Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Canal tenta conquistar mundo árabe

O canal de TV a cabo Alhurra é a maior tentativa de influenciar a população estrangeira nos EUA desde a criação da Voz da América em 1942. O canal transmitido em língua árabe, que começou a operar em fevereiro, transmite programas de noticias, esportes, entretenimento, tecnologia, moda e culinária, incluindo talkshows políticos e revistas eletrônicas que abordam assuntos como as eleições presidenciais dos EUA.

O Congresso americano liberou no começo do ano passado US$ 62 milhões para sustentar o primeiro ano do Alhurra. Em novembro de 2003, o Congresso liberou mais US$ 40 milhões para uma estação irmã voltada apenas para o Iraque. A operação é coordenada pela Broadcasting Board of Governors, uma agência federal independente que também é responsável pela Voz da América. O governo americano lançou a Alhurra depois de chegar à conclusão de que as TVs árabes existentes mostravam tendências anti-americanas. A intenção é promover uma imagem melhor dos EUA para os árabes.

Credibilidade e liberdade

Uma reportagem feita por Ellen McCarthy para o Washington Post [15/10/04] mostrou que o canal divide opiniões a respeito da credibilidade do seu conteúdo. Enquanto alguns analistas o aprovam, outros acreditam que os EUA buscam defender seus interesses direcionando os programas e idéias para aquilo que querem que os iraquianos acreditem.

Por outro lado, o diretor de jornalismo do canal, Mouafac Harb, afirma a Alhurra é uma emissora fundada pelo governo dos EUA, mas que não é dirigida por ele. Harb disse que não se lembra de ter recebido qualquer telefonema de pessoas tentando direcionar as notícias. Segundo ele, as decisões editoriais são de sua responsabilidade – mas ainda assim elas passam pelo Broadcasting Board of Governors e por Bert Kleinman, presidente da Middle East Television Network, que regula as finanças da estação.

A Alhurra não transmite qualquer tipo de publicidade, ficando completamente dependente do financiamento americano tanto para a compra de equipamentos e materiais quanto para a própria produção dos programas e salário dos empregados.

Sediada em Springfield, nos EUA, a emissora tem 80 de seus 150 repórteres provenientes do Líbano, Egito, Marrocos, Iraque e outros países do Oriente Médio. Cinqüenta deles são correspondentes estrangeiros. No início, a Alhurra encontrou dificuldades para ser aceita em alguns países. Na Arábia Saudita, pro exemplo, a população chegou a ser proibida de assisti-lo. A justificativa: a emissora seria composta por ‘agentes a serviço dos EUA’.

Dentre as diferenças entre a Alhurra e as outras emissoras árabes apresentadas por Ellen, está a possibilidade que os jornalistas encontram de liberdade de informações, como afirma Imad Musa, que antes trabalhava para a al-Jazira e agora diz não sentir nenhuma pressão para tendenciar uma matéria. Além disso, a Alhurra não se refere à presença dos EUA no Iraque como ‘ocupação’; já as pessoas que explodem bombas atadas ao corpo são chamados de ‘terroristas suicidas’, e não de ‘mártires’. Segundo Musa, os repórteres da Alhurra ‘dão mais foco em matérias positivas e de maior interesse humanitário’.