Sou o zé-ninguém, o John Doe, o Diondou em português coloquial. Como todos os brasileiros, de Nova York ao Chuí, nasci analfabeto dos tecnicismos jornalísticos, o que não me eximirá das críticas neste texto amador. Faltam-me os princípios básicos do jornalismo tupiniquim: parcialidade, infográficos coloridos, posição ideológica e polpudos anúncios das estatais brasileiras. Sem contar os editoriais. Sempre quis redigir um editorial. A única coisa que me conforta é que não estou sozinho nesta empreitada: os jornalistas, em geral, empenham-se em publicar editorais em cada página das principais publicações do país. Há tanto editorial que falta espaço para o bom e velho texto imparcial. Vai ver vão encaixá-lo no antigo quadrinho do editorial, aquela área cheia de letrinhas espremidas, desprovida de qualquer figura, gráfico ou detalhe que nos chame a atenção.
No alto da minha insignificância, deparei-me, no último fim de semana de 2006, com uma mega-solução para um mega-problemão mundial: a educação de nossas crianças. Pode parecer loucura, mas arrumamos um substituto para o bom e velho bicho-papão, o famigerado mendigo da sacola velha ou ainda para o vírus que destruirá todos os jogos instalados nos computadores de nossos pimpolhos. É a Força Nacional de Segurança, a mais bem preparada força de combate a não-se-sabe-bem-o-quê do mundo.
Seu filho não quer comer direito? Chame a Força Nacional! A menina não desgruda do telefone? Chame a Força Nacional! O bebê está fazendo manha e não quer dormir? Chame a Força Nacional! A parabólica foi arrancada na última ventania levando o caos para dentro do seu lar? Chame a Força Nacional! As temperaturas mundiais estão subindo assustadoramente? Não, não precisa chamar a Força Nacional. Um toldo ligando Lua a Marte resolveria nosso problema de superaquecimento global. Se bem que a Força Nacional poderia ser convocada para a instalação do equipamento.
Momentos de perigo
No Rio de Janeiro, a Força Nacional já foi usada várias vezes com fins educacionais para disciplinar garotinhos fluminenses. Sempre que há um problema, ergue-se o microfone de Greyskull para evocar a tal Força! Invariavelmente, isto é suficiente para encerrar o assunto, tamanho o poder que o nome traz. Inclusive, houve, na semana do réveillon (Ano Novo, em português), vários atentados contra alvos militares e civis, respondido prontamente com o método ‘Olha que eu chamo a Força, hein?’ Resolveu. Parece que todos os jornalistas, amedrontados, correram para as areias de Copacabana para fazer a cobertura dos atentados, na esperança, quem sabe, de que a Força Nacional de Segurança surgisse do céu para nos proteger. Ou uma nave espacial, o que viesse primeiro.
Portanto, meus amigos, nos momentos de perigo, não hesitem em chamar a valorosa Força Nacional de Segurança Pública! Ou qualquer outra manifestação rara que se enquadre como ‘milagre’. Afinal, não precisamos ser tão rigorosos nos momentos de aflição…
******
Engenheiro, Rio de Janeiro, RJ