Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Carolina Meyer

‘Imagine um lugar onde o celular serve para conferir as condições do trânsito em tempo real, pagar a conta do restaurante, assistir a um programa de TV ou ligar o ar-condicionado antes de chegar em casa. Imagine ainda que 77% da população desse lugar tenha internet banda larga e que, por causa da rapidez da conexão, os usuários possam baixar vídeos e filmes em alta definição e participar de videoconferências em tempo real. Este paraíso tecnológico existe. É a Coréia do Sul. O país asiático é hoje a maior referência de sucesso na era digital. Só para ter uma idéia, o sistema de conexão que liga os computadores do país é dez vezes mais rápido do que o dos Estados Unidos — onde 20% da população tem banda larga. Além disso, há transformações fabulosas acontecendo no campo do comportamento. Hoje, uma em cada cinco transações de varejo na Coréia do Sul é feita online. São quase 30 bilhões de dólares por ano consumidos por intermédio de computadores ou celulares.

Há uma série de fatores que explicam essa modernização. Um deles é a intensa participação das empresas nesse processo. Gigantes como LG, Hyundai, Kia Motors e Samsung vêm gastando bilhões em pesquisas e lançando produtos tecnológicos de ponta. A LG Electronics é um caso especial. A empresa, que faturou 30 bilhões de dólares no ano passado, lançou recentemente uma linha inteira de eletrodomésticos que podem ser controlados via celular ou computador. São microondas, máquinas de lavar e aparelhos de ar-condicionado que entram em operação com o simples toque de um botão. As geladeiras da marca vêm também com tela plana de 13 polegadas, na qual é possível assistir à televisão ou até mesmo às aulas das crianças no colégio. Até o final do ano, a LG pretende criar 13 000 apartamentos inteligentes, cujos sistemas serão todos integrados e manipulados por celulares.

A outra explicação para o retumbante sucesso da Coréia no desenvolvimento tecnológico tem raízes na década de 50. Em 1953, o país era pobre e analfabeto (em níveis bem piores que os do Brasil). Para ter uma idéia, apenas 13% dos coreanos eram alfabetizados nesse tempo. Foi quando o governo sul-coreano, uma ditadura até 1987, resolveu fazer investimentos pesados em educação. Como prioridade, foi escolhido o ensi no fundamental. Depois, o ensino médio. Hoje, 100% dos coreanos são alfabetizados e 75% deles terminam o ensino médio. Aprender é uma obsessão no país. Quando as crianças voltam da escola, há um ritual infalível. Pais e filhos sentam-se à mesa para realizar juntos a lição de casa. Uma terceira razão é o permanente gasto em pesquisa e desenvolvimento. Hoje, a Coréia do Sul desembolsa 3% do PIB em novas tecnologias. Em termos percentuais, é o quarto país do mundo que mais investe no setor — suplantando gigantes como Estados Unidos, Japão e Alemanha.

Governo e iniciativa privada deram as mãos nesse projeto de modernização tecnológica. Recentemente, a administração local gastou 1 bilhão de dólares em incentivos para que empresas de telefonia levassem a conexão de alta velocidade aos milhões de pequenos apartamentos que povoam os grandes centros urbanos do país. Também foram investidos 23 bilhões de dólares na construção de uma ampla rede de cabos de fibra óptica para conectar escolas e escritórios do governo. Pelo lado da iniciativa privada, há algumas novidades. A LG, por exemplo, está desenvolvendo uma cadeira capaz de medir e produzir todas as informações úteis para o tratamento médico — temperatura do corpo, pulsação, índice de gordura e até exame de urina. O próximo passo da Samsung é criar um sistema de banda larga, via satélite, que permita a transmissão de vídeos e programas de TV diretamente para carros e trens. Na Coréia, a tecnologia virou um item tão básico quanto a eletricidade e a água encanada.

Potência tecnológica

Alguns dados sobre a Coréia do Sul

20% das transações no varejo são feitas online

70% dos coreanos possuem telefone celular

77% das casas têm conexão de banda larga

85% das casas têm acesso à internet’



Rodolfo Lucena

‘Spam é o grande problema, diz pioneiro da rede’, copyright Folha de S. Paulo, 27/10/2004

‘O professor Leonard Klein- rock é, junto com Vinton Cerf e outros cientistas, um dos criadores da internet. De seu laboratório, na Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla), partiu a mensagem, no dia 29 de outubro de 1969, que colocou em contato os primeiros computadores da Arpanet, precurssora da rede tal como é hoje (www.lk.cs.ucla.edu/first_words.html). Kleinrock, 70, ainda está na Ucla e participa da direção e de conselhos de várias empresas de alta tecnologia. Nesta entrevista, ele comenta os primeiros e os próximos passos da internet.

Folha – Quais são os maiores problemas da internet hoje?

Leonard Kleinrock – Spam [e-mails comerciais indesejados] e outros assuntos do lado nebuloso da rede. Privacidade versus segurança.

Folha – Como esses problemas devem ser enfrentados?

Kleinrock – Uma boa medida contra o spam seria criar uma taxa para sites que mandam uma quantidade muito maior de e-mails do que deveriam, se tivessem uma atividade comercial comum. Melhores protocolos de autenticação também ajudariam.

Folha – Como o senhor avalia a questão da segurança da importância econômica da rede?

Kleinrock – Segurança é o outro lado da privacidade, e o equilíbrio entre as duas é difícil e crítico. Precisamos de garantias de que a privacidade e as liberdades individuais ficarão protegidas. Uma questão fundamental é discutir como oferecer acesso à internet a todos, no mundo todo, a baixo custo.

Folha – Há quem diga que uma nova internet, mais rápida e mais segura, já é necessária…

Kleinrock – Bem, já existe a Internet2, que é uma rede mais rápida, mais confiável e com menos spam, mas eu acredito que a internet convencional é onde está a ação, e nós deveríamos fazer todo o possível para torná-la mais aceitável para todos os usuários.

Folha – Chega de futuro. Vamos falar do que aconteceu no dia 29 de outubro, há 35 anos. O senhor imaginava que a rede que estavam criando iria se transformar no que é hoje?

Kleinrock – Eu tinha muitas idéias sobre o que essa tecnologia emergente iria significar e como ela iria evoluir. Mais de três meses antes de a internet nascer, em meu laboratório, a Universidade da Califórnia em Los Angeles lançou um comunicado em que articulo idéias sobre o futuro da rede. Dizia que a internet seria onipresente, sempre acessível e sempre no ar; que qualquer um seria capaz de ligar qualquer equipamento à rede, de qualquer lugar; e que a rede seria invisível. Mas eu nunca nem sequer pensei em prever que minha própria mãe, aos 97 anos, seria uma internauta. Ou seja, não consegui prever, naquele momento, a maneira como ela iria atingir a todos, em todo lugar, e como iria ter impacto, repercussão, em todos os aspectos de nossa vida neste século 21.’



Folha de S. Paulo

‘Aos 35 anos, internet segue em evolução’, copyright Folha de S. Paulo, 27/10/2004

‘Trinta e cinco anos após cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles ligarem dois computadores de grande porte usando um cabo de 4,5 metros para testar uma nova forma de trocar dados por meio de redes, o feito que definitivamente viria a se tornar a internet continua a ser um trabalho em andamento.

Pesquisadores de universidades vêm experimentando novas formas de aumentar a sua capacidade e velocidade. Programadores tentam dotar as páginas da internet com inteligência. E está em andamento um trabalho de reengenharia da rede com o objetivo de reduzir spams e problemas de segurança.

Pioneiros

Stephen Crocker e Vinton Cerf estavam entre os estudantes universitários que se juntaram ao professor Leonard Kleinrock, da Ucla, para um teste em um laboratório de engenharia, em 2 de setembro de 1969, enquanto bits de dados sem sentido fluíam entre dois computadores.

Mais tarde, no final da década de 70, surgiu o e-mail; um protocolo básico de comunicações chamado TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol). Nos anos 80 foi criado o sistema de nomes de domínio que, nos anos 90, seriam adotados pela rede mundial de computadores (World Wide Web).

A internet se expandiu para fora de seus domínios militares e acadêmicos, abrindo espaço para usuários comerciais e residenciais em todo o mundo.

Hoje, Crocker continua a desenvolver trabalhos na área de internet, projetando ferramentas mais avançadas para colaboração. Ele admite que a rede que ele ajudou a construir está longe da completitude, e mudanças são planejadas para atender à crescente demanda por multimídia. São necessárias melhores garantias para evitar os pulos e os engasgos comuns em vídeos on-line.

Cerf, que agora está na MCI, disse que gostaria de ter desenhado a internet com segurança incorporada. Ele trabalha num sistema de próxima geração denominado IPv6, para acomodar o contingente cada vez maior de dispositivos sem fio prontos para a internet, como consoles de jogos e até coleiras de cães.

Novas idéias

Enquanto isso, nas universidades, são desenvolvidos sistemas que funcionam de forma semelhante à internet. Dessa forma, aplicações que concentram um grande volume de dados, como videoconferência, imagens cerebrais e pesquisas climáticas globais não terão de competir com o e-mail e o e-commerce.

‘Pense na estrada da informação com uma pista expressa. Algumas aplicações concentram um volume tão grande de dados que são simplesmente impraticáveis na internet atual’, disse Tracy Futhey, presidente da National Lambda Rail. O projeto oferece aos seus membros linhas dedicadas de alta velocidade, de forma que os dados podem ‘chegar do ponto A ao ponto B sem competir com outro tráfego’.

O explorador submarino Robert Ballard usou uma outra rede, a Internet2, para mostrar vídeos dos restos do Titanic. Segundo ele, a banda larga da internet pode transmitir apenas vídeos vagabundos e ‘não concorre com um olhar para fora da janela’. Mas, com a Internet2, ‘câmeras dotadas de zoom de alta definição podem mostrar até um piscar de olhos’.

Os pesquisadores do World Wide Web Consortium estão tentando tornar a informação cada vez mais inteligente. A Rede Semântica está sendo projetada para facilitar a localização e o processamento de dados pelos computadores.

Pense nas diferentes pesquisas de cientistas que estudam genes, proteínas e caminhos químicos. Com a Rede Semântica, adicionam-se identificadores à informação em bancos de dados, descrevendo genes e seqüências de proteínas. Um grupo pode usar um esquema e outra equipe, alguma outra coisa. A Rede Semântica poderia ajudar a ligar os dois. Finalmente, poderia ser escrito um software para processar os dados e fazer inferências que anteriormente necessitariam de intervenção humana. Tradução de Angela Caracik’



Tribuna da Imprensa

‘Google compra desenvolvedora de mapas digitais’, copyright Tribuna da Imprensa, 29/10/2004

‘A Google anunciou ontem a compra da Keyhole, desenvolvedora americana de um software de mesmo nome, capaz de montar mapas digitais online. O valor da transação não foi revelado. Sabe-se apenas que logo depois de o negócio ser concluído, o Google tratou de reduzir o preço das duas versões do Keyhole.

O sistema construído pela nova aquisição do Google, é baseado em trilhões de bits de dados de mapas geográficos recolhidos através de satélite e aviões. Desse modo, o internauta pode procurar, por exemplo, por um determinado endereço em qualquer cidade do mundo e o Keyhole apresentará uma imagem digital do local. O programa, totalmente interativo e tri-dimensional, possibilita ver detalhes até mesmo de uma rua ou de uma estação de metrô.

Jonathan Rosenberg, vice-presidente da área de gestão de produto do Google, diz que com o Keyhole ‘nossos usuários poderão voar como um super-herói, desde seus computadores até uma rua em qualquer parte do mundo e encontrar, por exemplo, um restaurante ou uma loja local’.’