Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Repto ao diretor do Estadão

Como um dos ‘divulgadores’ e alguém que escreveu uma das ‘cartas de leitores a jornais’ (no meu caso, ao jornal O Globo, em que critiquei a imprensa paulista) mencionados pelo diretor de redação do jornal O Estado de S. Paulo, Sr. Sandro Vaia, em sua ‘resposta’ ao OI de 12/10, em que o jornalista fez insinuações de que essas pessoas estão denunciando a cobertura facciosa da imprensa paulista em prol do candidato José Serra e contra a candidata Marta Suplicy por, segundo sua insinuação, estarem ligadas à prefeita, julgo por bem manifestar-me.

Primeiro, estranhei o tom escandalizado do autor: ‘Isso já seria o Conselho Federal de Jornalismo em ação?’, pergunta o Sr. Vaia. Não, Sr. Vaia, não é: trata-se, apenas, do direito de os consumidores de jornalismo, como eu, manifestarem de alguma forma suas discordâncias quando veículos como o Estadão não dão espaço para leitores criticarem-no em suas páginas e nem sequer se dão ao trabalho de responderem-lhes os questionamentos, e, além disso, não noticiarem os estudos da USP e da Universidade Candido Mendes, por razões óbvias.

Se o Estadão se interessasse em sanar as dúvidas levantadas pelo Sr. Vaia sobre tais estudos, poderia ter se dado o trabalho de fazer uma reportagem sobre eles, dando a seus leitores o direito de conhecê-los em lugar de decidir sobre o que devem ou não saber. É sob grande constrangimento, porém, que explico a um jornalista tão tarimbado: ‘1, o que é uma matéria positiva?’; 2, o que é uma matéria negativa?; e 3, o que é uma matéria neutra?’. Matéria positiva, ao fim de sua leitura, terá favorecido quem nela foi mencionado; a negativa, terá prejudicado; e a neutra, não o terá enaltecido nem depreciado.

Ou será que matérias como a da Escola Base, por exemplo, não depreciam e até destroem a imagem de suas vítimas? Agora, vou me valer de explicação do jornalista Eduardo Maretti, em artigo do OI da mesma data da resposta do Sr. Vaia, em que explicou o que são fotos ‘negativas’ e ‘positivas’ valendo-se do exemplo das publicadas numa primeira página da Folha:

‘(…) uma foto horizontal em que estão o presidente Lula e a candidata Marta Suplicy, do PT. A foto escolhida mostra a prefeita paulistana não exatamente bonita, e com expressão severa, constrangida ou contrariada. Ela olha para um lado; o presidente, para o lado oposto. No meio, um vazio reforça a impressão de constrangimento. Logo abaixo, uma foto do mesmo tamanho mostra o candidato José Serra, do PSDB, recebendo o apoio do sindicalista Paulo Pereira da Silva ao lado do governador Geraldo Alckmin. Nesta foto, posada, todos sorriem, felizes’.

O Sr. Vaia afirma que seu jornal apenas reproduz o que fazem de bom e de mau os candidatos Serra e Marta, do que se depreende que um faz 80% de coisas boas, e a outra, o mesmo percentual de ruins (os percentuais não estão exatos, mas muito próximos da realidade). E, além disso, atribui ao fato de Marta ser prefeita que ela ganhe maioria tão ampla de notícias negativas. Mas e o governo do estado de São Paulo? É tão bom assim? E a Febem? E as escolas de lata do estado? E a criminalidade que, durante os tantos anos do PSDB à frente do executivo estadual paulista, só fez crescer? Tais inépcias do governo estadual ganham tanto destaque no Estadão?

Se o jornal quiser, posso oferecer-lhe um caminhão de pautas para matérias críticas sobre o governo Alckmin. Finalizo lançando um repto ao Sr. Vaia: se ele puder provar que este cidadão, algum dia, manteve qualquer relação com políticos ou qualquer corporação ideológica, escreverei um pedido de desculpas para que o use como quiser. Do contrário, peço a ele que não tente desqualificar os críticos de seu jornal e lançar suspeitas sobre seus motivos, e que entenda que seus patrões não são os acionistas do Estadão e, sim, o público, pois jornalismo não é um mero negócio. É, primordialmente, um serviço público, e por isso deve submeter-se a críticas.

Eduardo Guimarães, comerciante, São Paulo

Resposta ao Comitê de Notícias – Sandro Vaia



Falta o faro

Excelente a iniciativa que o Sr. Eduardo Guimarães teve. Pena não ter partido de um jornalista. Talvez o que esteja faltando nos jornalistas de hoje seja a iniciativa, o faro para investigação e o compromisso com a verdade. O problema é que muitos ficam atrás das suas mesas nas redações aguardando que as matérias e os ‘grandes’ furos de reportagem caiam em suas cabeças.

Edina Cunha, estudante de Jornalismo, São Bernardo, SP



Controle externo já!

O que está em jogo aí é que a imprensa no Brasil, aliás, seus donos, sempre foi e continua bajuladora do poder; eles ainda não engoliram a eleição do Lula e simplesmente querem derrubar todas as pesquisas de opinião que o apontam com aprovação acima de 60% de seu governo.

Tivemos recentemente no nosso vizinho, a Venezuela, uma clara demonstração de que a mídia como um todo queria a derrubada do governo de Hugo Chávez. A diferença da elite venezuelana da brasileira é que a elite venezuelana joga um jogo aberto, no sentido da derrubada do governo, enquanto no Brasil a elite é covarde e joga um jogo silencioso por trás dos panos. Não é toa que a maioria dos jornalistas foi contra o projeto do governo de criação de um organismo que desse maior transparência à mídia. Como pode a mídia como um todo falar o que bem entende e não ter nenhuma fiscalização externa? Mas todos foram a favor do controle externo do Judiciário! Engraçado, a mídia é o quarto poder de uma democracia, então controle externo já!

Abraão Marques, Manaus



Desonestidade intelectual

O artigo ‘Com a cabeça fria’ (Folha de S.Paulo, 17/3, pág. A3), do Sr. José Arthur Giannoti, acusou Marta Suplicy de receber apoio de Maluf e Lula de anunciar voto nela em inauguração de obra pública. Mas será possível que o articulista não lembrou, ao escrever o artigo, que seu idolatrado FHC, em 1998, não só recebeu apoio de Maluf, como apareceu abraçado com ele em outdoors espalhados por toda São Paulo, e que, em 2000, também anunciou voto no então candidato Geraldo Alckmin durante inauguração de obra pública? [ver remissão abaixo] Pessoalmente, acho que lembrou, sim, e omitiu as informações. E, para mim, isso se chama desonestidade intelectual.

Abaixo, editorial da Folha sobre o outdoor.

Folha, 14/8/98

Editoria: Aug 14, 1998

Seção: EDITORIAL

Montagem real

Há em São Paulo um outdoor político inusitado. No centro está Fernando Henrique Cardoso, candidato à reeleição; à direita de quem olha, Paulo Salim Maluf, candidato ao governo do Estado; na ponta esquerda, Luiz Carlos Santos, ex-quercista, ex-ministro de FHC e atual vice de Maluf pelo PFL, o seu novo partido, coligado com o PPB em São Paulo. Além desse outdoor, peça que faz parte da campanha malufista, há um outro, em que FHC está ao lado de seu candidato oficial, o tucano Mário Covas, adversário histórico de Maluf . Nos dois painéis, tem-se a impressão de que as imagens são montadas. Mas, também nos dois casos, essas presumíveis montagens têm um fundamento real.

O tucano FHC é apoiado por Maluf, que abdicou de sua candidatura à Presidência depois de uma série de entendimentos com o presidente que lhe garantiram lugar de destaque na aliança visando à reeleição. Esse acordo compromete a eficácia do apoio oficial do presidente a Covas, além de diluir as diferenças partidárias no jogo político. Esse estranho encontro entre políticos de trajetórias em larga medida antagônicas é sem dúvida um sintoma de uma confusão político-ideológica que tem âmbito mundial e, em última análise, está ligada a mudanças no panorama da economia global. No entanto, no caso brasileiro, ela é, mais diretamente, reflexo da situação político-econômica que adveio com a estabilização e se relaciona à continuidade do projeto político de quem a conduziu. É resultado da estratégia do presidente _formar alianças de ‘a’ a ‘z’_, tecida em função de sua reeleição, em prejuízo de compromissos históricos ou de identidades partidárias.

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, mostrou inclinação semelhante quando disse, recentemente, que não pediria ‘atestado ideológico’ a Orestes Quércia, caso este resolvesse apoiá-lo. ‘Se ele quiser me apoiar, pode me apoiar’. Coligações e arranjos são constitutivos da política, sobretudo em períodos eleitorais. Tornam-se suspeitos, para dizer o mínimo, quando em nome do consenso a própria política degenera numa espécie de vale-tudo.

Eduardo Guimarães, comerciante, São Paulo