‘Parece anedota de Redação, mas é fato real e sabido por novas e velhas gerações. A do grande jornalista, o mais bem informado da imprensa brasileira, de estilo impecável e certeiro tanto nos elogios como nas críticas. Um artigo dele derrubava ministros, provocava altas ou baixas na Bolsa, transformava um perna-de-pau em titular da seleção nacional, promovia um canastrão a gênio do palco, fazia de um analfabeto o autor mais influente da época.
Além de suas qualidades profissionais, havia a óbvia constatação de sua elegância pessoal, seus ternos bem cortados pelos melhores alfaiates, o bom gosto de suas gravatas, a eficiência de seus carros e a beleza de suas amantes e namoradas. Nunca jogou na Sena nem comprou bilhete de loteria porque sabia que seria o premiado. Ganhara, com o tempo, a placidez dos sábios e o tédio dos vencedores.
Foram poucas as testemunhas daquela noite decisiva. O presidente da República dera uma recepção em homenagem a um visitante ilustre, os mais finos ornamentos da sociedade estiveram no Palácio, com suas casacas e toaletes, a orquestra sinfônica fora contratada para tocar mazurcas e polcas (o visitante era eslavo e a festa pedia músicas afins), o champanha e o caviar rolaram e, glória das glórias, somente um jornalista fora admitido no olimpo que o Itamaraty prometia ser a festa do século: ele.
Na Redação, todos esperavam a sua chegada. Naquele tempo não havia fax nem e-mail. O sujeito, por mais glorioso que fosse, tinha de ir à Redação e enfrentar as velhas, paquidérmicas máquinas de escrever. O jornal já estava fechado, com espaço para a chamada na primeira página e duas colunas compactas na capa do segundo caderno.
Onze horas em ponto, com a oficina pronta para rodar a edição histórica, ele chegou à Redação. Nunca o tinham visto de casaca, gravata branca, cabelos com brilhantina (geralmente ele andava meio descabelado, somente em dias especiais apresentava-se em toda a sua glória). Desdenhou o cafezinho da garrafa térmica que o contínuo veio servir, ele estava empanturrado de champanha e caviar, e limitou-se a acender um cigarro, metade para inspiração e estilo, metade para ganhar tempo. No fundo, sentia que alguma coisa não daria certo daquela vez.
Botou o papel na máquina, caprichou nas margens, alinhando-as à esquerda e à direita. Quadro solene, um homem de casaca, de gravata branca, diante da máquina de escrever encarquilhada que, minutos antes, desovara a previsão do tempo e a cotação do dólar.
‘Indubitavelmente…’ -as teclas soaram na Redação, quebrando o silêncio e as sombras que só esperavam o seu texto para acabarem mais um dia no mundo e no jornal. As teclas movimentaram-se rápidas, no habitual borbotão louvado e reconhecido como o mais fluente e influente das letras pátrias.
Por Júpiter! Alguma coisa de espantoso aconteceu. Num movimento brusco, ele parou, arrancou a página da máquina e a rasgou, jogando os pedaços na cesta que já estava cheia de outros pedaços igualmente recusados naquele dia. Arrumou nova lauda, caprichou mais uma vez nas margens, e as teclas se movimentaram, deixando no papel o exórdio de sua obra: ‘Sem dúvida…’.
Por Júpiter novamente! As teclas estancaram, ele olhou o que escrevera e, sem raiva, buscando sempre o melhor, meteu vários ‘x’ em cima do que escrevera; não gostou de iniciar um texto com um borrão que revelava hesitação, preferiu arrancar o papel e despedaçá-lo, para que não houvesse memória de sua insegurança.
E, como tentara duas vezes a crônica da festa suntuosa, ele colocou uma terceira lauda na máquina e nem se deu ao trabalho de caprichar nas margens, o que importava era o conteúdo, lixava-se para a apresentação datilográfica do texto. E, como tivesse descoberto o mapa da mina, bateu furiosamente: ‘Não resta sombra de dúvida…’.
Que diabo! (Fica melhor do que o Júpiter duplamente invocado.) Parou novamente. Desconfiando de que não estivesse em seus melhores dias ou noites, olhou em torno para ver se alguém testemunhara as tentativas de dar certo. O contínuo dormia de boca aberta e os dois repórteres de plantão jogavam batalha naval; aparentemente, não houvera testemunha de seu fracasso.
Nem tirou a lauda da máquina. Anulou o que escrevera com diversos ‘x’, que funcionavam como as velhas borrachas que deletavam erros e impropriedades, abriu duplo espaço no papel e iniciou triunfalmente o novo texto: ‘Fora de qualquer dúvida…’.
Os dedos se embaralharam no teclado. Com pequenas alterações, repetia-se na vida real uma cena do Isaías Caminha, narrada por Lima Barreto. No romance, o sujeito levanta-se, vai ao banheiro, ouve-se um tiro: o cara suicidara-se.
Mas isso na ficção. Na realidade, as coisas ficaram banais. O sujeito apelou para os dois colegas que jogavam batalha naval. Fez um retrato falado da festa, as casacas, as toaletes, as mazurcas e polcas. Um dos repórteres preferiu usar outra máquina, para ver se dava certo. Tão logo se sentiu municiado pelas informações recebidas, começou o texto definitivo: ‘Sem dúvida, foi a festa do século’.’
COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
‘Itaú e Bradesco ousam na comunicação’, copyright O Estado de S. Paulo, 7/10/04
‘O Bradesco e o Itaú, os maiores bancos privados do País, estréiam hoje campanhas publicitárias ousadas. O primeiro para divulgar o seu cardápio de investimentos, e o segundo para estimular o uso consciente do crédito, de forma que o usuário de empréstimos bancários não perca o sono.
Chega a ser surpreendente o slogan do Itaú: ‘O crédito foi feito para realizar os seus sonhos, não para tirar o seu sono’. Essa campanha, criada pela agência Africa, de Nizan Guanaes, começa hoje pelos jornais e depois chega a emissoras de rádio e televisão, além da internet.
A idéia, diz o presidente do Banco Itaú, Roberto Setubal, é prestar um serviço à população ‘no momento em que o País retoma o crescimento e o Itaú, assim como todo o sistema financeiro, expande a oferta de crédito’. A campanha, segundo Setubal, é fruto da experiência do banco na concessão de crédito e do diálogo estabelecido com associações de defesa dos consumidores. Além do forte apelo publicitário, o Itaú também irá imprimir um guia de crédito consciente, explicando quando é vantajoso usar um cheque especial ou um crédito direto ao consumidor.
O mote da campanha do Itaú é outra surpresa: ‘Crédito. Use com moderação’, especialmente porque o banco aposta em ampliação em 25% no volume de crédito concedido este ano. No último trimestre, por exemplo, confirmando a retomada do crédito, os empréstimos para pessoas físicas cresceram 8% e os créditos concedidos para micro, pequenas e médias empresas aumentaram 11,3%, segundo os dados do Itaú.
Já o Bradesco decidiu pôr num único chapéu, com o slogan ‘Nós temos o que o seu dinheiro precisa’, o seu cardápio de investimentos. Para isso, a agência de publicidade Neogama, de Alexandre Gama, recorreu, nos comerciais dirigidos por João Daniel Tikhomiroff, da Jodaf-Mixxer, ao desenho de animação, que mostra os animais estampados nas notas de real, como a onça (R$ 50) e a garça (R$ 5), atraídos por um filé um ou um peixe, no caso da garça, para apresentar as opções como CDBs, fundos de investimentos e até cadernetas de poupança.
Gama, que criou a campanha, diz que a idéia foi a de fugir de uma linguagem quase sempre sisuda e convencional, apresentando as opções de investimento do banco de uma forma que cause surpresa. O trabalho de animação é de grande impacto e Tikhomiroff diz que foram necessárias várias tomadas de imagem até que tudo parecesse verossímil e impactante, especialmente a textura das notas no qual contou com a parceira da Tribo, de computação gráfica.’
MERCADO DE COMUNICAÇÕES
‘Projeções otimistas’, copyright Tela Viva, 30/09/04
‘O mercado de comunicações deverá crescer 4,5% ao ano no Brasil, nos próximos cinco anos. A informação faz parte de um estudo apresentado pela consultoria Pyramid Research durante o seminário Satélites 2004, promovido pela Converge Eventos em São Paulo. Entre 2004 e 2009 os segmentos deste mercado que apresentarão maior crescimento devem ser os de Internet em banda larga e TV por assinatura, com índices de 22,5% e 9,4%, respectivamente. A expectativa é de que até 2009 o Brasil alcance 5 milhões de assinantes de banda larga, com mais de 80% dos acessos via ADSL.
A telefonia móvel deverá crescer 6,6% no período, com a penetração passando de 35% em 2004 para 39% em 2009. Já a telefonia fixa e o mercado de Internet em banda estreita terão crescimento inexpressivo, com índices de 1,4% e 1,9%, respectivamente. Isso fará com que aumente a diferença entre as penetrações da telefonia fixa e da móvel em 2009 para 26%, quando a penetração da telefonia celular será mais que o dobro da fixa – 46% da móvel ante 20% da fixa.’