Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Bia Abramo

‘Não é uma decisão qualquer deixar seu filho pequeno digamos, em torno dos dois anos – pouco mais, pouco menos- assistir à TV. Assim como não é simples resolver que as crianças devem ser totalmente privadas do mundo da televisão.

É batata: entre as dezenas de checagens de procedimentos que os pais da classe média fazem uns com os outros (‘foi amamentado até quando?’; ‘dorme a noite inteira?’; ‘ainda não está na escola?’), em algum momento surge a questão de ver ou não televisão e o que se deve ou não deixar ver. Normalmente, depois que as crianças completam dois anos, a maioria dos pais já teve de capitular, de alguma forma -às vezes com diversas restrições, em geral com alguma vergonha, quase sempre com algum sentimento de derrota.

A TV é incrivelmente rápida em conquistar corações e mentes. Em coisa de poucos dias, muito poucos dias, as crianças se lembram dos nomes, das músicas, de todas as características dos personagens. Desenvolvem gostos e desgostos, distinguem bem os preferidos e são introduzidos ao um universo de narrativas mais ou menos repetitivas e constantes.

O que é mais assustador, entretanto, é a eficiência da televisão em educar as crianças para se tornarem telespectadores. Tome-se um canal como o Discovery Kids, cuja programação, a rigor, é adequada a crianças em idade pré-escolar.

De fato, não há violência nem desenhos muito histéricos. Tudo se passa num terreno seguro de histórias politicamente corretas, com preocupações pedagógicas, recheadas de bons sentimentos.

Há programas ótimos, como ‘Caillou’, ‘Boo’, ‘As Aventuras de Pigley Winks’, ‘Zoboomafu’ e ‘Connie, a Vaquinha’; há tatibitate educativo-sentimental (‘Barney e Seus Amigos’; ‘Clifford’; ‘Save-Ums’); há técnicas diversas e divertidas em animação (massinha, bonecos, computação gráfica); em termos de conteúdo, até que existe uma margem bastante razoável de escolha/controle. Inescapável é a sintaxe da TV.

Os ritmos, as interrupções, a ausência de silêncio, a divisão do tempo em unidades repetitivas e, claro, a lavagem cerebral da publicidade. Tudo isso se instala de maneira insidiosa e quase que imediata. De uma hora para outra, a dispersão da criança está domada, a resposta física de um momento mais inicial vai sendo substituída pela inércia e pela passividade e o hábito começa a se instalar: ‘voilá’, mais um telespectador está formado.

Claro que a descrição é quase caricata, mas só quase. Além da rapidez, o mais notável é a prevalência da forma sobre o conteúdo, ou seja, não interessa se com programas melhores ou piores, o primeiro efeito da televisão é nos transformar em telespectadores assíduos, em seres expectantes de estímulos sempre apaziguadores e hipnóticos. E, embora seja muito difícil de precisar o porquê, esse parece ser um caminho sem volta.’



TV BANDEIRANTES
Daniel Castro

‘Band terá 2ª novela ou minissérie em 2006’, copyright Folha de S. Paulo, 28/05/05

‘Presidente da Band, João Carlos Saad disse em convenção de afiliadas da rede, no último fim de semana, que está ‘trabalhando’ para inaugurar um segundo horário de telenovelas em 2006.

A emissora já faz orçamentos para o novo horário de novelas. Também estuda a alternativa de produzir uma minissérie para exibir por volta das 22h. Segundo executivos da emissora, ‘Floribella’, adaptação de original argentino, terá uma segunda temporada no ano que vem, mesmo dando média de três pontos, o que para a Band não é um mau resultado. A Band concluiu que fazer novela é fundamental, porque atrai anunciantes e fideliza a audiência.

Um projeto de minissérie, com 45 capítulos, já está totalmente escrito por Letícia Dornelles (ex-colaboradora de Manoel Carlos na Globo). Batizado internamente de ‘Projeto Baywatch’, a minissérie é inspirada no seriado americano com Pamela Anderson.

Trata-se de um grupo de salva-vidas que investiga por conta própria um crime numa praia do Rio. A sinopse prevê muitas cenas de ação e sensualidade, com bombeiros exibindo seus músculos. A minissérie foi escrita com muitas cenas ao ar livre e poucos cenários, para não ficar cara.

Letícia Dornelles também propôs à Band três sinopses de novelas. Duas são remakes de produções já feitas pela Globo: ‘A Moreninha’ e ‘Maria Dusá’ (na Globo, ‘Maria, Maria’).

OUTRO CANAL

Humilde 1 Jô Soares reage com bom humor ao ser questionado sobre o ‘Pânico na TV’, que o chama de ‘Bonzão’ e quer que ele calce as ‘Sandálias da Humildade’. ‘Acho engraçado, mas [a perseguição] é sem motivo. Nunca me recusei a falar com ninguém. No dia em que a gente se encontrar de novo, a gente conversa’, diz.

Humilde 2 O humorista e apresentador, que já apareceu no programa da Rede TV! de cara amarrada, afirma que tinha motivo para evitar Repórter Vesgo e Ceará. ‘Eu estava a trabalho. Na festa dos 40 anos da Globo, ia me apresentar no palco.’

Truque Não existe nada de secreto ou misterioso na seleção de famílias que o SBT está fazendo em seu site. As inscrições são para o programa ‘Family Feud’, um ‘game’ popular nos Estados Unidos, em que duas famílias competem por prêmios. A atração já está em pré-produção, mas ainda não tem data para estrear.

Provocação O ‘Show do Tom’ volta a gravar em junho uma nova versão da paródia do ‘Qual É a Música?’, que irritou Silvio Santos e levou o SBT à Justiça contra a Record. Para driblar liminar favorável ao SBT, a sátira terá novo formato, não tão parecido com o original.

Espaço A criação de um segundo horário de novelas próprias no SBT agora é dúvida. Pode até não vingar, depois da contratação de Ana Paula Padrão, que terá telejornal no horário nobre.’



TV BRASILEIRA / CRÍTICA
Antonio Brasil

‘A TV brasileira é ruim, mas tem solução!’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 24/05/05

‘Na semana passada, procurei alertar os telespectadores brasileiros. A TV brasileira piorou muito. Talvez seja por acomodação, força do hábito ou falta de opções. Nos recusamos a perceber que o ‘Rei está nu’. A tal ‘indiscutível’ qualidade da TV brasileira, ou seja, o tal padrão Globo de qualidade não passa de ‘cosmética’. Pura ilusão. Estamos parados no tempo. Produzimos uma péssima programação que se sustenta na fórmula preguiçosa e lucrativa do excesso de outras ‘baixarias’ com nome de novelas e monopólios disfarçados de ‘conteúdo nacional’. Mas, sinceramente, não queria deixar uma impressão negativa ou pessimista. A TV brasileira tem solução.

Mas por falar em novelas e baixarias, vocês já viram essa tal ‘América’? Impressionante. É, sem duvida, uma das piores produções da Globo em todos os tempos. Trata-se, sim, de um exemplo ímpar de decadência e esgotamento da fórmula mágica das novelas ‘burras’. Um amontoado de asnices e distorções não só sobre o Brasil, mas também sobre a América. Um verdadeiro ‘samba do crioulo doido’, ou melhor dizendo, uma novela da autora de novelas muito doida. Um show de estereótipos, erros e bobagens perigosas. A migração brasileira para os EUA é um assunto sério e merecia ser tratado com mais cuidado. TV é concessão pública. Tem obrigações contratuais com o público. A TV brasileira não tem a obrigação de educar o público. Infelizmente! No entanto, não pode ser tão irresponsável.

Em tempos de crise econômica, desesperança da população em geral e altas taxas de desemprego no país, as conseqüências dessas distorções televisivas podem ser perigosas e causar vítimas. Insisto. Baixaria não é só palavrão ou violência na TV. Baixaria é bobagem e burrice em horário nobre. Aproveito para sugerir uma providência, uma ‘solução’ drástica para a novela: um providencial e cataclísmico ‘tsunami’. Que tal uma onda enorme que carregue para bem longe uma historia sem pé nem cabeça, com personagens tão ruins e irreais. Depois, é só substituir essa novela por outra qualquer. Tanto faz. Ninguém vai sequer notar ou se importar muito. Novela é sempre a mesma coisa. Não muda nada. Mantém o país entorpecido e indiferente a tudo.

Discurso de G-lobo

E por falar em baixaria, esta semana fui surpreendido com uma notícia no mínimo ‘surrealista’ e surpreendente. Os ‘radiodifusores’ brasileiros, liderados pela Globo, estão intimando o governo a protegê-los contra o avanço de empresas estrangeiras no setor de comunicação social, principalmente das operadoras de telecomunicações. Eles temem a convergência de mídias. Em essência, eles querem restringir a produção de conteúdo na Internet e eliminar a competição estrangeira. Querem ‘preservar’ a qualquer custo e de qualquer forma o frágil, ingênuo e desprotegido ‘conteúdo nacional’.

Segundo, pasmem, o vice-presidente de Relações Institucionais da Rede Globo, Evandro Guimarães, ‘a privatização da Telebrás trouxe para o país empresas estrangeiras capitalizadas, que agora estão começando a transmitir conteúdo, como sons e imagens, que antes eram transmitidos somente pela radiodifusão. Só porque a tecnologia chegou, nós vamos derrogar a Constituição?’, reclamou Guimarães, cobrando limites dos concorrentes. Quem diria, hein? Um verdadeiro discurso de ‘G-lobo’, ou melhor, um verdadeiro discurso de ‘lobo’ em pele de cordeiro! Sorry! Ou seja, assim como o petróleo, a ‘baixaria’ televisiva é só nossa! Sugiro, pois, a criação imediata de uma TVbras, ou então, uma CPI que investigue o atual estado da TV brasileira. Afinal, propor CPI está na moda e assusta muita gente!

E o acordo Time-Life?

Somos um país de memória curta. Jamais imaginei que um dia veria a Globo defendendo a constituição brasileira e se opondo ao capital estrangeiro! A mesma empresa que nos seus primórdios mudou a constituição vigente para legalizar um acordo ilegal e muito lucrativo com o grupo norte-americano Time-Life. Lembram? Ao contrário de tantos ‘governos’, eu perdôo, mas esquecer? Jamais.

A mesma Globo agora exige o respeito à constituição. Defende a soberania e o conteúdo nacional. Em outras épocas, buscava no capital externo a sua salvação e um crescimento vertiginoso, as custas das redes concorrentes. Apesar das relações privilegiadas com o poder militar, o acordo da Globo com o grupo americano foi duramente denunciado por diversos políticos e executivos das demais redes de TV. Ainda me lembro dos discursos inflamados de políticos como o deputado João Calmon que exigia o respeito à constituição brasileira. A constituição era clara: era vetado ao capital externo investir em veículos de comunicação nacionais.

João Calmon lutava pelos corações e mentes dos brasileiros, pela sobrevivência das Associadas e contra os privilégios de um acordo que beneficiaria somente a Globo. Foi, sem dúvida, um dos momentos mais importantes e significativos da história da nossa TV.

As outras redes sabiam que a entrada de capital estrangeiro restrito a um único sistema privado de comunicação traria conseqüências nefastas para o mercado e para o futuro do país. Eles estavam certos. Lutavam pela sobrevivência. Mas em tempos de lua-de-mel com a ditadura, a Globo conseguiu mudar a constituição brasileira e garantir o modelo hegemônico que ainda prevalece na TV. O acordo entre a Globo e grupo Time-Life garantiu o futuro da empresa e condenou o país a ser refém de um único grupo comunicacional.

A Globo certamente não teme a constituição, o governo, o público ou as demais empresas nacionais. Estão todos devidamente ‘dominados’. A Globo, no entanto, reconhece e teme a ameaça externa das poderosas empresas estrangeiras. Empresas muito parecidas com o modus operandi da Globo, porém muito mais competentes. Empresas de telecomunicações que também privilegiam os lucros, as jogadas políticas e sabem muito bem como garantir privilégios com políticos e governos ambiciosos e indecisos.

A Globo conhece bem o poder de seus pares. Corre em defesa da televisão e da cultura brasileira para garantir seus próprios privilégios. Não quer mudar o modelo atual ou arriscar uma competição. Não está e nunca esteve preparada para competir de verdade. O discurso nacionalista é sempre um ótimo recurso para iludir e manipular os ingênuos. Antes, a ameaça ‘externa’ provinha dos ‘comunistas’. Agora são as empresas de telecomunicações ‘estrangeiras’. A baixaria televisiva é nossa!

Nacionalizar a Internet

Ou seja, a mesma rede que se beneficiou tanto do capital estrangeiro, agora exige de um governo em crise, a pouco tempo de eleições nacionais e de políticos inescrupulosos, dispostos a tudo, a obrigação de defender a cultura televisiva brasileira. Não importa a qualidade e a avaliação independente dessa ‘cultura’. Vale tudo, desde que seja produção da TV brasileira, ou seja, produção da Globo. Em verdade, a empresa insiste em manter um modelo injusto de TV no Brasil. Um modelo que lhes garanta o quase monopólio na TV aberta, nas TVs a cabo e certamente na futura TV digital brasileira. Não satisfeitos, querem também ‘nacionalizar’ a Internet e eliminar qualquer resquício de competição.

Quem diria! Os mesmos empresários que tanto lutaram contra os ideais nacionalistas que provocaram o golpe de 64, que foram responsáveis pela criação da TV brasileira mais ‘americanizada’ de toda a nossa história, agora defendem de forma resoluta os valores invioláveis da constituição e da cultura brasileira. Esse mundo dá muitas voltas e não para de me surpreender.

O público e o governo são reféns

Desconhecemos a verdadeira e independente história da TV brasileira. Dessa forma, fica muito fácil para qualquer ‘aventureiro’ ou executivo de TV proferir um discurso monopolista disfarçado em uma embalagem ingênua e nacionalista. Tudo em defesa do conteúdo nacional. O verdadeiro objetivo, no entanto, é sempre garantir privilégios e exigir ainda mais dinheiro público para projetos nebulosos. Mas, para isso, temos que esquecer, aceitar ou, melhor, temos que distorcer o passado.

Qualquer oposição ao modelo de TV vigente sofre ameaças de boicote, retaliações ou acusações de ‘revanchismo’. Apesar dessas ameaças, algumas pessoas ainda se recusam a aceitar o padrão global de TV e, principalmente, o padrão global de fazer negócios e política em nosso país. O governo e os políticos sempre evitam o confronto. Eles precisam da emissora líder para governar e a empresa sabe muito bem disso.

A desculpa do momento é ‘temos que defender o conteúdo nacional’. Somos obrigados a aceitar uma programação ‘horrorosa’, uma ditadura do mercado e dos índices de audiência que sempre ignoram os interesses do público. Insisto, televisão não substitui a educação. Mas a TV também não pode deseducar, entorpecer e alienar uma nação. A televisão, enquanto meio hegemônico no país, deve fazer parte de uma estratégia maior de educação, formação social, cultural e política de um povo. Não pode ser refém do mercado e de uma única empresa.

A solução da TV brasileira

Mas e a tal solução para a TV brasileira? Onde fica? Para mim, existe uma saída e não é nenhuma nova tecnologia digital. A solução é o ‘controle remoto’. Temos que procurar os bons programas de TV. Esses programas são raros, mas existem. É preciso se libertar da ditadura da programação única, do canal único. Tem gente que jamais muda de canal. Vejo isso em casa. Com tantas opções, algumas melhores outras piores, insistimos na Globo. É preciso ser mais seletivo na escolha dos nossos programas de TV. Assim como cuidamos da nossa saúde, diversificamos os afazeres e a alimentação, temos que ser mais criteriosos em nossas escolhas televisivas. TV de baixa qualidade e em grandes quantidades distorce e polui a nossa mente. Televisão é uma droga poderosa. É preciso digeri-la com cuidado. É preciso ‘garimpar’ a programação televisa.

Querem uma dica? Assistam às nossas redes públicas de TV – aquelas redes que não são estatais e que, apesar das dificuldades e indiferença do governo, conseguem produzir alguns bons programas. E ainda por cima concedem um espaço precioso às produções independentes. É claro que também tem muita porcaria. Como disse, é preciso garimpar. Mas se você ainda não desistiu da TV aberta brasileira, talvez encontre algumas ‘pérolas’.

Doc TV

Esta semana pude assistir a alguns bons programas na TVE da Rede Brasil. Está com uma cara nova, mudou a programação visual e, pelo jeito, melhorou muito. A TVE do RJ tem parceria com a excelente TV Cultura de São Paulo e com as demais TVs educativas regionais. Aproveitem. Assistam, antes que acabem.

A primeira surpresa foi a nova série de documentários do projeto Doc TV. Uma idéia excelente. Gosto de bons documentários. Sempre me divirto muito e acabo aprendendo algo novo. Coisa rara na TV brasileira. No sábado, assisti a um belíssimo exemplo em ‘Quilombos Maranhenses’. Um programa simples, despretensioso, mas bastante criativo. Os produtores compensaram a falta de recursos com a ousadia de uma linguagem teatral muito bem produzida. A idéia era discutir a história dos quilombos maranhenses e contar uma boa história. O documentário tinha de tudo. Bons atores em cenários criativos e boa direção. As imagens bem fotografadas mostravam as inevitáveis entrevistas, mas também mostravam muitas boas cenas de danças, festas e celebrações religiosas.

Quilombos Maranhenses é um documentário que propõe um debate político sobre o capitalismo brasileiro e contribui para a conscientização das nossas minorias com informações relevantes. Mas Quilombos Maranhenses não é um programa de TV chato. Televisão de baixo custo não precisa ser pobre. Tem que ser mais criativa e experimental. Quilombos tem um indiscutível conteúdo ‘nacional’. Tem tudo para agradar ao grande público. O problema é que esse tipo de programa está restrito às ‘heróicas’ redes públicas ou as minorias abastadas das nossas TVs a cabo. O público da TV aberta brasileira é refém de monopólio e ‘porcaria’ televisiva. Precisa, um dia, ser salvo, resgatado. Quilombos Maranhenses diverte e educa. Não é novela da Globo.

Mais bons programas

Outros exemplos de bons programas? O Curta Brasil da professora e ‘guerrilheira’ Ivana Bentes. Um programa excelente e imperdível para quem gosta de cinema de verdade. O Curta Brasil comprova que o verdadeiro cinema brasileiro sobrevive no universo alternativo dos pequenos produtores. Apesar de produzirem filmes excelentes com um conteúdo nacional verdadeiro, eles continuam ignorados pelo mercado, pelo público e restritos aos circuitos alternativos. Tem curtas brasileiros muito bons e a Profa. Ivana Bentes sabe como ninguém conversar com os realizadores. Um bom e divertido programa de TV.

Mas nem tudo é documentário ou cinema nas nossas TVs públicas. Também tem programa jovem para quem ainda acredita que nem tudo é ‘malhação’ e aposta na inteligência dos nossos adolescentes. O Atitude.com e o Super Tudo do sempre jovem diretor Pedro Paulo são bons exemplos de programas simples de entretenimento para uma faixa do público tão desprezada pelas redes comerciais.

Quer um outro exemplo de bom programa de TV? Se não vive sem ‘falação’ na TV, deve conferir programas como o Comentário Geral com a belíssima e talentosíssima Luiza Sarmento. Desculpe os excessos. Mas a Luiza é mesmo o máximo! Quem não conhece não sabe o que está perdendo. Bem que ela já merecia uma chance em outras redes menos ‘heróicas’. Mas, por favor, uma recomendação. Não permitam que Luiza continue a

Provocações televisivas

Quer mais? O ‘Provocações’ com o velho e talentoso Abujamra continua surpreendendo os telespectadores exigentes. É uma prova inconteste de que há vida inteligente na TV brasileira. Um programa simples e barato que acredita no poder da palavra irreverente e da imagem ousada. No mesmo nível, temos ainda a presença de outro grande ator de teatro, o veteraníssimo Sergio Brito. Está cada dia melhor. Grande talento da verdadeira cultura brasileira que sobrevive somente na TVE.

Ainda da TV Cultura, temos os documentários da Neide Monteiro em Novos Caminhos. Esta semana a equipe paulista deu um ‘banho’ da mais alta qualidade. O documentário sobre a miséria no sul da Bahia foi excelente. Não fez concessões às políticas globais. Um documentário que coloca o dedo na ferida da nossa miséria. Quem perdeu deveria exigir uma ‘reprise’.

Sou fã da Neide há muitos anos. Ela gosta de gente, tem um texto brilhante e opera sua câmera digital com desenvoltura. Sua presença frente as câmeras é discreta. Não faz ‘caras e bocas’ ou reportagens ‘bobinhas’ do decadente Globo Repórter. A equipe dos Novos Caminhos sempre nos surpreende ao mostrar um Brasil sem retoques. Sem cosmética ou imposições de um padrão discutível e ultrapassado de qualidade. Querem exemplo de conteúdo nacional na TV brasileira? Mudem de canal e prestigiem as nossas sofridas redes públicas. Antes que acabem!

TV que ‘deseduca’

Ou seja, a televisão brasileira tem solução. Mas essa solução não passa pela imposição de ‘reservas de mercado’ para garantir monopólios ou ‘gastança’ de dinheiro público para ‘copiar’ duvidosas tecnologias digitais de TV. A verdadeira solução está na produção de conteúdo de qualidade. Pode incluir parcerias nacionais ou estrangeiras. Tanto faz. A cultura brasileira não é ingênua e indefesa. Sempre soube como ninguém criar novos modelos. Não há lugar para reservas de mercado em cultura popular.

O tal conteúdo nacional tem que ser diversificado e independente. Em vez de gastar bilhões desenvolvendo tecnologias duvidosas de TV digital, deveríamos utilizar esse dinheiro para prestigiar e estimular nossas TVs públicas. Não falta dinheiro no Brasil para aventuras tecnológicas digitais, proteção de monopólios televisivos e propaganda disfarçada de jornalismo em estatais como a Radiobrás. Dinheiro público deveria estimular a parceria, uma estratégia comum para a educação e para a televisão. Repito, TV não substitui a educação. Mas não pode ‘deseducar’ um povo.

Sigam o exemplo da irreverente e ousada MTV, uma das minhas redes favoritas, celeiro inesgotável de talentos e idéias. Eles nunca deixam de me surpreender. Estão veiculando regularmente uma nova campanha de conscientização do público jovem. Tentem visualizar o impossível. Na telinha, fundo todo preto, som de fundo distorcido, quase ensurdecedor e os dizeres simples em tom de ameaça: ‘Desligue a TV e vá ler um livro’. Tudo a ver. A Globo deveria seguir o exemplo e anunciar: ‘Mude de canal. Assista uma TV pública!’.’