‘O Povo concluiu esta semana uma série de mudanças editoriais, estreando novas colunas e seções e um novo caderno. Também foi ampliado o espaço destinado às cartas dos leitores, com uma página semanal, mantendo-se a publicação diária, no tradicional lugar da página 6. Segundo declarou o diretor-executivo da Redação, Arlen Medina, em notícia publicada sobre o assunto na edição de domingo passado, as modificações têm o objetivo de oferecer mais ‘serviços de utilidade pública’, dar ‘dicas específicas para o segmento jovem’, alcançar um ‘público mais requintado’ e ainda ‘dar visibilidade a tipos populares do Ceará’.
Para atender ao público ‘mais requintado’, foi lançada a Página A (semanal), na editoria de Economia. A primeira, publicada na terça-feira, tem três de suas notas ocupando a maior parte da página, divulgando produtos que interessariam a esse público: jóias, perfumes finos e canetas idem. Duas coisas devem ser observadas. Acho que página não pode se circunscrever a divulgar produtos, pois não deve ser apenas esse o interesse de um público requintado; depois, apresentando-se como jornalismo de variedades, ficou deslocada na editoria de Economia.
No mesmo dia, sai a Página OK, também semanal, na editoria Vida & Arte, dedicada à ‘galera jovem’, como diz um anúncio inserido no jornal. A página prioriza a imagem ao texto. Tem notas curtas e assuntos superficiais. No comentário interno que fiz à Redação, perguntei se, de fato, os jovens atualmente se interessam apenas por assuntos ligeiros. Se alguém tiver a resposta, gostaria de ouvi-la.
Quanto ao caderno Veículos (mensal), acho que atenderá à demanda de um público cada vez mais interessado no assunto; o mesmo com relação à semanal página Você (quartas-feiras), com esclarecimentos sobre serviços e informações úteis para o dia-a-dia. Também é um serviço de utilidade pública a seção Desaparecidos, divulgando diariamente fotos de pessoas desaparecidas (no E-Mais, contracapa).
A coluna Sou do Povo, entrevistando diariamente um personagem ‘popular’, ou que se distinga de alguma maneira, é uma boa iniciativa, por dar voz a pessoas interessantes, que de outra maneira não teriam oportunidade de mostrar seus dons, por não serem ‘famosas’. A seção Estou Lendo (personalidades comentando um livro), espalhada por todas as páginas, e os bonequinhos abrindo as editoriais com os dizeres ‘Quem lê jornal sabe mais’, são tentativas válidas de incentivar a leitura. Dar uma página semanal para cartas, às quartas-feiras, mantendo a publicação diária no espaço hoje existente, é uma antiga reivindicação dos leitores, atendida em boa hora pelo O Povo.
Fair Play (sextas-feiras, no Vida & Arte), com o jornalista Paulo Linhares, é a retomada da coluna do mesmo nome, antes assinada por ele no Buchicho, interrompida há mais de dois anos. Segundo o próprio Linhares, que também é antropólogo, em declaração publicada na edição de quinta-feira, ‘é uma coluna que quer enfrentar com prazer as dificuldades de se viver numa cidade como a nossa, que é a periferia da periferia do mundo. Se o Brasil é periferia, Fortaleza também é periferia dentro do Brasil’. Menos ácido, Tostão explica a coluna que leva seu nome (Esportes, domingos e quartas-feiras), em depoimento na edição de 14/5: ‘Eu trato de assuntos gerais do futebol. Gosto também de fazer algumas divagações e aproveito o futebol para falar desses detalhes’. Médico, tricampeão mundial de futebol com a seleção de 1970, ele completa: ‘Quando alguma coisa do passado ajuda a entender o presente, eu faço essa correlação. Mas não gosto de ficar falando por falar. Não sou saudosista’.
Identidade
As mudanças, de maneira geral, parecem apontar para uma certa ‘revistização’ do jornal, ainda a se provar se será completamente benéfica. Eu tendo a achar que cada veículo de comunicação deve ter a sua linguagem e as mudanças devem ser pensadas a partir dessa perspectiva. No entanto, jornais do mundo inteiro estão buscando novos rumos devido a uma crise de grande intensidade provocada pelo fato de a internet ter criado um novo paradigma na difusão das informações. Crise, no sentido aqui usado tem múltiplos sentidos – momento difícil, de dúvidas, mas também de oportunidade de evolução. Essa conjuntura fez surgir um vigoroso debate, do qual participam jornalistas, empresários de comunicação e estudiosos do assunto, a respeito dos caminhos que devem tomar os jornais. Portanto, é estimulante observar que O Povo, com erros e acertos, não se acomoda – uma característica que acompanha o jornal desde a sua fundação –, buscando novas experiências, ancoradas na identidade consolidada ao longo de seus 77 anos de existência.
Colunas
Uma observação para completar os comentários acima. Somando-se os dois primeiros cadernos e o Vida & Arte, o jornal passa a ter 33 colunas. Contando-se todos os suplementos, chega-se a mais de 60 colunas. Parece-me uma quantidade excessiva de colunas para um jornal. É um assunto a merecer debate mais elaborado.
Protocolar e Protocolizar
Recebo e-mail de um leitor afirmando que os jornalistas do O Povo erram ao usar a palavra ‘protocolar’, como sinônimo de ‘registrar em protocolo’, em vez de ‘protocolizar’, que seria a forma correta. Protocolar, segundo o leitor, só poderia ser usado como sinônimo de ‘cerimonioso, formal, de acordo com o protocolo’. Respondo-lhe que não há erro em usar ‘protocolar’ como sinônimo de ‘protocolizar’, apontando que a palavra está dicionarizada com esse sentido, por exemplo, no Houaiss (eletrônico) e no Aurélio Século XXI.
Como a política, a língua também é dinâmica, e temos de aceitar o florescimento de novos sentidos ou de novas palavras. Cabe ao falante (e a quem escreve) escolher a forma que mais lhe agrade. Cada um tem a lista de palavras com as quais implica. Eu evito ‘disponibilizar’, ‘otimizar’, ‘agilizar’, ‘checar’ (muito comum entre jornalistas), entre outras. Mas não posso dizer que erram aqueles a usarem tais palavras.’