Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

João Luiz Sampaio

‘Novelas, telejornais, TV a cabo, Ratinho, a função da televisão pública. Em uma série de artigos, de textos claros e diretos, publicados em veículos como o Estado e a revista Bravo, o filósofo Renato Janine Ribeiro tornou-se uma das vozes mais interessantes a pensar a televisão e a sua importância na sociedade brasileira, de modo claro.


Muitos desses a rtigos são agora reunidos em um volume da Ateliê Editorial, O Afeto Autoritário. Em entrevista ao Estado , ele falou de alguns dos principais tópicos abordados no volume:


TV, DEFEITOS E POSSIBILIDADES


‘Entre os defeitos, a redução da ética ao sexo, a exclusão de uma discussão propriamente política, a ênfase no consumo, o caráter conservador do humor e superficial do jornalismo. As potencialidades: a riqueza da dramaturgia, o papel das novelas n o combate aos preconceitos de sexo, de orientação sexual, de cor, a importância dada à mudança de costumes como modo de mudar a sociedade.’


A TV COMO RETRATO DE UM PAÍS ‘Não penso que nenhum produto cultural seja ´retrato´.


Não há relação de espelho. O Brasil é pior que a novela em termos de preconceitos (a novela os combate e muitas vezes perde – haja vista a demora para que lésbicas sejam aceitas) e é melhor que ela em termos de outros valores (a TV dá um peso ao dinheiro maior do que a sociedade lhe dá).’


PLURALIDADE ‘É claro que a pluralidade é essencial tanto no campo da formação como no da informação, mas ela não está representada na programação.


A Constituição manda haver produções regionais e produções independentes. Não existem. Mas é inegável que a teledramaturgia é muito boa na Globo, não só nas novelas mas nas séries d e horário mais tardio, como Todo Dia É Dia de Maria, etc. Não é óbvio que a regionalização da produção, embora desejável, v á gerar a curto prazo produtos da mesma qualidade.’


REDE GLOBO E HEGEMONIA ‘É possível falar em pluralidade quando há um só ´padrão de qualidade´ em voga, influenciando também outras emissoras? A Rede Globo definiu um gosto dominante.


Mas, primeiro, há também um gosto-Cultura forte e importante, com uma programação alternativa e bastante vista (vejo quanta gente me cumprimenta porque sou curador do Café Filosófico; e, segundo, há gostos mais vulgares, presentes nas outras redes, que também estão ao sol e que existem igualmente. Não acho que haja um único padrão. Há um padrão dominante, ponto.’


NOVELAS ‘Gostemos ou não, o Brasil desenvolveu a novela.


Há provavelmente umas dez de alta qualidade. Enumero com o risco de ser injusto: Gabriela, Dancing Days, Vale Tudo , Roque Santeiro, Pantanal. Citei cinco. Há muitas mais de bom nível. Evidentemente, a maioria é ruim. Um grande defeito é se alongarem demais, refestelaremse no óbvio, repetirem demais as cenas, os bordões.


Uma novela como Senhora do Destino, que começa fortíssima, com o golpe de 1968 (o Ato-5), depois se reduziu a uma matriarca nordestina transplantada para a Baixada Fluminense. A montanha pariu um rato. Mas, sem querer ser maldoso demais, é assim que vive a sociedade brasileira. Destituímos Collor, e depois? Ninguém foi punido para valer. Suas políticas foram aplicadas no seguinte governo eleito. A novela não é o reflexo, mas é o imaginário de um país, e isso pesa muito.’?’




TRILHAS DE NOVELAS
Adriana Del Ré


‘A força da trilha sonora numa cena de novela’, copyright O Estado de S. Paulo, 15/05/05


‘Há quem diga que a música está para uma novela assim como a moldura está para um quadro. Deixa tudo mais bonito. Em seu livro, A Trilha Sonora da Telenovela Brasileira – Da Criação à Finalização, o maestro Rafael Roso Righini tenta provar outra tese. ‘A música é o próprio quadro, funciona como um elemento da narrativa’, explica.


Essa conclusão foi endossada em sessões que realizou para colegas, durante o processo de pesquisa de sua tese de doutorado, apresentada na ECA/USP e que deu origem à publicação. Nelas, o maestro pegou uma cena específica da minissérie Aquarela do Brasil, em que a mocinha decide se ficará com o mocinho ou seguirá com sua carreira. Originalmente, a cena não tinha trilha sonora de fundo. Ele exibiu a mesma com opções de trilhas contrastantes: Adagietto, da 5.ª Sinfonia de Mahler; Nuvem de Lágrima, na voz de Chitãozinho e Xororó; o célebre tema de Psicose; e uma música triunfal, ao estilo de Wagner. Os resultados foram os mais diversos. ‘A música muda todo o contexto da história.’ Crescido em um lar onde se respirava música, Righini complementou os estudos de composição, regência, orquestração e arranjos em Genebra, na Suíça, de 1991-94. Na vivência no exterior, percebeu o quanto as novelas brasileiras são adoradas pelos estrangeiros e como elas acabam servindo de vitrine do País. De volta ao Brasil, ao decidir o tema de seu doutorado, optou pela música na TV e afunilou os estudos nas telenovelas.


Durante 5 anos, o autor desdobrou-se para colher informações acerca do tema. Segundo ele, não existe bibliografia especializada, por isso, foi necessário se valer da documentação oral. Em outras palavras, precisou sair a campo para entrevistar produtores, autores, diretores, entre outros profissionais de TV. Entre eles, ouviu o maestro Júlio Medaglia, que foi supervisor musical artístico e autor de trilha sonora da Globo, e o diretor de TV e cineasta Del Rangel. ‘Nunca se pensou em guardar material’, justifica.


Sua principal fonte foram as telenovelas da Globo, pelo fato de a emissora manter uma constância na produção de telenovelas. Analisou mais de 10 novelas. Diferentes de outros estudos sobre trilhas, não se focou só no aspecto histórico: investigou processo de criação, interação e sincronização, além da evolução do papel da trilha ao longo dos anos. ‘Fui atrás dos discos e fiz um estudo música por música. Avaliei ritmo, melodia e instrumentação para verificar como podem dar certo.’ Identificou alguns clichês, como os acordes maiores relacionados à alegria e os acordes menores ligados à tristeza.


No livro, o maestro chama atenção do papel do sonoplasta na decisão da trilha. De acordo com ele, autor, diretor, diretor de trilha, todos dão seu pitaco na hora de delinear a trilha sonora da novela. ‘Mas quem mixa é o sonoplasta, ele tem um trabalho importante. Ele recebe as instruções do diretor, tem uma planilha de opções, mas é quem escolhe a música das cenas.’ Destaca ainda a influência das pesquisas de audiência: assim como acontece com a trama, se a trilha cair em desgraça entre os telespectadores, tudo é modificado.


Da mesma maneira, uma música pode cair nas graças deles. Righini lembra do caso de Love By Grace, música da então desconhecida Lara Fabian, que virou tema da personagem de Carolina Dieckman, em Laços de Família. Era preciso uma canção para alavancar as vendas do CD internacional da novela e Love By Grace veio a calhar: foi usada na cena de mais de três minutos em que Carolina tem o cabelo raspado. ‘Desse balanço, há dois pontos menos positivos: de que ao mesmo tempo que as telenovelas não aproveitam melhor maestros, compositores, músicos, a academia não os forma para esse mercado.’




TELEJORNALISMO
Daniel Castro


‘‘Telejornais me dão sono’, diz Witte Fibe’, copyright Folha de S. Paulo, 16/05/05


‘Depois de cinco anos fora da televisão, a jornalista Lillian Witte Fibe estréia no próximo mês na Rede 21, uma emissora modesta, em UHF, cujos programas mal passam de um ponto no Ibope.


Witte Fibe vai ancorar e dirigir o ‘Jornal 21’ (22h). Nos últimos anos, em que se dedicou à internet (atualmente é âncora do ‘UOL News’, telejornal em banda larga do UOL), foi assediada por todas as redes (menos a Globo).


‘Tive vários convites, mas eles colidiam com meu projeto de qualidade de vida ou não eram financeiramente interessantes ou não me motivaram profissionalmente’, afirma. Conta que escolheu o 21 por seu ‘modelo menos amarrado’ e porque não tem ‘medo da mídia alternativa’.


Na nova casa, quer fazer um telejornal didático e arrojado. ‘Em jornal não se inventa a roda, tem de ter notícia. Acho alguns telejornais muito chatos, me dão sono. Dá pra fazer alguma coisa mais palatável, agradável. Tenho idéias sobre colaboradores fixos e um jornal mais explicativo. Quero fazer a notícia ficar mais interessante para a garotada’, diz.


Witte Fibe diz que não deixou o ‘Jornal da Globo’ em 2000 por questões financeiras, como a emissora ventilou na época. ‘Ninguém sai da Globo, por isso eles deram essa versão. Mas eu estava absolutamente determinada a não trabalhar mais de madrugada.’ O telejornal, em muitos dias, entra no ar por volta de 1h.


OUTRO CANAL


Provocação O SBT exibe desde ontem chamada em que provoca a Globo. A peça mostra uma página de jornal que lembra a ‘O Globo’ com a manchete ‘Globo fica sem Padrão’, numa alusão à contratação de Ana Paula Padrão. Termina com um globo escolar despencando do pedestal.


Segredo 1 A estréia de Padrão no SBT (se não houver reviravolta) não demora. Na semana passada, o SBT providenciava a contratação de uma nova equipe de reportagem. E Luiz Gonzaga Mineiro, ex-diretor de jornalismo da Record, foi contratado.


Segredo 2 As negociações com Padrão foram conduzidas pelo próprio Silvio Santos e vêm de longe. O negócio foi fechado na quinta. Especula-se que ela ganhará R$ 250 mil mensais. Seu contrato estipula dois horários de telejornais.


Pacote A Record faturou US$ 650 mil líquidos em publicidade para os intervalos de ‘Star Wars: Episódio 2’, exibido ontem.


Alternativa A Band começa hoje a veicular chamadas em sua programação dizendo que seu principal telejornal, o ‘Jornal da Band’, é o segundo mais assistido no horário nobre, perdendo só para o ‘Jornal Nacional’. De 2 a 12 de maio, o ‘Jornal da Band’ registrou média de 4,6 pontos, contra 4,0 do ‘Jornal da Record’.’




TV PAGA
Etienne Jacintho


‘TNT aposta em superproduções’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/05/05


‘A TNT investiu mais uma vez em superproduções para manter sua liderança na TV por assinatura brasileira. A emissora, que exibe longas-metragens de sucesso – porém não muito recentes -, em grande parte dublados, quer se firmar como líder entre os canais de filmes e variedades. Para este ano, a rede anuncia títulos como O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel, que já foi ao ar em canais de filmes premium e até na TV aberta. Porém uma superprodução é sempre bem-vista pelo público, que vê e revê.


Só para explicar: depois que um filme entra em cartaz nos cinemas, há uma seqüência para sua exibição. A prioridade são as locadoras, com o lançamento do filme em DVD e VHS. Depois há a exibição em pay-per-view e mais tarde, nos canais de filmes premium, como a Rede Telecine e o grupo HBO. Somente após cumprir esse ciclo, o filme chega a emissoras de variedades – como a TNT, o Universal, a Warner e o AXN – e às TVs abertas.


Além de O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel, a TNT também vai exibir Identidade Bourne, A Senha, As Panteras e Homem-Aranha.


Outra novidade do canal é a série Veronica Mars, que estréia em junho. O drama acompanha a vida de Veronica, que tem sua melhor amiga assassinada. E o pior é que seu pai será acusado do crime. Para descobrir a verdade, a protagonista se transforma em investigadora particular e começa a descobrir segredos dos moradores de sua cidade.


Levando a sério o conceito de canal de variedades, a TNT também vai transmitir ao vivo da Tailândia, no dia 30, o Miss Universo, a partir das 22 horas, com tradução simultânea.’