Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Nelson de Sá

‘A inda ecoava o jingle de Duda Mendonça, para o programa do PT de ontem, quando o JN passou a relatar os novos problemas do governo Lula com a Justiça.


Foi leve, a Globo.


Começou por nem mostrar que a oposição pediu a saída de Romero Jucá. Só o comentário de que ministro não pode ficar ‘sob suspeição, sob pena de mau funcionamento’.


Quanto ao próprio, apareceu dizendo que, ‘como homem público’, dará toda informação, mas que as acusações são ‘parte da vida política’.


Quanto ao segundo e maior problema, abertura de inquérito e quebra de sigilo do presidente do Banco Central, a Globo foi ainda mais moderada.


Já começou por sublinhar uma observação do ministro do Supremo, de que em sua decisão de ontem ‘descabe avaliar se houve envolvimento ou não do presidente do BC’.


Mencionou-se que Severino ‘pediu o afastamento enquanto as investigações estiverem em andamento’, mas também que, para Aloizio Mercadante, ‘até se concluir o processo ele deve ser considerado inocente’:


– E Henrique Meirelles já apresentou defesa.


O próprio ‘elogiou a decisão do Supremo’ porque:


– Ela me dará oportunidade de mostrar que minha conduta sempre foi pautada pela ética e pela transparência.


Para fechar, Franklin Martins comentou que ‘ninguém ainda foi declarado culpado de nada. Não houve um pré-julgamento. As investigações tanto podem levar a abrir um processo como podem derrubar as acusações e inocentar os ministros’.


Martins, ecoando Jucá:


– O importante na história é que a Procuradoria e o Supremo funcionaram. Resta agora, ao governo, administrar o desgaste político, mas é da vida.


Para contraste, Boris Casoy, no Jornal da Record:


– Pela gravidade dos fatos, pelos indícios veementes e pelos contornos que a evolução de ambos os casos vai assumindo, nem Meirelles nem Jucá têm mais condições de permanência no governo.


ANTIDRUDGE


Estreou nos EUA o blog coletivo Huffington Post, resposta ‘liberal’ ao pró-republicano Drudge Report, aquele que quase derrubou Bill Clinton com o caso Mônica Lewinsky. Na home page, manchetes como ‘Novo ‘Guerra nas Estrelas’ é anti-Bush’ ou, mais amena, ‘Tom Wolfe só tem 24 ternos brancos’, sobre o escritor na Bienal do Livro, no Rio.


Recebido com ironia há três dias, o novo blog já postou dezenas de mensagens de ‘celebridades blogueiras’, de Walter Cronkite a Ellen DeGeneres. E levantou ontem a primeira polêmica de repercussão, com o dramaturgo David Mamet (logotipo acima) saudando a saída de um controverso crítico da revista ‘New York’ (‘finalmente, uma contribuição dele para o teatro’).


SIM, É UM BLOG


Para a história, o ‘New York Times’ postou ontem o seu primeiro blog, descrito como tal. Na primeira mensagem do ‘Cannes Journal’ (logotipo acima), sobre o festival na França, com acesso a partir da home page:


– Sim, nós estamos escrevendo um blog.


Os dois blogueiros enviados deixaram transparente o que é um blog no maior jornal do mundo:


– As regras de campo, estabelecidas em negociações com os Poderes Estabelecidos, são estas: passamos as mensagens por pelo menos um editor para ter certeza de estar em conformidade com os padrões do ‘NYT’, o que no caso significa que não cometemos nenhum passo em falso gramatical, não estamos difamando ou chamando alguém com palavras feias de 12 letras.


Onde estão?


O ‘Miami Herald’ manteve os EUA ontem no ataque à reunião de árabes e sul-americanos. Para Andres Oppenheimer, ela ‘saiu dos trilhos’ ao aprovar texto que ‘pode ser lido como justificação tácita do terrorismo’.


Em editorial, o jornal acresceu cobrança contra Fidel Castro, por prender jovens que faltam aos seus atos públicos:


– Onde estão suas vozes de protesto? Onde está o presidente do Brasil, Lula, e o da Argentina, Néstor Kirchner?


Velho rival


O ‘WSJ’ foi contido e disse que Lula ‘não pôde controlar a tendência da reunião’, que por ‘desejo’ árabe criticou os EUA. Mas o jornal chamou a atenção para a ‘velha rivalidade’ com a Argentina, que incluiu cenas de Kirchner ‘se espreguiçando e atendendo ao celular’:


– Por trás está a insatisfação argentina na economia. Após anos de superávit com o Brasil, começou o déficit.’



GLOBOPAR MULTADA


O Globo


‘Anatel confirma multa de R$ 1,2 milhão à Globopar’, copyright O Globo, 13/05/05


‘A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) confirmou ontem a multa de R$ 1.210.350 à Globopar, porque a empresa transferiu, sem anuência prévia do órgão regulador, a permissão de TV por assinatura via satélite que detinha para a Net Sat Serviços Ltda. (antiga Sky Brasil). A empresa não pode mais recorrer na Anatel. Cabe recurso apenas à Justiça.


Em nota, Globopar e Sky disseram que ‘aceitaram a decisão e não vão questioná-la através do Judiciário’. E acrescentaram ter adotado ‘desde o início das operações da Sky formatos de operação que julgaram e julgam ter atendido às exigências da lei’. Entretanto, diz a nota, ‘a Anatel questionou tal entendimento’.


O superintendente de Serviços de Comunicação de Massa da Anatel, Ara Apkar Minassian, disse que a agência percebeu a falha em abril de 2003, quando a Globopar enviou os dados mensais de assinantes em nome da Sky. Pela legislação, qualquer transferência acionária, ainda que dentro do mesmo grupo, tem de ter anuência prévia da Anatel.


Segundo Minassian, a Globopar disse ter se esquecido de fazer o pedido. A Anatel então abriu processo administrativo. Foi considerado como atenuante o fato de a Globopar sempre ter prestado as informações necessárias e nunca ter bloqueado o trabalho dos fiscais. Por isso, foi aplicada apenas a multa, em novembro de 2003. A empresa recorreu, sem sucesso, e pagou. Depois, recorreu ao Conselho Diretor da Anatel, que em março deste ano negou o recurso.’



12ª BIENAL DO RIO


Luiz Fernando Vianna


‘Bienal começa com crítica a Lula por ‘ataque à língua’ ‘, copyright Folha de S. Paulo, 13/05/05


‘Esvaziada pelas ausências do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que esteve na edição de 2003- e do ministro Gilberto Gil, a abertura da 12ª Bienal Internacional do Livro do Rio, no final da manhã de ontem, teve sua sisudez habitual perfurada por um discurso contra o governo federal.


Diante da governadora do Rio, Rosinha Matheus, opositora de Lula, o presidente da Academia Brasileira de Letras, Ivan Junqueira, atacou o que chamou de ‘constantes e crescentes agressões à língua portuguesa’.


‘A mais recente, e uma das mais graves, vem deste governo, que, ao lançar esta cartilha [de termos politicamente corretos, preparada e depois suspendida pela Secretaria de Direitos Humanos], quer legislar sobre a língua. Todos precisamos repudiar com veemência essa tentativa’, afirmou ele, que não chegou a receber discursos de apoio, mas ganhou palmas da platéia, na qual estava a escritora Lygia Fagundes Telles.


Em contraste com a indignação do poeta imortal, o australiano (que já morou nos EUA, no México e hoje vive na Irlanda) DBC Pierre esbanjou bom humor na coletiva que deu no estande da Record, editora brasileira que lançou no país o seu ‘Vernon God Little’, um dos mais importantes livros em língua inglesa lançado nos últimos anos.


Capivaras


Peter Finlay, nome de batismo de DBC (codinome que significa Dirty But Clean, ou ‘sujo, porém limpo’), tomou várias cervejas, acendeu muitas vezes seu cigarro preparado artesanalmente, e revelou que entre suas obsessões estão as capivaras. O seu cartão de visitas é, inclusive, ilustrado com o desenho de uma. Ao saber que uma capivara que vivia na lagoa Rodrigo de Freitas foi a musa do último verão carioca, brincou: ‘Meu lugar é aqui.’


Mesmo afirmando que não estava sendo brilhante (‘Talvez melhore com mais três cervejas’), Pierre fez críticas à sociedade norte-americana, alvo principal de seu romance, e em especial à mídia norte-americana. ‘As informações veiculadas dentro dos Estados Unidos são completamente diferentes das que vejo fora. É um país que te ensina a fazer dólares, ser atraente, ter boa saúde, mas eu nunca conseguirei ser americano’, disse.


Por ter vivido muitos anos no México ele gosta de se dizer mexicano e, portanto, próximo do Brasil pelas afinidades latinas. ‘Acho que o Brasil é o exemplo maior de uma cultura apaixonada, por isso sempre quis tanto conhecer aqui’, disse ele, que chegou ao Rio ontem de manhã.


Os livros que pediu à sua editora mostram seu anticonvencionalismo: ‘Abusado’, de Caco Barcellos, sobre tráfico de drogas; ‘Batidão’, de Silvio Essinger, sobre o universo do funk carioca; e um volume de poemas do erótico e ‘marginal’ Glauco Mattoso. Apesar disso, ele disse que seu próximo romance, que acabou de escrever, tem um estilo mais tradicional do que o de ‘Vernon God Little’. ‘É até escrito na terceira pessoa’, contou.


O primeiro dia da feira, que vai até o dia 22/5, ainda foi fraco em termos de público (que paga R$ 10 de ingresso, com meia-entrada para estudantes e maiores de 60 anos) e celebridades. Um dos estandes que despertou maior atenção foi o que tinha o dançarino Carlinhos de Jesus evoluindo e autografando livros.’



***


‘Wolfe vê moralidade ‘em desintegração’ ‘, copyright Folha de S. Paulo, 13/05/05


‘Na palestra de abertura da Bienal, o escritor norte-americano Tom Wolfe afirmou que a moralidade do passado está em ‘desintegração absoluta’, sendo substituída por um padrão moral ‘baseado na conduta sexual’.


Wolfe diz ter chegado a essa conclusão após conversar com dezenas de jovens para escrever seu livro recém-lançado, ‘Eu Sou Charlotte Simmons’ (Rocco), um retrato do cotidiano de uma universidade americana criado a partir de uma longa pesquisa.


Usando o beisebol como metáfora, ele disse que, no passado, a primeira base era a apresentação, o conhecimento social; a segunda, o beijo; a terceira, o sexo oral; e a última, a relação sexual.


Na visão do escritor, hoje em dia houve uma mudança nas bases. A primeira delas passou a ser a última, já que as pessoas vão se conhecer depois do sexo. ‘Não sei qual vai ser o efeito a longo prazo disso, mas temos que pensar’.


Wolfe citou ainda a socialite Paris Hilton como um exemplo dos novos tempos. ‘Nenhum escritor seria capaz de criar uma história na qual uma socialite faz um filme pornô para a internet e vira uma celebridade depois dele’, disse.


O escritor buscou no passado a inspiração para prever a literatura do futuro. Para Wolfe, o francês Émile Zola deveria ser a referência dos escritores de hoje, na busca de um ‘neonaturalismo’.


‘Eu gostaria de fazer uma exortação a todos os escritores, incluindo os poetas: saiam em massa para falar com as pessoas; façam um trabalho de campo e aprendam por conta própria as coisas que estarão nos jornais do dia seguinte’, afirmou, referindo-se à famosa frase de seu compatriota Philip Roth, que disse viver em uma época em que os escritores não conseguem imaginar o que lerão nos jornais de amanhã.


Respondendo a uma pergunta da platéia, Wolfe demonstrou pouco apreço pelos livros que contam histórias fantásticas. ‘Há romancistas que se dão bem escrevendo grandes fantasias, como a autora de ‘Harry Potter’ [J. K. Rowling] e Stephen King, mas não me parece que seja disso que a literatura precisa hoje’, disse.


Ele ainda se referiu a ‘Terras do Sem Fim’, de Jorge Amado, como um romance que tinha essa preocupação com o presente, algo que diz estar em falta na literatura contemporânea. ‘Muitos romancistas desistiram de estar a par do próprio tempo’, afirmou.


Uma outra história brasileira foi lembrada algumas vezes por Wolfe. Ele assistiu ao documentário ‘Ônibus 174’, de José Padilha, e o considerou uma exceção no panorama atual do jornalismo. O caso do homem que seqüestrou um ônibus no Rio e acabou morto pela polícia também foi descrito por Wolfe como um retrato da sociedade da espetacularização. ‘Um jovem invisível, não reconhecido pela sociedade, acha que, se fizer algo horroroso, a mídia estará do seu lado, mesmo que por pouco tempo’, analisou.’