‘Por natureza e por definição, os meios de Comunicação são desprovidos de ética. Cada veículo é que, ao usar um meio, estabelece os parâmetros éticos que definem os seus conteúdos e formam a sua identidade. Os meios simplesmente não têm nem conteúdo nem identidade. São, como diz o próprio nome, meios – nada mais. É comum, em discussões sobre Comunicação, debatedores confundirem meios e veículos, como se um fosse sinônimo do outro. O meio impresso não passa de uma gráfica e seu estoque de papel. O meio televisão é apenas um sistema eletrônico de transmissão de imagens.
Quando a gráfica imprime um jornal, este é o veículo – que tem um nome, um responsável legal, uma linha editorial, uma (a sua) ética. Quando o meio televisão exibe uma programação, é uma emissora que o faz – ela é o veículo. Sempre foi assim, meios segmentados por veículos, até o surgimento da internet, o meio que usamos aqui, neste espaço.
A internet é muito mais revolucionária que os meios anteriores. Instantânea e de uma abrangência quase infinita, ela é o mais poderoso instrumento criado pela ciência para a democratização do conhecimento. Mas, ao contrario dos seus antepassados, a internet nasceu sem a implícita idéia de servir de meio a veículos. Como ela, por natureza e por definição é não só desprovida de ética, mas também de veículos que criem cada qual os seus próprios códigos, formou-se aí uma bela confusão.
A internet é hoje o mais formidável instrumento da liberdade de expressão. Ponto para a democracia. Mas, aética e vulnerável, é hoje também o único meio de Comunicação a dar curso a conteúdos – como, por exemplo, a pedofilia – banidos de todos os demais. Aos poucos, os portais e os sites foram assumindo, parcialmente, o papel de veículos desse novo meio. Sempre haverá a possibilidade de veiculação de todo tipo de impropriedades na internet, tanto quanto até hoje existe a de uma gráfica imprimir textos apócrifos ignóbeis em papel. Quando um delinqüente tem acesso a um meio de Comunicação e dele se serve para delinqüir, tudo é possível.
Quando a Fundação Padre Anchieta criou, pioneira que sempre é, esta função de ombudsman, e abriu este espaço em seu site na internet, o fez para franquear ao seu público um canal de mão dupla a serviço do aperfeiçoamento da qualidade da programação de suas emissoras, as rádios e a TV Cultura. As muitas (mais de uma centena) de manifestações diárias de ouvintes e telespectadores comprovam o acerto da iniciativa da FPA. O que está implícita nesta proposta é a noção de respeito o público, de submissão aos desígnios da sociedade, de valorização da cidadania. E o público da Cultura tem feito bom uso do espaço democrático de que passou a dispor.
Alguns poucos delinqüentes (sempre os há), porém, preferem invadir o espaço público para manifestar frustrações estritamente pessoais com insultos que o meio recebe, mas que ao veículo cabe, por princípio e por dever, barrar. Essa providência está adotada a partir de hoje em respeito ao público, que é o legítimo proprietário da Cultura, tal como ocorre nas melhores democracias.’
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‘Sentimento de posse’, copyright TV Cultura (www.tvcultura.com.br/ombudsman), 28/10/04
‘Depois de um mês no ar, a Enquete desta página, com a pergunta ‘Você sabe o que é uma Televisão Pública?’, teve o seguinte resultado: 55% sabem que é uma emissora sob o controle da sociedade; 25% a vêem como uma emissora educativa; e 20% pensam tratar-se de uma emissora do governo. Ou seja, a maioria do público tem plena consciência da sua condição de proprietária da TV – pelo menos, no caso da Cultura.’