivela por baixo alguns segmentos da população ao optar pela cobertura descontextualizada e superficial da realidade? Tal dilema apresentado ganha maior fôlego de análise quando é acionada, por exemplo, a responsabilidade ética do emissor no processo em questão.
O profissional de televisão precisa destacar como prioridade fundamental o outro polo da cadeia comunicativa: o respeitável público. Inteligência o nosso povo tem de sobra. Imposições mercadológicas e compreensões parcas em matéria de ludicidade prejudicam a qualidade da nossa comunicação. O livre-arbítrio do receptor existe e merece mais campanhas publicitárias neste sentido. A conivência com o fenômeno da mediocridade é de responsabilidade solidária, tanto da sociedade de produtores, como da audiência responsável por ela. Apresentada essa causa problemática, a consequência chata se revela. O público vai sendo desestimulado a formular criticamente opiniões, passando a acreditar em tudo que é exibido na tela. O processo de formação da consciência é danificado por uma condução televisiva deficitária em termos de valores sociais mais sustentáveis e relevantes na projeção do interesse público.
A promoção lamacenta de valores
Educação de qualidade resolve o problema do sensacionalismo editorial que inibe “a janela aberta do mundo”. As emissoras, para angariar maiores índices no Ibope, apelam para informações que causam grande comoção, atrapalhando, assim, um juízo mais sóbrio das ocorrências violentas. Não podemos esquecer que uma televisão de qualidade pode se tornar uma “universidade aberta do povo”, como, certa vez, destacou o poeta Decio Pignatari.
Buscou-se, portanto, apresentar de maneira pontual a discrepância entre a televisão real e a ideal. Trata-se de um assunto caro aos debates a respeito do papel social da mídia. Por um lado, foi reconhecido o potencial educativo da televisão como serviço de utilidade pública. Por outro, acompanhou-se ações irresponsáveis empreendidas por uma TV animada pela promoção lamacenta de valores. A comunidade precisa, de verdade, ser percebida como causa do processo comunicativo.
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[Marcos Fabrício Lopes da Silva é jornalista e doutorando em Literatura Brasileira]