Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Pasquale Cipro Neto

‘Não é nada fácil debater em público, com TV para todo o país. Se alguém discorda, que assuma o posto. É por isso que, quando se analisa o desempenho de candidatos/debatedores, o que menos importa é saber se algum deles confundiu palavras ou tropeçou numa concordância ou regência. Quem não tropeçaria?

Marta Suplicy criou o ordinal 111 (‘o cento e onze lugar’, disse ela quando se referiu à posição do Brasil no item saúde); José Serra pôs no singular (‘falta’) o verbo que deveria ter sido conjugado no plural (‘Falta até elementos…’). Mas -não custa repetir- isso é o de menos. Na verdade, não tem mesmo a menor importância.

Serra e Marta têm discursos muito parecidos. Usuários da norma urbana culta, os dois se expressam com clareza e sem apelos a demagogias lingüísticas, o que equivaleria, por exemplo, ao uso de um registro verbal diferente do que habitualmente usam.

Chamaram a atenção alguns detalhes. Salvo engano, a petista tratou o tucano de ‘você’ o tempo todo; Serra oscilou entre ‘você’ e ‘senhora’. O pronome formal foi usado por Serra nas situações em que seu tom era mais grave ou incisivo. Ato falho, intencional ou resultante de mera coincidência?

Também chamou a atenção o fato de Serra insistir em dizer que Marta não respondia às perguntas. De fato, ela não respondeu a muitas delas (o que Serra também fez, talvez um pouco menos).

A técnica é velha: um candidato insiste em dizer que o outro não respondeu, até que este paga na mesma moeda. E o ‘debate’ se transforma em monólogo. É isso.’



Mari Tortato

‘Desvantagem faz petista isolar Duda Mendonça’, copyright Folha de S. Paulo, 17/10/2004

‘A campanha a prefeito do petista Ângelo Vanhoni voltou às ruas de Curitiba e aos programas de mídia eletrônica na semana que passou com mudança no símbolo -o primeiro indício de que Duda Mendonça e equipe não decidem sozinhos o marketing do candidato do PT no segundo turno.

A tradicional estrela vermelha de cinco pontas do PT foi substituída por uma de cor amarela, em terceira dimensão, com o desenho de uma careta sorridente. A estrela amarela nada mais é que o símbolo resgatado das campanhas a prefeito que Vanhoni disputou em 1996 e 2000. De novo, só uns contornos e a grife ‘PT’, que Duda acrescentou no centro, quase imperceptível.

O coordenador de imprensa da campanha petista, Gilmar Piolla, diz que o resgate do símbolo antigo ‘foi um pedido do próprio Vanhoni’. Afora o desejo do candidato, ‘a estrela amarela tem empatia com o eleitor e agrada às crianças, que já disputam o adesivo para espalhar na roupa’, afirma o coordenador.

Ele, porém, nega que o resgate seja uma tentativa de atenuar o vínculo de Vanhoni com o PT e diz que a troca ‘foi bem aceita’ por Duda Mendonça.

Crise

Contados os votos do primeiro turno, Beto Richa (PSDB) chegou quatro pontos percentuais à frente de Vanhoni, e o petista não saiu de onde largou (fez 31,18%). Duda entrou em choque com a cúpula da campanha petista, que responsabilizava o marqueteiro pelo desempenho considerado decepcionante. A crise chegou a ponto de o marqueteiro mandar a equipe embarcar em um vôo de volta a São Paulo.

Duda reclamava de atraso de pagamento do PT nacional e a coordenação de Vanhoni -a começar pelo governador Roberto Requião (PMDB), que apóia o petista- criticava o marqueteiro por ele não ter captado ‘a alma curitibana’ nos programas de mídia eletrônica.

Uma negociação com a cúpula nacional do PT manteve Duda nas principais campanhas de petistas no segundo turno, mas, no caso de Curitiba, ficou acertado com Vanhoni que haveria interferência local na decisão sobre a nova propaganda. É o que se vê desde a última quinta-feira, quando o candidato e seus principais cabos eleitorais desfilaram com a estrela amarela no peito no evento de adesão do candidato do PL no primeiro turno, Mauro Moraes, à candidatura petista.

O primeiro passo foi a adesão dos publicitários Ricardo Correa e Antonio Sérgio Cescatto -marqueteiros de Vanhoni em 96 e 2000- ao grupo de criação. Em 2000, Vanhoni perdeu por uma pequena diferença de votos (cerca de 26 mil) do atual prefeito Cássio Taniguchi (PFL).

Duda também reforçou seu pessoal, chamando Raimundo Luedy -que conduziu a campanha vencedora de João Paulo, em Recife- para auxiliar Dante Matiussi, que chefia a equipe de Duda em Curitiba.

A participação do ‘espírito curitibano’ na criação de Duda não se limita ao símbolo. O slogan ‘Tá na hora, Curitiba’ deu lugar ao novo ‘Mudança com segurança’ -sugestão da ala do PMDB. Os ‘nativos’ ainda cunharam a frase ‘Sou Curitiba, sou Vanhoni’, como mote alternativo de adesivos.

Richa não muda

Na campanha adversária, pouco mudou, exceto no comando do marketing. Cila Schulmann, que fez a campanha de Vanessa Grazziotin (PC do B), em Manaus, substituiu Hiran Pessoa de Melo, da Planeta Político.

As peças publicitárias de Richa continuam as mesmas do primeiro turno, apenas com a alteração do slogan ‘O prefeito da gente’ para ‘O prefeito perto de você’. O argumento para manter a propaganda como está é a máxima do futebol de que não se mexe em time que está ganhando.’



Folha de S. Paulo

‘Por trás das câmeras, petistas ameaçaram abandonar debate’, copyright Folha de S. Paulo, 15/10/2004

‘A tensão dos candidatos José Serra (PSDB) e Marta Suplicy (PT) durante o debate de ontem na TV Bandeirantes, captada pelas câmeras, não se igualou ao que aconteceu nos bastidores.

Inconformados por não terem obtido direito de resposta após Serra afirmar que os principais vampiros na saúde eram ‘companheiros do PT’, o secretário de Abastecimento, Valdemir Garreta, o marido da prefeita, Luis Favre, e o marqueteiro Duda Mendonça partiram para cima do diretor de Jornalismo da Bandeirantes, Fernando Mitre, e ameaçaram abandonar o debate.

A reação petista ocorreu quando Serra respondeu a um questionamento de Marta sobre compra de derivados de sangue com preço que a prefeita considerou superfaturado durante a gestão do tucano no Ministério da Saúde (1998-2000). Logo que Serra citou os ‘companheiros do PT’, Garreta levantou o dedo para pedir o direito de resposta, e Marta o seguiu. O mediador, jornalista Carlos Nascimento, não concedeu.

Nesse momento, Garreta e Favre partiram para cima de Mitre. Favre, inclusive, com dedo em riste. Mas nada adiantou. Já no final do terceiro bloco, Marta leu uma declaração atribuída ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que, segundo o artigo, dissera que ‘o problema não é o Serra, mas o diabo que mora nele’.

Nascimento concedeu o direito de resposta a Serra e contribuiu para acirrar os ânimos. No final do bloco, Garreta, Favre e Duda voltaram ao ataque. Garreta gritou com Nascimento, e Favre, com Mitre. ‘Se a gente não tiver o direito de resposta, nós vamos sair’, dizia Garreta. ‘É um direito nosso’, reforçou Favre.

O presidente do Diretório Municipal do PSDB, Edson Aparecido, e o marqueteiro de Serra, Luiz Gonzalez, juntaram-se aos petistas, na tentativa de interceder para que não perdessem tempo.

Mas Garreta insistia com Mitre: ‘Não seja parcial. Vamos deixar isso aqui se não tivermos direito de resposta.’ Aparecido afirmou: ‘Então deixa sair’. Tentando evitar que a discussão prejudicasse a petista, Duda disse: ‘Não adianta melar a partida no meio do jogo.’’