A baixaria na programação televisiva não é problema exclusivo do Brasil. Na Espanha, os programas conhecidos como ‘telebasura’ (telelixo, em bom português) ocupam grande parte do tempo das três maiores emissoras do país. Enquanto outras partes do mundo discutem a morte de Yasser Arafat e o conflito no Iraque, as TVs espanholas falam sobre o tamanho do pênis de seus políticos e questionam se suas celebridades tomam viagra ou são extraterrestres.
Segundo artigo da Economist [11/11/04], o primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero tenta agora lutar contra os exageros e a má qualidade da programação televisiva. Representantes do governo tiveram um primeiro encontro com executivos das emissoras para discutir a criação de um código de conduta – a Espanha é o único grande país europeu que não tem uma entidade própria para a monitoração da programação.
Talvez por este motivo, pesquisas recentes revelaram que a TV é a instituição menos confiável na opinião dos espanhóis. Eles confiam mais em sindicatos, na igreja e em partidos políticos.
As emissoras exploram escândalos e fofocas e abusam do sensacionalismo. Mas, diante da possibilidade de controle sinalizada pelo governo, dizem que não vão cooperar tão facilmente, e vêem a criação de um código de conduta como uma espécie de repressão a seu trabalho.
Alejandro Echeverria, presidente da Tele 5, afirma que sua empresa pode se controlar sozinha: no ano passado, a emissora demitiu os produtores envolvidos na transmissão, durante o dia, de um debate sexualmente explícito entre um ator pornô, uma stripper e um confeiteiro erótico. Josep Maria Mainat, diretor da Gestmusic Endemol, que produz o Gran Hermano (a versão espanhola do Big Brother), afirmou que seu público é ‘esplêndido’. ‘São pessoas jovens, urbanas, bem-educadas. Lixo é o que aparece nos telejornais. Eu preferiria 24 horas de ‘telebasura’ a um minuto de censura’, declarou ele.