Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Laura Mattos

‘Por determinação judicial, o SBT teve de tirar do ar ontem o ‘reality show’ ‘Casa dos Artistas’. No lugar do programa, a emissora colocou um texto com a razão da não-exibição.

O cancelamento da transmissão foi solicitado em ação civil pública movida pelo procurador da República Matheus Baraldi Magnani, de Guarulhos. Segundo ele, telespectadores reclamaram de uma brincadeira veiculada em 7 de setembro, na qual os participantes simulavam posições sexuais. O ‘jogo’, de acordo com Magnani, foi proposto pela produção do ‘reality show’.

Cada candidato deveria escolher um parceiro para mostrar a posição sexual predileta. ‘É até complicado explicar, porque foi muito vulgar. Uma garota ficou de quatro enquanto um rapaz veio por trás. Além disso, uma menina se ajoelhou no sofá e disse para um colega abraçá-la por trás, que a posição era boa porque sobrava uma das mãos para acariciar a vagina. E ele chegou a levar até lá a mão para demonstrar’, afirmou o procurador.

De acordo com Magnani, as cenas só poderiam ser exibidas após a meia-noite e ferem o Estatuto da Criança e do Adolescente.

A liminar foi concedida pela 2ª Vara Federal de São Paulo e gerou confusão nos bastidores da emissora. Às 18h, diz o procurador, um oficial de Justiça chegou à sede da emissora para notificá-la. ‘A entrada foi obstruída por uma recepcionista e tivemos de acionar a Polícia Federal. Pouco antes do início do programa (21h), os policiais conseguiram entrar e entregar a liminar. Se a ordem não fosse cumprida, o diretor do programa poderia ser preso em flagrante, e o SBT teria de pagar multa de R$ 10 milhões.’

Na ação, foi determinado que uma edição de ‘Casa’ fosse substituída por um programa educativo para crianças e jovens. ‘Como não aconteceu isso hoje [ontem], eles terão de tirar outra edição do ar para veicular o programa educativo’, diz Magnani.

Exatamente há um ano, em 7 de setembro de 2003, o ‘Domingo Legal’, do SBT, veiculou uma entrevista com falsos membros da organização criminosa PCC fazendo ameaças a celebridades. Por essa razão, o programa foi tirado do ar pela Justiça no dia 21 do mesmo mês. Na época, os advogados do SBT classificaram a decisão como censura.

Na noite de ontem, a Folha não conseguiu localizar a assessoria de imprensa da emissora.’



Keila Jimenez

‘Procuradoria promete apertar cerco contra SBT’, copyright O Estado de S. Paulo, 8/10/04

‘A Procuradoria da República promete apertar o cerco contra o SBT: não vai desistir da determinação judicial que previa não só a suspensão de Casa dos Artistas por um dia – determinação cumprida pela emissora anteontem -, mas também a exibição, em seu lugar, de um programa educativo.

O reality show ficou fora do ar anteontem por solicitação de uma ação civil pública movida pelo procurador Matheus Baraldi Magnani. O SBT alegou que não teve tempo de pôr um programa educativo no horário, por isso exibiu apenas uma tarja comunicando a decisão judicial.

O motivo da ação foi uma série de queixas que ele recebeu pela edição que foi ao ar em 7 de setembro, quando os participantes simulavam posições sexuais durante uma gincana. ‘A ação não é contra o SBT e sim contra o programa, que descumpriu a Constituição. Eu não tinha visto a tal gincana e pedi a fita à emissora. As cenas são absurdas e deveriam ser exibidas somente após as 23 horas’, explicou o procurador. ‘O SBT foi obrigado a tirar o programa do ar, mas falta exibir um programa educativo, um único dia, no lugar de Casa. Caso isso não aconteça, vamos requerer que a rede pague multa de R$ 10 milhões.’

A liminar foi concedida pela 2.ª Vara Federal de São Paulo, mas só chegou à direção do SBT após intervenção da Polícia Federal. ‘Eles impediram o oficial de Justiça de entrar, por isso foi necessário chamar a polícia’, disse. O SBT, por meio de sua Assessoria de Imprensa, disse que está tomando as providências legais cabíveis. Casa dos Artistas foi exibido normalmente ontem.’

***

‘Afiliadas do SBT reivindicam investimentos’, copyright O Estado de S. Paulo, 8/10/04

‘Algumas das principais afiliadas do SBT participaram ontem de uma reunião secreta sobre a reestruturação da emissora. Convocada por um grupo de afiliadas – fato raro -, a reunião contou com a presença de 11 donos de emissoras que retransmitem a programação do SBT por diversas regiões do País e do presidente do grupo Silvio Santos, Luiz Sandoval e a nova diretoria do canal. O Estado foi informado que as afiliadas queriam uma reunião com SS, mas o dono do SBT não pode comparecer.

Na pauta, questões como a queda de faturamento da emissora e seu repasse paras as afiliadas este ano e produção de jornalísticos. Falou-se também de demissões, mudanças na programação e da tal reestruturação que emissora pretende concluir dentro de três meses.

Remuneradas por um rateio do faturamento publicitário da rede nacional, as praças reivindicam ao SBT a garantia de um repasse mensal mínimo dessa verba.

As afiliadas também queriam saber se o SBT continuará a investir em projetos regionais – como a Festa de Parintins, no Amazonas e projetos de verão – e cobraram um posicionamento da rede quanto a iniciativas para reabastecer o jornalismo.

As praças querem que o SBT crie um noticiário nacional e abra um espaço na programação noturna para a produção de jornalísticos regionais. Eles possuem atualmente espaço apenas para um noticiário local na hora almoço. Ao fim da reunião, os empresários receberam a promessa de Sandoval de que a cabeça da rede tratará de estreitar relações com eles para atendê-los em suas reivindicações. Ficou determinado ainda que a partir de agora os donos de afiliadas negociarão diretamente com a consultoria estratégica do SBT, comandada por Eugênio Lopez.

O SBT já perdeu 8 afiliadas este ano: 3 no Rio Grande do Sul (para a Record), 3 em Rondônia (para a RedeTV!) e 1 na Bahia. Uma das últimas a deixar o SBT foi a TV Planíce, de Campos (RJ), que trocou o canal pela Globo. Daqui a dois meses as afiliadas do SBT prometem realizar nova reunião para obter respostas sobre o jornalismo.’



Daniel Castro

‘Afiliadas do SBT exigem jornal nacional’, copyright Folha de S. Paulo, 8/10/04

‘Em um feito inédito, donos e diretores de afiliadas do SBT de todo o país baixaram anteontem na sede da emissora, em Osasco, para cobrar explicações sobre os rumos da rede, reivindicar um telejornal nacional em horário nobre e reclamar da queda de receitas.

A reunião contou com ‘celebridades da radiodifusão’, como o ex-governador Orestes Quércia (dono das afiliadas de Campinas e Santos) e João Paes Mendonça (SBT de Recife). Os afiliados queriam um encontro com Silvio Santos. Foram atendidos pelo presidente do grupo, Luiz Sandoval, e pelos diretores da emissora.

O SBT atendeu parcialmente às reivindicações. Seus executivos explicaram o processo de reestruturação (que enxugou seu quadro de funcionários à metade em quatro anos) e fizeram uma explanação otimista do futuro. O SBT também abriu um ‘canal direto’ com os donos das afiliadas, que passarão a ser atendidos pelo consultor Eugenio Lopez. Haverá ainda reuniões periódicas entre eles.

Não foi apresentada solução, no entanto, para as principais reivindicações. As afiliadas pressionam por um espaço entre 19h e 20h para um telejornal nacional. As emissoras do Nordeste já se prontificaram a elas mesmas produzirem o jornal. Querem ainda aumento no repasse a que têm direito no rateio pela exibição de propaganda em rede nacional, maior espaço para programas locais e menos instabilidade na grade.

OUTRO CANAL

Altinhos

Xuxa Meneghel, que anda em baixa no Ibope infantil, gravou ontem participação no ‘Casseta & Planeta’ de terça, Dia das Crianças. Fez três esquetes: como um mágico que transforma sua mulher de 40 anos em duas de 20, como um palhaço gordo e como uma domadora de leão (do Imposto de Renda).

Empate

O SBT teve prejuízo zero com a proibição, pela Justiça, da transmissão de ‘Casa dos Artistas’ anteontem, como punição pela exibição de imagens de simulação de sexo. A emissora apresentou todos os comerciais previstos para o horário (21h/21h35).

Incompetência

Mesmo com o SBT exibindo uma tarja durante ‘Casa dos Artistas’, a Record não conseguiu ultrapassá-lo no Ibope. Marcou cinco pontos, a mesma audiência da tarja do ‘reality show’ _que perdeu dois pontos em relação aos dias anteriores.

Trauma

Para fazer cumprir a decisão judicial que suspendeu ‘Casa’, a Polícia Federal entrou no SBT na quarta armada com fuzis.

Mais

A Rede TV! estuda ampliar em uma hora a duração do programa ‘Pânico na TV’, sua atração de melhor repercussão.

Marca

Nilton Travesso será o diretor do programa de Adriane Galisteu no SBT, que estréia dia 18, terá ‘Charme’ no nome e será inspirado no argentino ‘Hola Suzana’.’



ENTREVISTA / JOSÉ WILKER
Leila Reis

‘José Wilker: ‘A TV tem o pior e o melhor’’, copyright O Estado de S. Paulo, 7/10/04

‘Em Senhora do Destino, José Wilker está desempenhando um papel ‘felonemal’, como diria Giovanni, o ex-bicheiro que disputa o amor de Maria do Carmo (Suzana Vieira) com o intelectual troca-letras interpretado por José Mayer. O personagem foi inspirado em um político de Juazeiro do Norte que Wilker tirou de suas memórias de infância. Nesta entrevista, o ator de 57 anos, que além defender o personagem mais divertido da novela das 8, faz rádio e TV paga, fala um pouco de sua relação com a TV, cinema e teatro, e de seus planos como presidente da Riofilmes.

Estado – Você dá palpites nos figurinos e nos termos que o Giovanni usa na novela?

José Wilker – Quando as gravações começaram eu estava em Cannes representando a Riofilmes. Quando cheguei me apresentaram algumas opções de figurino e achei engraçado o terno amarelão, despropositado. Quando li algumas cenas da novela, me lembrei de um político lá da minha terra (Juazeiro do Norte, no Ceará) que era o rei dos pronomes. Fiz algumas coisas nesse sentido e quando terminei de gravar achei muito chato, mas o Wolf Maya insistiu para eu rever as cenas e eu concordei.

Estado – Você gosta de se ver em cena?

Wilker – Não gosto porque sou muito crítico e acho que sempre poderia ter feito diferente. Fico esgotado porque o tempo todo fico me corrigindo.

Estado – Em qual bicheiro seu personagem foi inspirado?

Wilker – Não sei, mas alguns chamam para si a inspiração. Débora Secco disse que um deles, amigo dela, mandou me dizer que não era bem do jeito do Giovanni. Eu não saberia ser igual a ele ou a outro, não sou imitador.

Estado – O triângulo formado por você, Suzana e Mayer indica que o preconceito com idade acabou nas novelas?

Wilker – Talvez tenha havido uma mudança. Acho que hoje o preconceito é inverso, há uma certa resistência aos jovens atores, porque já se confundiu muito desibinição com talento. Suzana Vieira diz que na hora do ‘pega pra capar’ o comum é contar com os atores que estão trabalhando há 30 anos. Para interpretar é preciso saber ler. O Brasil tem muito analfabeto, basta olhar os programas eleitorais e as letras das músicas.

Estado – A Globo não deixa você dirigir?

Wilker – Já dirigi novelas (Louco Amor e Transas e Caretas) e o Sai de Baixo. Não quero dirigir porque, como ator, o personagem fica no cabide do camarim quando acabam as gravações. O trabalho do diretor beira a religião, são 24 horas por dia. Gosto de dirigir teatro, sou do tipo de ensaiar a letra, a palavra, a frase. Na TV, se ensaia com a novela no ar.

Estado – Você já se sentiu inadequado em novela?

Wilker – Há vezes que faço personagens que já fiz antes e não tem como criar. Aí ligo o piloto automático e vou em frente.

Estado – Por que o brasileiro gosta tanto de novela?

Wilker – O cinema brasileiro vive um drama terrível por causa da TV, que ocupou todo o espaço do melodrama. Por isso é que quando o cinema envereda pelo melodrama, sempre é comparado com a TV. A TV atende nossa vocação para o melodrama. A TV integrou as pessoas deste Brasil, em vez de lamentar, temos que nos orgulhar dela. A TV tem o pior e o melhor. O pior são esses programas em que as pessoas ficam lendo revistas e fofocando. E aqueles policiais, que prestam um pseudosserviço à população. Sob pretexto de denunciar crimes, eles cometem outro, banalizando a violência. A contrapartida é que há grandes autores escrevendo para seriados. A TV da fofoca é a mesma que fez Malu Mulher, Plantão de Polícia, Globo Repórter, Carga Pesada.

Estado – Com a vitória de César Maia, você continua na Riofilmes?

Wilker – Continuo, tenho um plano para dez anos. Vamos inaugurar um canal na TV paga em janeiro, com o nosso acervo de 183 longas-metragens, concertos e shows. Vamos construir a Cidade de Cinema, com estúdios, escola, museu do audiovisual, no cais do porto. Os armazéns já foram desapropriados e estamos na fase de apresentação de projetos (por arquitetos e engenheiros) para a construção. Vamos fazer uma rede de 40 salas de cinema no Rio, restaurando antigos cinemas ou com tendas móveis. Até o final do ano teremos dez salas funcionando com ingressos a R$ 4, em Botafogo, Del Castilho, Realengo, Campo Grande e outros bairros.

Estado – Essas salas vão exibir filmes nacionais?

Wilker – Claro que vamos mostrar os produzidos em parceria com a Riofilmes, mas vamos exibir os que entram no circuito comercial para essa população ter acesso a produções em cartaz.’