O que é mais uma importante – um comercial de 20 segundos sobre a função do Ministério Público ou uma manchete como a do Globo de quinta-feira (18/1) sobre o desastre da Linha 4 do metrô paulista, e que dizia ‘MP já tem provas materiais de negligência’?
É claro que uma notícia objetiva será sempre muito mais eficaz do que qualquer reclame publicitário, por mais apelativo que seja. Esta é a vantagem do jornalismo. A sociedade brasileira precisa escapar da sedução da propaganda porque, além de simplista, é uma herança do regime militar com a qual, sem perceber, vem se acostumando há algumas décadas.
O próprio nome ‘comercial’, que designa os anúncios de rádio e TV, coloca obrigatoriamente a questão no âmbito do comércio, da compra e venda de alguma coisa. Nada contra comprar ou vender, mas idéias não se compram ou vendem, idéias se trocam ou se multiplicam através do uso da razão.
Convém não esquecer a célebre constatação de Marshall McLuhan de que o meio é a mensagem. O formato de anúncio carrega implicitamente um apelo reducionista que nada tem de educativo. Mesmo quando pretende parecer institucional. Exceções, obviamente, são as mensagens com informações concretas, de serviço.
O Ministério Público, pela sua natureza essencialmente participativa, transformadora e ética, deve dirigir-se à razão. Esse nosso debate é a melhor prova disso. (A.D.)
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A comunicação do Ministério Público
A procuradora regional federal Ana Lúcia Amaral, colaboradora de primeira hora do Observatório da Imprensa, aborda o que considera uma grande dificuldade de comunicação dos profissionais do Direito:
Ana Lúcia:
– É conseguir estabelecer uma comunicação clara sobre o que é cidadania, o que é exercício de direito. Não pode ficar preso somente ao jargão jurídico, que é muito pomposo e, às vezes, até meio hipócrita. Então, quando o Ministério Público quer se fazer conhecer e acaba optando por essa via da publicidade televisiva, tal qual se costuma vender outros tipos de produto, eu acho que é uma linha sem efeito real. Não informa, porque é muito complicado explicar o resultado de uma ação civil pública em quinze segundos. O que eu entenderia que talvez fosse fazer uma campanha, buscar parcerias com emissoras de TV, empresas de publicidade, para dosar adequadamente a linguagem, seria uma campanha constante, não é apenas uma coisa de vinte dias, inserções de 10 segundos.
O responsável pela campanha é o coordenador de Comunicação Social do Ministério Público do Estado de São Paulo, promotor Roberto Livianu. Ele apresenta seu ponto de vista.
– Como ela disse, a complexidade de falar não se esgota na mensagem. Óbvio que não. O trabalho de legitimar e de mostrar o papel do Ministério Público tem que ser feito diariamente por cada membro do Ministério Público. Agora, se comunicar com os meios de comunicação de massa é sempre importante, uma coisa não exclui a outra. Sem prejuízo de outros esforços que são empreendidos permanentemente para aproximar e mostrar para a sociedade civil o papel e o trabalho do Ministério Público. A campanha foi feita e veiculada a custo zero. Não se gastou nem um centavo dos cofres públicos para por essa campanha no ar.
O promotor Livianu diz que há efeitos positivos.
– O indicador que nós temos de que essas campanhas têm produzido efeitos importantes é o aumento da demanda em geral pelo Ministério Público e isso é perceptível para nós pelo endereço institucional do Ministério Público que é procurado por mais pessoas, chegam as denúncias, o número de mensagens trazendo informações de denúncias é maior no momento em que essas ações de comunicação são veiculadas. (M.M.)