Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Antonio Brasil

‘Costumo criticar o modelo de telejornalismo brasileiro, ou seja, o telejornalismo quase-monópolio da Globo. Nos últimos anos, o jornalismo da emissora líder tem sofrido as conseqüências da crise financeira e de decisões estratégicas equivocadas. Privilegiou o formato, um jornalismo caríssimo de ‘caras e bocas’ e altos salários para poucos, ignorou as novas tecnologias e relegou o conteúdo, a qualidade da cobertura a um plano secundário. Hoje, paga o preço por essas decisões. Enfrenta constante ataques da competição e a audiência em declínio garante um futuro incerto.

Mas, apesar da decadência evidente do meio televisivo brasileiro, volta e meia me perguntam se não haveria alguma esperança. Afinal, qual seria a saída? Costumo responder que enquanto bons jornalistas como William Waack estiverem no jornalismo de TV, ainda existe uma esperança.

Conheci o ‘alemão’, como é conhecido em muitas redações, por coincidência na Alemanha durante os anos 70. Eram os anos de censura no jornalismo brasileiro. Mas também eram os tempos de grandes aventuras para o telejornalismo internacional da Globo. Estávamos reinventando a cobertura internacional. A emissora investia em pequenas equipes de TV espalhadas pelo mundo. A saída para a violência dos censores no Brasil em meio a tantas crises apontava para o exterior. Escritórios modestos eram inaugurados em Nova Iorque, Londres e até mesmo na Alemanha. A idéia era criar um jornalismo internacional barato, quase de ‘pés descalços’. A direção da Globo apostava em pequenas equipes com jovens e nem tão jovens jornalistas dispostos a fazer jornalismo de verdade. Não faltava vontade de ir até as noticias com pouquíssimos recursos.

Naquela época, obviamente não se percebia a perspectiva histórica. Queríamos conhecer o mundo e aprender a fazer um telejornalismo alem das nossas fronteiras e limites.

Muito jovem, com uma câmera na mão, pouco dinheiro, mas muitas idéias na cabeça, um dia me vejo em uma sala em Bonn discutindo política internacional e o polêmico acordo nuclear brasileiro com a Alemanha durante o governo de um outro alemão, o presidente Geisel. Lá estava eu, um Brasil com cara de alemão (sou tataraneto do Carlos Koseritz, pioneiro do jornalismo teuto-brasileiro) cercado de jornalistas brilhantes com nomes estranhos William Waack, Ricardo Kotscho e o recém contratado correspondente da Globo na Alemanha, Hermano Henning. Bons tempos e debates ainda melhores. Uma verdadeira ‘seleção’ de jornalistas brasileiros no apogeu de seus sonhos políticos e ambições profissionais dedicados integralmente ao jornalismo internacional. Era um país e uma TV em crise, mas em busca de soluções possíveis e criativas.

Estávamos nos preparando para a visita do nosso presidente alemão a Alemanha. Aproveitamos o exílio para uma conversa descontraída, longe das ameaças da ditadura militar brasileira. Na época, fiquei muito impressionado com os conhecimentos técnicos de um jovem correspondente na Alemanha. Era o William Waack que já se destacava não só como repórter dos principais jornais brasileiros, mas também como um pesquisador competente em arquivos secretos, ou simplesmente esquecidos pelo nosso jornalismo.

O futuro comprovaria essa veia de pesquisador competente e polêmico. William Waack investigou o nosso passado com a mesma dedicação que cobriu tantas guerras em diversas partes do mundo. Como filho de um ex-combatente da FEB, aproveito para destacar um de seus melhores, porém mais polêmicos livros, As Duas Faces da Glória, Ed. Nova Fronteira, 1985. Trata-se de ‘uma investigação histórica bem documentada mas extremamente crítica da participação brasileira na segunda Guerra mundial.’ Eu me lembro bem que o meu pai e tantos outros pracinhas da FEB não gostaram nenhum um pouco da crueza do relato de William Waack sobre as proezas das nossas tropas na Europa. Mas isso seria só o começo de uma longa e premiada carreira no jornalismo.

Aos 50 anos, após 34 anos de jornalismo, 20 como correspondente internacional, 2 prêmios Esso e tanto sucesso, William Waack continua sua trajetória de sucesso e muitas polêmicas.

Hoje é correspondente da Globo em Nova Iorque. Fiz questão de encontrá-lo esta semana para recordar os bons tempos e indagar sobre o futuro. Combinamos um encontro para um bate papo em uma tarde domingo, plantão do Fantástico nos novos e suntuosos escritórios da Globo em Lower Manhattan.. Ainda sou da época dos antigos escritórios da Globo na Terceira Avenida. Eram certamente bem mais modestos, mas certamente havia bem mais dinheiro para a cobertura de jornalismo. No Brasil, insistimos nessa estratégia falida de investir em ‘mausoléus’. Investimos sempre em prédios caríssimos, instalações impressionantes e deixamos de lado a essência do nosso trabalho. Não é a toa que a construção de Brasília contribuiu para o nosso endividamento, o prédio do BNH, para a falência do nossos sistema de habitação, o gigantesco prédio do JB precipitou a falência do melhor jornal do pais e tantos outros exemplos da nossa síndrome faraônica suicida. Investimos em palácios e economizamos em realizações.. Preferimos colocar dinheiro em escritórios milionários no exterior, ao invés de enviarmos equipes para cobrir os eventos internacionais.

Não fiz uma entrevista formal com o William. A conversa na cozinha era mais um bate-papo entre velhos amigos. Temos muitas idéias em comum e acreditamos num jornalismo de qualidade possível, mesmo na televisão aberta em tempos de crise.

Queria muito saber por que o Willliam, nosso melhor correspondente internacional com larga experiência no oriente médio, não estava em Faluja no Iraque. Agora sei. Menos mal. Não é descaso, falta de profissionais qualificados ou interesse. Jornalismo internacional é caro e no momento não há recursos para cobrir praticamente nada. Assim como os palácios no Brasil, os novos prédios de velhos jornais ou os suntuosos escritórios no exterior podem estar matando o nosso jornalismo. Depois de tantas glórias, aventuras e lutas de toda uma geração de jovens jornalistas em outros tempos de crise, a cobertura internacional de televisão brasileira retrocede. A criatividade, os poucos recursos com muitas idéias e substituída pela ‘mediocridade’ de uma cobertura estática que não pode ir em busca da notícia. A crise é grave. Mas a ainda há esperança.

Enquanto jornalistas como William Waack continuarem acreditando na televisão, talvez possamos reverter essa situação.

Mas, pelo jeito, não sou o único a acreditar no talento do ‘alemão’. Aproveito o tema para transcrever um trecho do blog de um colega jornalista, o Heraldo Palmeira, em seu excelente sanatório de notícias, ver aqui.

Ficam no ar a dúvida e a polêmica para o debate e deleite dos nossos companheiros:

‘Mudança

É impressionante a elegância que o William Waack traz para o Jornal da Globo sempre que a (…) Ana Paula Padrão sai de férias. Chega a ser quase um alívio. Até quando a Globo vai manter na reserva um craque de tanto luxo?’’



KAJURU NO SBT
Daniel Castro

‘SBT quer Kajuru em disputa com Jô Soares’, copyright Folha de S. Paulo, 20/11/04

‘O SBT está negociando com o jornalista Jorge Kajuru _demitido pela Band em junho, após criticar o governador de Minas Gerais, Aécio Neves_ como apresentador de um ‘talk-show’ a ser exibido no mesmo horário do ‘Programa do Jô’, da Globo, depois da meia-noite, em 2005.

Oficialmente, o SBT nega estar em negociação com Kajuru. Mas a emissora já até fez orçamentos para o programa. Leon Abravanel, diretor de produção, foi o encarregado de levantar custos.

O programa de entrevistas de Kajuru seria diário. A princípio, seria apenas sobre esportes, principalmente futebol, o que resolveria a carência do SBT de programas dessa área. Mas o mais provável é que o ‘talk-show’ se abra a entrevistados de todas as áreas.

O maior defensor de Kajuru no SBT é Guilherme Stoliar, sobrinho de Silvio Santos.

Kajuru, que teve uma passagem conturbada pela Band, onde também causou problemas com um anunciante, é atualmente apresentador de um programa de esportes e outro de entrevistas na TV Thathi, emissora local de Ribeirão Preto (SP), pertencente ao grupo educacional COC.’



AL JAZIRA
Laura Mattos e Isabelle Moreira Lima

‘Árabe Al Jazeera dobra o número de assinantes no Brasil’, copyright Folha de S. Paulo, 21/11/04

‘Rua Barão de Duprat, centro de São Paulo, meio-dia. Em um dos vários restaurantes árabes da região da rua 25 de Março, o televisor sintoniza a Al Jazeera, e a clientela vê a imagem de um soldado norte-americano no Iraque.

Chamado de ‘CNN árabe’, o canal do Qatar praticamente dobrou o número de telespectadores no Brasil e na América Latina desde o início do conflito iraquiano.

Em março de 2003, a Multipole, distribuidora da emissora no Brasil e em parte da América Latina, contava com cerca de 1.600 assinantes. Hoje, diz ter ultrapassado os 3.000, sendo que mais de 60% deles são residentes no país.

Para grande parte da colônia, a Al Jazeera e TVs de países como Líbano e Arábia Saudita tomaram o lugar da Globo, SBT etc. São suas principais fontes de informação para os conflitos internacionais e notícias como a morte do líder palestino Iasser Arafat. Ver o ‘Jornal Nacional’ e novelas não é nem de longe a primeira opção para quem tem em casa, na língua materna, telejornais e programas à la Silvio Santos das arábias.

O comerciante libanês Wissam Tahini, 32, que chegou a São Paulo há quatro anos, assiste aos noticiários da Al Jazeera todos os dias. Para ele, a vantagem em relação à TV brasileira é que a emissora qatariana ‘mostra a verdade’ sobre os conflitos do Oriente Médio.

‘A rede exibe imagens de soldados norte-americanos matando civis iraquianos, o que nunca aparece na televisão daqui. Muitas vezes, emissoras brasileiras chamam libaneses de terroristas, quando, no Líbano, são heróis.’

O jornalista sírio Munir Awad, 28, diz que, além dos telejornais, gosta da programação cultural do canal. Conta que instruiu a babá de sua filha de dois anos a deixar a televisão ligada durante todo o dia para que ela aprenda a língua.

‘A Al Jazeera também é interessante pelo lado educativo. Minha filha entende quase tudo em árabe e já fala também’, afirma.

Estereótipo

Na semana passada, em SP, foi lançado o Instituto da Cultura Árabe (www.icarabe.org), em debate com críticas à mídia norte-americana e à brasileira e elogios à Al Jazeera, citada como alternativa para fugir dos estereótipos e se aproximar mais ‘dos fatos’.

De origem libanesa, o médico Murched Taha, 54, membro do instituto, assiste aos noticiários árabes todos os dias ‘em razão de sua independência’ e por ser ‘mais próxima da realidade’. ‘Além disso, muitas vezes ela consegue trazer a notícia do Oriente Médio antes de outras, como a CNN em espanhol’, diz.

Os libaneses Fadel Dirani, 39, e Hassan Tirad, 36, ambos comerciantes, têm o costume de assistir à Al Jazeera na casa de amigos. Para Tirad, as redes brasileiras ‘não mostram a verdade’. Dirani concorda. Diz que o canal do Qatar tem ‘informação mais livre’.

‘Além de mostrar a verdade, ainda incentiva valores culturais e a família. A TV brasileira, principalmente no caso das novelas, tira a base da família’, diz Tirad.

Distribuição exclusiva

A distribuição dessa e de outras TVs árabes começou no Brasil há cerca de três anos e aproximou a colônia de seus países de origem. Antes disso, o comerciante libanês aposentado Fause Mustafá, 74, ‘caçava’ notícias em sua língua por meio de rádios de ondas curtas (capazes de sintonizar freqüências de longas distâncias).

Agora, passa o dia zapeando entre as opções do pacote árabe. ‘Vejo muito pouco a TV brasileira’, conta ele, que está no Brasil há 50 anos e diz agora se sentir mais próximo de suas origens.

Quando chegaram ao Brasil, a rede do Qatar e outras eram recebidas gratuitamente. Bastava possuir uma antena parabólica e direcioná-la aos satélites de retransmissão. Segundo a Multipole, foi uma estratégia de mercado para atrair telespectadores e passar a cobrar, o que ocorreu há cerca de dois anos. Atualmente, para ter acesso a um pacote com dez canais é preciso, além da parabólica e de um decodificador digital (total em torno de R$ 1.500), pagar uma assinatura anual de R$ 600.

A empresa atende seus clientes em árabe. ‘A Guerra do Iraque certamente ampliou o interesse da colônia árabe por esses canais. O mercado é crescente, apesar de ainda distante dos 130 mil assinantes dos EUA’, diz Maurício Goldberg, presidente da Multipole. Único representante da Al Jazeera no Brasil, ele é judeu e ri desse paradoxo. ‘Esse é um modelo de convívio pacífico que deveria ser seguido em todo o mundo.’’



ÂNCORA MULTIUSO
Daniel Castro

‘Rede TV! inventa jornal de um homem só’, copyright Folha de S. Paulo, 19/11/04

‘Se programa para computador desse audiência, a Rede TV! seria campeã. A emissora está testando em Belo Horizonte um software em que o apresentador, em tese, pode colocar todo um telejornal no ar sozinho, manipulando pedais ou teclas na bancada.

O software, batizado de Digital News, foi desenvolvido pela Tecnet, empresa dos mesmos donos da Rede TV!. Ele automatiza todo o sistema operacional de um telejornal. Permite que o âncora, com um simples toque em pedal, mude os caracteres que aparecem na tela do televisor ou que pule uma reportagem previamente programada sem problemas de sincronia. Com o pedal, ele também pode acelerar ou reduzir a velocidade do texto que está lendo num projetor oculto nas câmeras.

O computador ainda insere imagens assim que determinada palavra é falada pelo locutor. O próximo passo será a automação das câmeras. Será possível programar os ângulos e movimentos das câmeras durante o telejornal.

Diretor de jornalismo da Rede TV!, José Emílio Ambrósio afirma que, apesar da possibilidade, o Digital News não irá substituir funções como as de editor-chefe e de diretor de TV (o profissional que aciona mecanismos de vídeo).

O telejornal ‘Notícias de Minas’, que estréia dia 24 em Belo Horizonte, será o primeiro a ter o Digital News. O apresentador, além de assumir funções de editor, fará reportagens.