Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Pedro Alexandre Sanches

‘Dentro da atual voga transformista da TV, a próxima modinha é colocar gays afetados sendo ‘ensinados’ a se passar por heterossexuais machões. Chamado ‘Straight Plan for the Gay Man’, o programa estréia no Brasil no canal pago GNT, no próximo dia 26. Seu propósito é inverter, na mesma base de brincadeira, os princípios do projeto ‘Queer Eye for the Straight Guy’, exibido no Sony.

No programa original, uma equipe de homossexuais estilosos se empenha a ensinar sofisticação e boas maneiras a típicos grosseirões heterossexuais. No novo, quatro ‘machões’ fazem de tudo para camuflar temporariamente trejeitos e gestos estereotipados de voluntários gays.

Em três episódios, ‘ensinam’ três cobaias a dissimular suas sexualidades -o primeiro tem de passar uma tarde trabalhando num frigorífico, o segundo participa de um jogo de basquete, o terceiro precisa conquistar uma garota numa agência de namoros.

Alguns dos ‘professores’ heterossexuais participam da farsa e, ao final, pessoas com quem eles conviveram são instadas a adivinhar qual deles era o homossexual disfarçado. Invariavelmente, são os héteros que acabam apontados como supostos gays.

Além de os participantes todos terem postura de atores, os episódios parecem roteirizados, ficando num limite nebuloso entre o ‘show de realidade’, o programa humorístico e a mera ficção.

Ao final, o tom de brincadeira amena é sublinhado pelos voluntários -os três afirmam, sorridentes, que não pretendem abrir mão da identidade gay.

No Brasil, tais programas provocam desconfiança entre personalidades ouvidas pela Folha -não só ativistas do movimento homossexual, como também figuras televisivas que convivem com o atual ambiente de ‘reality shows’ que promovem supostas transformações de pobres em ricos, anônimos em famosos, feios em bonitos etc.

Cantora, compositora, escritora e militante homossexual, Vange Leonel aponta diferença inicial entre as brincadeiras aparentemente semelhantes dos dois programas: ‘O ‘Straight Plan’ me parece mais pernicioso, porque toca num ponto muito delicado para nós, gays e lésbicas: o fantasma da conversão, do disfarce. Por mais bem-humorado que seja o programa, a piada é indigesta’, diz.

‘Já o ‘Queer Eye’ adestra o voluntário, no máximo, para parecer um metrossexual, e o aspecto negativo aí é se curvar diante de modinhas padronizadoras’, completa, classificando como mais nociva a outra premissa, ‘de que você pode se converter (ou se curar) e para isso basta querer’.

A opinião contrária é compartilhada pelo roqueiro Supla, heterossexual convicto que esteve na origem da chegada da onda ao Brasil, quando a primeira ‘Casa dos Artistas’ fez sua conversão temporária de punk rebelde em galã romântico do SBT.

‘Não acho saudável. Acho que você tem que ser o que é, não querer ser outra pessoa. Aconteci na ‘Casa dos Artistas’ porque fui simplesmente o que eu era’, diz.

‘O único lado ruim da experiência é quando punks radicais chegam falando ‘pô, tá vendendo boneco?’, diz, contando ter vendido quase 150 mil bonecos Supla, projetados por ele mesmo.

Experiência ambivalente é a de Laura Finocchiaro, cantora, compositora e militante homossexual que faz direção musical e enxerta artistas independentes na ‘Casa dos Artistas’. ‘Acho esses programas, bem como os ‘reality shows’ de que participo, nocivos à saúde e à cultura do telespectador. Assuntos que merecem dignidade e seriedade são tratados com ironia, sensacionalismo e superficialidade, gerando mais preconceitos e desinformação.’

Laura se diz descrente da utilidade de tais programas para permitir maior visibilidade e aceitação da população homossexual.

‘O que os move é a consciência de que existe um ‘pink money’, diz, fazendo alusão ao lucro obtido pelo consumismo de homossexuais de classes mais altas. ‘Mas esse gênero só afasta o público da informação, do respeito por quem está à margem do que é considerado normal pela sociedade careta.’

Embora não seja fruto dos ‘reality shows’, a cantora, atriz e apresentadora Preta Gil tem transitado pelo ambiente da ‘trans-TV’, especialmente por sua luta pública constante para emagrecer.

Preta, que afirma que namorou mulheres e hoje diz que só o fazia por ‘modismo’ e para ‘atiçar os homens’, ressalta saber que está inserida no sistema -mas o critica, mesmo assim. ‘Na TV as pessoas precisam se mascarar e se travestir cada vez mais para aparecer, para criar ganchos televisivos que dêem audiência.’

Falando à Folha por telefone enquanto faz drenagem linfática na clínica Santé, comenta o transformismo estético vigente na TV e na ‘vida real’. ‘Eu me fodi, saí de uma lipoaspiração direto para a depressão. É uma violência, um efeito Michael Jackson. Falam tanto dele, mas está todo mundo se transformando em mini-Michael Jackson, se mutilando, se branqueando. Para quem tem recursos, é mais fácil procurar um cirurgião que um psicólogo, um guia espiritual ou sua mãe.’

De volta à questão sexual, opina: ‘Esses programas separatistas só reafirmam guetos e preconceitos. A humanidade é bissexual, o melhor seria misturar gay, hétero, bi, sem apontar ninguém’.

Não muito distantes dessas posições estão as do cineasta, escritor e pioneiro do ativismo gay brasileiro João Silvério Trevisan: ‘Confundir virilidade com machismo é lamentável, burro. Homossexuais não estão geneticamente programados para ter gosto mais apurado e ser gentis, assim como heterossexuais não estão geneticamente programados para serem cafonas e grosseiros’.

‘Para fazer ‘reality show’ de verdade sobre isso, é só abrir as câmeras que mostrem homens gays se fazendo passar por heterossexuais, aos milhares, em todos os lugares, em todos os ramos, 24 horas por dia’, ironiza Trevisan.

STRAIGHT PLAN FOR THE GAY MAN – Estréia dia 26, às 19h30, no canal GNT; reprises dia 26, à 0h, dia 27, às 11h, e dia 31, às 12h.

QUEER EYE FOR THE STRAIGHT GUY – No canal Sony, domingos, às 21h, e segundas, às 2h; na Rede 21, domingos, 22h30.’



METRÓPOLIS
Bia Abramo

‘Programa destoa e olha certo para a cultura’, copyright Folha de S. Paulo, 10/10/04

‘De repente, você está ali, zapeando, e pára na TV Cultura. E lembra como o ‘Metrópolis’ destoa de tudo o que tem na TV e, de certa forma, também do jornalismo cultural em outros veículos. E que isso, destoar, é o seu principal mérito.

Destoar da TV comercial, na verdade, constitui uma obrigação da TV pública. É preciso contrapor-se com convicção ao ruído, ao tudo-por-audiência, à irrelevância, ao sensacionalismo mais abjeto. É preciso persistir em programas que contemplem outros públicos, que mostrem outros rostos e que usem outros padrões de tempo. Nem tudo atualmente na TV Cultura é assim, mas o ‘Metrópolis’ é.

De certa maneira, o programa não tem lá muitos mistérios. Baseado na agenda cultural de São Paulo, produz reportagens na área de cinema, artes plásticas, teatro, música, design, livros. São 30 minutos de segunda a sexta, desde 1988. Apesar de se aproximar bastante daquilo que está nos cadernos culturais dos principais jornais, o tratamento jornalístico do ‘Metrópolis’ a esse universo cultural torna os assuntos, ao mesmo tempo, mais próximos e mais leves.

Na TV, talvez por questões da linguagem, tudo soa mais descritivo do que prescritivo. Embora esse efeito seja uma ilusão, seu uso, ao que parece bastante consciente, no programa tem resultados interessantes e simpáticos. Quer dizer, uma coisa é ler uma reportagem cujo título é ‘Humor é uma forma de liquefação, diz Baravelli’; outra é ver o artista plástico Luiz Paulo em seu ateliê, fazendo uma peça de gesso e falando essa frase no meio de outras, quase que por acaso. É tudo mais ligeiro, o que nem sempre é exatamente um problema.

Numa dada quarta-feira, enquanto a Globo exibia o futebol de sempre, glosado pela Record, Silvio Santos barganhava deseducação por dinheiro no ‘Sete e Meio’, do SBT, e Luciana Gimenez entrevistava a viúva de Ox Bismarchi (quem? Pois é) no ‘Superpop’ da Rede TV!, o ‘Metrópolis’ parecia estar em outro mundo, que também deveria caber na TV, por que não?

Não é, ao contrário do que se imagina, um mundo despovoado. Restrito, talvez, por todas as razões que não são o caso de arrolar aqui, mas não deserto. Há gente circulando, produzindo, assistindo, o que constitui um outro elemento de diferenciação do ‘Metrópolis’ em relação ao jornalismo cultural impresso. O público e suas reações aparecem em algumas reportagens e nas entradas ao vivo em peças e shows, hoje mais escassas.

Há que se livrar de alguns cacoetes, como um certo ar anos 80 na pauta, e superar deficiências de produção -nessa mesma quarta-feira, a muito anunciada matéria sobre o show do David Byrne consistia em um texto lido pelo apresentador Cunha Jr. e a exibição de trechos de um clipe velho, velho. Mas, apesar disso, o olhar informativo, desassombrado e persistente sobre o mundo cultural do ‘Metrópolis’ ainda tem o que ensinar para a TV.’



TV / CONCESSÕES
Daniel Castro

‘Ministro ‘atropela’ concorrência e dá canal’, copyright Folha de S. Paulo, 9/10/04

‘O ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, autorizou o SBT a usar um canal de TV apenas um dia após o anúncio da abertura de consulta pública para a exploração da freqüência. A consulta, que funciona como uma concorrência pública, dura no mínimo 30 dias.

Segundo advogados, o ministro não só ‘atropelou’ a concorrência, mas antecipou o vencedor.

Na quarta, o ‘Diário Oficial da União’ trouxe portaria assinada por Oliveira abrindo consulta pública para exploração do canal 26 de Campos (RJ), como retransmissor. A consulta foi pedida pelo SBT, que perdeu sua afiliada em Campos (com 418 mil habitantes), a TV Planície, para a Globo. Na portaria, o ministro dá 30 dias para manifestação dos ‘interessados em participar da seleção’.

Na quinta, o ‘DOU’ trouxe outra portaria do ministro, já autorizando o SBT a retransmitir sua programação no canal 26.

Procurada pela Folha, a assessoria de Oliveira afirmou que a portaria de quinta saiu incompleta, que faltou um artigo que afirma que a autorização ao SBT foi ‘em caráter precário e excepcional, em face da continuidade da prestação do serviço público, vigorando até que se ultime a consulta pública’. A portaria foi republicada ontem, com o adendo.

A escolha do usuário de canal retransmissor é uma decisão do ministro. Se houver mais de um interessado, o único critério é o ‘interesse público’.

OUTRO CANAL

Karaokê

Luana Piovani vai fazer teste na quinta-feira que vem para substituir Angélica, grávida, no ‘Vídeo Game’, da Globo, a partir de fevereiro ou março. Fernanda Lima fez ontem.

Esforço concentrado 1

A Globo incentivou a Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão) a emitir comunicado, anteontem, condenando a ação da Justiça que resultou na proibição da veiculação, na terça, de ‘Casa dos Artistas’, do SBT, como punição à exibição de simulações sexuais.

Esforço concentrado 2

O SBT nem é associado à Abert, que chamou o veto de censura. O que a Globo, principal afiliada da Abert, realmente teme é o precedente aberto pela proibição. Isso poderia acontecer, por exemplo, com ‘Big Brother Brasil’.

Vício

Em entrevista a Marcelo Tas, no ‘Vitrine’ (TV Cultura, 22h) de hoje, Lillian Witte Fibe conta que era ‘viciada’ em Ibope quando apresentava o ‘Jornal da Globo’. Revela que, no ar, ficava o tempo todo olhando para o monitor que traz a audiência de cada emissora em tempo real. Até que a direção proibiu o monitor no estúdio.

Fechado

A Rede TV! vai reexibir ‘Betty, a Feia’, a partir de novembro, às 17h. Os direitos da novela colombiana foram readquiridos nesta semana, em feira na França.’



TV CULTURA
Daniel Castro

‘Cultura quer copiar BBC e ‘Sai de Baixo’’, copyright Folha de S. Paulo, 6/10/04

‘A TV Cultura planeja estrear no primeiro semestre de 2005 um seriado adaptado da série inglesa ‘The Fawlty Towers’, da BBC, e uma ‘sitcom inteligente’ nos moldes do extinto ‘Sai de Baixo’, da Globo, gravado em teatro, mas com texto para a televisão.

Para preparar seu retorno à produção de teledramaturgia, a Cultura acaba de montar um núcleo da área, sob o comando de Anali Alvarez. Nos próximos dois meses, a emissora fará uma oficina para formar roteiristas. A TV pública também pretende produzir uma minissérie focada em algum personagem histórico brasileiro.

Segundo Cícero Feltrin, diretor de marketing da Cultura, já estão em andamento com a BBC, rede pública britânica, negociações para a aquisição dos direitos de ‘The Fawlty Towers’. A série teve duas temporadas em 1975 e 1979 e é reprisada até hoje. Se passa no hotel de Basil Fawlty (John Cleese), com situações cômicas com seus hóspedes, de vários países.

A Cultura também vai em 2005 retomar as transmissões esportivas ao vivo. Negocia com a Globo a cessão de direitos que a emissora líder possui, mas não exibe.

Os recursos virão de publicidade e incentivos fiscais. Segundo Feltrin, a emissora, com nova direção, faturou em julho e agosto R$ 3 milhões de publicidade. É pouco, mas equivale à mesma receita que a TV teve em todo o primeiro semestre. ‘Não estamos mais combalidos’, diz Feltrin.

OUTRO CANAL

Suspense

A Record está encontrando dificuldades para conseguir realizar debate em São Paulo no segundo turno. Anteontem, assessores de um dos candidatos se recusaram a aceitar convite da emissora para uma reunião sobre o assunto. A Band dá como certo o seu debate no dia 14. Na Globo, ainda há detalhes pendentes.

Extra 1

O ‘Jornal Nacional’ e o ‘Fantástico’ terão blocos extras de 20 minutos (incluindo publicidade) nas cidades em que não haverá segundo turno eleitoral, como Rio e Belo Horizonte. A propaganda política noturna será entre 20h30 e 20h50, também aos domingos.

Extra 2

Na faixa vespertina, o ‘Praça TV 1ª Edição’ e o ‘Esporte Espetacular’ (aos domingos) serão esticados em 20 minutos para compensar a falta de propaganda eleitoral (às 13h).

Criança

Vai bem também na TV paga o reaquecimento da publicidade. O canal infantil Nickelodeon já vendeu todos os intervalos disponíveis na faixa das 8h às 12h até 30 de dezembro.

Fim do poço

O programa de Xuxa Meneghel na Globo já vem perdendo de até três pontos no Ibope para o SBT, o que no horário matutino significa uma enormidade. Anteontem, Xuxa levou de nove pontos a seis. Acabou derrubando o ‘Sítio do Picapau Amarelo’, que perdeu por oito a sete.’