Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Escandalização seletiva

Não vejo diferença de teor entre essa nota do Exército que escandalizou a tantos e os vários artigos que expoentes da ditadura militar, como Jarbas Passarinho (que, inclusive, foi signatário do AI-5), vivem publicando, dizendo a mesma coisa, ou seja, que o que houve foi uma guerra entre os ‘democráticos’ militares daquela época e subversivos comunistas, blablablá, blablablá… Alguém argumentará que a nota veio da instituição responsável pelo golpe de 1964 e que é subordinada ao Executivo federal, hoje chefiado por um dos perseguidos pela ditadura, e que portanto representou quebra da hierarquia etc.

Todavia, enquanto esses que vivem defendendo aqueles crimes continuarem agindo sob o olhar complacente da sociedade as vítimas inocentes do regime militar continuarão sendo torturadas. Claro que não se pretende sugerir cerceamento à liberdade de expressão, mas a pífia reação que costuma ser oposta às manifestações dos golpistas torturadores de ontem na imprensa certamente animou os que escreveram a polêmica nota, bem como os que continuam torturando suspeitos de delinqüir, quando são pobres, em qualquer delegacia do país.

Eduardo Guimarães, comerciante, São Paulo



Muita audácia

Vejo com muita vergonha órgãos executivos terem a audácia de continuar declarando falácias como a de definir um caso como o de Herzog como reflexo do período inconstitucional que foi a ditadura, continuar declarando que militares não se responsabilizam pela morte do jornalista. Mais grave o fato de continuarem defendendo a tese do suicídio. Eles acham que devido a seu poder podem difundir qualquer informação…

Paulo Thiago Ribeiro, estudante, Itabuna, BA



E agora?

E agora, Marinilda? E agora, Correio? Mas que lambança generalizada, o que fazer nessas horas? E se um general tivesse perdido seu posto? E se um ministro tivesse caído? Uma viúva revivendo um pesadelo, um jornalista furando o próprio olho… Até que ponto a imprensa pode se levantar de forma tão heróica, contra tudo e todos? Sou apenas um arquiteto, faço paredinhas e vielas, mas levanto aqui uma questão diametralmente oposta à do mérito dado a Laguinho, nesta cobertura. Mérito este que compartilhei e endossei, nos meus comentários sobre este texto com amigos e parentes. Cheguei a enviar por e-mail a capa do Correio a várias pessoas. E agora, Observatório? Não estou colocando aqui faca no pescoço de ninguém, mas confio em vocês para levar adiante um debate sério e rigoroso sobre o ocorrido.

Roberto Fontes Souza, arquiteto, São Paulo



Marinilda Carvalho responde

As perguntas devem ser dirigidas ao governo, caro leitor. É ele que tropeça na tibieza (em qualquer democracia o ‘general’ cairia, sim!) e nas contradições sobre a existência de arquivos cuja abertura é imperiosa. (M.C.)



Abu-Graib é aqui

A foto não importa, importa o fato. E o fato – alguém nu nos porões do DOI-Codi – não foi negado. A nudez faz parte da técnica ainda hoje usada para humilhar prisioneiros. Mentiras e truculência sempre foram táticas de regimes autoritários e imperialistas. Pseudodemocracias, essa é a realidade. Abu-Graib é aqui. O Iraque é aqui.

Roberto Bittencourt dos Santos, Rio de Janeiro



Leviatã sem rosto

Prezada Marinilda, este é um dos temas que eu gostaria de ver debatidos durante semanas e semanas, porque, a partir do impacto da reportagem do Correio Brasiliense, acompanha-se pela mídia as reações, a idas e vindas governamentais, o ministro Nilmário Miranda endossando a conclusão da Abin de que as fotos não são do jornalista Vladimir, o presidente do STJ, Sr. Edson Vidigal, com a colaboração incompetente do Estado de Minas (que, numa reportagem publicada no portal UAI, no dia 23/10/2004, intitulada ‘STJ é contra abrir arquivos’, transforma a opinião do cidadão Edson Vidigal na voz do STJ), isto durante cerimônia em homenagem ao Dia do Aviador, na Base Aérea de Brasília. Eles acham que nós somos idiotas.

Como disse, gostaria de ver o assunto em debate, à semelhança do que vimos no caso CFJ, estendido à questão dos chamados ‘segredos de Estado’, eufemismo para, em última análise, discreta ocultação de cadáveres, incompatível com a cidadania e a democracia. Que se abra tudo! E jamais por vingança, mas para preservação da memória e prevenção contra recaídas. A TV Globo recordou na quinta feita, no Linha Direta, a história do massacre de Vigário Geral. Foi 1993, 11 anos passados. Não podemos esquecer tal absurdo. Em essência é parte da mesma batalha: a cidadania, o estado de direito, a democracia, versus ‘os segredos de estado’, o estado como um leviatã sem rosto humano, um anti-estado.

Luiz Paulo Santana, Belo Horizonte



A lamentar

Excelente o trabalho jornalístico publicado pela Folha (19/10, pág A 8). Textos informativos e pungentes fotos sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog revelam que é possível fazer jornalismo informativo e crítico. É de se lamentar, no entanto, que o jornal deliberadamente sonegou aos seus leitores a notícia de que no dia 18 de outubro, na cidade de São Paulo, alguns manifestantes se reuniram num ato para homenagear o jornalista morto pela repressão militar. De forma pacífica, num gesto de elevado simbolismo, rebatizaram um trecho da Av. Roberto Marinho com o nome de Jornalista Vladimir Herzog.

Caio Navarro de Toledo, São Paulo