Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Gabriela Wolthers

"As principais empresas de TV paga via satélite no Brasil -Sky e DirecTV- anunciaram ontem a fusão de seus negócios. A nova operadora, que manterá o nome Sky, irá deter 95% do mercado de TV paga via satélite e 32% do mercado total de TV por assinatura no país.


O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), órgãos do governo federal, terão que aprovar a operação para que o negócio tenha eficácia.


A Sky é controlada no Brasil pela Globopar (Globo Comunicações e Participações) e pela News Corporation Limited (News Corp.), do empresário australiano Rupert Murdoch. A DirecTV também é controlada pelo grupo Murdoch, dono de um império de comunicação que inclui a Fox Entertainment Group.


A diretora de Planejamento da Globopar, Rossana Fontenele, afirmou que, embora a transação não envolva transferência direta de recursos para a Globopar, a empresa ficará livre de garantias que envolvem US$ 220 milhões (cerca de R$ 638 milhões).


‘A Globopar garantia uma dívida da Sky Brasil, relacionada ao satélite, e também garantia dívidas da Sky MultiCountry, que possui serviços de satélites de televisão por assinatura na Colômbia e no Chile’, disse Fontenele. ‘Com a fusão, a News Corp. assume essas garantias.’


A dívida total da Globopar é estimada em cerca de US$ 1,3 bilhão (R$ 3,77 bilhões). ‘A fusão ajuda a reduzir o endividamento da Globopar’, disse a diretora de Planejamento da empresa.


Pelo acordo, a nova empresa manterá o nome de Sky Brasil, mas a DirecTV será a sócia majoritária, com 72% da empresa. A Globopar será sócia minoritária, com 28%. Segundo o comunicado divulgado ontem, ‘a DirecTV terá o controle e a gestão da empresa, ficando a Globopar com direitos compatíveis com sua posição de sócia estratégica’.


Atualmente, a Globopar detém 54% da participação da Sky, a News Corp. tem 36%, e uma terceira empresa, a Liberty Media, 10%. No entanto, segundo Fontenele, mesmo antes de a fusão ocorrer, o total da Globopar deverá cair para 40,3% devido aos aportes de capital que a News Corp. fará na empresa.


Mercado


A fusão atinge cerca de 1,23 milhão de assinantes que utilizam uma das operadoras envolvidas -806 mil da Sky e 423 mil da DirecTV, segundo dados de junho deste ano. A TV por assinatura no Brasil tem cerca de 3,5 milhões de pagantes.


O Cade e a Anatel, que terão que aprovar a operação, já analisam a repercussão no Brasil de uma outra aquisição de Murdoch. A News Corp., que pertence ao empresário, comprou, no início do ano passado, 34% da Hughes Electronics, antes controlada pela General Motors.


Com isso, Murdoch, que já controlava a Sky, passou a deter também o controle da DirecTV. A operação já foi aprovada pelas autoridades norte-americanas. A News Corp. possui um total de ativos de cerca de US$ 52 bilhões (cerca de R$ 150,8 bilhões) e receitas totais anuais de cerca de US$ 21 bilhões (aproximadamente R$ 60,9 bilhões).


No Brasil, as Organizações Globo continuarão, segundo comunicado, ‘a atuar no provimento de conteúdo brasileiro’ para a Sky, mesmo após a fusão. Segundo o presidente do conglomerado, Roberto Irineu Marinho, ‘as Organizações Globo reafirmam seu compromisso’ de produzir e programar ‘conteúdo em língua portuguesa de alta qualidade’.


Até que o negócio seja finalizado, tanto a Sky como a DirecTV continuarão a operar de forma independente, fornecendo os mesmos serviços aos clientes. A migração para a nova empresa ainda não tem data para acontecer e pode levar até dois anos."

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"Empresário dominará TV via satélite no Brasil", copyright Folha de S. Paulo, 12/10/04


"O magnata das comunicações, Rupert Murdoch, que controlará a maior empresa de TV paga via satélite no Brasil, começou a construir seu império ainda na Austrália, seu país de origem. Murdoch iniciou a expansão de sua rede, a News Corporation, nos anos 60. De lá para cá, a empresa se tornou em uma dos maiores do mundo, presente em 52 países. Só em TV por assinatura, possui entrada na Austrália, nos EUA, na América Latina e na Europa.


Estudou em Oxford até os 22 anos, quando seu pai morreu. Retornou para Austrália, onde fundou o primeiro jornal de alcance nacional do país.


Nos anos 60, inicia a entrada no mercado inglês, ao comprar os jornais ‘The Times’ e ‘The Sunday Times’. Nos 70, os EUA seriam o alvo, com a compra do jornal ‘New York Post’.


O alcance mundial com a Sky e a Fox viria nos anos 80. Nos EUA, seu canal jornalístico, o Fox News, deixou para trás a CNN em audiência. Para se ajustar à lei local, Murdoch se naturalizou americano em 85. Sonho antigo, a compra da DirecTV foi fechada em 2003, após investigação do FCC (Conselho Federal de Comunicações dos EUA) para medir a concentração criada pelo negócio. Os negócios incluem ainda um time de rúgbi, editoras de livros e revistas."



Daniel Castro


"TV bancará migração de assinante", copyright Folha de S. Paulo, 12/10/04 "A Sky deverá oferecer ‘incentivos’ de R$ 595 para cada um dos atuais 423 mil assinantes da DirecTV migrarem para ela. Isso deverá começar a ocorrer já nos próximos meses, antes da aprovação da fusão das duas operadoras de TV paga via satélite pelos órgãos reguladores brasileiros.


‘É óbvio que o objetivo da fusão é manter os atuais assinantes. Ele [assinante da DirecTV] muito provavelmente poderá receber gratuitamente uma nova caixa [decodificadora] da Sky’, admite Rossana Fontenele, diretora de planejamento da Globopar.


Em outras palavras, o atual assinante da DirecTV será assediado com uma proposta de migrar para a Sky sem pagar R$ 595 pela miniantena parabólica e pelo decodificador da operadora.


Com o incentivo (que poderá custar, em tese, quase R$ 252 milhões -o valor dos equipamentos nas lojas multiplicado por 423 mil assinantes), a ‘nova Sky’ resolverá dois problemas.


O primeiro problema é técnico: os assinantes da DirecTV não são donos das antenas e decodificadores que usam, ao contrário dos da Sky. Na fusão, ambos serão nivelados. Hoje, para assinar a DirecTV se paga R$ 399 a título de taxa de adesão. A antena e o decodificador são cedidos em comodato. Na Sky é diferente: o assinante paga R$ 595 pela antena e decodificador e é dono deles.


O outro problema é estratégico. Ao subsidiar a mudança do assinante da DirecTV para a Sky, reduz-se o impacto de uma eventual decisão contrária do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) à fusão. Ou seja, se o Cade reprovar a fusão, o que deve levar mais de dois anos, a DirecTV provavelmente já não terá quase valor, pois, teoricamente, toda a sua base já terá migrado para a ‘nova Sky’.


Até que a fusão seja aprovada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e pelo Cade, Sky e DirecTV continuarão funcionando como operadoras distintas. Depois disso, para a Globopar, um cenário é inevitável: a Sky vai sobreviver e a DirecTV, desaparecer totalmente.


A idéia da fusão é reduzir custos e tornar a ‘nova Sky’ uma empresa rentável. Isso terá reflexo nos pacotes de programação.


Segundo analistas, a ‘nova Sky’ terá que absorver canais que hoje são exclusivos da DirecTV, para atrair seus assinantes e até mesmo para evitar ações judiciais de consumidores que se sentirem prejudicados com a fusão. Os atuais assinantes da DirecTV, por exemplo, poderão reclamar na Justiça o direito de continuar recebendo os canais de cinema HBO, até hoje exclusividade da DirecTV entre as operadoras vai satélite.


A tendência é os canais HBO entrarem nos pacotes da Sky. ‘A DirecTV já abriu mão da exclusividade dos canais HBO. Hoje, não existe restrição para a HBO estar na Sky. Tudo vai depender de negociações, que já estão em andamento’, diz Fontenele, da Globopar. Segundo a executiva, os canais de filmes Telecine (associações da Globo com estúdios dos EUA) não têm direito de vetar os concorrentes da HBO na Sky."





Adriana Mattos


"Negócio requer aprovação do Cade", copyright Folha de S. Paulo, 12/10/04


"A batalha das empresas Sky e DirecTV será convencer o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) de que a união das companhias não infringirá as normas de concorrência. Para isso, dizem especialistas, a saída será bater na tecla de que a nova empresa irá concorrer com o mercado de TV a cabo, setor pulverizado e disputado.


Sky e DirecTV usam a tecnologia DTH (Direct to Home, com a presença de antena parabólica), diferente daquela utilizada por empresas de TV a cabo, como TVA e Net.


‘Ao lançar mão desse argumento [de que a competição é com a TV a cabo], tenta-se provar que o negócio não trará danos à concorrência’, diz Moysés Pluciennick, ex-presidente da ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura).


No começo deste ano, a News Corp. e a Hughes (acionista da DirecTV) assinaram com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) um acordo pelo qual ficaria congelado o processo de fusão entre as duas companhias no país. Por um termo chamado Apro (Acordo de Preservação da Reversibilidade da Operação), elas se comprometeram a não adotar medidas irreversíveis até que a análise da fusão fosse concluída pelo órgão.


As empresas anunciaram a fusão na América Latina agora, mas fizeram um comunicado mundial sobre o negócio em fevereiro.


A Folha não conseguiu entrar em contato ontem com a assessoria do Cade para saber como anda a análise da fusão.


Análise em curso


Pouco tempo depois de a News Corp. ter anunciado a aquisição mundial da DirecTV, em outubro do ano passado, os dois grupos entraram com pedido de anuência prévia na Anatel para futura fusão das empresas no Brasil, sendo a primeira representada pela Sky (em sociedade com a Globo).


O processo já passou por diversas instâncias da Anatel, incluindo a procuradoria do órgão. Falta só a decisão do conselho diretor.


Já existe uma pressão no mercado para questionar a validade do negócio. A Tecsat, empresa de capital nacional e a única concorrente da Sky e DirecTV, informou que a fusão cria um monopólio nocivo ao consumidor. A empresa tem cerca de 55 mil assinantes e está em difícil situação financeira.


A empresa quer que Sky e DirecTV sejam mantidas separadas até que o Cade bata o martelo e que o fim dos acordos de exclusividade de conteúdo entre as companhias possa ser usufruído também por ela, informa a empresa por meio de sua direção."



Carlos Franco


"Globo deixa Sky no Chile e na Colômbia", copyright O Estado de S. Paulo, 12/10/04 "A Globopar anunciou ontem que saiu das operações da Sky TV no Chile e na Colômbia, empresas com dívidas de US$ 500 milhões, dos quais US$ 220 milhões garantidas pela Globopar. Com isso, reduziu sua participação na Sky Brasil de 40,39% para cerca de 28%.


Segundo a diretora de Planejamento da Globopar, Rossana Fontenele, a operação fez parte da restruturação das participações da News Corp, de Rubert Murdoch, e da própria Globopar na Sky Brasil e na DirecTV, que combinaram os negócios de distribuição de televisão por assinatura via satélite no Brasil, ficando a Sky Brasil como empresa resultante.


Por esse acordo, a DirecTV receberá 30% do capital da empresa resultante.


Além disso, em outra transação, a DirecTV vai adquirir participações da News Corp. e da Liberty Media na Sky Brasil. Sem considerar aportes de capital adicionais, a DirecTV deterá aproximadamente 72% da empresa resultante. Como conseqüência, a DirecTV terá o controle e a gestão da empresa, ficando a Globopar com direitos de governança compatíveis com sua posição de sócia estratégica.


Em junho de 2004, a Sky Brasil tinha aproximadamente 806 mil assinantes e a DirectTV aproximadamente 423 mil assinantes no Brasil.


Rossana disse que, mesmo minoritária, a Globopar terá influência e poder de veto na nova empresa. Em nota oficial, o presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu Marinho, reforçou esse ponto ao reafirmar o ‘compromisso com a sociedade brasileira de produzir e programar conteúdo em língua portuguesa de alta qualidade, identificado com os gostos e desejos da nossa população.’


As Organizações Globo continuarão a oferecer conteúdo para a atual plataforma da Sky e depois para a empresa resultante.


Marinho também espera que esta operação, ainda sujeita à aprovação das autoridades regulatórias brasileiras, garanta condições para a migração ordenada dos clientes da DirecTV Brasil para a plataforma da Sky Brasil e amplie os benefícios da prestação de serviços para os assinantes de ambas as empresas. Esta migração ainda não tem data prevista para início e pode levar até dois anos.


No exterior, a DirecTV informou que estava pagando US$ 579 milhões para consolidar sua posição nos negócios de televisão por assinatura na América Latina. Rossana disse, porém, que a Globopar não vai embolsar nada com a operação em que deixa de ter participação em operações deficitárias e se concentra na participação que já tinha na DirecTV, também sócia da Sky."