[do release da editora]
No divertido livro de memórias Agora Deus vai te pegar lá fora, o jornalista Carlos Moraes conta, em ritmo de romance, os seus anos como seminarista no interior do Rio Grande do Sul, quando foi perseguido e preso pela ditadura.
Carlos Moraes é gaúcho nascido em Lavras do Sul e criado em Bagé, onde foi ordenado padre em 1966 na diocese de Bagé. Em princípios da década de 70, foi julgado e condenado a cinco anos de reclusão pela Justiça Militar, com base na Lei de Segurança Nacional. Ficou preso na Cadeia Civil de Bagé à espera do julgamento, pois recorreu de sua sentença ao Superior Tribunal Militar, que, na época, estava se transferindo do Rio para Brasília. Um pouco dessa experiência ele divide com os leitores em Agora Deus vai te pegar lá fora, seu novo romance.
O livro conta a história de um padre à espera de dois alvarás de soltura: um espiritual e outro material. Um vindo de Roma, no qual pede dispensa de seus votos religiosos, e outro de Brasília, em que apela de sua condenação pela Justiça Militar da época. Em Agora Deus vai te pegar lá fora, o autor mistura realidade e ficção, e mesmo nomes reais de alguns companheiros de prisão não coincidem, necessariamente, com os fatos a eles atribuídos. ‘Um pouco do que nele se conta aconteceu mesmo naquela cadeia; outro pouco aconteceu também, mas não lá; outro pouco não aconteceu nunca e o resto merecia ter acontecido’, explica o autor.
Agora Deus vai te pegar lá fora mostra como se dava a pequena, mesquinha e manhosa repressão no interior. Às vésperas de uma nova vida, o personagem acha que, se descobrir por que realmente foi condenado, vai entender melhor quem ele é e como o mundo funciona. As visitas e os amigos tentam ajudá-lo, mas com advertências e conselhos que às vezes mais perturbam que animam: ‘acho que agora Deus vai te pegar lá fora’; ‘e vê se não trai essa vocação de revelar a graça de Deus na graça da vida’; ‘só cuidado com mulher de nariz curto’. Apesar da cerrada marcação da cidade, ele consegue formar com os companheiros de cadeia um grupo bastante unido pelo futebol, o chimarrão e alguma filosofia.
No livro, as cenas mais surrealistas são próximas do real. ‘Eu vivi muitas coisas naquela cadeia, algumas delas bem antes de ficar padre. E posso dizer que, no dia-a-dia, as relações humanas numa cadeia não tão diferentes das que acontecem num convento, numa empresa, numa família’, diz Moraes. ‘Parece que, à certa altura, por estranho que pareça, a miséria e a precariedade resultam numa certa liberdade interior, num sentido mais ágil e apurado de comunhão e de festa.’
O autor
Carlos Moraes é gaúcho de Lavras do Sul. Ordenado em 1966, trabalhou como padre na diocese de Bagé. Durante o governo Médici, foi julgado e preso com base na Lei de Segurança Nacional. Em São Paulo, já como jornalista, trabalhou nas revistas Realidade, Psicologia Atual e, ultimamente, na Ícaro. Em 1981 ganhou o Prêmio Jabuti com o infanto-juvenil A vingança do timão. Em 2002 publicou pela Record Como ser feliz sem dar certo – e outras histórias de salvação pela bobagem.