Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tim Burt

‘Nas entranhas do Sony Plaza, a principal loja do grupo japonês em Nova York, uma tela imensa serve como discreta demonstração para o mais recente modelo de TV de alta definição. Por trás das cortinas de pingentes de cristal e dos sofás modernos, um pequeno cartaz revela o custo da experiência visual cristalina: US$ 19.999 [cerca de R$ 57 mil]. O preço disfarça uma silenciosa revolução nos hábitos americanos de TV. Depois de anos de desenvolvimento, a TV de alta definição ganha espaço no maior mercado mundial de entretenimento.

A despeito dos preços elevados dos aparelhos da Sony, a demanda por TVs de alta definição (AD) deve subir rapidamente nos próximos anos. Os analistas estimam que quase um terço dos domicílios americanos terão um televisor AD até o final da década, o que estimularia crescimento similar, se bem que mais lento, em outras regiões do mundo. Os preços das TVs AD mais baratos são, em certos casos, pouco mais de US$ 1 mil mais altos que os comuns.

‘Nós ultrapassamos o ponto de adoção’, diz Aditya Kilgore, analista sênior de mídia e entretenimento do Yankee Group, empresa de pesquisa de mercado sediada em Boston. ‘Os televisores AD ficaram estagnados por um bom período porque ninguém queria aceitar acordo quanto a um padrão setorial. Agora estamos avançando porque todo mundo – os fabricantes de televisores, as redes de TV, as autoridades regulatórias e os produtores de programas- está trabalhando com o mesmo objetivo’.

A TV de alta definição vem sendo promovida pelos fabricantes de bens eletrônicos de consumo, em meio ao crescente entusiasmo dos consumidores por televisores de tela larga, que se prestam muito bem à exibição de imagens e som muito superiores propiciados pelas transmissões AD.

Segmento premium

Em um setor de varejo no qual a forte competição predomina e há risco de queda de preços, as TVs AD oferecem aos fabricantes a promessa de um segmento premium. De forma semelhante, os distribuidores de TV paga, via satélite e cabo, vêem a programação AD como forma de garantir os consumidores dispostos a pagar caro, aqueles que se interessam por adotar novas tecnologias o mais cedo possível e já adquiriram aparelhos como gravadores pessoais de vídeo, que lhes permitem compilar uma programação personalizada de TV para assistirem quando quiserem.

Para seus defensores, a TV de alta definição e a qualidade superior de imagem que oferece representam um salto nos padrões de programação, usando sistemas de produção de alto custo e câmeras sofisticadas para oferecer novos ângulos, close-ups e imagens indisponíveis para os televisores comuns. Os proponentes da tecnologia argumentam que ela é capaz de promover as vendas de TVs e de serviços por assinatura que ofereçam uma experiência visual radicalmente diferente, acoplada a pacotes de serviços como filmes a pedido e funções interativas para grandes eventos esportivos.

O custo de produção desse tipo de programa, porém, é elevado, e as transmissões foram prejudicadas pela capacidade de cabos requerida para conduzir os dados. Questões como essas estão sendo resolvidas, agora, pelos avanços nos sistemas de câmera e ampliação da capacidade de satélite. Isso encorajou novas redes de TV a adotar os serviços.

Surto de crescimento

Ainda que a TV de alta definição tenha sido desenvolvida inicialmente no Japão há mais de uma década, a resposta inicial da maior parte das redes de televisão e potenciais clientes foi morna. Falta de programas, baixa confiabilidade e custos elevados eram poderosos obstáculos à aceitação.

Hoje, a televisão AD vem passando por seu primeiro surto real de crescimento. A tendência foi alimentada por uma combinação entre o desenvolvimento de TVs de tela larga realmente eficientee e a busca ansiosa dos operadores de TV a cabo e via satélite por novos clientes. Isso, por sua vez, encorajou o consenso quanto aos padrões de transmissão e persuadiu mais criadores de programas a filmar em padrão AD.

Os governos, começando nos EUA e passando por Reino Unido, França e Japão, estão apoiando iniciativas de TV de alta definição. Para eles, isso representa uma promessa de avanço na aceitação da TV digital pelos consumidores, o que permitiria aos países desativar os canais de transmissão analógicos e revender as freqüências ocupadas por eles.

Nos EUA, a expectativa é de que mais de 30 milhões de domicílios adquiram aparelhos de televisão AD nos próximos três anos, e analistas da Data Monitor, empresa de pesquisa sediada em Londres, dizem que o número de televisores AD em uso na Europa deve aumentar de 50 mil no final de 2003 a 4,6 milhões em 2008.

‘Alemanha, Reino Unido e França devem liderar na adoção da televisão AD, com a Itália ocupando um distante quarto posto’, de acordo com a Datamonitor. ‘Recentemente, a Sky, no Reino Unido, e M6, TPS e TF1, na França, anunciaram planos para oferecer programação AD aos telespectadores -a TPS a partir de 2005, a Sky, em 2006’.

James Murdoch, presidente-executivo da British Sky Broadcasting, que controla a Sky e é afiliada à News Corp., diz que a iniciativa reflete a mudança no gosto dos consumidores e a batalha por assinantes dispostos a pagar mais caro. ‘Nós o faremos com um pacote de canais e eventos para acelerar a decolagem da televisão AD’, disse. ‘A comunidade de criação convergirá em torno do sistema, porque é excitante.’

A Sky está seguindo os passos de redes americanas como a Discovery, que vem produzindo programas AD há dois anos. A HBO, o canal premium de TV a cabo da Time Warner, e a rede de esportes ESPN, controlada pela Disney, também estão levando adiante a iniciativa, na produção de dramas e programas esportivos, respectivamente. TVs por assinatura como a Cablevision e a DirecTV, coligada da Sky nos EUA, promovem a tecnologia pesadamente.

Experiência cinematográfica

O apelo da televisão de alta definição está seu poder de fogo eletrônico. Os televisores usam tubos de raios catódicos para criar imagens na tela, disparando elétrons de um ‘canhão’ localizado na parte traseira do aparelho para uma tela dotada de carga elétrica. Os padrões existentes de TV nos Estados Unidos oferecem resolução de imagem (com base no número de elétrons atingindo a tela) de 525 linhas. Na Europa, o padrão é mais alto 625 linhas.

Na TV de alta definição, as telas oferecem ou 720 ou 1.080 linhas de definição transmitidas em velocidade de até 60 quadros por segundo, criando uma imagem que, segundo os fabricantes de televisores de alta definição, é pelo menos cinco vezes mais clara do que os velhos sinais analógicos. ‘É uma qualidade completamente diferente’, diz Murdoch. ‘Uma experiência cinematográfica, é o que as pessoas desejam em suas casas. Basta observar as vendas de DVDs para perceber o potencial da idéia’.

Mas embora as vendas de televisores AD e a produção de programas venham ganhando ímpeto, o avanço para o DVD de alta definição rasteja. O lançamento do sistema foi retardado por um duelo setorial opondo a tecnologia Blu-Ray, da Sony, ao padrão rival defendido pela Toshiba e pela NEC.

Alguns dos mais importantes executivos de mídia do mundo estão monitorando o resultado de perto. Esperam que um padrão único reanime o ímpeto dos DVDs, que já geram mais receita para Hollywood do que as salas de exibição.

Da mesma forma que os consumidores substituíram os envelhecidos videocassetes por DVDs, presidentes de empresas do setor esperam que os DVDs de alta definição sirvam para estimular uma nova demanda.

Dick Parsons, presidente-executivo e do conselho da Time Warner, diz: ‘Acredito que a TV de alta definição oferecerá o novo estímulo de crescimento se, e quando, a demanda atual por DVDs se estabilizar. O número de aparelhos de alta definição vendidos é o maior já registrado, e a tecnologia poderia nos oferecer métodos de conter a pirataria, porque a codificação será renovável’. Parsons vem instando seus colegas da Sony, Toshiba e NEC a evitar uma guerra de formatos, acrescentando que ‘se houver acordo, dentro de 24 meses veremos a demanda virar do DVD para o DVD de alta definição’.

A falta de um acordo pode reduzir o apetite dos consumidores por televisores AD, limitando a tecnologia a alguns poucos domicílios mais ricos.

Luxo inacessível

Uma análise recente do Leichtman Research Group, dos Estados Unidos, sugere que a alta definição continua a ser um luxo acessível a poucos. Nos EUA, a empresa constatou que apenas 2% dos domicílios com renda anual inferior a US$ 75 mil dispõem de televisores AD, ante 12% dos domicílios com renda mais elevada. Mesmo que a demanda atinja a previsão de 40 milhões de aparelhos no mercado americano até o fim da década, o total seguirá a ser baixo diante do universo de 275 milhões de TVs no país.

Essa penetração pode ser restringida pela capacidade que a TV de alta definição requer. A quantidade de dados necessária a transmitir imagens AD ocupa espaço vital nas redes de cabos e satélites.

Isso é uma boa notícia para as empresas que vendem essa capacidade. Mas existe um potencial gargalo, que poderia retardar a chegada maciça dos televisores AD ao mercado.

Romain Bausch, presidente-executivo da SES Global, maior operadora mundial de satélites, considera a questão como uma oportunidade. ‘Com a compressão digital, nossos clientes estão acomodando entre seis e dez canais de TV em um transceptor. Isso significa uma demanda potencialmente enorme pela capacidade de transmissão de televisão AD.’

A SES está se preparando para lançar três satélites para a EchoStar, operadora norte-americana de TV por satélite, e Bausch prevê demanda adicional na Europa e na China. ‘Nossos parceiros na Ásia nos dizem que por volta de 2005 a China gostaria de ter boa penetração de TV de alta definição, o que exigirá capacidade adicional… A Olimpíada de 2008 na China será a primeira a ser transmitida mundialmente via TV de alta definição.’

Para justificar o investimento nesse tipo de tecnologia e capacidade, as redes mundiais de TV precisam ver retornos em termos de audiência.

Mudança inevitável

Mesmo as redes públicas de TV acreditam que a mudança seja inevitável. A BBC, maior rede pública de televisão do mundo, planeja produzir todos os seus programas em sistemas de alta definição dentro de seis anos. John Varney, vice-presidente de tecnologia da BBC, disse que a empresa adotará a televisão AD para atender à demanda dos consumidores e enfrentar o desafio competitivo oferecido pelos rivais no segmento de TV comercial.

Todas as quatro redes abertas de TV norte-americanas -NBC, CBS, ABC e Fox- seguirão esse exemplo. Estão oferecendo programas em formato AD, mesmo que não haja garantias de que a tecnologia decolará. O motivo é que os provedores de cabo e satélite o exigem, e a tecnologia é tão superior à transmissão analógica que pode melhorar a audiência. Executivos de canais como HBO, ESPN, Discovery e TNT já estão transferindo a maior parte de suas novas produções para o formato AD.

George Bodenheimer, presidente da ESPN, alega que sua rede ‘é um catalisador importante tanto para vendas de televisores AD quanto para assinaturas de pacotes que incluem transmissões AD’.

‘Guerra nas Estrelas’

Os produtores de cinema vêm usando a tecnologia AD para criar peças promocionais para a série ‘Guerra nas Estrelas’ e para o controvertido documentário ‘Fahrenheit 11 de Setembro’, de Michael Moore. A Sony, que fabrica câmeras AD, alega que mais de 300 filmes foram produzidos usando sua tecnologia de câmera, além de 42 programas de TV nos Estados Unidos.

Somadas, alegam executivos do setor e analistas de investimento, essas tendências apontam para a ascensão da TV de alta definição, há muito aguardada: da produção de programas à disponibilidade de aparelhos, capacidade de satélite e, possivelmente, um padrão unificado para os DVDs de alta definição.

Na BSkyB, onde os acionistas se assustaram diante de alguns dos planos de investimento necessários para a adoção da TV de alta definição e outros serviços, Murdoch não se arrepende da decisão de adotar a tecnologia: ‘A aceitação pra valer da televisão de alta definição vai começar agora’. Tradução de Paulo Migliacci’



Laura Mattos

‘Governo Lula reduz ambição de criar tecnologia’, copyright Folha de S. Paulo, 16/10/2004

‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer estrear a TV digital no Brasil na Copa do Mundo de 2006. Seria mais uma jogada -em dose dupla- do nacionalismo que cerca seu governo: torcer pelo hexacampeonato num sistema tecnológico brasileiro.

Em discussão no país há cerca de dez anos, a TV digital virou assunto de governo em meados de 1998. À época, o dilema era escolher entre os três padrões de TV digital disponíveis: japonês, norte-americano e europeu.

As emissoras de TV brasileiras fizeram lobby pelo Japão. Europa e Estados Unidos não se cansaram de mandar representantes de suas tecnologias para Brasília. E Fernando Henrique Cardoso resolveu deixar a decisão para Lula.

O petista deu um susto nos lobistas com o anúncio da criação de um sistema nacional de TV digital. O país, disse o governo no ano passado, enfrentaria os gigantes da tecnologia.

Foram criadas três instâncias de comissão: comitê de desenvolvimento, com nove ministérios, grupo gestor, do qual faz parte a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), e comitê consultivo, com 26 entidades da sociedade civil. O processo está mais lento do que previa o governo.

Além disso, o Planalto já concluiu que seria inviável -caro e desnecessário- criar um sistema brasileiro completamente novo, sem tecnologia estrangeira. A idéia é mesclar os padrões internacionais, inclusive o mais novo deles, criado pela China. Algumas partes da digitalização seriam nacionais, e Lula poderia estampar o selo ‘TV digital brasileira’.

Mas a torcida pelo hexacampeonato na nova televisão deverá, de acordo com especialistas ouvidos pela Folha, ficar só no Planalto. O ano de 2006 seria apenas o lançamento experimental, e a comercialização de fato pode só acontecer a partir de 2010.’



A ESCRAVA ISAURA
Laura Mattos

‘‘A Escrava’ estréia e prorroga mundo cão’, copyright Folha de S. Paulo, 16/10/2004

‘ ‘A Escrava Isaura’ estréia hoje na Record, às 18h45, e Marcelo Rezende e seu ‘Cidade Alerta’ ficam sem a ‘carta de alforria’ prometida pela direção da emissora.

Na tentativa de vender a anunciantes e telespectadores uma imagem de ‘TV de qualidade’, a rede havia anunciado oficialmente duas vezes que tiraria do ar o telejornal do mundo cão. O ‘assassinato’ do programa e o lançamento da novela aconteceriam na mesma data, marcando na rede o início de uma ‘nova era’. Balela.

A emissora decidiu por ora manter o ‘Cidade Alerta’ no ar a fim de chamar, aos gritos, audiência para ‘A Escrava Isaura’, exibida na seqüência do policial.

Antes, os planos oficiais eram fazer do fim da tarde e início do horário nobre um ‘sanduíche de credibilidade’. Primeiro, o recém-lançado ‘Tudo a Ver’, de Paulo Henrique Amorim, depois a novela e, por fim, o ‘Jornal da Record’, com Boris Casoy.

‘Tudo a Ver’ tem lá seus cinco pontos de audiência (cada ponto equivale a 49,5 mil domicílios na Grande SP), mas não chega aos oito, nove do ‘Cidade Alerta’. Veio, então, o dilema: como perder quase 50% de telespectadores em pleno lançamento de novela? E ainda por cima de uma trama que tem duas opções: emplacar no Ibope ou emplacar no Ibope.

Após o vexame completo da tentativa de retomar a teledramaturgia com ‘Metamorphoses’, a Record nem cogita fracasso semelhante com ‘A Escrava Isaura’.

Seria uma tragédia diante do sonho de ‘roubar’ o segundo lugar no Ibope do SBT, que sustenta boa parte de seu sucesso com novelas do México e produções brasileiras com textos mexicanos.

É por isso que ‘A Escrava Isaura’ estréia hoje com a filosofia oposta à da ‘modernosa’ ‘Metamorphoses’. Tudo tem de ser o mais folhetinesco e ‘feijão-com-arroz’ possível na tentativa de repetir, pelo menos em parte, o desempenho da primeira versão, exibida na Globo em 1976/77.

O diretor, Herval Rossano, continua o mesmo. A atriz Lucélia Santos, escrava até hoje do personagem-título da novela global, será agora substituída na Record por Bianca Rinaldi, ‘estrela’ tomada da teledramaturgia do SBT.

Sobrevida

Com a manutenção do ‘Cidade Alerta’ no ar, o mundo cão ganha sobrevida na televisão. Bandeirantes e Rede TV!, que também têm seus exemplares (‘Brasil Urgente!’ e ‘Repórter Cidadão’, respectivamente), aguardavam o movimento da Record. Seus policiais já não contavam com muito prestígio interno e não tinham muita garantia de sobrevivência.

Mas enquanto o ‘Cidade Alerta’, líder de audiência no segmento, não chegar ao fim, dificilmente as outras emissoras terão coragem suficiente para tirar do ar os programas concorrentes.’



TV CULTURA
Portal Imprensa

‘Além do panis et circenses’, copyright Portal Imprensa, 15/10/2004

‘Com seu guia de princípios, a TV Cultura/SP reafirma sua profissão de fé no jornalismo público posto em prática pela emissora e busca diversificar dando um basta ao mais do mesmo

Jornalismo público: voltado para o homem, não para o consumidor

De um lado, a nova proposta de fazer jornalismo da TV Cultura que, diante da repetição ad infinitum dos mesmos padrões de programas jornalísticos dos canais abertos da televisão brasileira, resolveu dar um basta ao ‘mais do mesmo’. De outro, o ‘Jornalismo Público – Guia de Princípios’, ‘obra ainda em construção’ orientada pelo projeto, com tiragem inicial de 500 exemplares para os funcionários da emissora. E com previsão de, ainda este mês, chegar às universidades e aos formadores de opinião, com o intuito de ter seu conteúdo testado e avaliado para ganhar forma final e, posteriormente, ser vendido em livrarias.

‘Na verdade, esse é um guia de princípios, normas e procedimentos. Tem algumas diferenças importantes a serem destacadas em relação ao comportamento que o jornalista de uma emissora pública pode e deve ter’, explica o diretor do departamento de jornalismo da emissora, Marco Antonio Coelho. ‘O conceito de jornalismo público tem a ver com o conceito de uma emissora pública, de não depender do mercado inteiramente’, completa. Ou seja, ele só é possível nela para se desenvolver sem embaraços, dada a inexistência da contradição tão comum nas empresas de mídia eletrônica (rádio e TV): concessões governamentais, ao mesmo tempo em que desempenham uma função pública, são empreendimentos comerciais.

Na sua opinião, essa é a diferença importante da TV Cultura, que segue outros parâmetros em sua programação, sem ter grilhões com a questão da audiência. ‘O nosso jornalismo não está voltado para o consumidor, mas para o homem. Não precisa alcançar 30 pontos de audiência para sobreviver e pode se debruçar sobre assuntos que normalmente ou são ignorados ou são tratados com superficialidade.’



ANCINAV EM DEBATE

Silvana Arantes


"‘Pobres’ do cinema polarizam debate", copyright Folha de S. Paulo, 15/10/2004


"‘Os 18 do PIB contra o cinema dos pobres.’ O debate sobre o projeto do Ministério da Cultura para criar a Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav) se polarizou e ganhou título parecido com filme de Glauber Rocha (‘O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro’, 69).


O nome da ‘luta’ surgiu nas listas de discussão de produtores e cineastas na internet, em que os ‘pobres’ do cinema identificam os 18 do PIB [Produto Interno Bruto] como ‘o grupo ligado à TV Globo, encabeçado por Luiz Carlos Barreto’.


Barreto coordenou uma revisão do projeto do MinC, feita por um grupo de profissionais de cinema e TV, entre os quais o diretor da Globo Filmes, Carlos Eduardo Rodrigues. O texto de Barreto, chamado internamente no grupo de ‘emendão’, foi enviado ao MinC na consulta pública do projeto da Ancinav, pela internet.


O ministério pretende divulgar todas as sugestões recebidas (cerca de 400) na próxima segunda. Mas já se sabe que a versão entregue por Barreto subtrai da Ancinav a atribuição de regular e fiscalizar setores do audiovisual além do cinema, como a TV.


A divulgação da proposta de Barreto (pelo site ‘PayTV’, o mesmo que vazou em agosto o projeto da Ancinav) suscitou mobilização de produtores e cineastas (ou dos ‘pobres’ do cinema) em defesa do projeto do MinC.


Anteontem, entidades como a Associação Paulista de Cineastas e diretores como Walter Lima Jr., Eduardo Escorel e Alain Fresnot divulgaram uma ‘declaração pública’ em que afirmam: ‘As normas que compõem o anteprojeto devem tratar de maneira isonômica os diversos segmentos do audiovisual, inclusive as prestadoras de serviços de radiodifusão de sons e imagens [TVs]’.


O cineasta Geraldo Moraes, que preside o Congresso Brasileiro de Cinema (CBC), encabeça as assinaturas da declaração. O CBC não assina o documento. Entre as 54 entidades abrigadas no congresso, há opositores ferrenhos do projeto do MinC, como as associações de exibidores, afetadas pela previsão de taxar a venda de ingressos de cinema (10%).


Moraes disse à Folha que a declaração não é uma reação à proposta de Barreto. ‘é muito mais uma resposta ao fato de que a opinião pública está recebendo uma cobertura parcial [pela imprensa]. Toda divulgação é das posições contrárias ao projeto’."