As declarações de Hugo Chávez ao iniciar o seu terceiro mandato como presidente não deixam dúvidas de que o homem está mesmo disposto a acelerar o processo autoritário na vizinha Venezuela. Mas ontem nossos três jornalões nacionais não mandaram ninguém a Caracas para conferir. Fiaram-se apenas no noticiário das agências telegráficas internacionais e na retórica inequívoca do líder venezuelano. Abriram mão do dever de acompanhar os acontecimentos in loco.
A desculpa de que foram pegos de surpresa não cola: já na semana passada o delirante Chávez deixara claro que a terceira posse não passaria em brancas nuvens.
Então, o que aconteceu? Economia. Este é o nome do jogo. Como nesta época do ano caem drasticamente as vendas em banca, os classificados e também os grandes anúncios, os jornais fizeram as contas e concluíram que não compensaria despachar para Caracas um enviado especial. Poderiam ter as notícias e até destacá-las (como efetivamente aconteceu) sem qualquer gasto extra.
O curioso é que chegaram à mesma conclusão conjuntamente. Fica a impressão de um acerto prévio e isto enfraquece a imagem de uma imprensa competitiva e plural.
Hugo Chávez detesta a imprensa livre e este tipo de sovinice coletiva só reforça o seu arsenal retórico contra o que ele chama de complô da mídia.
PS em 12/01: O jornal O Estado de S. Paulo parece ter compreendido a importância dos acontecimentos venezuelanos e despachou para Caracas o jornalista Paulo Moreira Leite, que já assina reportagens publicadas nesta sexta no jornal. Uma decisão correta, mas tardia: só depois da repercussão, no próprio jornal e nos concorrentes, dos atos de Chávez o Estadão decidiu enviar o repórter a Venezuela. Mal comparando, algo como mandar cobrir só o segundo tempo de uma final de campeonato…