Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Bia Abramo

‘É curioso que a Bandeirantes tenha optado por um caminho completamente diverso da Globo para conceber sua novela infanto-juvenil. Depois de muitas mutações e dez anos no ar, pode-se até dizer que há uma fórmula bem-sucedida em ‘Malhação’: conflitos adolescentes tratados com ‘seriedade’ adulta, adultos infantilizados (e mais ou menos patéticos) e um meio ambiente coletivo -colégio, academia- para amarrar tudo isso num lugar só. A combinação esperta entre leveza de personagens juvenis com a solenidade noveleira com que são tratados seus amores e intrigas, além do formato híbrido entre a novela e o seriado, fizeram da atração da Globo uma espécie de fenômeno de audiência e longevidade.

Em ‘Floribella’, claro, percebem-se traços de ‘Malhação’ e não só porque a protagonista, Juliana Silveira, foi a Júlia na sétima temporada. Há namoricos e há adolescentes em torno de um projeto comum, um grupo de música que, inclusive, pretende ter uma existência extranovela, como a Vagabanda da última temporada de ‘Malhação’.

Mas o apelo de ‘Floribella’ vem de outra parte. Seu roteiro contém algumas das principais convenções do conto de fadas e o tom da novela é bastante infantil. Ainda que ela pretenda soar ‘jovem’ no sentido mais besta -com gírias, roupas, música e uma certa estridência geral-, a história e, sobretudo, a maneira de contá-la remetem a uma espécie de encantamento infantil.

Para começar, quase todos os personagens são órfãos. Flor, a moça pobre, e o príncipe encantado Fred o são de pai e mãe. No conto de fadas é importante que pais e mães não estejam muito por perto, para garantir a existência autônoma e, portanto, a possibilidade de aventura dos personagens. Depois, o mal -a madrasta e meia-irmã invejosas- está longe de ser matizado. Malva (Suzy Rêgo até está com uma mecha branca no cabelo, à la Malvina Cruela) e Delfina, as opositoras de Flor no caminho em direção ao príncipe, até dão aquelas risadas malignas. Por fim, fadas-madrinhas, como a personagem de Zezé Motta, aparecem nas horas de aperto.

Talvez valha a pena se perguntar qual é o motivo de uma novela tão infantilizada estar fazendo um relativo sucesso -a emissora está atingindo índices significativos de audiência no horário. É como se houvesse aí uma sinalização da necessidade de fantasia de pelo menos uma parcela dos espectadores, que pode ser satisfeita com mais simplicidade do que as novelas da Globo atualmente permitem.

O que ‘Floribella’ e novelas de época que a Record entendeu por bem ressuscitar a partir de ‘A Escrava Isaura’ (e agora em ‘Essas Mulheres’) parecem prometer é uma história contada com menos acessórios e menos complicações artificiais. E isso encontra eco em um público que provavelmente se cansou do excesso de ‘atualidade’ e da manipulação sem critérios que a concorrência vem praticando.’



PÂNICO NA TV
Daniel Castro

‘Após comer baratas, Sabrina choca ovo ‘, copyright Folha de S. Paulo, 8/05/05

‘Folha – Como você vai ser mãe?

Sabrina – Vou chocar um ovo de avestruz (risos). O programa inteiro, num ninho no palco. Vou querer cuidar do avestruz depois.

Folha – Você não se incomoda em ter que fazer essas coisas?

Sabrina – Não. Eu adoro. Fico triste quando não faço. Vou explodir um carro em breve. Tenho muitas idéias, participo da reunião de criação do ‘Pânico’.

Folha – A Sabrina gostosa e burra é só um personagem, certo?

Sabrina – Não sei se é só personagem, sou meio lerda (risos). A Sabrina é caricata, sou eu aumentada. É um pouco o que eu queria ser. Eu não sou assim gostosona.

Folha – Teme ficar estigmatizada?

Sabrina – Não. As pessoas esquecem. E você já viu uma mulher ser chamada de gostosa e inteligente

OUTRO CANAL

Cult 1 Alexandre Frota, novo astro do cinema pornô nacional, está filmando ‘Mandrake’, série de oito capítulos que a HBO está produzindo no Brasil, com orçamento de R$ 6 milhões. Marcos Palmeira é o protagonista da série, que tem ainda Renata Sorrah, Maria Luísa Mendonça e Marcelo Serrado no elenco.

Cult 2 Frota tem papel de destaque no primeiro episódio. ‘Faço o Jorginho, filho de um bicheiro que morre e deixa os pontos do bicho e uma rede de prostituição para ele’, afirma o ator.

Onda Apresentador da Band, Carlos Nascimento será a estrela da BandNews FM, a versão rádio do canal pago de notícias que entra no ar neste mês, em São Paulo, na freqüência da Sucesso FM, ex-líder de audiência, que acaba. A rádio terá notícias o tempo todo. Nascimento vai comandar a programação das 7h às 9h, o horário nobre do rádio, fazendo entrevistas e comentários.

Sacola Gilberto Braga foi apenas o último autor da Globo que a Record assediou, duas semanas atrás. Há seis meses, a emissora lançou uma ofensiva para contratar novelistas da concorrente que só poupou Manoel Carlos, Aguinaldo Silva e Glória Perez, cujos contratos ainda vão demorar muito para vencer. Walcyr Carrasco, Carlos Lombardi e Ana Maria Moretzsohn são alguns dos nomes já sondados pela Record. A emissora pretende convidar todos.’



CIDADE DE DEUS
Marcelo Bartolomei

‘‘Cidade de Deus’ deixa herança desigual’, copyright Folha de S. Paulo, 8/05/05

‘De um lado, uma audiência média de 1,7 milhão de domicílios, um faturamento de US$ 800 mil (R$ 1,97 milhão) com vendas internacionais e a vitrine da maior emissora do país, a Rede Globo. De outro, um ibope de 78 mil domicílios e uma estrutura independente, com exibição na novata Rede TV!. ‘Cidade dos Homens’ e ‘Mano a Mano’, respectivamente, são duas séries que têm como herança atores do premiado ‘Cidade de Deus’ (Fernando Meirelles), lançados para rumos diferentes e desiguais na TV.

Ainda neste ano ‘Cidade dos Homens’ retorna para a quarta temporada. Em 2006, ganhará os cinemas, com roteiro em preparação por Roberto Moreira (‘Contra Todos’) e Paulo Morelli (‘Viva Voz’). Há um ano, a O2 negocia com o mercado internacional as vendas de ‘Cidade dos Homens’, que deu continuação ao curta ‘Palace 2’, também baseado na violência dos morros.

Os direitos de exibição do seriado foram vendidos para países como Escandinávia, Reino Unido, França, Austrália, Nova Zelândia, Grécia, Japão e EUA.

‘Cidade de Deus’, sem dúvida, abriu uma janela internacional para a produtora. Os compradores têm interesse em ver nosso trabalho. Por outro lado, só vende porque é bom’, diz Andréa Barata Ribeiro, sócia de Meirelles e Morelli na produtora O2.

O longa ‘Cidade de Deus’ marcou a história do cinema nacional em 2002, faturando 32 prêmios (internacionais e nacionais) e representando o Brasil no Oscar, embora sem levar nada.

A ascensão do filme abriu as portas para os atores amadores que formou, todos vindos do grupo Nós do Morro, que mais tarde se transformou na ONG Nós do Cinema. A O2 ainda ampara a instituição, oferecendo estágios e vagas em suas produções.

Estrela de ‘Cidade de Deus’, o ator Leandro Firmino decidiu tomar outro rumo: ao conquistar sua independência, trabalha atualmente na série da Rede TV!. Para ele, no entanto, o importante é ter trabalho.

Outros atores como Jonathan Haagensen e Alexandre Rodrigues tiveram papéis em novelas da Globo, mas, atualmente, estão fora do ar. Outros integrantes da ONG ganharam papéis no cinema, como é o caso de Renato de Souza, que participou de ‘Quase Dois Irmãos’, de Lúcia Murat.

‘Mano a Mano’, que tem também o ator Silvio Guindane, é uma comédia leve, sem pretensões, que tenta trilhar um caminho parecido com os de séries como ‘Seinfeld’ e ‘Friends’. O seriado, que está no quinto capítulo, tem 12 episódios gravados e vai ao ar aos domingos, às 22h15.

A produtora americana Picant Pictures também quer transformar a série num longa, apesar de nem ter certeza se conseguirá emplacar a segunda temporada.’

***

‘‘Deu para realizar sonhos’, diz ator ‘, copyright Folha de S. Paulo, 8/05/05

‘Para o ator Leandro Firmino, 26, sua participação no longa-metragem ‘Cidade de Deus’ só rendeu bons frutos. Um deles, à época, foi ter comprado um computador. ‘Com o filme deu para realizar alguns sonhos’, diz. ‘Além disso, ainda estou trabalhando.’

Atualmente, ele vive o Jonas na sitcom ‘Mano a Mano’, da Rede TV!. Desde que foi lançado como ator no cinema, Firmino encontrou a glória com o traficante Zé Pequeno, personagem violento que marcou sua carreira.

Do alto de sua fama, foi à cerimônia do Oscar em 2003, quando o filme concorreu ao prêmio, e ganhou papéis nas séries ‘A Diarista’ e ‘Carga Pesada’, da Globo.

Mas o sucesso não ‘subiu à cabeça’, segundo o ator. ‘No início, foi meio estranho, mas, graças a Deus, tenho pessoas que me ajudam muito, meus pais, meus primos, meus fãs. Procuro sempre segurar minha onda porque tudo na vida é passageiro.’

Estar numa emissora de menor porte não é traumático, segundo ele. ‘O mais importante é poder estar trabalhando, independentemente da emissora’, diz.

Ele conta que já encontrou com algumas pessoas nas ruas, principalmente em São Paulo, que o reconhecem pelo personagem do humorístico, um jovem que critica o capitalismo ao mesmo tempo em que usufrui dele.

Da origem no Vidigal e da vivência na Cidade de Deus, subúrbio carioca da zona oeste, Firmino mantém positivamente a idéia de poder sempre ter um trabalho em vista. Para entrar na comédia produzida pela norte-americana Picant Pictures, ele fez dois testes. ‘Não é meu primeiro trabalho com comédia. É muito gostoso fazer comédia porque é mais leve. Além disso, temos um elenco maravilhoso e um clima distraído’, afirma o ator.

O maior trunfo da realização de ‘Cidade de Deus’, para ele, é a criação da ONG Nós do Cinema, da qual é vice-presidente. O grupo, formado por jovens atores amadores da favela, ganhou notoriedade na época da produção, em 2002. Atualmente, o Nós do Cinema é um dos mais bem-sucedidos projetos sociais do Rio de Janeiro. A organização mantém 60 alunos dos morros cariocas em oficinas de interpretação, roteiro e direção e tem realizado diversos trabalhos em TV e cinema.

Firmino aguarda um convite para participar da nova temporada de ‘Cidade dos Homens’, assim como outros atores do Nós do Cinema.’