Um dos principais nomes do parnasianismo no Brasil, Olavo Bilac (1865-1918) teve também ativa carreira de jornalista. O livro Imprensa e Belle Époque: Olavo Bilac, o jornalismo e suas histórias ajuda a revelar esse lado menos conhecido do poeta.
A obra, de autoria da jornalista Marta Scherer, será lançada em Florianópolis dia 16 de agosto pela editora da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). A pesquisa que deu origem ao trabalho foi feita para a dissertação de mestrado de Scherer, defendida em 2008 na Universidade Federal de Santa Catarina. A partir da análise de crônicas publicadas por Bilac entre 1892 e 1908, a jornalista revela pontos de vista do autor sobre o jornalismo praticado no período.
Parte das crônicas havia sido resgatada pelo professor Antônio Dimas, da Universidade de São Paulo, na coletânea Bilac, o jornalista. Nem por isso Scherer teve pouco trabalho: dos 96 textos que utiliza como fonte em seu livro, a jornalista transcreveu 48 de jornais do acervo da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Desses, 14 ainda não haviam sido publicados em livro.
Bilac atuou como jornalista no período da chamada Belle Époque brasileira (1889-1922), quando o jornalismo passou por grandes transformações, abandonando o modelo panfletário para se profissionalizar, em moldes empresariais.
Em seu levantamento, a pesquisadora reuniu crônicas publicadas em A Bruxa, A Cigarra, Kosmos, O Combate, Correio Paulistano, Gazeta de Notícias e O Estado de S.Paulo. Mas, segundo ela, há colaborações de Bilac em outros jornais e revistas da época. “Ele publicou em dezenas de veículos; quase todos de São Paulo e do Rio.”
Segundo Scherer, as discussões sobre o futuro do jornalismo na época de Bilac eram parecidas com as de hoje. “Ele dizia, por exemplo, que o surgimento do cinema poria fim à imprensa escrita”, conta. Algo parecido com o atual debate em torno do fim do jornal impresso, que seria substituído por plataformas digitais.Outra discussão comum na época dizia respeito ao uso da fotografia nos veículos de comunicação. Bilac acreditava que seu emprego acabaria com a necessidade de texto.
“As palavras são traidoras, e a fotografia é fiel”, escreveu na Gazeta de Notícias a 13 de janeiro de 1901. Para Scherer, o trabalho do Bilac cronista foi caindo no esquecimento a partir do movimento da Semana de Arte Moderna de 1922, que renegava autores tradicionalistas. “O Bilac poeta resistiu a essa revolução porque sua obra tinha se consolidado de modo muito forte”, diz a jornalista. “Mas não houve grande preocupação em preservar seu trabalho de cronista.”
Garoto-propaganda
Além de jornalismo, Bilac fez publicidade. Uma das campanhas que ficaram famosas é a do xarope Bromil, que veiculava propagandas com frases do poeta. Ele ainda escreveu reclames em forma de verso para fábricas de vela e fósforo, loja de tecidos e até para um fotógrafo. Certa vez, ao receber o pedido para redigir um anúncio, apresentou dois preços pelo serviço: 30 mil réis pelo texto e 200 mil por sua assinatura. “Era como um garoto-propaganda de hoje; cobrava para vincular sua imagem a uma marca”, compara Scherer.
Bilac foi também assessor de imprensa do governo, na gestão do presidente Afonso Pena (1906-1909), embora não usasse esse termo para designar o trabalho. Como jornalista oficial da Exposição Nacional de 1908, realizada no Rio para comemorar o centenário da abertura dos portos, teve uma ideia que até hoje soaria inovadora. Em um pavilhão com paredes de vidro montou a redação de um jornal institucional.
A ideia era que as pessoas que visitavam a exposição soubessem como era o trabalho dos profissionais de imprensa. A edição do Correio da Exposição produzida diante do público foi posteriormente distribuída de forma gratuita e esgotou-se rapidamente.
Jornalismo era ganha-pão
“No Rio de Janeiro é raro um homem de letras que não é jornalista; isso explica-se pelo fato de ser a literatura de jornal muito mais rendosa que a literatura de livros”, escreveu Bilac em crônica publicada na revista carioca A Cigarra, em 23 de maio de 1895. Não faltam casos de escritores da época que trabalhavam como jornalistas. O exemplo de Euclides da Cunha (1866-1909) é, talvez, o mais famoso. Sua obra-prima, o romance Os sertões, é fruto de uma série de reportagens sobre a Guerra de Canudos que fez para o jornal O Estado de S.Paulo.
Mas também trabalhavam como jornalistas quase todos os grandes escritores da época – José de Alencar (1829-1877), Lima Barreto (1881-1922) e Coelho Neto (1864-1934) são alguns deles. Para se ter uma ideia, Bilac entrou para o quadro de funcionários da Gazeta de Notícias no lugar de Machado de Assis (1839-1908) e, quando saiu, foi substituído por João do Rio (1881-1921).Muitos cronistas assinavam seus textos com pseudônimo. Bilac, por exemplo, era Fantásio, Puck, Flamínio, Belial, Tartarin-Le Songeur ou Otávio Vilar. Algumas crônicas traziam as iniciais O.B.; outras, apenas B.
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[Célio Yano, do Ciência Hoje On-line/ PR]