‘Merecidíssimo o Prêmio Camões dado, neste ano, a Lygia Fagundes Telles. E olha que tenho convivido com gente que transita, e bem, nos diversos gêneros da literatura, desde a clara e saborosa literatura infantil ao ensaio mais denso, impenetrável.
O caso de Lygia é especialíssimo em vários sentidos. Sua obra é credencial para fazer dela a rainha-mãe de todos os que aqui escrevem. Mas não é por aí que eu admiro e a tenho na conta de uma quase amante virtual, pois muito nos queremos. O diferencial que marca a vida e a obra de Lygia é o fato de, menina ainda, ter sido condenada a ouvir e a contar histórias. O prazer que sente e transmite quando ouve ou conta uma história seria assombroso se antes não fosse comovente.
Impressionante o número de escritores, e bons escritores ainda por cima, que se mostram entediados ou mesmo irritados quando começam a ouvir uma história, seja lá qual for. E, quando escrevem suas próprias histórias, colocam-se num patamar olímpico tão inacessível que dão a impressão de estarem fazendo um favor à humanidade.
Lygia é rainha e serva não apenas na arte de contar mas na de se alumbrar com ela. Em criança, gelada de medo, ouvia sua babá contar aquela história do fantasma que ia caindo do teto, aos pedaços, ‘eu caio, eu caio’. Moça, estudante de direito e de educação física, uma das mais bonitas de sua geração, ela carregou como maldição infantil o gosto pela história que o tempo não apaga, antes aprimora.
Mas, quando chegou à literatura, foi para valer: nada a comove tanto como um bom soneto. Numa dessas viagens que por aí fazemos, não sei por que citei um verso de Bilac. Lygia me olhou séria, abriu a bolsa e dela tirou, amarfanhado, lido e relido milhares de vezes, o soneto de Bilac que trazia o verso lembrado. Coisa de amante mesmo.’
INTERNET
Robson Pereira
‘Oito milhões de respostas ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 18/05/05
‘A internet não pára de crescer. Nos últimos 12 meses, foram criados quase 13 milhões de novos endereços, elevando para pouco mais de 63 milhões o número de sites hoje existentes na concorrida web. A taxa média de crescimento ultrapassa 35 mil novos sites por dia, segundo levantamento da Netcraft (www.netcraft.com), um serviço que acompanha a movimentação no mundo virtual desde o seu nascimento, há uma década.
Com tantos sites surgindo a cada dia, é impossível apontar quais entre os novos endereços serão guindados ao estrelato e os que desaparecerão ao longo do tempo, sem deixar saudades. No primeiro caso, convém prestar atenção aos serviços que passam a integrar as carteiras bilionárias de marcas já consagradas, sem perder de vista aqueles que estão sendo lançados justamente para tentar desbancá-los, por mais paradoxal que isso possa parecer.
Um bom exemplo é o Answers.com (www.answers.com), lançado há poucas semanas e já apontado por alguns como um sério concorrente aos reis da busca, como Google, Yahoo e Lycos, entre outras ferramentas sem as quais seria impossível achar algo na internet. Pode até não chegar lá, mas é um desses serviços que cativa ao primeiro clique.
Bob Rosenschein, o criador do Answers, define o serviço como uma não-ferramenta de buscas, uma frase de efeito que serve para deixar claro o seu alvo, os gigantes que já há alguns anos dominam esse mercado. ‘Quando alguém oferece mais de 8 milhões de supostas respostas a uma simples consulta sobre um assunto banal é sinal de que algo está errado’, alfineta, com uma certa dose de razão. Afinal, quem precisa de tanta informação inútil?
Para entender o pensamento do mais recente candidato a desbravador dos sete mares digitais só mesmo testando o serviço. O desenho do site é extremamente simples, com alguns botões e um campo de busca. Arrisquei ‘Pelé’ e num piscar de olhos surgiu na tela uma página repleta de textos – e não apenas links, como ocorreria em consagrados buscadores. Em vez de varrer e indexar bilhões de páginas na internet (inclusive esta, em que o rei do futebol é apenas citado), o serviço vai direto aos endereços que realmente fazem a diferença.
Na busca que fiz, as informações reunidas pelo Answers.com foram compostas a partir de dados do Who2? (www.who2.com), um endereço especializado em biografias de famosos, AllPosters.com, o maior e melhor serviços de pôsteres da web, The American Heritage Dictionary, um dicionário consagrado dentro e fora da internet, The Columbia Electronic Encyclopedia, que dispensa apresentações, e da Wikipedia (pt.wikipedia.org), a maior enciclopédia do mundo, feita todos os dias por milhões de colaboradores espalhados pelo mundo.
Impossível não achar o que você procura no cruzamento de bases de dados como essas. E com um único click. Se for necessário aprofundar as informações – a maioria das pessoas jamais precisará -, o serviço ainda sugere meia dúzia de outros endereços específicos sobre o assunto pesquisado. E, de quebra, oferece os chamados ‘destaques do dia’, com fatos históricos e atuais ocorridos na data em que a consulta foi realizada. Se vai mesmo atingir os ambiciosos objetivos do seu criador é uma outra história, mas é fácil perceber que faltava algo assim na internet. Afinal, como lembrou Rosenschein, não há assunto que mereça 8 milhões de respostas.
NA TOCA DOS LEÕES
De 1990 até hoje, pelo menos 8 mil livros foram alvos de tentativas de censuras, no todo ou em parte, em escolas e bibliotecas públicas americanas, o que representa uma média de dez pedidos formais a cada semana. Seis em cada dez dessas tentativas partiram de pais preocupados com a educação dos filhos, mas professores e até diretores de universidades também contribuíram de forma decisiva para o aumento das estatísticas, segundo levantamento do Centro de Liberdade Intelectual da Associação Americana de Bibliotecas.
Integram a relação dos autores mais contestados nos últimos 15 anos nomes como J.K. Rowling, a criadora do ‘bruxo’ Harry Potter; Stephen King, o consagrado autor de O Iluminado, entre outras maravilhas do suspense; e até mesmo John Steinbeck (de As Vinhas da Ira), freqüentador assíduo das listas anuais divulgadas pela ALA.
Entre os motivos mais alegados por pais e mestres para a retirada de livros das salas de aulas ou de estantes públicas aparecem a suposta presença de conteúdos com apelo sexual, linguagem ofensiva ou temas impróprios para menores de idade. Mais da metade dos livros contestados se encaixa em uma dessas categorias, mas também existem as acusações de ‘satanismo’ (10% do total), violência excessiva, homossexualismo, divergências de natureza religiosa e racismo (3% do total).
No ano passado, The Chocolate War, do escritor Robert Cormier, liderou a relação dos títulos mais questionados, seguido de perto por Bless me, Ultima, de Rudolfo Anaya, ambos formalmente acusados por pais e professores de uma série de ‘delitos’ ou supostas impropriedades. Em pelo menos cinco escolas, os livros de Cormier e Anaya chegaram a ser banidos. Mais informações sobre censura em www.ala.org/bbooks. Ou nas 157 páginas indexadas pelo Google a partir da expressão ‘Jeová Sardinha’, aspas incluídas.’
Silvana de Freitas
‘Empresa pode violar e-mail para demitir, decide TST ‘, copyright Folha de S. Paulo, 17/05/05
‘O TST (Tribunal Superior do Trabalho) decidiu que, para obter provas que justifiquem a demissão por justa causa, o empregador tem o direito de violar o sigilo de correspondência de caixa eletrônica que ela tiver colocado à disposição do funcionário.
A decisão, da 1ª Turma do TST, beneficiou o HSBC Seguros Brasil em disputa judicial com um ex-funcionário de Brasília, que fora demitido por justa causa após a instituição descobrir que ele utilizava o correio eletrônico do trabalho para enviar aos colegas fotos de mulheres nuas.
Essa foi a primeira vez que o TST julgou esse tema. Os tribunais regionais já vêm adotando esse entendimento no julgamento de casos semelhantes. Em tese, o ex-funcionário do HSBC Seguros ainda pode recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal), alegando que há matéria constitucional na causa: o direito ao sigilo de correspondência.
Por falta de normas específicas sobre o uso de e-mail de trabalho na legislação brasileira e de jurisprudência sobre o tema, o relator no TST, ministro João Oreste Dalazen, citou decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos pela qual o direito dos empregados à privacidade no local de trabalho não é absoluto. Ele também citou lei do Reino Unido que autoriza o patrão a monitorar e-mails e telefonemas dos empregados.
Controle moderado
Pela decisão do TST, o empregador pode exercer ‘de forma moderada, generalizada e impessoal’ o controle de mensagens enviadas e recebidas por meio de caixa de e-mail fornecida por ela, porque ela poderia ser eventualmente responsabilizada por eventuais abusos.
Dalazen disse que o e-mail criado pelo empregador tem natureza jurídica equivalente a uma ferramenta de trabalho e, por isso, dependeria de autorização expressa para ser usado para fins não-profissionais. Ele admitiu a ‘utilização comedida’ do correio eletrônico para interesses pessoais, desde que sejam respeitados a moral e os bons costumes.
Senha pessoal
Para o ministro, a senha pessoal fornecida ao funcionário não pode servir de proteção contra o acesso do empregador ao conteúdo das mensagens, porque o sentido dela seria impedir o acesso de terceiros a informações de interesse do empregador, eventualmente confidenciais.
O funcionário fora demitido em maio de 2000, moveu ação contra o HSBC Seguros e chegou a obter, na primeira instância, sentença favorável ao pagamento de indenização e de direitos trabalhistas só assegurados nas demissões sem justa causa.
A 13ª Vara do Trabalho de Brasília considerou que as provas obtidas contra ele eram inválidas, porque foram obtidas de forma indevida, por meio da violação do sigilo de correspondência, assegurado pela Constituição.
O HSBC recorreu ao Tribunal Regional do Trabalho do Distrito Federal e conseguiu vitória já nessa instância. O processo chegou ao TST por meio de um recurso do funcionário.
No TRT, os juízes disseram que a empresa pode rastrear os endereços eletrônicos ‘porque não haveria nenhuma intimidade a ser preservada, posto que o e-mail não poderia ser utilizado para fins particulares’.
No TST, a linha foi a mesma. Os ministros entenderam que os direitos constitucionais do cidadão à privacidade e ao sigilo de correspondência estão relacionados apenas à comunicação estritamente pessoal.
Para o relator, isso permite que o empregador exerça controle sobre o conteúdo de mensagens que trafegam em e-mails de trabalho utilizados por seus funcionários.
Um dos objetivos desse controle seria verificar se informações comerciais confidenciais não estariam sendo repassadas por empregados a outros concorrentes.’
***
‘Especialistas afirmam que a decisão é correta’, copyright Folha de S. Paulo, 17/05/05
‘Advogados especializados em direito eletrônico ouvidos pela Folha concordam com a decisão do TST, admitindo que uma empresa investigue o e-mail de trabalho do empregado com a finalidade de obter provas que possam levar até a demissão por justa causa.
Um dos aspectos ressaltados pelos advogados é que a empresa responde solidariamente pelos atos praticados por seus empregados, conforme estabelece o Código Civil em seu artigo 932, inciso 3º.
Para o advogado Renato Opice Blum, especialista em direito eletrônico do escritório Opice Blum Advogados, ‘a decisão do TST vai pôr ordem nessa questão’. Ele entende que ‘o controle é legal e não viola a privacidade do empregado’.
José Augusto de Leça Pereira, advogado do escritório Barretto Ferreira, Kujawski, Brancher e Gonçalves, o empregado não deve ter a expectativa de privacidade absoluta sobre o seu correio eletrônico.
Pereira diz que o monitoramento por parte da empresa não deve incluir apenas o uso do equipamento para fins considerados ‘moralmente censuráveis’ -no caso, o envio de fotos de mulheres nuas aos colegas de trabalho.
‘Desde que [o envio de e-mail] atrapalhe o trabalho do empregado e prejudique a empresa, esta pode valer-se do monitoramento, inclusive para demitir o empregado por justa causa.’
Antonio Carlos de Oliveira Freitas, advogado especialista em direito processual civil do escritório Luchesi Advogados, diz que decisão do TST é absolutamente correta. ‘Concordo em gênero, número e grau’.
‘A empresa nem precisa avisar o empregado de que ele poderá ser demitido, ou seja, nem precisa criar um código de conduta. Se o empregado usa o e-mail para outras finalidades que não as do trabalho, pode ser punido com a demissão.’’
***
‘Patrões já monitoram na prática’, copyright Folha de S. Paulo, 17/05/05
‘As empresas já fazem, na prática, um ‘rastreamento indireto’ dos e-mails de seus empregados ao monitorar o uso do correio eletrônico e acessos que os funcionários fazem à internet, segundo avaliação de consultorias de recursos humanos.
‘O monitoramento para evitar, por exemplo, a invasão de um vírus já ocorre em várias empresas de diferentes portes e áreas de atuação. A empresa monitora o conteúdo, de forma sigilosa, e verifica o que entra e sai no e-mail do empregado. As áreas de tecnologia são as responsáveis por esse monitoramento’, diz Luciana Machado, diretora da consultoria AG5 -assessoria de RH e gestão empresarial. ‘As empresas já davam indiretamente seu recado, mas não existia uma decisão judicial que criasse uma norma e orientasse as empresas. O assunto era tratado caso a caso.’
Em 2002, a General Motors demitiu cerca de 30 funcionários de São Caetano e de São José dos Campos e advertiu outros 111 que trocaram e-mails, durante o trabalho, com fotos pornográficas. Procurada ontem, a empresa não quis comentar o caso nem informar se reviu parte das dispensas.
Nos Estados Unidos e na Inglaterra, ao contratarem novos funcionários, as companhias informam em seus manuais que o e-mail da empresa deve ser usado para fins corporativos, segundo afirma a consultora.
Para Thomas Case, fundador do Grupo Catho, a decisão do Tribunal Superior do Trabalho é correta. ‘A empresa custeia o sistema e paga o salário das pessoas que usam esse sistema. Não vejo nada de errado no fato de a empresa investigar e auditar o que está sendo enviado para todo mundo.’
Case diz que a Catho, por exemplo, não faz isso, mas já ameaçou a investigação de e-mails de alguns empregados. ‘Alguns funcionários fazem ‘download’ de músicas no horário de trabalho. Com as ameaças, eles param por um tempo. Mas, depois, voltam a baixar as músicas’, afirma.
Isso, segundo ele, tem custo para a empresa. ‘Ela paga o provedor e a capacidade que é usada. Quando um empregado faz ‘download’ de música, isso tem custo. O sistema fica mais lento e atrapalha todos’, diz.’
Carolina Brígido
‘Cuidado com o e-mail’, copyright O Globo, 17/05/05
‘Uma decisão inédita do Tribunal Superior do Trabalho (TST) estabeleceu que o patrão tem o direito de fiscalizar mensagens enviadas e recebidas pela caixa de correio eletrônico que a empresa oferece ao funcionário, desde que ‘de forma moderada, generalizada e impessoal’. O procedimento foi autorizado como método de obtenção de provas para justificar uma demissão feita pela HSBC Seguros Brasil S.A. A partir do rastreamento do e-mail de um funcionário, descobriu-se que um dos integrantes da filial de Brasília utilizava o correio corporativo para fins pornográficos.
O empregado costumava enviar aos colegas fotos de mulheres nuas. Em sua defesa, alegou que, ao rastrear o e-mail, a empresa violou sua intimidade e privacidade. Também argumentou que a prova para justificar sua demissão foi obtida de forma ilícita. Os motivos não foram aceitos pelos magistrados. Por unanimidade, a Primeira Turma do TST decidiu que, como o equipamento e a tecnologia foram entregues pela empresa para fins de trabalho, não seria permitida a utilização pessoal.
‘Não haveria qualquer intimidade a ser preservada, posto que o e-mail não poderia ser utilizado para fins particulares’, explicou o relator do caso, ministro João Oreste Dalazen.
Ele esclareceu ainda que a senha para acesso ao sistema não pode ser interpretada como uma forma de proteção para evitar que o empregador tenha acesso ao conteúdo das mensagens, como argumentou o empregado demitido. Segundo o magistrado, a senha serve apenas para que o empregador evite o acesso de terceiros às informações da empresa.
O funcionário foi demitido em maio de 2000 e chegou a conseguir a anulação da justa causa, em primeira instância, alegando a garantia constitucional de inviolabilidade da correspondência. O trabalhador conseguiu o direito de receber a multa rescisória. No entanto, a seguradora recorreu ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Distrito Federal e saiu vitoriosa. O TST manteve essa decisão – que ainda pode ser contestada no plenário do próprio TST e no Supremo Tribunal Federal (STF).
No Brasil, assim que foram instituídos os e-mails corporativos, os juízes consideravam as mensagens dos funcionários invioláveis. Julgavam os casos por analogia à inviolabilidade das correspondências. Nos últimos anos, esse entendimento foi modificado pelos tribunais trabalhistas estaduais. Ontem, foi a primeira vez que o TST analisou o assunto. A decisão servirá de parâmetro para outras ações semelhantes.
Dalazen enfatizou que os direitos do cidadão à privacidade e ao sigilo de correspondência, assegurados pela Constituição Federal, dizem respeito apenas à comunicação estritamente pessoal, e não às mensagens enviadas e recebidas em nome da empresa. A opinião é a mesma de um ministro do STF consultado pelo GLOBO:
– A situação é ambígua, mas é muito difícil configurar a quebra da privacidade, porque o trabalhador estava usando um bem da empresa para fins diferentes do trabalho.
O advogado Renato Opice Blum, especialista em direito eletrônico, concordou com a decisão do TST. Ele disse que, conforme o artigo 932 do Código Civil, os atos do empregado durante sua jornada de trabalho podem gerar responsabilidade conjunta da empresa. Portanto, se um trabalhador envia um e-mail ofensivo, a empresa também pode ser responsabilizada.
A advogada Nadia Demoliner Lacerda, especialista em direito do trabalho, também concordou com a decisão do TST. Porém, ela ponderou que, como não existe ainda legislação para disciplinar o tema, seria saudável que as empresas deixassem claro, ao admitir um funcionário, que podem rastrear o e-mail corporativo.
A Força Sindical, porém, discordou dos especialistas. Em nota, a entidade repudiou a decisão do TST e considerou a permissão às empresas ‘uma agressão à liberdade individual que, guardadas as devidas proporções, é semelhante à revista íntima feita pelo empregador no horário de saída dos funcionários’.
Segundo o secretário nacional de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Antonio Carlos Spis, a entidade é contra o rastreamento indiscriminado pelas empresas dos e-mails de seus funcionários:
– As empresas podem desviar esse tipo de rastreamento para uma vigilância de caráter ideológico. COLABOROU Ronaldo D’Ercole’
Juliano Barreto
‘Políticos prestam contas em seus blogs ‘, copyright Folha de S. Paulo, 18/05/05
‘Políticos e grandes empresas estão usando os blogs para alcançar seus objetivos. E essas metas podem ser as mais variadas, indo da venda de desodorantes para adolescentes até a conquista da reeleição para o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido.
A fabricante de produtos para higiene pessoal Protect&Gamble usou um blog como arma de marketing. A página (www.sparklebodyspray.com) é mantida por três adolescentes fictícias, que devem cativar as internautas e sugerir produtos de higiene pessoal.
Já a General Motors colocou seu vice-presidente, Bob Lutz, para mostrar as vantagens de sua nova linha de carros.
A natureza democrática da internet, porém, permite que os diários dos poderosos sofram concorrência de sites amadores e com idéias contrárias às suas.
Empresas como a rede de supermercados Wal-Mart (www.walmart.com) são alvos de vários blogs dedicados a reclamar de suas políticas de negócios. O walmartwatch.com/blog e o blog.wakeupwalmart.com são dois exemplos.
Blogueiro eleitor
No ano passado, as eleições presidenciais dos EUA foram marcadas pela participação dos blogs.
Os conflitos no Iraque também movimentaram a internet, trazendo, inclusive, uma série de diários escritos por soldados no campo de batalha.
Na opinião do professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, Tom Dwyer, o fenômeno dos blogs políticos ocorreu pela comodidade da comunicação moderna.
‘Você pode chegar em casa e fazer meia hora de militância na frente do computador’, explica.
Sobre a relação dos políticos com os internautas, o professor se mostrou menos animado.
‘Os políticos têm uma relação superficial com a internet. Eles não têm controle das situações que podem acontecer em um site aberto a comentários. É como em um comício. O político sente que pode perder o controle e não gosta muito disso’, diz.
No Brasil, já há parlamentares usando blogs para falar com os eleitores. É o caso da vereadora Soninha (www.soninha.com.br) e do senador Cristovam Buarque (www.cristovam.com.br/blog), respectivamente do PT-SP e do PT-DF. Outro que usa blog é o deputado federal Inácio Arruda (www.inacio.com.br/blog.php), do PC do B do Acre.
Também é possível ler blogs de vários representantes do PSDB de São Paulo no portal da liderança do partido na Assembléia Legislativa (www.lidpsdb.com.br).’
***
‘Colunista reúne celebridades em site ‘, copyright Folha de S. Paulo, 18/05/05
‘Uma coluna social escrita pelas próprias celebridades. Talvez essa seja a melhor definição para o blog coletivo The Huffington Post (www.thehuffingtonpost.com).
Criado pela colunista e ex-candidata ao governo da Califórnia Arianna Huffington, o site traz opiniões de centenas de colaboradores -entre eles, personalidades do cinema como os atores Gwyneth Paltrow, Diane Keaton e John Cusack.
Cronistas de peso, como o veterano jornalista Walter Cronkite, e diversos políticos também deverão escrever para o blog.
A reportagem acompanhou a movimentação dos primeiros cinco dias do Huffington Post e conferiu depoimentos que falaram sobre temas variados como os bastidores da Casa Branca, fofocas de Hollywood e as tendências políticas do novo Papa.
Em seu primeiro dia no ar, o Huffington Post foi visitado por cerca de 8 milhões de pessoas.
No segundo dia, o foco foi para os conflitos no Iraque.
Nos demais dias, a miscelânea tomou conta da programação.
Entre os textos que se empilharam no site, foi possível ver links para um texto sobre maternidade abaixo de outro que falava sobre ‘um sentimento mundial de insegurança’.
O primeiro foi escrito por Cheryl Saban, esposa do presidente da empresa de investimentos Saban Capital Group. O outro, pelo ex-senador Gary Hart.
Em comum, ambos só devem ter uma gorda conta bancária.
Origem
Arianna ficou famosa em 1994, quando seu marido, o político Michael Huffington, perdeu US$ 28 milhões em uma campanha para o Senado. Quatro anos mais tarde, Huffington assumiu ser bissexual e o casal se divorciou.
Atualmente, ela segue carreira como ativista e política independente. Sua participação mais notável foi nas eleições para o governo da Califórnia, quando obteve 1,6% dos votos.
O lançamento do Huffington Post foi, em parte, motivado por uma disputa ideológica com Matt Drudge, criador do www.drudgereport.com, portal que supostamente privilegia o partido republicano.’
TELESUR
Juan Forero
‘A Telesur, que deve ir ao ar em julho, terá participação do Brasil ‘, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times , 17/05/05
‘Os EUA têm a CNN e a Fox. O mundo árabe pode assistir à Al-Jazira ou à Al-Iraqiya do Iraque, esta última financiada por americanos. Agora, uma iniciativa bancada por Hugo Chávez, presidente da Venezuela, em breve dará à América Latina a Telesur, rede que, segundo diz, será um ‘contraponto à ditadura da mídia das grandes redes internacionais’.
Associação que envolve Argentina, Cuba, Brasil e Uruguai, mas é em grande parte financiada pela Venezuela, a Telesur terá um viés sul-americano, segundo seu diretor, Aram Aharonian. A estação, que deve iniciar as transmissões em julho, exibirá documentários sobre sem-terra no Brasil ou movimentos indígenas nos Andes, além de notícias sobre política.
A disputa sobre o que é notícia e quem deve dizê-la está presente em muitas partes do mundo. Aqui, ela atinge o coração de uma guerra de propaganda que o governo da Venezuela pretende vencer, tanto no país como na América Latina, onde Chávez e sua nêmesis, os Estados Unidos, buscam apoio de países vizinhos na tentativa de isolar um ao outro.
Jornalistas da Telesur falam de uma ‘rede anti-hegemônica’ numa censura pouco velada à mídia americana. Âncoras da Telesur – uma abreviação de Televisión del Sur – incluirão jornalistas como Ati Kiwa, um índio colombiano que se veste com os trajes tradicionais de sua tribo. ‘Isto não é apenas um sonho, mas o sonho de muitos jornalistas da América Latina que verão sua realidade no ar’, disse Aharonian, jornalista uruguaio de 59 anos que vive em Caracas. ‘Queremos nos ver através da televisão.’
Mas os críticos locais dizem que a intenção de Chávez é antes alimentar a discórdia do que fazer uma cobertura ampla, com uma máquina de propaganda financiada por um governo ideologicamente orientado. ‘A Telesur é uma ordem presidencial’, disse Alberto Federico Ravell, diretor da Globovision, estação particular que faz oposição a Chávez. Na Venezuela, com a popularidade de Chávez em 71% e seus opositores em grande parte vencidos, as redes particulares são os inimigos vocais que restam do governo.
Essas estações já veicularam muitas horas de publicidade anti-Chávez, exibiram acusações dos adversários, apoiaram um golpe que por pouco tempo o afastou do poder e uma greve no setor petrolífero.
Chávez sobreviveu e parece estar dando o troco. Uma Lei de Responsabilidade Social em Rádio e Televisão, assinada em dezembro, impõe restrições que, segundo as emissoras, visam a amordaçar o noticiário. Segundo a lei, a mídia não pode divulgar reportagens que ponham em risco a segurança nacional ou incitem à ruptura da ordem pública. Emendas ao Código Penal, que entraram em vigor em março, transformam em crime insultar ou mostrar desrespeito a autoridades do governo.’