‘O empresário Nelson Tanure fez uma nova oferta para a Fundação Ruben Berta (FRB) para a aquisição do controle da Varig. Dono do Jornal do Brasil e da Gazeta Mercantil, Tanure teria ampliado de US$ 90 milhões para US$ 190 milhões sua oferta, segundo fontes ligadas à empresa.
As primeiras negociações do empresário com a FRB se tornaram públicas em março, depois que as duas partes participaram de uma reunião com o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar. A proposta teria sido engavetada com a mudança no comando da Varig, sob a liderança de David Zylbersztajn, presidente do conselho de administração, e Henrique Neves, presidente-executivo. Não só o novo conselho nunca se reuniu com Tanure como, pouco depois de assumir, em 7 de maio, anunciou um memorando de entendimentos dando exclusividade à portuguesa TAP.
Com investimentos no setor naval e de mídia, Tanure tem uma fortuna avaliada em meio bilhão de reais. O empresário é uma figura polêmica e ganhou notoriedade por adquirir empresas em situação pré-falimentar sem contudo se responsabilizar por suas dívidas. Contra os jornais JB e Gazeta, abrigados na empresa Companhia Brasileira de Multimídia, recaem centenas de processos trabalhistas, mas nem mesmo os acordos judiciais são cumpridos.
O reforço da proposta de Tanure surge às vésperas de a TAP anunciar os detalhes de sua oferta para a Varig, o que está previsto para acontecer até o início da próxima semana. Ontem, executivos da TAP passaram o dia reunidos na sede da Varig. O presidente da empresa portuguesa, Fernando Pinto, juntamente com Zylbersztajn e Neves, tentam marcar para amanhã audiências com José Alencar e os ministros da Casa Civil, José Dirceu, e da Fazenda, Antonio Palocci.
A proposta da TAP esbarra na falta de capital – e a Varig enfrenta sérios problemas de fluxo de capital. A TAP tenta atrair outros investidores, mas não tem recursos próprios para investir, uma vez que é uma estatal e Portugal já ultrapassou o limite de endividamento do setor público estabelecido pelo Banco Central Europeu.
VASP
A Vasp continua sob intervenção judicial até que cumpra a primeira parte do acordo firmado na última sexta-feira no Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo, quando se comprometeu a pagar, até o fim de julho, salários atrasados, rescisões trabalhistas e compromissos com a Previdência e com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Pelo acordo, a empresa deveria ter apresentado até às 13 horas de ontem uma carta de fiança do Banco do Brasil (BB) garantindo um depósito de R$ 40 milhões. No lugar da carta, a empresa apresentou, no meio da tarde, um protocolo de pedido de carta de fiança.
A assessoria do TRT não informou o nome do banco que assina o protocolo. O BB negou que esteja emitindo qualquer carta de fiança para a Vasp. No setor, comenta-se que a carta seria do BicBanco, instituição da qual a Vasp é cliente antiga. O juiz da 14.ª Vara do TRT, Homero Batista da Silva, entendeu, contudo, que a empresa tem intenção de cumprir o acordo e decidiu pela extensão do prazo.
Além da fiança, a Vasp tem até sexta-feira para pagar salários atrasados, uma conta estimada em mais de R$ 40 milhões. Se o acordo não for cumprido, a Justiça poderá apreender os bens da Vasp e de seu controlador Wagner Canhedo, que continuam indisponíveis.’
CASO KAJURU
Jorge Kajuru
‘Opinião não é crime ‘, copyright Folha de São Paulo, 31/05/05
‘Eu sou aquele cara da TV, gordo, feio e que anda meio infeliz.
Sou também um cara ‘bocudo’, freqüentemente exagerado, que pesa nos adjetivos, mas, e isso é essencial, que jamais fez uma acusação sem estar respaldado por provas documentais.
E é por isso que quero sua atenção para o que vou relatar aqui sobre o processo que redundou em minha condenação a 18 meses de prisão em regime aberto, dormindo em albergue, pela Justiça de Goiás -condenação que foi suspensa liminarmente pelo STJ até que se julgue o mérito do pedido de anulação da sentença.
Condenação, é importante que se diga, fruto também do descuido de um advogado, que perdeu o prazo para minha última defesa em Goiás.
Mas imagine que o governo de São Paulo tivesse feito um acordo com os clubes do futebol paulista para reduzir o preço dos ingressos nos estádios em promoção que envolvesse troca por notas fiscais.
Que, em seguida, todos os temas ligados ao campeonato fossem decididos em palácio.
Que o novo presidente da Liga dos Clubes fosse um dos coordenadores financeiros da última campanha eleitoral que elegeu o governador.
Que, do acordo, resultasse a venda, com exclusividade, para um canal de TV por cinco anos.
Que, no primeiro ano, os clubes não recebessem nenhum tostão e, nos quatro seguintes, recebessem muito menos do que contratos semelhantes pagam aos participantes de outros campeonatos estaduais.
Que outras emissoras tentassem entrar na concorrência, oferecendo valores até cinco vezes maiores e o governo os recusasse, sem que os clubes pudessem reagir.
Daí, uma rádio bota o imbróglio no ar porque, digamos, o Corinthians reagiu ao saber que em outros Estados há acordos infinitamente melhores. Reação em vão, porque tudo já estava decidido, até mesmo que o governo paulista seria o patrocinador das transmissões -em nome do próprio governo, não de alguma estatal.
O que você faria se fosse jornalista? Estranharia, denunciaria ou ficaria calado? Pois é. Eu estranhei, documentei e denunciei.
Dizem que sou polêmico e encrenqueiro. Devo mesmo ser e não discutirei com a imagem que existe a meu respeito. Mas sei que louco eu não sou e jamais entraria numa briga com o governo goiano e com a principal empresa de comunicação de Goiás, a Jaime Câmara, se não pudesse provar o que levei ao ar e que resultou no processo movido pela segunda.
Quem vive em São Paulo não imagina até que ponto sobrevivem em outras regiões algumas práticas políticas que normalmente são atribuídas ao velho coronelismo. Pressões, ameaças, estrangulamento financeiro -vale tudo.
E é por isso que quero ser julgado pelo que é substantivo -não por adjetivos que possa ter cometido no calor de um programa de rádio, feito ao vivo e movido por autêntica indignação. E o substantivo está fartamente documentado, como você poderá verificar em www.teste.observatoriodaimprensa.com.br, artifício de que me utilizo aqui para não cansar o leitor com as minúcias de um contrato que nada tem de ficção. É realidade pura e dramática sobre a promiscuidade que caracteriza o tripé, no caso, governo/mídia/futebol.
Lá está o contrato do governo de Goiás, que, no ano em questão (2001) -imediatamente anterior ao da campanha eleitoral-, segundo números oficiais do Tribunal de Contas do Estado, gastou mais com propaganda que os governos de São Paulo e Rio de Janeiro juntos: precisamente R$ 79.981.491,24. Pasmem! Quase R$ 80 milhões. Mais da metade com a Jaime Câmara.
Leia e tente não ficar estarrecido, sem se esquecer de que sou jornalista esportivo, ou seja, que tem tudo a ver com o meu ofício.
Em resumo, um contrato que repassa aos clubes míseros R$ 200 mil anuais em quatro de seus cinco anos de vigência (no primeiro não repassa nada) e tão leonino que não dá margem a nenhum respiro. Diferentemente do contrato feito na mesma época pela Federação Catarinense de Futebol com outra afiliada da Globo, a RBS, cujo valor atingiu R$ 2,3 milhões já no primeiro ano.
Ora, a missão principal do jornalista é fiscalizar o poder e cabe à Justiça não inibir o exercício da crítica e da opinião -ao contrário.
Além do mais, estivesse eu sendo acusado de ter mentido, não tenha dúvida de que a condenação teria vindo antes e da própria opinião pública, além dos veículos sérios de comunicação, que não me concederiam espaço nem emprego. Mas não. Fui condenado por ter chamado a empresa de ‘oportunista’, e reitero meu desafio para que ela mostre que menti.
Porque não há pior pena para um jornalista do que a perda da credibilidade e, neste episódio, por contraditório que pareça, a minha só fez aumentar, tanto entre os pares que respeito como, fundamentalmente, nas ruas.
Resta dizer que estou confiante no que os ministros do STJ decidirão, não só porque acredito na Justiça como porque, agora, tenho como defensor um advogado com as qualidades do ex-ministro da Justiça, José Carlos Dias.
Além do mais, quero crer que a concessão do habeas-corpus pelo ministro Arnaldo Esteves Lima significa a demonstração de que algum equívoco houve em minha condenação.
Jorge Kajuru, 44, jornalista, é comentarista dos programas ‘Fora do Ar’, pelo SBT, e ‘Linha de Passe’, pela ESPN Brasil.’
CASO TIM LOPES
Ali Kamel
‘O legado de Tim’, copyright O Globo, 31/05/05
‘Quando me ligaram na madrugada da última quarta-feira para dar a notícia da condenação do assassino de Tim Lopes, eu me lembrei imediatamente do telefonema de três anos antes, mais ou menos no mesmo horário, quando me disseram que Tim não voltara da reportagem que fora fazer. O primeiro telefonema foi aterrorizante, prenúncio da tragédia que se abateria sobre a família de Tim, seus amigos e seus companheiros de trabalho. O telefonema da semana passada, porém, não trouxe conforto, sentimento de vingança ou satisfação. Reagi como se aquela condenação fosse a única resposta que a sociedade poderia oferecer, o mínimo, o absolutamente necessário diante do sacrifício de Tim.
A resposta que ainda está por vir é aquela pela qual Tim entregou a vida com suas denúncias: libertar as comunidades carentes do jugo do tráfico. Dizer isso soa grandiloqüente, pura retórica, porque inalcançável. Mas, hoje, véspera do aniversário do assassinato dele, uma coisa para mim é clara. Se em vida Tim contribuiu para aprimorar o jornalismo brasileiro, sua morte trouxe como conseqüência uma mudança de postura decisiva no nosso trabalho como jornalistas.
Antes, nós, repórteres de todas as redações, víamos o tráfico ora como uma aberração, ora como parte da paisagem. Não era uma distinção feita de maneira consciente, porém. Era algo ditado pela necessidade, o caminho mais fácil. Quando saía da rotina, quando ‘barbarizava’, o tráfico era retratado inequivocamente como inimigo, como chaga. Mas, em outras ocasiões, era apenas ignorado, tomado como algo que todo mundo sabe que existe, como algo que simplesmente está lá. Uma postura, digamos, resignada.
Eu me lembro de quando comecei na profissão, há mais de vinte anos. Num mês de dezembro, um deslizamento de terra matara nove moradores do Pavão-Pavãozinho. Com poucos meses na redação, eu, que nunca tinha entrado numa favela, fui escalado para participar da cobertura daquela tragédia. Ao subir o morro, vi muitos bandidos armados, não tão ostensivamente como hoje (eles, ‘respeitosamente’, cobriam as armas quando nós passávamos). Apurei tudo e cheguei à redação acreditando que tinha outra matéria além daquela sobre as mortes: bandidos armados circulavam livremente na favela. Fui tratado como o foca que de fato era: ‘Nunca foi ao morro, não sabe o que é notícia. Aquilo tem todo dia, não é novidade. Faz só o deslizamento’, disse-me o editor, achando graça de minha falta de experiência.
O mesmo tipo de atitude que nos levou, durante muitos anos, a estabelecer uma norma de conduta que, implicitamente, aceitava o poder do tráfico. Reportagem sobre um deslizamento, falta d’água, um morador da favela, um artista, um estudante, um artesão, um trabalhador, uma professora, um mestre-de-obras, uma passista, um policial? Tudo bem, mas, antes de entrar, procurávamos sempre aquele sinal sutil, vindo de qualquer um, mas geralmente de um membro da associação de moradores: ‘Pode subir, tá limpo.’ Pronto, subíamos, fazíamos o trabalho e voltávamos seguros para as redações. Homens armados? Se não estivessem perturbando, eram paisagem. A não-matéria.
O assassinato de Tim mudou tudo. Em muitos encontros, reuniões e seminários, foi como se toda uma categoria despertasse ao mesmo tempo para um erro de muitos anos: não há nada de natural no tráfico, ele não deve ser nunca visto como paisagem e jamais se deve aceitar o consentimento do tráfico, mesmo que sutil, mesmo que dado de forma velada, indireta, para que façamos o nosso trabalho. Os traficantes estão ali indevidamente e é nosso papel mantê-los sempre nessa condição de estranhos, de usurpadores.
A questão é delicada, porque o trabalho jornalístico em comunidades carentes se tornou muito mais complicado, muito mais difícil. Se deixaram de ser paisagem, se não há consentimentos sutis, o risco é sempre maior. Este é o maior desafio do jornalismo brasileiro: continuar cobrindo o que acontece nas comunidades carentes, porque não fazê-lo é criar zonas de exclusão, num ambiente dominado por um inimigo declarado. Um retrospecto do nosso trabalho, nestes últimos três anos, mostra que temos conseguido. Com muitas, imensas dificuldades, é verdade. Mas com êxito.
Os menos otimistas estavam certos de que essa mudança de atitude seria efêmera. Não foi. Três anos depois, a postura de nós, jornalistas, não mudou um milímetro. Devemos isso ao Tim, um colega de quem não consigo falar sem me emocionar profundamente. Tim era especial: reunia ao mesmo tempo exuberância profissional e simplicidade no trato com os colegas, dedicação total ao trabalho e um espírito leve e brincalhão, vocação enorme para o furo, para a grande reportagem, e a disposição para trabalhar também nas tarefas mais rotineiras. Tim será sempre uma referência porque representava o que de melhor um profissional pode ser. Em tempos em que o estrelismo é tão freqüente, ele tinha a consciência de que a reportagem é sempre mais importante que o repórter. Sua morte, eu digo sempre, transformou-o num mártir. Algumas pessoas não gostam dessa palavra, mas ela é exata. E justa. Tim é um mártir do jornalismo brasileiro.
O martírio de Tim provocou em nós essa mudança. Temo, porém, que ela custe muito a chegar a outros setores da sociedade. Submetidos à equação cruel de que o trabalho social, cultural e comunitário em áreas dominadas pelo tráfico não pode ser levado adiante em confronto aberto com o tráfico, muitos continuam agindo como os jornalistas agíamos antes: vendo o tráfico ora como aberração, ora como paisagem.
Este é um nó que eu não sei como desatar. Mas, no meu íntimo, eu tenho uma certeza: se encarado como paisagem, é como paisagem que o tráfico se perpetuará.
ALI KAMEL é jornalista.’
VEJA
vs. MARTAIuri Pitta
‘Juiz decide: Marta pode ser chamada de perua ‘, copyright O Estado de São Paulo, 31/05/05
‘Para o juiz Airton Pinheiro de Castro, da 2.ª Vara Cível do Fórum Regional de Pinheiros, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) pode ser chamada de ‘perua’. Ele aceitou os argumentos da Editora Abril, que publicou reportagem na revista Veja com o título ‘Perua na lama’, e indeferiu pedido de indenização por danos morais apresentado pela ex-prefeita. A sentença, assinada em 13 de abril, ainda condena Marta a arcar com os custos processuais – R$ 2.500,00 -, mas ainda cabe recurso ao Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo.
A reportagem foi publicada em 11 de fevereiro de 2004, a oito meses da eleição municipal. O texto destacava que Marta estava ‘elegantíssima como sempre’ ao visitar uma área atingida por enchentes e ser hostilizada por moradores. A ex-prefeita processou a revista por achar que o título não tinha relação com o conteúdo e só se prestava a injuriá-la, ‘caracterizando o prejuízo psíquico que deve ser reparado’.
O juiz aceitou a argumentação do advogado Alexandre Fidalgo, defensor da editora. Castro alegou que o termo ‘perua’ pode ser usado ‘nos limites da crítica jornalística perfeitamente legitimada pelo sistema jurídico como alicerce da democracia’.
E destacou que ‘a matéria denota, por sem dúvida, conteúdo crítico da postura da autora, enquanto pessoa pública que é, ao se apresentar indistintamente, em todas as suas aparições, seja para falar a uma população carente ou para falar a executivos e empresários no prédio da Fiesp, fazendo questão de vestir-se com a mesma espalhafatosa elegância’.
‘A matéria agregou um tom jocoso em sua chamada, precisamente porquanto ligado a esta peculiar característica da autora, qual seja, sua notória elegância, expressamente vinculada à expressão tida como jocosa’, segue a sentença do juiz.
A Assessoria de Imprensa da ex-prefeita informou que, apesar de não ter sido intimado, o escritório de advocacia de Marta já tem conhecimento da decisão e está preparando um recurso.’